Três doses de tequila, por favor escrita por Sweet Serial Killer


Capítulo 3
Videogames




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Vou para casa ouvindo Shades of Cool. Essa é a música que escuto quando as coisas estão bagunçadas a ponto de não fazerem mais nenhum sentido pra mim.

Primeiro, na saída do aeroporto, decido que vou andando, mas vinte minutos depois do início da caminhada, convenço meu lado determinado de que preciso urgentemente de um táxi — meu sedentarismo me vence. O único vencedor essa noite, devo dizer. Porque o resto da noite foi um fracasso total.

Espero no aeroporto por quatro horas, até que chego à conclusão de que o Dylan não vem. Meu otimismo cego continua insistindo que foi o voo que atrasou. Ele deixou o passaporte cair no caminho. O celular descarregou. Mil e um motivos que apresento a mim mesma o tempo todo para justificar que o único cara que eu nunca, nem mil anos, conseguiria deixar de amar está atrasado. Meus pensamentos confusos ecoam na minha cabeça até eu concluir que preciso parar em algum lugar e tomar algumas doses de tequila.

Garota, você ficou de ligar e não retornou! E aí, me conta, como foi com o Dylan? Vocês estão em casa agora? — pergunta Kate ao telefone, quando já estou na segunda dose. — Patrick está mandando um beijo. Acabamos de comprar um sofá, é uma graça. Aposto que até Kim Kardashian ficaria com inveja.

— Droga, Kate… — digo, sendo nada simpática. — Agora que eu tinha esquecido esse detalhe por um minuto sequer, você me liga só pra garantir que eu não esqueça.

Deus, o que aconteceu? Espera, eu vou para um lugar mais silencioso — diz ela. — Só um minutinho, querido — diz para o Patrick, o cara que teve a sorte de encontrar três longos anos atrás. — Pode falar, o que houve?

— O que houve — digo, bebendo mais um gole da tequila. — É que ele não apareceu. O voo chegou e ele não. E ele nem me deu satisfações, eu estaria esperando lá até agora— esclareço. Posso ver a garota do meu lado prestando atenção na minha história. Noto que ela está com o rímel borrado, e fico me perguntando se o amor da vida dela fez pior. Será? — Ai, merda, não sei nem o que pensar, será que ele esqueceu ou simplesmente não fez questão de avisar? ou será que ele…

É quando vejo Jake Messer. Com seu típico jeito descolado, ele ri de alguma coisa, enquanto uma garota de dezoito anos usando um vestido apertado sussurra alguma coisa no ouvido dele. Reparo no jeito como ele sorri maliciosamente depois do gesto. Então ela se afasta, indo em direção ao bar. Ele, por sua vez, fica imóvel, permitindo que ela vá na frente apenas para dar uma boa e longa olhada na bunda dela. Soa tão ridículo que uma risada chega a brotar na minha garganta.

Jake é amigo de infância do Patrick, namorado da Kate. Eu o conheci quatro anos atrás, mas, por incrível que pareça, não foi através da minha amiga. Na verdade, foi na festa de aniversário da Hilary, uma colega da faculdade. E eu me lembro como se fosse hoje: Stacy Walker, uma garota tão alta quanto sua popularidade (ela atingia 1,90m usando salto!) chegou acompanhada de Jake Messer, o idiota que era conhecido por transar com líderes de torcida atrás da arquibancada. Mas já fazia algum tempo que ele estava com a Stacy, e parecia gostar dela. Foi quando, naquela festa da Hilary em que tanto as minhas amigas como a Stacy estavam bêbadas, me senti enjoada com o cheiro de um perfume qualquer no ar. Lembro de correr até banheiro, esperando encontrar apenas o vaso sanitário. Entretanto, não era só ele que estava no banheiro.

Tentando abrir o fecho do sutiã de Mia Baker, os lábios de Jake estavam enterrados no pescoço dela. Com rapidez, suas mãos percorriam o corpo dela, apoiado contra a parede do banheiro. Foi quando um dos dois abriu os olhos e me viu observando a cena. Imediatamente, Mia Baker se cobriu puxando a cortina do chuveiro.

— Eu…

— Droga, o que você tá… — ele me olhou de cima abaixo, como se procurasse nos arquivos alguma lembrança minha. — Fazendo aqui? — perguntou Jake, concluindo que nunca tinha me visto antes. Sendo que cursávamos duas matérias juntos. Com seus olhos castanhos fitando os meus, ele ergueu as sobrancelhas de um jeito irritado. — Cacete. Por que é que você ainda está aqui, quem é você? — rosnou.

— Não interessa quem eu sou, e sim quem você é. Você é namorado da Stacy — eu disse. Não passou pela minha cabeça dizer isso, eu apenas fiz. — Vou contar tudo pra ela. O campos inteiro vai saber, pode ter certeza que…

Jake me olhou com desprezo e riu. Um segundo depois, mudou seu olhar para outro desafiador, como se dissesse “ah, é?”, duvidando da minha ameaça. A passos lentos, então, se aproximou de mim. Fiquei com aquele ponto de interrogação sob a cabeça, tentando entender o que ele pretendia com aquilo. Foi quando, com os olhos fixos nos meus lábios, chegando cada vez mais perto de mim, eu entendi.

— O que você está…? — eu me lembro de ter ficado sem palavras. Chegando para trás lentamente, mas com os olhos nos lábios dele, foi uma questão de milésimos até ver a porta bater na minha cara, seguido do “trouxa” do Jake, do outro lado da porta. Foi tudo uma estratégia para me tirar do banheiro e poder voltar o que estava fazendo com Mia. Desde então, por toda a época da faculdade, detestei Jake Messer em segredo. Acho que ele também não gosta muito de mim, já que, ainda naquela época, contei para algumas pessoas e a história se espalhou pelo campos — terminando, consequentemente, com seu lance com a Stacy. Nem quando o Patrick e a Kate nos apresentaram conseguimos ser simpáticos um com o outro.

— Messer está aqui — digo para Kate, do outro lado da linha. — Ainda não me viu.

Onde você está?

— Num bar perto do trabalho — respondo. Encaro Jake mais uma vez. Ele não me vê. — Escuta, por que você não pede para o Patrick levar um papo com ele? Ter que assistir à cena dele se esfregando em uma garota de dezoito anos não é das mais agradáveis…

Ah, não brinca! Messer está com uma adolescente, é sério? — ela ri.
Rio também, mas é só uma questão de tempo até a onda de tristeza bater novamente. Quero saber o que houve com o Dylan, quero entender por que ele não ligou. Era para ele ter voltado de Boston, mas é possível que nem tenha saído de lá. Droga… essa história está estranha e me deixa com o coração apertado. Estou preocupada.

Desligo o celular com a Kate e peço a conta. Pago as doses de tequila e vou em direção à saída do bar, tomando cuidado para não ser vista pelo Jake. Não quero ter que falar com nenhum conhecido, não quero sequer que me vejam. Não nesse estado, com esses olhos sem vida.

— Achei que você fosse vir falar comigo, Weinscher.

Droga.

Sendo obrigada a virar de costas, na direção dele, encontro Jake segurando um copo de bebida. Abrindo seu sorrisinho sensual e, ao mesmo tempo, engraçadinho demais, ele aponta com o queixo na minha direção como quem diz “e aí?”. Ainda em relação à sua provocação, digo:

— Vai sonhando.

A garota de dezoito anos se aproxima, envolvendo o braço ao redor do quadril dele. Ele olha para ela como se estivesse doido para ir a algum lugar mais reservado.

— Legal te ver, April — diz ele, já se despedindo. Eu sorrio por educação. Quando já estou virando de costas novamente, porém, volto a escutar sua voz. — Ah, espero que já tenha desencanado do Cooper de uma vez.

Não core, não core, não…

Coro na hora. Da mesma forma, fico imóvel. E basta isso para Messer entender tudo.

— Nossa! Você ainda tá nessa? Cara, por essa eu não esperava — ele debocha. — Sabia que ela tá afim do Dylan Cooper desde a época da faculdade? — ele comenta com a garota, como se ela conhecesse a mim ou ao Dylan. Ela era uma criança na época da faculdade, vale ressaltar. — Então a nossa amiga April deve estar querendo quebrar todos os videogames do planeta, certo? Deixada por um videogame… que saco, hein.

Lentamente, me viro em direção a ele novamente.

Videogame?

Ele ergue uma sobrancelha, surpreso.

— O Cooper não te contou? — estranha. — Ele deixou de vir pra cá por causa do videogame… os jogos de ação… sabe? — olha pra mim tentando ver se eu me familiarizo. Mas a verdade é que não sei de nada, e não leva muito tempo até ele perceber isso. — Tá legal, acho que eu falei demais…

Passo as próximas duas horas fazendo Jake me contar o que houve. Em algum momento, a menina de dezoito se irrita (acho que ela se apresenta como Jessica em algum momento. Palmer, talvez. Ou Violet, quem sabe. Acho que não fiz questão de prestar atenção a essa parte) e vai embora. Jake parece não se importar, porque sabe que pode encontrar outra em um piscar de olhos. Monopolizando-o total, eu o obrigo a me explicar o que houve e então, vejo que está no final da noite. No final da noite que passei ao lado de Messer, da tequila e da música eletrônica no volume máximo, descobrindo que fui trocada por um videogame. Isso aí. Dylan estragou seu videogame com uma lata de Coca-Cola e decidiu não vir para Nova York sabendo que o aparelho está quebrado.

Entre mim e um videogame, ele escolheu o jogo. E foi incapaz de sequer avisar que não viria.

Jake termina a conversa dizendo com seu sorrisinho debochado “bom, antes trocada por um jogo do que por outra mulher, né?”.


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