Beyond Kingdoms: The Lemniscus Crystals escrita por Lhama Medieval


Capítulo 12
POV Linna - Capítulo 2: "Blood in the Water"


Notas iniciais do capítulo

Me desculpem pela demora. Espero que gostem e comentem! ( : ~ J. Glaciem
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Os Ciclos da Lua (meses) são dados na seguinte sequência:
— Parval
— Ra
— Tempar
— Mohdir
— Dekin
— Raiho
— Boltar
— Myckpar
— Sly
— Lhone
— Terug
— Phanor



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◊ 852 estações após a ascensão da Família Torgu, Ciclo de Phanor

“Estava sentada em cima de uma pedra no leito do rio “Tranen Gang” tentando inutilmente concertar o meu arco de caça. Ele simplesmente havia rompido quando estava prestes a atirar em um belo cervo. Tive vontade de me socar e me chutar pela minha estupidez e como castigo por não ter verificado a corda acabei perdendo um presente dos deuses. Encontrar um animal daquele porte era muito raro nesta região pelo menos, ainda mais que tinha o pequeno detalhe de ter que dividir a mesma presa com meus concorrentes caninos. Já perdi a conta das vezes que tive que fugir pela floresta e subir em árvores para escapar do ataque de lobos quando me aproximava perto demais deles.

De onde estava sentada conseguia ver a agitação da floresta ao meu redor. A floresta nunca ficava quieta. Na minha concepção ela agia como nossos pensamentos que nunca descansavam. Eles sempre estavam em movimento nas nossas mentes, mesmo quando repousávamos dando lugar aos sonhos. Olhei em direção ao córrego à minha frente e tive que resistir à vontade de entrar nele.

Voltei minha atenção ao meu trabalho e me concentrei. “Droga” pensei, “A caçada vai ter que esperar”. Bufei e então me levantei para ir embora, mas então olhei de novo pro rio e senti vontade de pela primeira vez em meses poder me banhar de verdade. Afinal era primavera e meu corpo estava pedindo para relaxar nas águas nem que fosse só por alguns minutos. Refleti se teria alguém por ali que pudesse me ver mas logo descartei a idéia. Morava neste fim de mundo há 17 invernos e minha única companhia além de minha mãe eram os animais que eu caçava ou que me caçavam.

Minha vontade falou mais alto e logo fui me despindo rapidamente. Em questão de segundos já estava dentro do rio. A água acariciava minha pele e a corrente fraca facilitava meus movimentos de forma que eu me sentia livre para fazer qualquer movimento em minha mente. Comecei a brincar e dar voltas em volta para me exercitar. Senti-me uma boba. Quando me cansei comecei a esfregar minha pele e meus cabelos para limpá-los.

Ao fim, me deixei relaxar por uns instantes naquela maravilha. Quando decidi sair o sol já estava se pondo e um vento forte bateu em meu rosto arrepiando-me. Comecei a me vestir mesmo molhada. Quando me ajeitei totalmente vi um brilho azulado vindo da beira do rio a 5 metros de onde estava à esquerda. Fui até lá e quando me agachei para examinar o que era deduzi ser uma pedra, mas quando a peguei vi que era uma espécie de cristal. Admirei-o por alguns minutos antes de ver uma tempestade vinda em minha direção.

Gotas de chuva começaram a cair em meu rosto e logo um temporal havia se instalado ali. O rio antes calmo agora estava revoltoso. Comecei a correr em direção pra casa. Deixei o arco quebrado em cima da pedra e só fui me lembrar dele depois de ter corrido quase metade de todo o caminho. “Posso fazer outro depois” tentei me tranqüilizar.

Quando estava perto de casa senti que a chuva havia parado e relaxei os músculos tensos da corrida desenfreada. Olhei pro céu, mas o que vi foi algo totalmente diferente que já havia visto. O céu estava em tom alaranjado quando deveria estar coberto pelo mantra negra da noite.

Achei que tinha batido a cabeça em alguma pedra, mas continuei olhando pro céu em busca de alguma explicação para aquele fenômeno. Ouvi rugidos e lufadas de ventos fortes batendo em meu rosto. Vi movimento nas nuvens da tempestade e notei que algo estava ocorrendo lá em cima. Quando notei vi que o que achava ser a tonalidade do céu na verdade era fogo. Labaredas e o que me pareceu ser sopros de fogo tingiam a escuridão. Fiquei em choque por alguns segundos, mas logo me forcei a cair na realidade e fui em direção à cabana. O pequeno detalhe era que ela havia desaparecido. Entrei em pânico e quando me voltei para a floresta tudo mudara. O chão estava repleto de neve e sangue fresco além de carcaças das mais diversas formas.

Senti náuseas e comecei a tentar me equilibrar em uma árvore quando um rugido me paralisou a espinha. A escuridão não me permitia ver quase nada a meu redor e estava sem meu arco para poder me defender. Olhei ao redor em busca do responsável pelo rugido, mas o quer que fosse estava me analisando, pois senti que estava somente brincando comigo dando voltas ao meu redor.

Quando comecei a correr senti uma dor aguda no meu ombro que possuía a marca me fazendo cair de cara na neve. Quando me sentei olhei no ferimento e vi o que me pareceu um espinho. Comecei a retirá-lo e mordi com força os lábios para evitar gritar e quando finalmente consegui vi que o que me havia atingindo me lembrava gelo. “O que em nome de Faleon é isso?”

Minha atenção foi desviada quando ouvi de novo outro rugido, mas dessa vez consegui ver o responsável ou pelos menos seus olhos. Não consegui definir sua forma, pois era tão preta como a escuridão da noite. Diferentemente dos olhos que eram grandes e a pupila era uma linha fina ameaçadora. Mas o que me surpreendeu era a tonalidade dos olhos do monstro que me encarava esperando minha morte. Era a mesma cor dos olhos que minha mãe e eu possuíamos.

Minha revelação não durou, pois a besta se preparou para o bote e quando ela saltou e rugiu vindo em minha direção o mundo ao meu redor desmoronou.”

Acordei com um salto suando frio e com o coração batendo desesperadamente. Tentei controlar minha respiração ofegante e botei minha mão no peito como se conseguisse reduzir a velocidade do batimento em meu peito. Era só um pesadelo. “Só um pesadelo Linna acalme-se”. Respirei fundo até que consegui estabilizar meu coração. “Está tudo em sua cabeça. Não é real sua tolinha”.

Cobri-me novamente desta vez mais calma e fechei os olhos. Quando estava voltando ao mundo dos sonhos ouvi um rugido aterrorizante vindo do lado de fora da cabana. Mas desta vez não era meu pesadelo.

Eu nunca havia ouvido nada igual. Não era o mesmo rugido da besta que me atacava nos sonhos. Era mais agudo e alto. Como se o que quer que fosse aquilo estivesse morrendo e se contorcendo de dor. Era um grito de desespero. Minha mãe havia acordado assim como eu e tentava entender o que estava acontecendo.

Apaguei as velas que continuavam queimando e quando fiz menção de ir até a sala minha mãe me segurou pelo pulso levando a outra mão à boca e fazendo sina de silencio. Ela me mandou ficar e foi andando silenciosamente até a sala.

Claro que não obedeci às ordens. Depois de alguns minutos senti um tremor nos pés e a casa começou a balançar. Silenciosamente fui até a sala, mas quando cheguei para ajudá-la a única coisa que enxerguei foi o puro breu.

–Mãe – sussurrei extremamente baixo.

Então ela apareceu atrás da mesa que havia caído. Ela colocou o indicador nos lábios e me chamou. Assenti e peguei meu arco com uma aljava de 20 flechas que estavam encostadas a parede. Agachei-me ao seu lado e perguntei:

– O que é que está acontecendo?

Ela não me respondeu de imediato pois logo que terminei de perguntar um novo tremor sacudiu a casa e dessa vez a porta da frente começou a rachar no meio. Ouvi um guincho de impaciência vindo do lado de fora.

– Mãe?

Ela levantou a mão impedindo que eu continuasse e vi que na sua outra mão ela carregava uma adaga. Não era uma adaga simples pelo que eu via. Tinha um cabo detalhado e tinha uma tonalidade branca azulado no centro. A parte de metal do cabo tinha uma cor prateada e a lâmina tinha cerca de 20 centímetros tendo escritos estranhos entalhados no metal que não consegui decifrar.

Outro tremor reverberou pela cabana e dessa vez a porta não agüentou e se quebrou em vários pedaços dando-nos visão do que estava tentando nos atacar.

O monstro à minha frente era grande e grotesco. Não tinha melhores palavras para defini-lo. Ele tinha a forma de um corpo de javali com cerca de quatro metros de altura e três de comprimento. Tinha a cabeça em forma de lobo com seus dentes pontudos e dois marfins enormes que surgiam da sua boca no qual pingavam sangue. O nariz era enorme e possia olhos pequenos. Isso me deixou perceber que ele se orientava pelo cheiro principalmente. Suas orelhas também eram extremamente pequenas. O corpo todo em si me parecia grande demais para o tamanho da cabeça e suas patas eram finas e longas com cascos fendidos me fazendo crer ainda mais que ele era um híbrido entre javali e lobo.

Ele estava tentando destruir a casa inteira e apostava que logo conseguiria. Posicionei uma flecha e mirei em sua cabeça. Ele viu o que aconteceria, mas não recuou, invés disso rugiu como se me desafiasse. E não tinha dúvidas que aceitava.

Minha mãe olhou pra mim e quando percebeu o que eu ia fazer tentou me impedir, mas era tarde. A flecha tinha sido lançada. Mas não me deu o resultado que esperava. Vi quando a flecha atingiu o crânio daquela besta e vi com os mesmos olhos quando ricocheteou, como se nunca tivesse sido disparada.

Fiquei boquiaberta e minha mãe somente me abaixou para tentarmos nos esconder da fúria que eu havia provocado no bicho.

– Esqueça essa estratégia. Não se mata um lovalit com uma simples flecha na cabeça. Só há um ponto fraco e ele o protege muito bem com aquele couro.

– O que você falou? – tentei espantar minha surpresa.

– Lovalit é um monstro rastreador. É criado para perseguir e matar. Não se destroi um com facilidade.

– Como sabe isso? – perguntei desconfiada

– Não há tempo para explicações se não percebeu querida.

Nesse momento o monstro, ou lovalit como parecia se chamar conseguiu destruir não só a porta, mas boa parte da parede o qual estava. Levantamo-nos rapidamente e começamos a correr enquanto a criatura se recuperava do feito.

Ao sair vi que ainda era noite, mas a lua já estava começando a se esconder pelas montanhas o que indicava que logo amanheceria.

Eu e minha mãe corremos em direção à floresta e quando olhei para trás a criatura ainda estava fuçando a casa toda e destruindo tudo em volta à nossa procura. Pelo visto não era inteligente. Tínhamos alguns minutos para correr ou nos escondermos.

Decidimos por correr. Não paramos até chegar ao rio onde era meu limite para podermos recuperar o fôlego e decidir o próximo passo.

– Tudo bem mãe. Quero respostas. O que está acontecendo?

Ela olhou para mim com pena como se soubesse que tinha falhado em algo e que era tarde demais para consertar.

– O que está acontecendo é minha culpa filha. Queria poder ter conseguido te proteger, mas pelo visto não consegui.

– Não mãe eu ainda estou aqui e viva.

– De fato está- sorriu fracamente- mas não sei se conseguiremos sair ilesas dessa situação.

Senti um arrepio na espinha e comecei a tremer. Minha mãe estava certa na maioria das vezes e se ela estava dizendo que podíamos morrer daqui a alguns minutos... Pela primeira vez na vida senti pavor da floresta que me rodeada como se ela escondesse o mal por trás de seus troncos e folhas.

Meus pensamentos foram interrompidos quando ouvimos um rugido vindo a leste de onde estávamos. Agachamos-nos atrás de uma moita esperando o lovalit aparecer.

Ficamos mais alguns minutos agachadas, mas nada nos atacou ou se dignou a aparecer.

– Mãe -sussurrei- Vou subir em uma árvore e tentar achá-lo lá de cima. Fique aqui. E na volta quero saber o motivo disso tudo.

Ela assentiu e então subi em uma árvore que eu acreditei ser um pinheiro. Era grande o bastante para eu poder ver os arredores.

Comecei a subir e quando cheguei à metade do caminho paralisei onde estava. Não de medo, mas de surpresa. A mesma coruja que eu havia visto ontem à noite estava empoleirada logo acima da minha cabeça.

– O que está fazendo aqui? Está me seguindo por acaso? – questionei um pouco alto demais.

– Filha está falando com quem? – Falou minha mãe lá de baixo.

– Hum... Uma coruja

– Uma coruja você disse criança?

– É – disse envergonhada

A coruja me olhava com certa diversão na cara. Não sabia como nem porque, mas já percebi que ela entendia o que falávamos. Agora bem de perto tinha certeza que os olhos dela tinham uma coloração esverdeada.

–Olhe ou você sai do caminho ou vou ter que derrubar você da árvore.

Agora ela parecia ter ficado irritada, mas alçou vôo mesmo assim e foi para a árvore ao lado. Continuei meu caminho. Quando cheguei a menos de 2 metros do topo parei. Já tinha uma boa vista da floresta daqui.

Olhei ao redor em busca de uma aberração da natureza atravessando a floresta ou derrubando árvores. Não gostei do que estava vendo. Estávamos a bons minutos de vantagem, mas lá estava ele a cerca de quinze metros de onde estávamos farejando o chão em volta.

Comecei a descer rapidamente e isso me custou alguns arranhões nos braços, mas tínhamos que sair dali imediatamente.

–Onde ele está?- questionou minha mãe

– A cerca de quinze metros de onde estamos. - disse ofegante- e se aproxima rápido.

Ela parou e começou a olhar a adaga e em seus olhos vi surgir um brilho que via poucas vezes. Significava que ela tinha um plano.

Então cortou a palma da mão com a adaga levemente, mas o suficiente para sair um fio de sangue que escorreu em direção à terra. Fiquei confusa, pois aquilo só atrairia mais cedo o monstro até nós.

Ela viu meus olhos e sorriu com a minha confusão. Depois de ter manchado a terra com o líquido rubro o suficiente ela limpou a mão na roupa. Segurou meu rosto com a outra mão e acariciou ela como fazia quando ainda era uma criança.

Entendi o que ela queria, mas esperei que ela dissesse em voz alta para ter certeza. Engoli as lágrimas que formavam e fechei os olhos tentando conter a respiração.

– Eu sei que sabe o que vou pedir.

– Não vou deixá-la aqui só!- dessa vez abri os olhos demonstrando que não me importava se morreria lutando.

– Você tem. Você deve.

– Mas você va... vai morrer-gaguejei sentindo as lágrimas retornando

–Um dia todos morrem querendo ou não. Morreria feliz sabendo que salvei você.

– Mas eu não! – falei um pouco alto- não vou fugir.

Ouvimos o rugido novamente. “Muito perto”. Comecei a preparar uma flecha, mas minha mãe conseguiu me impedir e levantou a mão indicando para onde deveria correr.

– Por favor – ela implorou e dessa vez vi seus olhos marejados.

Fiz então o que considerei ser o maior ato de covardia da minha vida. Me virei de costas e corri mesmo sabendo que desobedeceria após alguns passos.

Corri alguns metros após ter atravessado o rio. Vi quando minha mãe se virou para o demônio que havia a encontrado e tentava a todo custo matá-la. Não tinha tempo a perder. Subi em uma árvore e comecei a ajeitar meu arco quando vi um grito de agonia vindo da batalha à minha frente. Minha mãe conseguira ferir o Lovalit! Um grande rasgo na barriga jorrava sangue, mas logo perdi a esperança quando vi que aquilo não aparentou feri-lo. Na verdade só pareceu irritá-lo mais.

Atirei então a primeira flecha que cravou no ombro esquerdo do animal. Ele urrou de dor e vi que aquilo dificultaria seus movimentos. Minha mãe viu a flecha, mas não teve tempo de parar para pensar, pois logo voltou ao ataque e vi o que ela tentava fazer. Ela queria atingir o coração

“Então é lá seu ponto fraco não é?”. Comecei a preparar outra flecha quando vi que seria impossível atirar no coração. O coração ficava na parte de baixo do peito abaixo da cabeça distorcida dele. Agora sabia que não seria tão fácil. Alguém teria que ir por baixo da criatura e enterrar a arma no peito dela. “A adaga!“ pensei.

Tentei tirar meu cabelo molhado do rosto e olhei ao redor tentando achar alguma vantagem no ambiente. E foi então que vi uma grande depressão perto de onde eu atravessara. Um plano começou a se formar em minha mente.

Poderia não matá-lo com flechas, mas poderia irritá-lo a ponto de ele inclinar a cabeça o suficiente para que minha mãe tivesse uma brecha. Redirecionei a flecha e vi quando ela pegou no pescoço dele. Preparei outra e esta foi em direção a umas das pernas. Quando preparei a quarta comecei a passar mal e me lembrei que havia ultrapassado os limites.

Desci da arvore, mas acabei caindo ainda quando estava a dois metros do chão. Senti uma pontada aguda no tornozelo, mas não poderia dar atenção a ele agora. Levantei-me e manquei em direção à batalha o mais rápido que pude.

Era a minha vez de ajudar e dessa vez tinha um plano que talvez desse certo. Atravessei o rio e vi a tempo de minha mãe escapar de uma mordida do lovalit o fazendo morder um tronco no lugar. Ela foi até mim e se ajoelhou para ver como estava.

– Eu pensei que tivesse dito pra correr!

– Ainda bem que não ou conhecida pela minha obediência

Ela riu e me ajudou a levantar. Eu estava encharcada da cabeça aos pés e vi que ela também não estava melhor que eu. Tinha um ferimento na barriga que parecia não estancar e vários arranhões lhe cobriam o rosto. Falei então meu plano:

– Mãe, preciso que o faça atravessar o rio. Subirei em uma árvore e cairei em cima dele para que ele levante um pouco aquela cabeça dele. Enquanto ele estiver tentando me derrubar fure o coração.

Ela sorriu e se levantou correndo atrás do monstro que vinha em nossa direção. Tomei o caminho oposto e de novo mergulhei no rio. “Se eu não morresse agora com certeza morrerei congelada depois”. Consegui sair e subi em uma arvore que margeava ali perto. Tinha galhos enormes o suficiente para eu me apoiar. De lá assobiei para a minha mãe.

Ela assobiou de volta enquanto esquivava de outro ataque e entendi que ela havia compreendido. Ela começou a correr e enquanto atravessava o rio ela me procurou pelas árvores. Mexi meus braços pra indicar onde estava e então me avistou.

Em contrapartida o lovalit não se deixou para trás e entrou no rio também. Minha mãe subiu na margem e vi que ela estava se aproximando de onde estava devagar. A criatura subiu com um pouco de dificuldade, mas logo estava de pé andando devagar em direção a minha mãe pensando que estava encurralando-a.

Era minha deixa. Devagar comecei a me arrasar para a ponta do galho e quando vi que estava bem de baixo da besta deixei meu corpo cair em cima do monstro.

Não foi minha melhor aterrissagem isso posso dizer. Quando senti meu corpo em cima da criatura tive que me segurar em seus marfins para poder ter onde me agarrar. Ele começou a se debater e dar coices. Vi minha mãe se aproximar quando ele empinou nas patas, mas acabei me distraindo quando vi que ele empurrou com a cabeça minha mãe pra uma árvore. Ela bateu com força a cabeça e vi quando escorregou e não se levantou.

O lovalit acabou me derrubando também fazendo com que minha cabeça batesse no chão. Vi minha mãe encostada a uma árvore e sua adaga na mão. Fui até ela e vi que ainda respirava, porém com dificuldades. Senti ódio pela primeira vez em minha vida. Peguei a adaga de suas mãos agora frias e gritei:

– Aqui seu porco desgraçado!

O monstro rugiu de raiva e correu em minha direção. Não fiquei parada. Fui até a depressão que costeava o rio e esperei até q ele chegasse perto o bastante.

Ele estava se preparando para outro ataque abrindo a boca para me devorar. Esperei mais um pouco e quando ele finalmente chegou perto o suficiente pulei no rio.

O lovalit na velocidade que veio não parou a tempo e se desequilibrou com as pernas finas dele na depressão fazendo com que ele caísse dentro da água junto comigo. Quando subi para respirar vi que ele tinha torcido uma das pernas. Estava com dificuldade para nadar. Não perdi tempo e mergulhei novamente com a adaga em mãos.

Aproximei-me com cuidado do javali gigante à minha frente para que ele não acertasse a minha cabeça. Consegui me aproximar o bastante dele e lhe cravei a adaga no coração. Ele começou a se remexer de forma incontrolável enquanto rugia de dor, fazendo com que eu me afastasse, mas não antes de ter me dado um chute nas costelas.

Nadei até a superfície e vi que a adaga ainda estava no corpo do lovalit que tentava chegar à margem. Meu corpo tinha se esgotado. Apostava que tinha quebrado as costelas e talvez o tornozelo. Respirar estava se tornando cada vez mais difícil.

Só tive tempo de chegar até uma pequena pedra que estava praticamente à minha frente no meio do rio. Tentei subir nela, mas o máximo que consegui foi colocar metade do corpo para fora da água.

Vi quando o lovalit também havia desistido e estava tombado na margem de onde ele havia caído antes. Estava morto. Foi à última coisa que vi antes de perder a consciência e dessa vez não me incomodei se o sono não me deixasse acordar mais.


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Notas finais do capítulo

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