O silêncio do ambiente só era quebrado pelo som dos beijos que Jacob e Bella ainda trocavam, enlevados pelas confissões apaixonadas. Ao fundo, como se fosse há milhas daquele recanto sossegado, se ouvia o ruído dos instrumentos, das vozes, das risadas, da alegria. Porém nenhum dos dois queria abandonar o espaço recheado de sentimentos agradáveis para se encontrar envolto por pessoas, mesmo que essas pessoas se sentissem tão felizes quanto eles.

Naquele momento Bella estava recostada no peito do marido, sentindo o coração dele bater contra seu rosto. Jacob respirava suavemente e acariciava os cabelos dela. Precisavam de mais? Provavelmente seria bem melhor se estivessem na casa deles, trocando as mesmas carícias na cama depois do sempre prazeroso sexo, e não ali, numa residência estranha.

– Precisamos sair deste cômodo... – Bella comentou desgostosa com a proposta, estava realmente na hora de voltar à festa, às comemorações, apesar de esse não ser seu desejo.

Jacob demorou alguns segundos para responder.

– Fico me perguntando o porquê de ainda não termos sido importunados por sua mãe ou pela minha mãe. – a colocação do marquês fechava exatamente com o que a esposa já pensava.

– Verdadeiramente um milagre... – ela disse sorrindo de forma abobalhada.

– Certamente... e espero que perdure por mais tempo esse milagre. E não pretendo voltar para a festa agora. Só se formos obrigados.

Jacob concluiu respirando profundamente, acomodando os braços no entorno da cintura da esposa, enquanto mais uma vez se recriminava pela cegueira que o perturbara dias a fio. Por não ter percebido nada além daquilo que queria perceber. Deveria saber que uma mulher como Isabella não se entregaria tão facilmente a um homem se não tivesse qualquer espécie de sentimento por ele. De fato, o que atrapalhou sua percepção da realidade foi a estupidez de ter escutado uma conversa e ainda ter guardado essa indiscrição para si.

Enquanto meditava, o marquês percebeu que já no período de noivado se sentia incomodado com a certeza dos sentimentos de Bella por Edward. Como um bom orgulhoso justificou esse leve incômodo como apenas medo de ser traído. Como uma possibilidade clara de sofrimento para a esposa e também para si. Mas era óbvio que naquela época seus sentimentos por Isabella não eram apenas de amizade e gratidão como ele assegurava a si mesmo.

A garota foi a primeira moça de quem Jake se aproximou sem qualquer interesse escuso, e ela o recebeu sem medo, sem sorrisos sedutores, sem olhares encantados, sem palavras dúbias. Bella se mostrou sem máscaras e, mesmo não percebendo, ele gostou do que via. A menina, não representava qualquer tipo de perigo e ele não se armou contra ela. Beijou de leve o topo da cabeça da esposa concluindo que, sem pretender, Bella fora a mais perigosa de todas.

E o mal entendido que tantas vezes o perseguia como um fantasma de culpa frente a possibilidade clara de infelicidade futura, agora representava um marco, um divisor de águas, quase uma bênção. Se o beijo não tivesse acontecido, se ele não tivesse se enganado e agarrado Isabella da forma como fez, nunca saberia o que era amar e ser amado. Nunca descobriria o que significava ter um lar para onde se deseja voltar. Uma cama onde se deseja permanecer. Uma mulher, uma amiga e uma companheira que representava a personificação de um sentimento que ele jamais imaginou que existia.

– Quando? – Bella perguntou de repente desfazendo o devaneio do marido.

– Quando? – ele repetiu baixinho se mostrando perdido.

– Quando você descobriu que me ama?

Se afastando Bella o encarou, o olhar tinha o ar límpido e claro que sempre esteve presente em cada gesto dela. Com carinho Jacob a aproximou novamente para um beijo leve. Bella espalmou as mãos no peito dele passando por dentro da jaqueta, desejando abrir os botões do colete.

– Estou fadado a cegueira completa... – Jake falou sorrindo ainda com os lábios ligados aos dela – Só percebi quando achei que você estava triste por causa do casamento de Edward e Leah... mas acho que esse sentimento vem de muito antes...

O riso feliz que escapou dos lábios da esposa o preencheu de um contentamento que mal cabia no peito.

– Esse era o motivo real de tanta zanga? – Bella não se furtaria ao prazer de saber tudo, todos os detalhes dessa descoberta que a fazia a mulher mais feliz do mundo.

– Era... – Jacob sorriu também, incrivelmente não se sentia mal em confessar o ciúme que o consumiu por dias. O orgulho finalmente se fora. Para que manter o orgulho intacto e ser infeliz. No atual momento, ele preferia ser feliz.

– Devo dizer, senhor meu esposo, que o senhor está mesmo fadado a cegueira... como nunca percebeu que todo o meu ser pulsa e vive pelo senhor?

– Porque no que se refere a sentimentos minha cara esposa, sou tão ou mais inexperiente do que você era no que se refere a... sexo...

Bella riu gostoso encaixando a cabeça no peito dele.

– Agora virei seu brinquedo? – ele perguntou ainda sorrindo. – Motivo de brincadeiras e risadas?

– Eu amo você... – Bella disse baixinho.

Ele retribuiu a confissão com um beijo longo e imediatamente perguntou:

– Me diga quando você descobriu que me amava?

Bella acariciou o rosto dele com a ponta do nariz, enquanto subia as mãos pelo colete até a altura do pescoço onde o lenço branco se enroscava.

– Quando você e Rosalie dançaram... – Jacob moveu a cabeça lentamente, tentando lembrar quando isso acontecera. Notando a confusão dele, Bella esclareceu: - No baile, em casa dos Litlesea – não adiantava, ele não lembrava, se realmente tivesse feito isso, passara e fora completamente esquecido.

Isabella remexeu as mãos, passando os dedos delicados sobre o tecido macio do lenço masculino antes de continuar a falar:

– Mas muito antes disso, passava horas pensando em você, no modo como beijava minha mão, como me olhava... porém...

– Porém... – ele insistiu. Era um deleite ouvi-la falar de seus sentimentos.

– Já que estava consciente de que você nunca iria me olhar como eu gostaria, fingi que não sentia nada... me saí bem não acha?

Jacob concordou com gesto de cabeça enquanto fechava os olhos e a esposa continuou:

– Até que não foi mais possível fingir e tive que confessar a mim mesma como me sentia. Foi triste constatar que amava alguém que provavelmente nunca olharia para mim... – ela ficou calada, brincando com a ponta do lenço, parecia encabulada e logo ele compreendeu porque - As mulheres que estavam sempre com você eram muito diferentes de mim.

– Essas mulheres chegavam apenas ao meu corpo...

Bella não compreendeu.

Ele sorriu e respondeu com alegria.

– Elas chegavam apenas ao meu corpo... você foi muito mais longe, você chegou e tomou o meu coração.

Os olhos escuros desfocaram brevemente enquanto Jacob voltava a falar com extrema sinceridade:

– Eu era mesmo cego... mas isso se justifica, não estava em busca de amor. Apenas de bons momentos na cama. – a fama dele confirmava aquela frase – E há algo que sempre pensei sobre você que precisa compreender. Eu a via como uma moça que merecia um bom marido. – Jacob a obrigou a encará-lo – Porém nunca me considerei apto a ser um bom marido, desta forma não havia motivos para me aproximar de você ou olhar para você como uma possível candidata a esposa...

– Você é um bom marido... – ela o interrompeu – Quando não está com ciúmes...

– Ah esses ciúmes mudaram minha vida... sua presença mudou minha vida... meu amor por você mudou a...

Bella não permitiu que ele continuasse, encaixou a boca na do marido sugando o lábio inferior enquanto explorava a parte interna da casaca dele, provocando deliberadamente os desejos que os consumiam como quem brinca com um tigre amarrado por num fio.

Os corpos se uniram mais, Jacob a puxou para cima, quase deitando-a sobre si, segurou as nádegas da esposa com firmeza encaixando-a entre as pernas. Se entrasse alguém ali naquele momento os pegaria numa cena íntima bastante intensa, mas foi outra coisa que atrapalhou o instante romântico, a velha tontura ressurgiu, o corpo feminino amoleceu. Bella procurou se agarrar a ele tentando equilibrar-se.

– O que foi?

O marquês perguntou preocupado sentindo o corpo delicado amolecer em seus braços. Bella puxava o ar com calma, estava novamente pálida. Nervosamente ele a ajudou a sentar, soprou ar no rosto da esposa.

O foco se perdia, estava outra vez mergulhada no cone onde as imagens pareciam ficar cada vez menores e os sons abafados. E para piorar, o estômago se embrulhava.

– Vou chamar o médico. – o marquês falou ficando em pé.

– Jake... – Bella chamou baixo antes que ele pudesse se erguer do sofá.

– O que é?

– Acho que prefiro ir para nossa casa... quando estivermos lá você chama o doutor Smith, nós vamos atrapalhar a festa de noivado...

Ele não ia esperar tanto tempo, Bella percebeu isso no modo como Jacob a observou, ele ia atrás do médico e o arrastaria até ali mesmo que o homem estivesse no meio de uma dança. Fez uma nova tentativa:

– É só um mal estar e...

O marido retrucou:

– É a segunda vez hoje...

Na verdade não era a segunda vez, ela vinha se sentindo estranha há dias, mas nada falou, provocaria ainda mais agitação em Jacob. Sendo assim, acabou por permitir sua ida.

*

Jacob caminhou pelas peças abafadas olhando em volta, havia muita gente naquela festa. Como não reparara nisso antes? Alguns o seguravam tentando entabular uma conversa qualquer sobre um assunto que não lhe interessava. Com certa dificuldade e muito jogo de cintura ele se desfez de todos, mas nem por isso chegou ao médico com mais facilidade.

Parecia que a procurara levaria mais tempo do que previra. Principalmente porque não poderia perguntar pelo médico claramente, todos ficariam curiosos e os comentários começariam. Bella certamente ficaria zangada se isso acontecesse.

– Jake... Jake... – ouviu uma voz feminina e logo depois o rosto de Emily surgiu diante dele.

Sua irmã era a salvação que ele pedira aos céus.

– Emily, você sabe onde o doutor Smith está?

A garota olhou em volta e só então o marquês percebeu que a irmã estava acompanhada pelo jovem Eric, que o observava de maneira preocupada.

– Ele estava no salão de jogos. – uma tímida voz masculina deu a resposta que Jacob necessitava.

Satisfeito por finalmente descobrir o paradeiro do dito doutor, Jake mostrou um grande sorriso de agradecimento enquanto batia no ombro do futuro cunhado amigavelmente.

– Cuide bem da minha irmã! – aquele poderia ser um pedido, mas em se tratando de Jacob também poderia ser uma ameaça.

De qualquer forma, Eric, se sentiu satisfeito pelo modo como o marquês sorriu diante de sua informação.

*

Lá estava o velho cabeça branca, metido em seu melhor traje, sentado a uma mesa de carteado. O que mais alguém como ele poderia fazer? Viúvo, sem interesse algum num futuro matrimônio. Uma festa como aquela servia apenas para diversão onde havia boa comida, boa bebida e parceiros inteligentes de whist.

Arrastar o homem da mesa não foi uma tarefa complicada. O marquês teve apenas que salientar o fato de que sua esposa estava se sentindo mal. Que o mal estar acontecera mais de uma vez naquela noite e que ele estava muito preocupado.

Não querendo se mostrar desinteressado, o velho seguiu o marido preocupado, apesar de considerar o fato como meramente ilusório. A maioria das mulheres comia ou bebia demais nessas festas e depois passava mal. Porém, geralmente, esse mal estar não passava de pura e simples indigestão.

Entretanto precisou mudar de opinião quando, ao entrar na sala, a dupla encontrou Bella desmaiada sobre as almofadas do sofá.