365 dias de Verão escrita por Lizzy Panelli


Capítulo 3
Fights,cries and lunch


Notas iniciais do capítulo

Bitch, I'm back by popular demand!

Depois de anos sem dar sinal de vida nesse site, estamos de volta ao mundo das fics para finalmente poder dar continuidade a essa belezinha de história.
Aproveitem a leitura, até o próximo capítulo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/606207/chapter/3

 

Hades acordou com os raios de Sol batendo em seu rosto e o som dos pássaros em sua janela. Algo que ele não gostava nem um pouco. Preferia dormir até mais tarde, ou pelo menos até que estivesse cansado de ficar deitado. O pensamento de que Deméter adoraria ser acordada assim passou por sua mente. Ele sorriu só de pensar que eram diferentes até nisso. Certamente não daria certo passarem esse ano juntos e sozinhos, acabariam se matando.

Ainda absorto em seus pensamentos, involuntariamente, ao se espreguiçar acabou passando o braço por de baixo da barreira de lençóis, e com apreensão já imaginou o escândalo que a deusa da agricultura faria se ele tocasse alguma parte de seu corpo. Porem o toque não veio, Hades apenas passou a mão por uma cama vazia e fria. O deus acordou confuso e puxou o lençol para que pudesse ver melhor o outro lado da cama. Como já era o esperado ela não estava lá. Acordara antes dele. Hades não sabia se ficava desapontado por ela não o acordar ou aliviado por não presenciar nenhum escândalo logo de manhã.

O deus resolveu levantar e se aprontar, deveria ter algo de interessante para fazer nessa ilha/fazenda que pudesse ocupar o tempo dele.

Deméter estava acordada já a um tempo. Não queria a desprezível presença de Hades a incomodando então tratou de acordar antes do deus dos mortos para não ser vista. Pegou algumas roupas no quarto e foi se vestir no banheiro. Conhecia Hades, sabia que ele não acordaria tão cedo. Então poderia se trocar sem muita pressa. Colocou uma roupa leve, passou um pouco de seu perfume adocicado no pescoço e rumou em direção à cozinha. Não costumava comer nada de manhã, raramente sentia fome. Mas ao pensar que se sentisse fome teria que voltar na casa e dar de cara com o urubu do Hades, pegou algumas maçãs da fruteira e fez seu caminho para fora.

O dia estava maravilhoso. Colorido e fresco como ela gostava. Passarinhos serpenteavam nas copas e cantarolavam uma doce melodia que servia como uma trilha sonora para essa manhã. A deusa amava a natureza, tinha uma conexão muito forte com ela. Se ela estava triste as plantas também ficavam e se estava feliz elas davam os melhores frutos. Se algo a fazia se sentir bem era andar no meio das plantas e sentir a energia delas.

Então enquanto absorvia toda beleza do lugar, tentando esquecer que ali era sua nova prisão, Deméter rumou em direção aos estábulos que ficavam um pouco abaixo da casa. Encontrou um local bem-arrumado e limpo onde haviam apenas dois animais. Um branco de pelo macio e que parecia ser bem calmo e carinhoso e outro de pelo negro e bem escovado, parecia ser o mal-humorado e arredio da dupla. Haviam duas pequenas placas na frente de cada um, representando o nome dos animais. A branca se chamava Summer e o negro Thunder. O nome desse segundo a fez lembrar de Zeus. Como ela queria que o ele tivesse ficado ao seu lado. A protegendo desse destino cruel. O deus dos raios era o único que entendia sua raiva contra Hades, afinal ele também era pai de Persefone. E por esse motivo a deusa sentia muita raiva dele no momento. Não é possível que Zeus, seu único amor e amante, a abandonaria dessa maneira.

Deméter foi na direção de Thunder, que ao perceber isso já foi ficando bravo. A deusa então ofereceu uma das maçãs que carregava consigo e foi acalmando o cavalo. Assim que os dois já estavam mais familiarizados ela já subiu no lombo do cavalo e foi saindo do estábulo a fim de conhecer o lugar.

Hades já havia tomado seu café, ou a coisa mais próxima de um café que ele conseguiu fazer, e resolveu ir até a varanda pra observar mais atentamente sua próxima prisão. O deus mau saiu da casa e já começou a ouvir ao longe uma risada e alguns cascos a bater no chão. Obviamente ele já sabia de quem era a risada, e deuses, como ele adorou ouvir o som dela depois de tantos anos. Deméter não costumava rir ultimamente, na verdade desde que a deusa se casara com Zeus magicamente perdera a habilidade de sorrir ou gargalhar, parecia que não existia mais alegria em seu coração. E isso era algo que incomodava profundamente o deus do submundo, ele ainda descobriria o que acontecera com ela. Sendo assim, Hades começou a seguir, sem ser percebido, o doce som de sua voz a fim de achá-la. E quando finalmente o fez se deparou com uma das cenas mais improváveis que ele já vira. Deméter, a deusa mais insuportável que ele já conhecera, brincava alegremente com um cavalo. Aquela cena a deixava tão inocente que o deus quase esqueceu de quem se tratava.

— Muito bem garoto, você é realmente um garoto muito esperto! – disse a deusa passando a mão na crina do cavalo e dando-lhe uma maçã. — Aparentemente você é a segunda criatura mais esperta nessa ilha…

— Ainda bem que você reconhece que não é das mais espertas aqui, querida Deméter – se pronunciou Hades sorrindo e fazendo a deusa se assustar um pouco.

— Que raios você faz aqui me espiando?! Acho que nunca foi ensinado que não se deve chegar do nada assustando as pessoas assim principalmente em locais em que não é chamado ou bem-vindo. - a deusa da agricultara estava bem irritada pela interrupção de seu momento de paz, a última coisa que ela queria naquele momento era lidar com Hades logo de manhã. Seu plano era tentar evitá-lo pelo menos até o final da semana.

— Eu nunca a colocaria na categoria de pessoas, você está mais para uma mula empa...- Hades parou assim que viu a cara fechada de Deméter, ele não queria confusões, pelo menos não agora, talvez mais perto do jantar eles poderiam discutir pra valer.

— Bom se já parou com suas gracinhas poderia me dizer o que fazia me espiando por detrás das árvores? – a deusa começou a caminhar levando o cavalo a caminho do estábulo.

— Acredite ou não, mas eu não estava espionando! – o deus dizia enquanto a seguia — Sai da casa e resolvi percorrer esse lugar para me familiarizar um pouco mais com tudo que tem aqui, afinal natureza e ar puro não são muito minha praia… Estava apenas andando quando a encontrei aqui brincando com os animais.Foi apenas isso, eu nunca a espionaria Deméter, tenho coisas mais importantes a fazer! – terminou de se explicar revirando os olhos.

Deméter, que amarrava Thunder em sua baia, apenas o olhou sem acreditar muito no que o deus dizia, ela sabia que ele estava a espionando. Era algo que a deusa sempre era capaz de saber desde que eles se conheceram. Ela sempre sabia quando ele a observava.

— Sendo assim pode continuar seu passeio não ficarei mais em seu caminho.

— Poderíamos passear juntos se quisesse, afinal o propósito dessa prisão não é de que nós viremos amigos?! Então, acho que quanto mais cedo começarmos mais fácil vai ser. – Hades fez uma tentativa de gentiliza mesmo sabendo como a deusa reagiria a tal coisa.

— Felizmente tenho coisas mais importantes para fazer e isso não inclui ser sua companhia em passeios ou em qualquer outra coisa. – A essa altura os dois já haviam voltado para a varanda da casa. — Além do mais, eu já lhe disse para parar com falsas gentilezas, nós não temos que ser amigos e não vamos ser! Meu plano é evitá-lo o máximo que eu puder e quando esse ano acabar e voltarmos para o Olimpo eu simplesmente esquecerei que ele ou você algum dia existiram. E eu garantirei pessoalmente que você nunca mais ponha os pés lá. – Deméter falou com toda a raiva que ela estava sentindo, seus olhos brilhavam de ódio.

— Agora sim a verdadeira Deméter apareceu! A imagem de mulher inocente brincando com animais não lhe cai muito bem docinho, estava até estranhando não ouvir seus gritos ou choros nessa manhã gloriosa. – Hades ria enquanto seus olhos também brilhavam, mas os dele era de deleite e não de ódio.

— Hades, você nunca conhecerá a verdadeira Deméter, nem em seus sonhos eu a mostraria pra um crápula como você! Você não conhece nada de mim pra poder falar o que é verdadeiro ou não. Você é apenas um cara idiota que sequestrou uma garota pra chamar atenção do irmão mais velho – Deméter se aproximou apontando o dedo indicador para a cara do deus das trevas que estava começando a se estressar.

— POR QUE DIABOS VOCÊ SEMPRE TEM QUE TRAZER O ASSUNTO PERSEFONE EM QUALQUER CONVERSA?? – gritou Hades abaixando o dedo da mulher violentamente. – Isso foi a milênios atrás e depois desse tempo todo você parece ser a única pessoa que continua incomodada com isso. Nenhum dos outros deuses liga, muito menos Zeus que é o pai dela! Além do mais Persefone não parece infeliz comigo, ela nunca pareceu…Acho que até fiz bem a ela tirando-a de uma convivência tão próxima a você, isso com certeza a faria infeliz!

— SEU IDIOTA! VOCÊ NAO SABE NADA SOBRE MINHA RELAÇÃO COM MINHA FILHA – a deusa avançou sobre ele começando a dar socos no peito do homem.

— Eu sei o suficiente para saber que ela lhe suporta tanto quanto eu, porém é muito discreta para demonstrar isso a todos. Encare o fato Deméter querida, ninguém lhe suporta! A prova disso é que eles a isolaram por um ano para que enfim pudessem se verem livres de você, mesmo que por tão pouco tempo…

— Eu te odeio! Odeio com todas as minhas forças. Você tirou a única coisa que me fazia feliz e eu nunca vou ter perdoar por isso. Se tem alguém que os deuses não suportam é você, sempre fora você – os olhos da deusa já estavam cheios de lágrimas, ela já estava cansada de toda essa discussão e pela primeira vez ela deixou que caíssem.

Hades por um momento ficou sem entender o que estava levando Deméter as lágrimas, ela nunca demonstrara sentimentos na frente de ninguém, a mulher era uma dama gelada e durante todas suas tórridas discussões ela nunca se deixara abalar por qualquer coisa que ele dissesse. Era algo que ele realmente gostava nela. Deméter sabia combater de igual para igual, para que ela se mostrasse tão vulnerável assim havia algo mais fundo do que o deus das trevas podia notar. Sendo assim ele deixou que ela chorasse. Ele não discutiria mais. A segurou, para que parasse com os socos, e a sentou no balanço da varanda se ajoelhando em frente para que assim conseguisse acalmá-la.

— Fique calma querida! Eu nunca quis magoá-la, me desculpe. Não deveria ter dito o que disse, mas você sabe nós sempre perdemos o controle quando estamos discutindo. Por favor Demi, não chore!

— Por favor não chame de Demi novamente! – a deusa disse zangada tentando sem sucesso conter as lágrimas.

Hades mesmo hesitante se aproximou dela e começou a passar a mão nos cabelos macios de Deméter a fim de confortá-la, felizmente a deusa não recuou. E deuses como ele gostava da sensação de tocá-la, fazia tanto tempo desde a última vez que o fizera que ele já havia esquecido o quanto era bom.

— Por que você a sequestrou? – perguntou Deméter se soltando do deus, depois de algum tempo, para que pudesse olhá-lo nos olhos.

— Como? – perguntou um Hades confuso

— Por que você sequestrou Persefone? Eu apenas gostaria de saber os motivos que te levaram a fazer isso, afinal nunca chegamos realmente a ter essa conversa naquela época ou em qualquer outra época. E mesmo com raiva eu ainda tenho curiosidade sobre esse assunto, mas não precisa responder se não quiser. Só achei que talvez fosse a hora de perguntar…

— Ah sim…realmente não tivemos muito tempo entre nossas brigas para discutir esse assunto – disse Hades se sentando ao lado dela no balanço para que pudessem enfim começar a sarar as feridas de ambos para que assim começassem a se entender. — Mas infelizmente eu não sei o porquê. Não tenho uma resposta concreta para esse assunto quando nem eu mesmo consigo entendê-lo, sinto muito minha querida.

— Eu só queria saber para poder por um ponto final em nossos desentendimentos. Eu estou cansada de brigar…nossas brigas não nos levaram a nenhum lugar, ou melhor levaram mas não é um lugar bom de se estar. Nunca é um lugar bom sem as pessoas que se ama. – Deméter falou com um sorriso fraco. - Eu só queria que nunca tivéssemos começado a brigar. Você se lembra que costumávamos ser amigos antes de toda essa confusão?

— Como eu poderia esquecer a melhor época da minha vida?! – respondeu Hades abrindo o maior e mais sincero sorriso para Deméter enquanto segurava sua mão. — Era maravilhoso ter minha melhor amiga por perto sempre que eu precisasse. Mas infelizmente as pessoas mudam e se afastam até se perderem completamente ou até que alguém faça besteira que é o nosso caso. Porém tenha certeza que eu sempre a guardarei no meu coração como minha melhor amiga, mesmo com todo ódio entre nós. Eu sinto falta da nossa amizade.

— Eu também…eu também…

Nesse momento os olhos da deusa já ameaçavam soltar mais lágrimas. Ela também sentia falta do melhor amigo e agora sabendo que ele também sentia falta dela só faziam as coisas piorarem. Por motivos até que bobos e por sentimentos complicados na época eles pararam de se falar e quando Hades sequestrou sua filha foi por água abaixo a amizade que um dia tiveram. Será que eles conseguiriam voltar a ser o que eram antes? Isso só o tempo diria e eles teriam bastante tempo presos aqui pensou a deusa.

— Afinal por que paramos de nos falar mesmo? Além é claro do fato de sequestrar Persefone – depois de um tempo perguntou Deméter.

— Você se casou com aquele idiota do meu irmão e ficou difícil competir com ele por sua atenção.

— Realmente me lembro que foi algo perto dessa época mesmo, uma pena … - a deusa refletiu.

Os dois ficaram algum tempo submersos em seus próprios pensamentos e em seus próprios conflitos. Eles sabiam que sentiam algo um pelo outro. Foram amigos inseparáveis por muitos anos e se importavam um com o outro. Já tiveram muito carinho envolvido, que infelizmente fora interrompido abruptamente quando a deusa se apaixonara por Zeus. Hades não sabia até hoje o que sentira – e sente – sobre isso. Ele simplesmente odiava o pensamento do deus dos raios a tocando da maneira que ele nunca poderia tocar. No fundo Hades sempre teve a esperança de que se casaria e teria em seus braços todas as noites a deusa da agricultura. Porém ele nunca conseguira processar esse sentimento ou sequer descobrir se Deméter sentia o mesmo. Então se contentou em ser amigo dela até que não conseguiu mais competir com Zeus pela deusa, então resolveu dirigir aos dois jovens amantes na época todo seu ódio de não ter seu desejo de infância realizado e para a surpresa de Hades ela respondeu a seu ódio da maneira mais feroz que alguém poderia responder. Foi ai que todas as brigas surgiram, acompanhados da besteira do sequestro alguns anos depois selando assim o total desaparecimento de amizade ou carinho. Contudo depois da conversa de hoje Hades percebeu que ainda poderia conquistar o carinho de Deméter de novo. E isso era algo que ele gostaria de ter de volta e lutaria para ter.

Eles seguiam com seus pensamentos regados ao silencio da ilha inabitada até que um pequeno rouco quebrou esse momento assuntando Hades e deixando uma Deméter um pouco envergonhada.

— Isso vem de você? Tem alguém preso ai dentro que está fazendo esse barulho todo? – o homem indagou rindo um pouco.

— Aparentemente vem de mim sim! Porém não tenho culpa, afinal não tomei café porque sai apressada da casa e acabei dando as maças que comeria para o cavalo.

— Coitada da deusa dos cereais passando fome na ilha maldita enquanto os cavalos comem todas suas maças – ele começou a provocá-la para quebrar um pouco o momento sentimental e estranho que acabara de acontecer.

— Eu teria tomado café se não fosse pela desagradável presença que teria na mesa logo de manha. Prefiro a fome do que a companhia de caras de urubu. – Deméter respondeu igualmente brincando e suavizando o ambiente.

— Então teremos que providenciar algo para que sua ex-majestade possa se deliciar antes que morra de fome. – ele deu um empurrão em seu braço para provocá-la e ela sorriu com isso.

— Você vai cozinhar pra mim? – Deméter levantou uma sobrancelha em direção ao homem.

— Se você quiser algo pouco comestível posso fazer, mas estava esperando que a deusa dos cereais tivesse talento na cozinha para preparar algo melhor.

— Tinha quase certeza que o urubu do submundo não sabia fazer um ovo, acho que estava certa todo esse tempo.

— Ainda bem que temos você querida, para nos preparar um banquete delicioso digno de deuses.- assim que Hades falou ele pode observar que Deméter apenas abaixou a cabeça olhando para o chão, parecia que ele a tinha pego em alguma mentira. — Calma ai, não vai me dizer que você não sabe cozinhar, porra Deméter você fingiu para nós todos esses anos? Que coisa feia…Além do mais se nenhum de nós sabe cozinhar o que vamos comer aqui? Porque eu duvido que tenha algum lugar onde podemos comprar comida pronta aqui nesse buraco de ilha.

— Eu sei sim cozinhar – a mulher tentou se defender. – Mas só com receitas e coisas simples, não acho que conseguiria fazer um banquete dos deuses como se referiu. Posso fazer omeletes.

— Além de ficarmos isolados morreremos de fome. Maravilha! – Hades jogou o corpo para trás no balanço e cruzou os braços em desapontamento.

— Não morreremos de fome. Talvez morreremos de altos níveis de stress ou depois de um matar o outro por pura fúria e ódio, mas de fome não. Nunca! – Deméter disse se levantando rindo. — Agora levanta essa bunda dai e vamos lá tentar cozinhar alguma coisa.

Deméter puxou o deus do balanço e saiu o empurrando até a cozinha enquanto o ouvia resmungar baixinho. Assim que chegaram no cômodo a deusa foi vasculhando os armários para saber o que tinha que pudesse – com suas poucas habilidades – preparar para ela e o deus resmungão.

— Se você continuar com essa cara de poucos amigos só porque descobriu que eu não sei cozinhar e isso afundou seus planos de continuar comendo bem, eu deixarei tudo pra você fazer na cozinha, enquanto eu consigo viver muito bem comendo só frutas. - ela lançou um olhar ameaçador pra ele.

— Só espero que não nos transformemos em gambas de tanto comer ovo. Que me parece ser sua especialidade.

— Não vamos comer só ovos, calma homem! – a deusa da agricultura revirava algumas gavetas até que de repente deu um gritinho feliz balançando um caderno nas mão – ACHEI!! Eu tinha certeza que nossa querida Afrodite o mandaria para cá. Ela nunca me deixaria sem ele.

— Afinal o que é isso sua doida? — Hades fez cara de quem não estava entendendo nada.

— Isso é apenas meu lindo caderno de recitas, no qual tem minhas receitas favoritas e as mais deliciosas existentes nesse mundo. Com ele eu posso preparar qualquer coisa e ter a garantia que ficará muito gostoso. – Deméter disso com um sorriso triunfante nos lábios, mas assim que viu a expressão ainda de quem não está entendendo nada do deus dos mortos tratou logo de explicar — Ele é encantado idiota! Eu o encantei alguns anos depois que me casei com Zeus. Você escolhe a receita, abre na página correspondente e só é preciso sentir o cheiro dela que automaticamente você consegue fazer tudo perfeitamente.

— Então é só dar uma cheirada nesse negocio que tu fica chapada e consegue cozinhar? Nunca pensei que a grande deusa Deméter era adepta de algumas drogas de vez em quando – o homem perguntou contendo uma risada.

— Não tem nada de droga aqui querido. É apenas um encanto e nada mais. O único aqui adepto de drogas é você irmãozinho. - a deusa disse irritada – Alias, não sei como você conseguirá se manter longe delas por um ano todo.

— É só substituir um vicio por outro, minha querida. – Hades respondeu olhando-a maliciosamente de cima a baixo.

Deméter apenas revirou os olhos ignorando-o e voltou sua atenção para o caderno de receitas.

— Você ainda gosta de panquecas? – ela perguntou sem desviar os olhos do papel.

— Claro que sim, quem nesse mundo não gosta de panquecas mulher? – Hades respondeu com um pequeno sorriso pelo fato da deusa anda lembrar de seus gostos. Deuses porque ele não conseguia parar de sorrir perto dela? Em menos de 24 horas Deméter já tinha novamente esse efeito sobre ele. O deus dos mortos estava ferrado e sabia muito bem disso. Eles não podiam se gostar por muito tempo, porque por mais que apreciassem um ao outro eles também necessitavam das histéricas brigas. Era algo que já fazia parte da natureza dos dois. Eles viviam da mistura do ódio e do amor…

— Então acho que comeremos panquecas de almoço. — Deméter o tirou de seus pensamentos enquanto começava a preparar a massa. Ela abriu o caderno na página das panquecas enquanto Hades apenas a observava. Então ela simplesmente sobrou a página, de onde saiu um pó roxo e em seguida, enquanto o pó ainda estava pairando no ar, a deusa o cheirou deixando sua pupila igualmente roxa. — Vamos começar a festa! - a mulher disse animada.

Enquanto Deméter começava a preparar as panquecas enfeitiçadas Hades se acomodou em uma cadeira na mesa apenas para poder observá-la nessa simples tarefa. Ele nunca teve alguém que estivesse disposto a cozinhar para ele. Persefone odiava panelas e preferia comer qualquer coisa industrializado do que ter que fazer ao modo caseiro, então normalmente as refeições ficavam por conta dos criados de seu castelo no submundo. Claro que a deusa da primavera – e sua esposa - também não tinha um caderno encantado que a ajudasse a cozinhar então acho que ele podia perdoá-la. Hades sorriu com esse pensamento. Deméter se movimentava tão graciosamente enquanto murmurava alguma melodia que ele não conseguia identificar e isso realmente o deixava encantado e por incrível que pareça um pouco exitado. Ele precisava tocá-la, precisava sentir sua pele macia enquanto deslizava seus dedos nela. Ela era bela, delicada e ao mesmo tempo tão forte, inabalável e – para ele – incessível. Malditos sentimentos que insistem em aparecer novamente. O deus até tentou desviar sua atenção da mulher a sua frente e tentou se concentrar em alguma outra coisa, qualquer coisa, mas não conseguiu. Seus olhos automaticamente sempre se voltavam para ela quando ele tentava desviar.

A deusa já estava colocando a massa na frigideira quando Hades teve a brilhante ideia de uma maneira de tocá-la. Mas infelizmente ele não tinha certeza se ela deixaria ser tocada e entraria na brincadeira ou se começaria a brigar acabando assim com o pequeno momento de paz entre os dois. Ele pensou alguns instantes até tomar coragem de pôr sua ideia em prática. Caminhou silenciosamente até o saco aberto de farinha em cima da mesa de modo que Deméter não conseguisse ver e pegou um pouco do pó branco e sem mais demoras jogou tudo na face da deusa.

— Que porra é essa?! – a deusa perguntou com uma cara perplexa e assustada enquanto Hades ria.

— Você tinha que ver sua cara Demi!

— Então é assim?! Acha que só você pode brincar?! – a deusa tentou conter o riso e seus olhos brilhavam para entrar na brincadeira.

Era isso que Hades queria. Ela entraria na brincadeira e assim ele poderia enfim tocá-la. E assim foi feito. O deus esperou e assim veio uma rajada de farinha em sua direção deixando sua vista um pouco embaçada seguida da risada mais linda que ele já ouvira. Enquanto limpava seus olhos a deusa pegou o saco da farinha e saiu correndo pela cozinha jogando mais e mais nele. Ela queria que ele a alcançasse e assim ele fez, aproveitando para jogar o a massa das panquecas na direção da mulher. Preenchendo assim o ambiente com a risada de ambos.

— Você acha que consegue fugir de mim por muito tempo mulher? – Hades a olhava maliciosamente.

— Eu sempre consigo querido Hades. - ela disse devolvendo com um sorriso igualmente malicioso e foi nesse momento que Hades a encurralou.

— O que foi que você disse minha Demi? – ele disse pegando o saco com um resto de farinha da mão dela. A mulher o olhou um pouco confusa, não pelo fato de ter sido encurralada mas sim pelo fato de que Hades havia se referido a ela como “minha Demi” e ela não sabia se tinha gostado ou não. Ela ainda estava pensando nisso quando só sentiu uma mistura de massa e farinha a atingir no topo da cabeça e ir escorregando por todo seu rosto seguida da risada do deus. Que Zeus a perdoe mas isso já estava virando seu segundo som favorito de todos os tempos e ela faria de tudo para poder escutar esse som mais vezes.

Enquanto Deméter ainda pensava nisso sentiu grandes mãos tocando sua barriga enquanto ela se contorcia em risadas.

— Por favor, eu não gosto de cócegas! Tudo menos isso…

— Infelizmente não é o que seu corpo diz. - o deus acompanhava a deusa se remexendo embaixo dele e dando altas risadas. Era tão bom tocá-la que ele desejava nunca parar só que infelizmente vendo Deméter já ofegante a soltou.

— A muito tempo eu não me divertia tanto – disse a deusa passando a mão em seus cabelos para ver o quanto eles estavam sujos.

— Eu também não querida. Devemos fazer isso mais vezes para relembrar os velhos tempos. Eu já tinha me esquecido como é bom ouvir sua risada. – Hades olhou a mulher com sinceridade e recebeu um sorriso em troca.

— Só não vai pensando que fizemos as pazes e eu esqueci de Persefone queridinho.

— Isso nunca passou pela minha cabeça Demizinha. - os dois sorriram pela menção do apelido.

— Digamos que estamos em uma breve trégua. Mas eu ainda te odeio e ainda vou matá-lo qualquer dia.

— Compartilho do mesmo pensamento. - o deus finalizou tirando um pouco de massa da ponta do nariz da mulher.

Depois de um tempo eles se levantaram e comeram a única panqueca que ficou intacta da recente guerra que passou pela pequena cozinha. Hades se encarregou de limpar a bagunça enquanto Deméter tomava um longo banho para tirar toda a sujeira de seu corpo. Mas mesmo em diferentes cômodos alguns metros de distancia seus pensamentos ainda iam de encontro um do outro. Era inacreditável como em apenas um dia eles puderam novamente encontrar o sentimento que estava adormecido a éons. Não seria fácil adormecê-lo de novo, e infelizmente os dois deuses ainda não sabiam se queriam ou não fazer isso. Estavam ferrados isso era certeza, eles só não imaginavam o quanto pois sentado em seu trono no Olimpo Zeus apenas observava e uma raiva emanava de seus poros. O deus dos raios não deixaria Hades tomar aquilo que ele possuía. Ninguém além dele seria autorizado a possuí-la. Deméter era sua propriedade e sempre seria.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Esse capítulo foi o mais divertido de escrever até hoje, espero que tenham gostado dele tanto quanto eu, se possível deixem algum comentário para eu saber o que estão achando até aqui.
Obrigada a quem leu, até o próximo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "365 dias de Verão" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.