(Narração Jade)

Aqueles olhos estreitos, banhados em lágrimas, aquele sorriso amarelo, que era possível ver a dor que carregava mas mesmo assim era um sorriso enorme. Antes mesmo de dar o primeiro passo já me entreguei as lágrimas. Eu caminhava devagar, passos curtos e lentos. Não trocamos nenhuma palavra, apenas nos olhamos. Eu conseguia ver sua alma, assim como sabia que ela podia ver a minha.

– é bom te ver bem. - eu disse passando a ponta dos Meus dedos pelo seu rosto.

– é bom saber que ainda estou viva para poder continuar te vendo. - ela disse, e eu pude sentir o alívio que ela sentia por ter recebido a chance de continuar conosco.

– eu não aguentaria a dor de te perder. Você é tudo pra mim mãe. Por favor, promete que nunca vai me abandonar.

– não fale isso minha menina. Um dia eu não estarei aqui, e você terá que ser forte e lidar com a dor. Você já é quase uma mulher, uma linda e maravilhosa mulher. Sei que você vai ser capaz de continuar essa jornada sem mim. Jornada a qual a cada dia o fim está mais próximo para mim.

– não fala isso mãe. - eu disse já em soluços.

– minha querida eu estou exausta, exausta de ter esperança e nada acontecer, exausta de só sentir dor, de chorar, de sofrer, exausta de temer a minha morte. Morrer seria um descanso para mim.

– me abandonar seria um descanso? - perguntei.

– eu nunca irei te abandonar Jade. Eu sempre vou ser sua estrela guia, seja aqui ou lá no céu. Sempre te darei colo, conselhos, broncas. Sempre vou estar com você. Sempre.

– senhorita o horário de visita acabou. Acompanhe-me por favor.– a enfermeira disse ao entrar no quarto, colocando fim à aquela conversa.

– promete pra mim que vai ficar bem? - eu disse beijando sua testa.

– prometo aceitar o que for melhor pra mim. - ela disse sorrindo.

– vamos senhorita.– a enfermeira chamou novamente.

– eu te amo. - disse em sussurros enquanto saía do quarto. E em resposta obtive o seu belo sorriso.

***

"Melhor é a morte do que a vida amargurada; e o descanso eterno, do que um achaque perseverante."

Sabe quando as pequenas coisas começam a dar-lhe sinais? Era exatamente isso que estava acontecendo comigo. Eram 22hrs da noite, eu estava em meu quarto. Minha mãe ainda estava no hospital, Ed ficaria com ela.

Em meu celular dias atrás havia baixado um aplicativo de frases, e a frase do dia era um versículo da Bíblia, o que era raro aparecer no app. Parece que aquilo era um sinal; era melhor a morte do que sofrer, do que a amargura, do que a dor. Creio que era isso que minha mãe queria. Queria descanso, queria poder voltar a ter a vida dela de antes. Eu dou razão a ela, entendo o seu lado e até concordo. Porém não consigo deixar meu egoísmo de lado, pois mesmo entendendo isso tudo ainda quero que ela fique comigo, mesmo com toda a sua dor e sofrimento.

Me joguei ao travesseiro e me entreguei ao choro, um choro silencioso, e desesperado por um colo, um colo de mãe. O medo me dominava, era uma sensação horrível. Em meio a lágrimas, adormeci. Dormi feito uma criança agarrada ao bicho de pelúcia para se livrar no medo. Porém o meu bicho de pelúcia, era a minha esperança, e foi assim que eu dormi, agarrada a ela.