Beyond Kingdoms: The Lemniscus Crystals escrita por Lhama Medieval


Capítulo 3
POV Yeri - Prólogo "Breatheless"


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo foi escrito por (http://fanfiction.com.br/u/138657/) ~hzNagisa
Boa leitura!
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Os Ciclos da Lua (meses) são dados na seguinte sequência:
— Parval
— Ra
— Tempar
— Mohdir
— Dekin
— Raiho
— Boltar
— Myckpar
— Sly
— Lhone
— Terug
— Phanor



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◊ Oitocentas estações após a ascensão da Família Torgu, segunda fase da Lua do Ciclo Raiho.

A melhor parte do dia era quando o pai dela chegava em casa, um pouco antes da noite cair, com o corpo de um animal qualquer morto sobre seus ombros. Eles moravam numa toca, no meio da floresta, que no inverno ficava totalmente escondido pela neve. O buraco não tinha basicamente nada, só várias peles de animais jogadas pelos cantos e, de vez em quando, alguns pedaços de ossos ou carcaças de animais.

Normalmente, todos do pequeno bando saíam para caçar, porém, o reino elfo tinha aberto a temporada de caça à sua espécie para se aquecerem no rigoroso inverno. Ela devia ter ficado em casa aquele dia, mas preferia sentir o vento forte bater em seu focinho e balançar seus pelos, acalmando seus anseios. Em cima de uma árvore de médio porte, viu seu progenitor chegar com mais dois machos com uma quantidade escassa de alimentos. Eles não eram muitos, o gene para a cor dos pelos presente em sua raça fazia com que os seus parentes de outras cores se considerassem superiores, se associando à outras espécies, deixando-os desprotegidos.

Preferiu esperar um pouco antes de descer e se alimentar, como era a mais nova, ficaria com o que sobrasse de qualquer jeito. Fechou os olhos por uns instantes e captou um som próximo, abriu-os a ponto de ver vários homens loiros se aproximarem da entrada, tentou gritar para avisar seus familiares, mas uma mão tampou sua boca, queimando sua pele fazendo com que seus olhos lacrimejassem e tentasse se soltar. Notando que a força, ainda em desenvolvimento, de seu corpo infantil não seria capaz de vencer o homem formado atrás de si, se impulsionou para frente, se lançando ao chão, onde suas patas aterrissaram suavemente e viu o outro cair de mau jeito.

O barulho chamou a atenção dos outros invasores que se ocupavam em matar o resto das bestas na toca, sem queimas seus pelos que seriam usados em casacos. Dois outros seres de orelha pontiaguda, com suas flechas sujas de sangue, foram em sua direção e ela passou a correr na direção contrária o mais rápido que conseguiu. Sentia o vento machucar seu rosto e se perguntou se não deveria chorar pela morte de seus parentes, mas deixou para pensar depois. Correu até depois de não ouvir os passos élficos há muito, enquanto seu corpo colapsava pela falta de energia, sangrava pelos arranhões superficiais e profundos, causados pelas folhas da floresta e pelas flechas agressivas.

A raça a qual pertencia tinha aquela maldição, baixa capacidade regenerativa, e quando ela finalmente não aguentava mais, se jogou na neve, no pouco espaço oferecido pelo afastamento das árvores de grande porte daquela parte do território. Sentia-se morrendo, o ar entrava com dificuldade em seus pulmões e sua pele que fora queimada ainda ardia.

Viu uma cobra de aproximar e pensou que não faria mal morrer no estômago de uma. Sentiu sua consciência se esvair lentamente e parou de sentir dor.

–+-

Acordou dentro de paredes de pedras cinza, onde não havia portas e a luz provinha do fim da infinita construção, as paredes tinham símbolos pretos e desconhecidos. Tentou se mexer e, se vendo imóvel, entrou em desespero.

— Calma criança — uma voz suave falou.

“Onde estou?”, pensou e mesmo não conseguindo verbalizar, as palavras ecoaram pelas paredes.

— Em lugar nenhum, você está morrendo. Meu nome é Estér, eu posso te curar, se você me der algo em troca.

“E o que seria?”

— Abrigo. Explicar-te-ei tudo mais tarde. Você não tem muito tempo — ao ouvir isso, a besta sentiu-se sufocar, o ar faltando em seus pulmões novamente.

Piscou e se viu na mesma relva branca anterior, a mente reclamando da falta de oxigênio. Pendeu a cabeça para o lado e viu uma cobra ao que parecia tentar estancar o sangramento enquanto estrangulava seu antebraço.

— Faça — sussurrou ao que viu os olhos verdes de cobra sumirem do corpo preto e sentiu um rastejante invisível entrar por sua ferida, passando pelas veias de seu corpo numa dor ardente. Tentou gritar, mas suas cordas vocais ressecadas não permitiram.

Sentiu náuseas e vertigem, não conseguia focalizar sua visão é lugar nenhum, a calmaria domando seu ser. Não sentia mais dor e achou que o sono e o cansaço a levavam para um precipício onde não se incomodou de cair. A sua última lembrança foi de pensar em como estava aliviada pelas suas escassas memórias de quatro Invernos de idade não passarem pela frente de seus olhos.

–x-

◊ Seis Invernos depois.

— Conte-me a sua história novamente — pediu.

Se cada vez que você completar um inverno eu tiver que lhe contar essa história, é mais fácil escrever um livro”.

— Mas eu não sei ler.

“Como pode saber escrever e não saber ler?”

— Mas eu não sei escrever, eu só os desenho, os símbolos que você manda, eles não fazem nenhum sentido pra mim. Mas, me conte a história.

Eu era mais bonita que muita gente, há muito, muito tempo atrás. Eu servia à nossa deusa, já naquela época. Então, os humanos se unificaram em seu primeiro reinado, numa terra bonita, ao lado da que havia a guerra mais sangrenta traçada por seres voadores. Nós tínhamos uma cidade, as sacerdotisas, no extremo oeste desse reino humano, e eles expulsaram e queimaram a todas nós. Em minha fuga, um humano me encontrou...”.

— Qual era o nome dele?

Eu não me lembro mais, mas era um nome feio, oriundo de uma linguagem bruta, como todos os outros que surgiram nesse reino. E ele me fez uma proposta, de casar-se com ele, a qual eu neguei em nome de minha deusa, alegando preferir morrer. E ele disse: a morte seria algo fácil e feliz para uma imortal como você, você está fadada a viver sem estar viva, pois você não terá um corpo, só uma mente conturbada e perdida que nunca alcançará sua preciosa deusa”.

— Conta a parte da pedra, que brilha — ela foi capaz de ouvir a risada da mais velha.

E tinha uma pedra, verde, e ela brilhou, e eu não era mais matéria, só uma consciência. Naquele dia, eu descobrir que se eu não possuísse um corpo, eu morreria, e isso me fez feliz. Mas então, ela veio a mim, me disse que meu conhecimento não poderia ser desperdiçado e que se eu esperasse, ela me daria uma missão importante”.

— A senhora — constatou —, e ela te deu a missão?

Você sabe que não, ainda não”.

— O moço, ele era mais forte que você?

Ah criança, mas você sabe. Sabe que sou fraca. Sou uma peregrina de corpos extremamente dependente de você, que depende de mim. E assim nasce a fraqueza”.

— E antes?

“Antes, eu não era nada”.

— E a pedra?

Você pergunta demais. Limpe seu corpo e cubra seus rastros, não queremos que as bestas negras ou os elfos encontrem a trilha de sangue que você deixou”.

A garota lavou-se no rio formado pelo desgelo do verão, na sua trilha para cada vez mais ao oeste do país élfico, querendo chegar a um local onde não correria mais tantos riscos como dentro de Andor. Correu até chegar às montanhas Thorns Dragon do sul de Agália, onde a maioria dos anões vivia, na fronteira entre elfos e orcs. Ouviu barulhos de passos rápidos a certa distância e se colocou em posição de ataque. Sorriu. Há muito não faria uma refeição tão boa quanto aquela.


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Notas finais do capítulo

E lá vem a curiosidade:
Eu escolhi o nome de Estér porque tem o nome de origem hebraica que significa Estrela, porque ela é uma sacerdotisa e deuses e céu, tudo a ver. E também por causa da palavra "estéril" 1.que nada produz; que não dá frutos; árido, improdutivo. 2.incapaz de procriar; infecundo, infértil. Que também tem a ver com o fato dela ser sacerdotisa, e que não é porque ela é "santa" que ela não é agressiva (árido). E etéreo que eleva espiritualmente; sublime, elevado.
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