(Narração Jade)

O gosto daquele beijo forçado ainda estava na minha boca, eu tentava dormir mas as cenas daquela horrível noite vinham à tona. E se Cobra não tivesse me salvado? Meu Deus, Cobra me livrou de algo muito pior, de um trauma ou até mesmo de minha morte. Eu seria eternamente grata a aquele vagabundo.

Já eram 6 horas da manhã quando eu consegui dormir, havia chorado a noite inteira sendo atormentada com as lembranças do ocorrido.

(Narração Lucrecia)

Eu estava sentada ao sofá, Jade estava em seu quarto dormindo. Havia escutado o seu choro baixo a noite inteira, e finalmente agora ela havia conseguido descansar. Senti meu celular vibrar em meu bolso, e assim que o peguei vi a ligação de Ed.

– oi meu querido.

– oi Lu, fiquei com medo de te acordar. Como está a Jade?

– mal, muito mal. Chorou a noite inteira, mas finalmente está dormindo. Ed eu nunca imaginei que minha filha passaria por algo assim, e pensar que poderia ter sido pior. - eu disse com a voz tremula.

– poise, graças aquele rapaz está tudo bem. Aliás, quem é ele?

– não sei Ed, boa pergunta. Mas seja lá quem for sou muito grata a atitude dele.

– minha querida, mudando de assunto. Que tal terminarmos essa conversa em uma padaria tomando um bom café da manhã? Precisamos conversar sobre um assunto muito sério.

– é, realmente precisamos. Eu vou pegar minha bolsa, e em 15 minutos nos encontramos nessa aqui perto de casa.

– Ok marida.– ele disse desligando o celular.

Fui para o quarto e peguei minha bolsa, antes de sair fui ao quarto de Jade para ver se ela estava bem. Sai e após exatos 15 minutos estava no local marcado.

– que pontualidade. - Ed disse com um sorriso ao rosto.

Fiz meu pedido a garçonete e assim que ela trouxe dei início a conversa com Ed.

– não sei se irei conseguir ver a cara daquele tal Eduardo todos os dias.

– acho que ele não voltará para aquela banca tão cedo Lucrecia, acho que a dona Dalva certamente o demitirá. - Ed disse enquanto colocava açúcar em seu café. - aliás, sabe como ele está? Fiquei sabendo que o estado de saúde dele era grave. Mas também ne, com surra que levou.

– pouco me importa o estado de saúde dele, apenas quero que ele pague pelo o que fez.

– e o rapaz que defendeu a Jade? Ela disse algo a respeito dele?

– Não, ela não disse quase nada sobre o que aconteceu. Está muito abalada ainda. Mas certamente deve ser algum lutador.

– é, isso ficou óbvio após a surra que ele deu no Eduardo.

– é. - suspirei e tomei um gole do meu chá. Eu precisava conversar com Ed a respeito de um assunto muito delicado. - o resultado saiu ontem. Com a correria da festa e com o ocorrido não pude te contar.

– e qual foi o resultado? - Ed disse segurando em minha mão. Abaixei minha cabeça e uma solitária lágrima escorreu por meu rosto, senti Ed se entristecer, ele certamente já imaginava o resultado.

– deu positivo. Eu estou com câncer de mama. - eu disse e aquela solitária lágrima se multiplicou. - o médico disse que o meu câncer já está em estádio 2.

– continue minha querida. - Ed disse com tristeza em seu olhar.

– o tumor está com 4 centímetros, e se eu não iniciar o tratamento já ele poderá passar rapidamente para o estádio 3.

– e o câncer de mama vai até qual estádio ?

– até o 4.

– minha querida eu estou aqui, para tudo que você precisar. Eu te amo demais, e você sabe disso. E juntos nós vamos vencer esse maldito câncer, você vai ver.

– Ed, eu estou com medo. - eu disse com meu rosto banhado em lágrimas. - e a Jade, como vou contar isso para ela? Ainda mais agora após esse terrível acontecimento. E se eu morrer Ed? Ela já não tem pai, tios, primos, avós, se eu morrer ela vai ficar sozinha.

– ela não vai ficar sozinha, por que ela tem a mim, nós somos uma família esqueceu? E outra coisa, pare de falar besteira, você não vai morrer entendeu? Existe tratamento para isso, você não é a primeira e muito menos a última pessoa a ter câncer. Então engula esse choro, erga essa cabeça e sorria para o mundo, pois você vai vai sair dessa vitoriosa. - Ed disse e um sorriso se formou em nossos rostos.

(Narração Jade)

Já havia se passado alguns dias desde o dia a festa, o final de semana havia me feito refletir muito, e eu já estava melhor. Era segunda, dia de ir para a Ribalta. Sai de casa mais cedo na intenção de passar no QG, eu precisava agradecer Cobra por sua atitude.

– oi vagabundo. - eu disse com um discreto sorriso ao rosto.

– como você está? - ele disse passando seus dedos em meu rosto.

– bem, graças a você. - eu disse colocando minha mão sobre a sua que ainda estava em meu rosto.

– eu não podia deixar ele te fazer mal.

– obrigado. - eu disse me aproximando a ele e encostando minha testa na maçã de seu rosto. Senti as mãos de Cobra em minhas costas, e quando percebi nós estávamos abraçados. Um caloroso e reconfortante abraço.

– eu nunca vou esquecer o que você fez.

Nesse momento Cobra sorriu, e afastou seu corpo do meu. Eu olhei em seus olhos e nesse momento eu senti algo diferente, algo que nunca havia sentido antes. Confesso que na primeira vez que vi Cobra eu já havia sentido uma força estranha dentro de mim, mas aquilo era desejo, atração, era algo carnal, físico. Mas hoje não, hoje tinha algo diferente, eu estava realmente me envolvendo com aquele vagabundo. Eu estava realmente gostando dele, e eu não sabia lidar com isso, pois nunca havia sentido algo por ninguém. Cobra me olhava de uma forma que eu sabia que ele também estava a pensar em algo, certamente em mim, ou melhor, em nós. Será que ele sentia o mesmo que eu? Será que esse bruto e nato sedutor era capaz de gostar de alguém?