Nos grandes vales do Céu, era muito comum vermos anjos perambulando a todo instante. Mas o lugar onde se menos encontrava esses bater de asas frequente, era a área das divisões entre Céu-Terra e Céu-Inferno.

E contra todas as crenças que eram postas perante a sociedade humana, Céu e Inferno não se odiavam. Pelo menos, não mais. O que acontecia entre eles, era apenas um acordo de trégua permanente. E após tantos milênios tendo essa dura guerra, ela finalmente tinha cessado. E hoje, eles apenas tentam cumprir o que o seu destino propõem: julgar a humanidade.

Do Céu, o grande observador e administrador do local, era um belo ser de aparência jovial e pele tão branca quanto a neve. Sendo que possuía longos cabelos esbranquiçados. Ele foi apelidado pelos humanos de Deus. Mas devido aos poucos conhecimentos que a humanidade tem sobre a forma como é dividido o Céu e seus respectivos donos, quase nenhum ser vivo saberia dizer o nome verdadeiro desse ser tão magnânimo.

Para o mundo ele se chama Deus, mas para ele mesmo, o seu nome foi e sempre será Luminum. Esse nome, que é originário da língua considerada morta pelos humanos, o cativou e o fez adotar esse nome para si.

Luminum sabe do tamanho de seu trabalho e sua influência. Então tudo que faz ou deixa de fazer, pode acarretar no mundo. Ele sabe que deveria ser apenas um ser imparcial e que julga as pessoas tendo base na sabedoria e bom senso. Mas devido a tantas guerras contra o Inferno, ele foi modificando um tanto essa sua personalidade neutra, porem, bondosa.

As antigas guerras entre Céu e Inferno ficara para a história. E isso atravessava barrerias universais.

Ele se lembra bem como foi batalhar com o grande Umbra, mais conhecido como Diabo ou Lúcifer no mundo humano. Ele sempre fora de ostentar um grande exército e um grande poder. Luminum lembrava das batalhas difíceis que teve contra ele. As vezes, eram até por motivos superficiais, mas mesmo assim, eram motivos.

O que ficava sempre em sua mente, depois de séculos da sua última batalha, foram como as coisas se resolveram. Até hoje ele não acredita que Umbra o tenha declarado a derrota... por coisas como sentimentos!

Eles nunca foram humanos, mas com o tempo, ganharam algumas coisas que lembravam a ser. Emoções e sentimentos foram umas dessas coisas. Talvez a neutralidade e o bom senso tivessem que ser reforçado com alguma coisa a mais. Mas Luminum nunca pensou que fossem emoções humanas.

Mesmo que as pessoas da Terra insistissem que ele era um ser de amor, ele nunca se via assim. Ele apenas julgava conforme o que achava certo. Apenas isso. Mas as sua últimas batalhas com Umbra demostraram o quanto ele tinha evoluído em tanto tempo.

E depois do acordo, ele começou a falar muito mais com Umbra do que muitos imaginariam. Nem o próprio Umbra acreditava que Luminum desceria do Céu alguma vez para lhe dirigir a palavra.

– Não esperava Vossa Santidade aqui pelos arredores da entrada do Inferno.

– E eu não esperava que o Imperador do Fogo e da Escuridão viesse me receber.

– Mas o que trás, o tão poderoso Luminum, até esse lugar tão repudiado pelos humanos?

– Uma conversa. - Luminum encarava Umbra - Uma conversa séria a respeito do passado.

– Por acaso... é sobre as antigas guerras?

– Só preciso conversar com você sem outras criaturas por perto.

Umbra concedeu o pedido de Luminum e ambos saíram do Inferno, mas nenhum dos dois foi para o Céu. Eles se se repousaram em algum canto da Terra para tentarem conversar sobre aquilo. E já que Umbra era o que estava mais curioso, ele foi logo perguntando se Luminum pretendia voltar com as guerras e porque.

Luminum logo disse que não era isso que ele pretendia. O fim das guerras fora a melhor decisão que ambos tomaram. Não tinha porque voltar com tudo aquilo.

– O que eu quero saber... É sobre o seu motivo para perder aquela última batalha.

– E por que desejas saber disso somente agora?

– Você sabe porque. - Luminum ficou um pouco irritado - Você mesmo disse que era para eu voltar a falar desse assunto quando eu estivesse pronto.

– Não. Não foi isso que eu disse.

Ele encarava Umbra com um olhar de desentendimento. Mas é claro que ele não teria confundido aquelas últimas palavras de Umbra na batalha. Aquela criatura, de longos cabelos negros e asas violetas só poderia estar de brincadeira.

– Claro que foi o que você disse. Eu estava lá e não sou surdo.

– Se você se lembra das minha palavras, eu quero que repita claramente.

Ele não pudera acreditar no que estava ouvindo. O ser mais poderoso do Inferno queria mandar no ser mais poderoso do Céu. Ele não queria ser tratado que nem um querubim. Mas conhecendo Umbra a tanto tempo, ele sabia que levaria anos até que ele pensasse em mudar de ideia.

– "Já chega, Luminum. Eu desisto. Não aguento mais guerrear com você. Mas não que eu esteja fraco. Eu só não aguento mais duelar com o ser que eu amo.".

– Pelo visto, você lembrou de todas as palavras. Então eu me pergunto o porque de você ainda estar aqui querendo saber o motivo.

– Eu só não entendo como você desistiu de tudo por causa desse motivo.

– Você acabou de dizer o porque quando repetiu as minhas palavras. - Umbra começou a rir - Nem parece que é considerado um Deus de amor e carinho pelos humanos.

– Seu idiota...

– Primeira vez que o vejo me faltando o respeito dessa maneira. - ele riu mais uma vez - Realmente... você está a cada dia, mais parecido com esses humanos.

– E isso é ruim?

– Não para mim.

Eles ainda permaneceram em silêncio por alguns segundos. As emoções humanas estavam os consumindo a cada dia. E no dia que eles não pudessem mais aguentar, eles não saberiam como reagir um com o outro. Talvez eles devessem esconder esse sentimento o máximo possível. E não era só o Céu e o Inferno que levariam um choque ao saber dessa situação. A Terra seria a principal afetada.

Esse sentimento era perigoso demais. E ambos sabiam que eles nunca poderiam nutrir deles enquanto ainda se denominavam de Deus e Lúcifer.