O Menino dos Olhos Divinos escrita por Srta Matsuoka


Capítulo 1
Capítulo Único - Como Almas Vazias




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O MENINO DOS OLHOS DIVINOS - CAPÍTULO ÚNICO

"COMO ALMAS VAZIAS".

Ainda me recordo do dia em que Akira convidou-me para um chá em sua residência, numa tarde pálida de Setembro. Não era um dos melhores dias para um bate-papo tranquilo à varanda, rindo dos velhos tempos. E, mesmo em seus plenos quarenta e sete anos de idade, Akira ainda tem aquele jeito de menina. Falante e experiente, doce prima Akira.

O carro havia parado, estávamos presos num congestionamento. Suspirei, tentando manter a calma. Se é uma coisa que a prima Akira odeia mais que pessoas realistas, era atrasos. Odeia pessoas realistas porque elas não sonham e não deixam outros sonharem, odeia atrasos porque não suporta esperar quando precisa contar uma notícia que considera "bombástica".

Mas, quando se está parado num táxi, a carteira é quem sofre com as consequências. Olho para o lado e avisto uma calçada, suja e fedorenta. Vi-me obrigado a cobrir meu nariz e fechar o vidro da janela, para não inalar o mal-cheiro horrível de lixo apodrecido e acumulado em sacolas plásticas jogadas perto de postes. Poucos transitavam ali, e os que passavam, eram os de rostos de almas vazias, estresse acumulado e tempo desperdiçado, tão abandonadas quanto as lojas com suas entradas cobertas por tábuas de madeira e poeira sobre o chão, espalhada pelo vento que ali soprava.

E eu vi, com os olhos arregalados, um menino de pele escura e cabelos crespos, com roupas encardidas e sandálias gastas. E ele brincava ali, naquele chão imundo, naquela calçada de ambiente repulsivo, brincando com dois carrinhos de plástico, ignorando os olhares atravessados lançados para si.

Então, ele olhou para mim, tão inocente e afetivo... Ele sorriu, deixando à mostra os mil dentes alinhados e brancos como as nuvens. Seus olhos eram azuis como o céu e o mar, e ele enxergava coisas que ninguém era capaz de ver , nem com um microscópio, tampouco a olho nu. Ele via a bondade naquelas pessoas.

Eu era aquele garoto, esse era o meu antigo eu, mas eu mudei. Fui adotado, e trouxe a felicidade para minha nova família, porque passei a enxergar através dos olhares alheios. Meus olhos. Eram olhos diferentes, eram... Olhos divinos.


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