Project Lorrain escrita por Annonnimous J


Capítulo 12
Cap 12 - A volta para a normalidade parte 2


Notas iniciais do capítulo

Fala galera! Voltei com mais um capítulo dessa história direto do forno, espero que gostem. Abraços!



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A estrada estava calma, poucos carros passaram por nós durante o trajeto até a cidade mais próxima. Para nossa sorte, o carro continha combustível suficiente para chegar lá, mas não iria muito adiante. Então decidimos abastecer naquele lugar, porém não sabíamos como fazer isso já que não tínhamos muito dinheiro, afinal, não nos imaginávamos nessa situação no inicio de tudo.

O radio do carro tocava uma musica agradável enquanto Roney e eu travávamos uma discussão animada e rotineira, já que ele adora me deixar nervosa com seus comentários e opiniões de varias coisas. Riamos e conversávamos animadamente, tudo isso em meio a expressões desafiadoras que volta e meia um dos dois fazia para o outro, por isso a viagem de horas não pareceu tão grande, logo nos assustamos com um pequeno vilarejo à nossa frente:

—Nossa! – Exclama Roney olhando para a cidadezinha à nossa volta – então essa é a cidade de Blackburn? Eu imaginava que seria maior.

—Não reclame – eu o repreendo socando seu ombro – ela pode ser o nosso passaporte para fora disso tudo.

— Pra alguém que acabou de sair da morte você está bem fortinha hein? – diz ele fingindo uma cara de dor enquanto esfrega o ombro.

—Você que é um maricas Roney – eu digo revirando os olhos.

—Hey! Isso fere meus sentimentos sua desalmada – diz ele colocando a mão no peito e fazendo uma cara hilária.

—Ande logo – digo em meio a um ataque de risos – vamos ver o que podemos encontrar aqui.

Nós dois saimos do carro e nos dirigimos para uma pequena venda perto de um posto de gasolina do outro lado da rua. Ela não parecia grande coisa: tinha apenas um andar, era baixa, tinha um telhado de telhas de cerâmica arredondada, não parecia muito grande e suas paredes eram todas de uma madeira forte e muito bonita, como a maioria das casas daquele vilarejo exceto por um hotel de alvenaria.

Eu paro na porta do mercado e Roney entra, enquanto ele conversa com quem parecia ser o dono do estabelecimento, me preocupo em observar o vilarejo. Observar o local em que estou sempre foi algo que eu fiz desde criança e foi muito bem utilizado no exército. O vilarejo de Blackburn ficava no sopé de uma montanha não muito alta, mas muito bonita, principalmente quando o sol a iluminava. A parte mais urbana do lugar não tinha mais do que três ruas muito bem cuidadas e limpas, as casas eram baixas e de madeira, com exceção de uma que parecia ser uma hospedaria, mas esta não passava de um pequeno prédio de dois andares com nada demais a não ser alguns cartazes multicoloridos gastos pelo tempo e uma placa de “temos vaga” iluminada por luzes de néon piscando assim como em desenhos animados. O posto que ficava do lado da pequena venda também não tinha nada que chamasse atenção, tinha uma cobertura metálica, três bombas de combustível e uma cerca de grade no fundo, o separando de um terreno cimentado.

Em alguns instantes, Roney sai do mercadinho, consigo ele trás alguns salgadinhos e um sorriso no rosto, nós vamos até o carro enquanto  ele explica o que aconteceu. Ele me conta que assim que entrou, o senhor reconheceu que ele era um militar por causa da dogtag, então já disponibilizou o que precisávamos para a viajem:

—Mas por que isso? – pergunto meio confusa pela história – digo, por que toda essa hospitalidade?

—Ele ficou sabendo do ataque, e como os nossos inimigos são os mesmos, ele nos ajudou – me responde Roney enquanto manobra o carro para dentro do posto – ele até me deixou usar o telefone para contatar a base e tudo, além de não cobrar nada por isso, agora a base sabe que estamos vivos, mas não podem mandar um resgate por causa da proximidade com o território inimigo.

—Que sorte – eu digo ainda desconfiada.

—Verdade – diz ele saindo para abastecer.

Em cerca de dois minutos ou menos o carro já estava totalmente abastecido, então partimos. O dono da venda ainda falou de uma próxima cidade que tinha uma pequena base militar do nosso exercito, chegando lá conseguiríamos ajuda com certeza.

No momento em que saíamos da cidade, algo me chama a atenção na montanha perto de nós, pude ver um brilho estranho vindo de lá mesmo que por um milésimo de segundo, isso me faz arrepiar, me viro para contar para Roney e ele está olhando para a mesma direção, nesse instante eu percebi que a viajem não seria mais a mesma.

Ao contrário de antes, os minutos eram lentos e agoniantes, a tensão parecia um peso de cem quilos no meu peito, apertando-o e fazendo o suor brotar de minha pele, estava tão concentrada que só percebia que não estava piscando quando meus olhos ardiam e lacrimejavam. Não tinha certeza do que eu tinha visto, isso me preocupava e sabia que Roney estava na mesma situação.

Quanto mais o tempo passava, mais parecia que nada iria acontecer, mas eu duvidava muito disso, continuava olhando para a mesma direção, até que algo me assusta, um rápido brilho vindo de uma parte mais baixa da montanha. Quase que no mesmo momento empurro o braço de Roney com toda a minha força e isso faz com que ele vire o volante para a esquerda enquanto o parabrisa do carro se estilhaça e um buraco do tamanho de uma bola de tênis aparece na lataria perto da cabeça de sua cabeça.

O carro então entra na mata e bate em uma árvore que estava no caminho, a árvore estala e racha, Roney me empurra porta a fora e se joga em cima de mim no momento que ela desaba e esmaga a completamente carro, ele tinha me salvado mais uma vez.

—Obrigado por me salvar daquela bala – diz Roney enquanto me olha ainda ofegante de susto.

—Obrigada por me salvar da árvore – respondo também ofegante.

Ele se levanta e me ajuda a levantar, nesse momento escuto um zunido e um raio de luz passa por nós dois, parando na árvore, onde um buraco se forma em seu casco bem na nossa frente.

—Vamos – diz ele correndo para trás do carro enquanto eu o sigo.

Nós entramos na floresta e descemos um pequeno declive íngreme, então corremos paralelamente à estrada até ouvirmos barulho de rotores de helicóptero, nesse instante parece que colocaram pedras de gelo na minha espinha e eu começo a correr mais rápido, Roney começa a ficar para trás e mais ofegante, mas não desiste e continua a correr próximo a mim.

Os rotores ficam mais próximos, a tarde já caía e isso dificultava a visibilidade para a nossa sorte. Roney me puxa de repente e nós dois caímos em uma pequena cratera formada no declive, nesse instante escuto passos e latidos passando por cima de nós, ele tapa a minha boca e me abraça com o outro braço, sinto sua respiração pesada e seu coração que parecia latejar no peito e não bater como o meu, será que é por causa do que fizeram comigo?

Depois de um tempo escutamos apenas o silêncio da tarde, Roney solta o ar retido em seus pulmões e tira a mão da minha boca, ele olha para mim e se levanta. Ao colocar a cabeça para fora do buraco ele olha ao redor e então acena pedindo pra segui-lo. Seguimos em silêncio, escutando animais e vozes por todo o lado, a escuridão ia chegando e isso poderia nos ajudar muito. Logo a nossa frente, luzes começavam a aparecer e desaparecer, junto com elas vozes baixas, isso significava que eram um esquadrão de busca.

As luzes iam se aproximando, Roney se abaixa e gesticula para que eu fizesse o mesmo e se juntasse a ele. Assim que me aproximo, ele me entrega a sua dogtag. Automaticamente sinto um peso gigantesco em mim que me faz querer gritar.

—Quero que fique com isso, pois se algo acontecer comigo, sei que você vai cuidar bem dela – diz ele sem me olhar – lembra da lenda?

A lenda que Roney acreditava dizia que um soldado não morreu pois a sua dogtag estava inteira e nas mãos de alguém de que ele confiava a vida. Ele ouviu isso uma vez do capitão assim que entrou no exército e desde então acredita muito nela.

—Mas isso é uma lenda idiota, não há nada de sentido nisso – digo me esforçando para falar baixo.

—Bom, veremos isso agora, fique aqui, não quero arriscar te perder de novo, eu vou voltar – diz ele saindo de perto de mim.

Meu coração está a ponto de explodir de tão apertado que está, mesmo que ele seja bom no que faz, será cinco contra um, não tem como ele se sair bem, ou vivo. Aperto a medalha com as duas mãos enquanto fico deitada para não me verem, logo perco Roney de vista e me foco nas cinco luzes que se aproximam. De repente vejo um lampejo prata e uma luz desaparece, as outras quatro parecem não perceber, conversando sem cessar. Outro lampejo e menos outra luz, começo a ter esperanças, mas percebo que quando sobrarem apenas dois, ele terá que ser rápido, talvez rápido demais. Me lembro dele ofegante, ele não tinha a mesma maldição que eu dentro de si e nesse momento isso seria sua salvação.

A terceira luz tomba, e nesse momento as outras duas percebem. Uma das duas rapidamente desaparece, mas a outra dispara a arma que segurava em direção ao companheiro caído antes de desaparecer. Algo me incomoda intantaneamente, pois eu não escuto a bala ricochetear nem atingir nenhuma árvore, é quando escuto um corpo a mais atingir o chão, um desespero toma conta de mim e eu corro em direção às luzes caídas. A noite já ia alta, então a escuridão atrapalhava meus movimentos, ou talvez fossem as lágrimas que se formavam.

Corro por pouco tempo até chutar algo macio e cair, ouço um grunhido e me aproximo:

—Sutil como um elefante – diz a pessoa na escuridão tentando sorrir, mas uma tosse molhada o impede.

Eu reconheço a voz, mas queria não reconhecer, era Roney e estava ferido. Eu podia sentir a sua camiseta molhada na altura do estômago e podia perceber que ele segurava a barriga com força:

—Não!... – eu exclamo e as lágrimas começam a rolar.

—Hey... Não chore, vai me afogar desse jeito... Eu estou vivo... Não se preocupe, acho que podemos chegar na cidade... Não está muito longe.

—Mas você...

—Minha dogtag tá inteira? – ele pergunta me cortando.

—Sim – repondo.

—Então eu vou sobreviver, lembra-se da lenda?

—Você acredita mesmo nisso, não é?

—Tenho que acreditar em algo na vida.

Ele tenta se levantar, mas não consegue então eu o ajudo.

—Pode me ajudar a andar? Vai demorar um pouco até lá.

—Não se preocupe, vamos – digo enfim.

—Vamos – ele responde. E rumamos pela noite floresta a dentro.


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Notas finais do capítulo

Eai galera! Gostaram? Espero que sim, se quiserem saber o que vai acontecer com os protagonistas, não percam o proximo capítulo da história, prometo que não se arrependerão. Abraços!



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