Durante a madruga Jake acordou, o sono leve foi encerrado por um movimento de Isabella passando a perna sobre a sua. Ele já estava acostumado aos movimentos dela, raramente isso o perturbava. Mas, naquela noite em especial quando sua cabeça não descansara até que a exaustão fosse a vencedora obrigando-o a dormir, acordar por causa de um gesto involuntário não parecia inusitado.

A janela estava fechada, a cortina também, o fogo ainda crepitava fracamente na lareira, Bella mantinha a cabeça recostada em seu ombro, um braço ao redor do seu. Os seios da esposa roçavam sua pele, se a acordasse naquele minuto eles poderiam levar adiante as atividades cortadas poucas horas atrás. Porém, mesmo agora, essa não era exatamente a vontade dele, pois o único que sairia satisfeito dessa aventura sexual seria seu corpo.

De repente Isabella suspirou, ele se moveu virando o próprio corpo, fazendo com que ela também se virasse e se encaixou nas costas dela. Passou um braço pela cintura da esposa que respirando tranquilamente continuou a dormir.

Naquela posição podia sentir com mais intensidade o aroma dos cabelos dela, da pele que roçava na sua e só então soube que estava perdido, se colocara deliberadamente numa situação sem volta com alguém que não o amava. Nunca foi o tipo de homem que engana a si mesmo, sabia que Bella amava seu irmão mesmo antes que ela tivesse mencionado o fato à Emily, entretanto, na época isso não o perturbou, sentimentos não estavam previstos para aquele casamento. Pois, como todo bom sedutor, se julgara protegido pelos anos de prática com mulheres variadas. Desprezara soberbamente a capacidade de Isabella de encantá-lo... de seduzi-lo... de enjaular seu coração de tal forma que ele não conseguisse mais se imaginar vivendo sem ela.

Moveu-se novamente tentando se afastar, Bella não fez qualquer movimento em contrário; ela dormia pesadamente. Sentou na cama e as cobertas escorregaram caindo na cintura, deixando o peito a mostra. Nervoso passou as mãos pelos cabelos desarrumados. Não fazia parte dos planos se apaixonar. Sem mencionar o fato de que não fazia a menor ideia do que deveria fazer a partir daquele momento. Como agir diante dessa inusitada situação sendo que para Isabella nada parecia ter mudado?

Depois de tantos dias juntos, de todas as intimidades, conversas, carinhos, beijos, situações que levaram os sentimentos dele a mudar drasticamente, Bella continuava a amar seu irmão. Não, não havia esperanças de que algo pudesse milagrosamente acontecer para reverter a situação. Nem ele sabia como se portar para reverter essa situação.

– Jake... – ouviu e imediatamente se voltou para o lado.

Bella ainda sonolenta estava recostada no antebraço a observá-lo preocupada. Instantaneamente Jacob compreendeu como acontecera. Ela não se resguardava de oferecer atenção e carinho, era límpida como um copo d’água pura. Era afável, generosa, delicada e ao mesmo tempo uma amante apaixonada, vibrante e quente. Esse comportamento o desarmou sem qualquer dificuldade, sem que nem mesmo percebesse o que acontecia.

Quando a resposta não veio Isabella finalmente sentou ao lado dele repetindo o chamado:

– Jake... – passou carinhosamente a mão sobre o braço do marido que imediatamente se aproximou para beijá-la.

Precisava ter o sabor adocicado de verão em si, do calor do corpo macio, das formas arredondadas coladas contra sua pele. Das mãos dela a deslizarem por seus músculos.

Lentamente Jacob a deitou sobre o colchão, com ambas as mãos afagou o rosto da garota e desceu pelo pescoço. Não havia pressa, abraçado ao corpo delicado ele aproveitou o beijo, e o efeito que as mãos dela provocavam em seu corpo, mas especialmente em seu coração. Toca-la era como completar-se, achar-se, descobrir-se tão inocente quanto uma criança quando o assunto era amar com a alma e não apenas com o corpo.

Como se tivesse compreendido que o marido queria mais do que uma simplesmente noite de sexo tórrido, Isabella o abraçou, acariciando os cabelos escuros com suavidade apaixonada, permitindo-se ficar aninhada no peito amplo, sem contato mais íntimo por um longo tempo, apenas aproveitando carícias gentis e beijos adocicados. E quando Jacob finalmente decidiu que era o momento de tocá-la com mais intensidade, tudo parecia incrivelmente diferente e arrebatado.

Os olhos escuros dele a observavam enquanto o corpo grande se movia na intenção de completa-la. Detidamente concentrado na mulher que estava sob seu corpo, Bella lhe pertencia. Era sua. Nada mais importava. A partir daquele momento eles passariam a ter uma relação diferente. Mais completa e intensa. Era a única forma de tentar receber dela aquilo que ele mais desejava, seu amor.

*

Mas, nem tudo aconteceu como o previsto, ainda naquela manhã úmida a realidade que tanto o perturbara durante a noite reapareceu para assombrá-lo. A presença do irmão dentro de sua casa a conversar com sua esposa enquanto ele estava fora. Assim que os viu novamente juntos, sentiu o peito imediatamente ser preenchido daquele sentimento desconhecido que ela agora sabia se tratar de ciúme.

– Edward... – falou firme, tentando se controlar e atrair a atenção do casal para si. Seu irmão não tinha culpa de nada, tanto quanto qualquer um deles, por isso, e apenas por isso, ele manteria a postura.

Isabella lhe sorriu admiravelmente, os olhos brilhando. Aquilo era um reflexo do amor que ela sentia pelo marido, principalmente depois da última noite, mas para Jake, era a incerteza dos sentimentos dela estampados no tom chocolate.

– Boa tarde Jake! – Edward respondeu se aproximando para um cumprimento efusivo.

O marquês só via o que queria ver. O irmão parecia tão alegre quanto sua esposa. Constatou e de imediato se perguntou, por quanto tempo eles ficaram ali sozinhos conversando sem a presença de alguém?

– Algum problema? – o rapaz perguntou ao ver a expressão fechada no rosto do mais velho.

– Problema algum! – Jacob respondeu enquanto indicava uma cadeira para que o outro se sentasse - Mas, conte-me o motivo da visita inesperada.

Edward olhou de relance para Isabella que retribuiu o olhar.

– Nada de importante, estava apenas conversando com Bella...

Bella? Jacob repetiu mentalmente enquanto passava os olhos de um para outro, desde quando seu irmão se referia a ela daquela forma?

A dupla sorria e se olhava animadamente parecendo não perceber o que estava acontecendo dentro dele. Que diabos eles estavam escondendo?

Finalmente Isabella se aproximou, sentou próxima, passou um braço pelo dele e animadamente falou:

– Edward estava me contando sobre o pedido de casamento... Jake, titio aceitou! Isso não é ótimo?

Ele quase não acreditou no que ouvia e via. Bella estava mesmo animada com a aceitação do visconde ao casamento? Ou aquela alegria toda era simples fingimento na tentativa de esconder o que realmente se passava dentro dela?

Quase imediatamente descartou a ideia, Isabella não era o tipo de mulher dissimulada e falsa. Não, ele não podia estar tão engando assim quanto a esposa. Retendo dentro de si os sentimentos de dúvida, estendeu a mão para o irmão num cumprimento.

– Realmente, ótimas notícias. Parabéns!

Edward aceitou de bom grado o cumprimento e em seguida cruzou as pernas que insistiam em se mover, ainda refletindo o espírito que o acompanhara desde cedo naquele dia.

– Jake, você não tem ideia de como estava me sentindo... do medo de ser recusado pelo pai dela...

Jacob ainda com a expressão fechada retrucou:

– O visconde não faria isso com você. Não seria bom para ele se indispor comigo.

Admirada com o tom usado pelo marido Isabella se afastou levemente para observá-lo. Jacob definitivamente não estava em seu estado normal. E era algo envolvendo Edward e esse bendito casamento.

Não havia motivos para que ele se sentisse insatisfeito com essa união. Reforçaria ainda mais os laços das famílias e... uma ideia estúpida passou pela cabeça dela. Será que seu marido não estava satisfeito porque considerava Leah inapropriada para o irmão ou porque se sentia atraído por ela?

Moveu a cabeça negativamente. Isso era loucura! Loucura! Ele nunca demonstrara qualquer sentimento em relação a moça que não fosse de pura e simples amizade. Na verdade eles mal se falavam. Ao contrário do que acontecera com Rosalie... (Bella tentou desviar da mente a visão do marido dançando com a prima) Jake jamais convidara Leah para algo mais do que uma dança simples e sem conversa.

Edward continuava a falar, contando alegremente sobre sua incursão, sobre sua felicidade, sobre a felicidade de Leah. As palavras escapavam pelos lábios dele de forma alegre sem perceber que o casal mal o ouvia.

– Agora começam os preparativos para a festa de noivado. E gostaria muito se Bella pudesse ajudar.

Lá estava ele outra vez chamando sua esposa pelo apelido.

– Acho que mamãe e a viscondessa vão querer fazer tudo do jeito delas. – Jacob sentenciou – E não quero Bella envolvida nas artimanhas de Sarah... menos ainda nos possíveis desentendimentos dessas duas.

Boquiabertos Bella e Edward não sabiam o que dizer diante do comportamento estranho de Jacob. Mesmo assim Isabella fez uma tentativa:

– Mas Jake eu...

Ele a observou e pela primeira vez Bella viu os olhos do marido duros em sua direção. Ele estava zangado? Era mesmo isso? Mas zangado por quê?

– Não creio que mamãe e Suelen se desentendam por causa de um jantar de noivado, mas, em se tratando de Sarah, tudo é possível... – Edward tentou remendar ao perceber que Isabella não estava gostando do comportamento do marido.

– Jacob já sabe que posso lidar bem com Sarah – Bella explicou retirando o braço que estava enroscado no do marido – E titia, bem, ela não é tão difícil quanto a mãe de vocês.

Edward mostrou sua aprovação ao comentário da cunhada, e Jacob tratou de resolver a questão sendo ainda mais firme em seus argumentos.

– Na ocasião em que você e mamãe organizaram meu aniversário, era apenas vocês. Agora, terá que se dividir entre a sogra e a tia, e ambas considerarão que tem maior influência sobre a nora ou sobrinha. Vamos acabar com uma guerra!

Assim que concluiu a explicação Jacob ficou em pé. Edward percebeu claramente, no adulto que cruzava os braços sobre o peito, o menino zangado que discutia com Sarah quando acreditava que tinha mais razão do que a mãe.

E foi nesse exato momento que Edward decidiu ir embora, de nada adiantava discutir com Jacob quando ele estava zangado, o irmão simplesmente não mudava de ideia, insistir era perder tempo.

– Acho que Jake tem razão Bella... pensando bem, não acredito que seria prazeroso para você passar dias aturando os desmandos das duas.

Surpresa pela súbita mudança de atitude do cunhado, e logo reconhecendo nela uma retirada estratégica na intenção de evitar uma discussão, Isabella acatou o conselho. Mas não se sentiu satisfeita por isso.

– Obrigado pelo chá. – o rapaz concluiu mostrando um sorriso amarelo, muito diferente daquele com o qual chegara.

Erguendo-se da cadeira despediu-se da cunhada com um beijo educado na mão, e após um rápido aperto de mão no irmão saiu da residência do marquês acreditando que este se indispusera com algum arrendatário.

Assim que Edward sumiu, Jacob se moveu, afastando-se ainda mais da esposa. Tentando se acalmar segurou o ar dentro do peito. Bella permaneceu sentada no mesmo lugar encarando as costas dele, completamente perdida, aturdida diante do comportamento do marido.

– O que há com você?

Se atreveu a perguntar em um tom de cobrança magoada e incompreensão. Não era apenas o que ele dissera, mas como dissera, e principalmente como olhava para ela.

– O que quer dizer com o que há comigo? Estou normal como sempre.

Ela tentou ignorar a hipocrisia do comentário antes de retomar o assunto da forma como achava que deveria ser debatido:

– Alguma coisa o incomoda desde o jantar... não sou uma idiota completa Jacob, e já o conheço o suficiente para saber quando algo o perturba.

O marquês se voltou para a mulher, os olhos negros apertados, a boca retraída com as palavras que estavam travadas na garganta. Como Bella se atrevia a fazer perguntas e comentários como aqueles? Como se ELE fosse o errado? Quando sabia muito bem que o estava traindo todas as vezes em que encontrava com Edward!

– Por que meu irmão insiste em frequentar minha casa quando não estou presente? – as palavras escaparam finalmente como se ele as vomitasse.

Não era verdade o que ela ouvia. Aquele não era o motivo real, ninguém se incomoda por ter o irmão, com o qual tem um ótimo relacionamento, visitando sua casa.

– Nunca acreditei que você considerasse errado receber visitas de seus irmãos... – ela retrucou muito ereta, sustentando o olhar dele com firmeza.

Lá estava a Bella que era capaz de retrucar uma ordem quando esta lhe parecia errada ou exagerada. Mas naquele momento ele se sentia sem paciência para a indicação de irritação que ela demonstrava por não poder ficar a sós com o caçula dos Black.

– Você pode receber Emily quantas vezes desejar, mas evite estar com Edward quando eu não estiver presente.

– Ele não sabia que você não estava.

Jacob soltou um som estalado como quem discorda do que está sendo dito.

– Edward sabe que costumo trabalhar pela manhã.

– Mas ele pensou que você estava em casa... perguntou pelo irmão quando chegou. – ela estava justificando o colóquio, e isso o irritava mais.

– Isso quer dizer que poderia ter se retirado logo depois de descobrir minha ausência.

Bella também ficou em pé, aquela posição tão inferior parecia coloca-la na posição de ré. Só que ela não fizera nada de errado.

– Eu disse a ele que poderia esperar por você! Nunca imaginei que isso o incomodaria. Nunca imaginei que o trataria da forma como tratou.

Após ouvir a defesa apaixonada de Isabella, Jake deu as costas para a esposa, contraiu os lábios, detendo o ímpeto de dizer tudo o que pensava.

Enquanto isso, Bella refletia, será que jake estava com medo de cair na boca do povo da mesma forma que acontecera com ela quando ele dera presentes à ex amante? Será que acreditava que as pessoas falariam das visitas que a marquesa recebia do irmão do marido? Que considerariam a relação dos cunhados como algo mais do que simples amizade?

Travou o ar no peito quase sufocando com a demonstração de pouca confiança que ele lhe concedia, sendo que jamais dera qualquer motivo para isso. Pelo contrário, sempre mostrara seus sentimentos em todos os gestos e agrados que lhe concedera.

– Bem, agora você sabe como deve agir quando a situação se repetir. – ele retrucou entredentes alguns segundos depois, quando finalmente conseguiu se controlar.

Aquela frase foi como tomar uma bofetada, a forma como ele a disse, a entonação de voz, a autoridade... nada daquilo combinava com o homem que ela conhecia. Talvez fosse uma versão do seu marido, afinal era ele, era Jacob que estava parado de costas para ela.

– Farei como você deseja. – Bella disse por fim antes de se virar e sair do cômodo apressadamente.

Aquele era realmente o primeiro desentendimento sério deles, e viera logo depois de uma noite especialmente apaixonada quando Isabella chegara a acreditar que era amada.

Quando os passos da esposa ecoaram pelo corredor vazio Jacob se permitiu cair sentado numa cadeira, a cabeça entre as mãos. A respiração acelerada, e um profundo buraco dolorido no peito. Nada do que fora planejado para ser feito fora realmente realizado.

Toda a intimidade construída ao longo dos últimos dias sumira. Escapara por entre seus dedos como o ar, de uma forma impossível de ser retida. Se descobrir apaixonado pela esposa não tornara sua vida mais fácil. Pelo contrário parecia ter complicado tudo.

Após alguns minutos de meditação, e arrependido de seu comportamento grosseiro que só a afastaria, Jacob abandonou o orgulho e saiu atrás da garota. A encontrou sentada em sua sala íntima, o rosto entre as mãos, parecia tão desolada quanto ele.

– Bella... – ele falou baixo enquanto se aproximava. – Preciso que você me desculpe...

A mulher não se moveu em sua direção, apenas seu corpo foi sacudido pelo que ele logo reconheceu como um soluço.

Abraçando-a Jacob repetiu o pedido:

– Me perdoe... fui muito grosseiro...

– O que está... acontecendo com você? – ela perguntou com o rosto enfiado no peito dele.

Estou com ciúmes. Morrendo de ciúmes, e sem saber como me portar diante de você e dessa nova situação. Pensou mas não falou.

– Sinto muito por meu comportamento... por favor... me desculpe...

Os braços dela o envolveram, e foi como se o buraco finalmente se desfizesse. Seu coração ressurgiu, o peito arfou e pela primeira vez em anos ele sentiu os olhos úmidos. Recostou o rosto nos cabelos da esposa, preenchendo-se do aroma dela.

– O que há Jake...? Por favor me diga o que está acontecendo... – ela implorou se afastando, o rosto banhado por lágrimas. – Estava tudo tão tranquilamente bem entre nós...

A expressão sofrida no rosto da garota o entristeceu, principalmente porque ele fora o causador desse sofrimento.

– Estou... – ele começou sentindo a garganta travar – Estou...

– O que está acontecendo? – Bella insistiu.

– Problemas... – as palavras simplesmente não saiam.

Ele não iria contar o que o perturbava Isabella pensou e imediatamente sentiu os olhos se encherem de lágrimas novamente. A resistência do marido em abrir seu coração era o único ponto negativo daquele casamento. Principalmente porque ela não fazia ideia do que poderia ser o assunto que tanto o perturbava