- Você precisa olhar o ponto fixo no alvo, Elena. – Damon fala segurando os meus braços. – Não pense que você tem que acertar, só pense no arco. – Ele fala bem perto do meu ouvido. Não sabe que sua proximidade me deixa atrapalhada.

Solto a flecha, ela passa bem longe do seu destino. Ele ri.

- Não tem graça. – falo dando a língua para ele.

- Você está nervosa, Boo. – ele usa o apelido ridículo que inventou para mim. Só ele me chama assim.

- Boo? De novo? – sorrio. Eu gosto que ele me chame assim.

- Para sempre. – ele faz uma massagem em minhas costas. – Vamos relaxe!

Quando ele me toca todo o meu corpo se acende. Damon não faz ideia do que causa em mim. Ele é bem cego. Somos amigos desde de sempre, e os meus sentimentos por ele só crescem. Mas, ele parece não perceber. Me vê como a irmã mais nova, e, é bem verdade, que ele cuida de mim como se eu fosse mesmo.

Somos vizinhos, desde de sempre também. Moramos no campo, e não tenho amigos além dele. Nossa conexão foi imediata.

- Você é nova por aqui? – pergunta um menino com os olhos tão grandes e azuis, que me assusta. Estou na festa da vila.

Afirmo com a cabeça. Sou tímida, desde de criança tenho dificuldade de criar relacionamentos. Exceto com Damon. Com ele tudo é diferente.

- Sou Damon. – o menino com os olhos grandes me estende as mãos.

À partir daí nos tornamos inseparáveis. Tudo que fazíamos era juntos. Como o papel e caneta. Sem clichês.

Morávamos bem perto, e como é no campo nossa conexão era ainda maior. Não tínhamos, literalmente, nada para fazer, tirando os bailes, ocasionais, e as minhas aulas. Com tanto tempo livre e sem as regras pesadas da capital, tudo que fazíamos consistia em explorar o novo. Eu e ele amávamos o desconhecido, parecíamos caçadores de tesouros. E todos na vila nos chamavam de detectives, palavra que estava em moda. Erámos curiosos, e foi isso que nos uniu, mas não foi só isso que nos manteve unidos durante tanto tempo, com exatidão, durante 11 anos. 11 anos de amizade, e 4 anos de amor reprimido. Bem guardado. Como era difícil.

Damon se tornou um rapaz bonito, muito bonito, na verdade. Tão bonito que as moças o cortejavam, o que deveria ser o contrário. Juntado a fortuna de Damon com sua beleza e simpatia faziam dele um dos melhores partidos de Londres. Acredite, já saiu no folhetim que ele era um dos mais disputados.

Damon conhecia mais Londres do que eu. Só morava nos campos, e já tinha ido algumas vezes a capital, mas faz muito tempo. Damon passou 4 anos na faculdade, em Oxford. E foi nesse período que descobri que o amava, foram anos de saudades sufocantes, anos que o meu último pensamento era sobre ele. E cada visita que ele dava fazia meu coração saltar, e palpitar tão forte que tinha a impressão que ele sairia pela boca. Como eu o amava. Aguardava que em uma das suas voltas ele se declarasse para mim, mas isso nunca acontecia. Todos da vila diziam que ele iria se casar comigo, até nossas famílias pensavam nisso. Era vantajoso o casamento, duas famílias ricas que se gostavam. Queria que isso influenciasse Damon, mas eu era só sua irmã. Ele sempre ressaltava isso. Isso não me impedia de amá-lo com todas as forças, e de ter ilusões. Porque não importava o que ele dizia, meu coração era dele. E eu guardava meu coração até que ele percebesse que eu era a pessoa certa para ele, que o tempo todo eu estive ali: ao seu lado.

O período que ele passou na faculdade, foi a época que sua fama cresceu. Ele estava ativo na sociedade, pronto para se casar. Mas, nunca quis ninguém. Ele diz a mim que quando encontrasse a menina que fizesse seu coração bater forte, ele saberia que seria o momento certo. Quando ele dizia isso, eu me desmanchava por dentro. Se ele sentisse o que eu sentia quando estava ao seu lado. Se ele pudesse me olhar, me enxergar. Se...

- Estava com saudades de fazer isso com você. – ele me lança aquele sorriso, me tirando dos meus devaneios.

- Também estava. Aqui pode ser bem chato sem você. – isso é o máximo da minha declaração. Como ele não pode perceber?

- Qual é, Boo? Aqui nunca é chato! – ele passeia a vista por todo o lugar, tudo era lindo mesmo. – Estou feliz de estar finalmente em casa. Sem Direito.

- Estou feliz que você voltou. – o abraço, ele retribui. Sempre quando ele me abraça bagunça meus cabelos. – Vão dar uma festa para você, é isso?

- É o que parece. – ele ri. – Se mamãe soubesse que você me contou, ela te mataria.

- Eu não queria contar, você me ameaçou. – digo na defensiva.

- Eu sei, Boo. – Damon passa o braço pelo meu ombro e me guia até o meu cavalo. – Posso ser bem convincente. Esse meu sorriso é irresistível. – baixo a cabeça. Se ele olhasse para mim saberia que para mim era. Não só o seu sorriso, como ele todo.

Seguimos em silêncio para a minha casa. Meus pais queriam ver o Damon, fazia três meses que ele estava fora, e agora finalmente voltou. De vez.

- Querido! - mamãe corre para abraça-lo. – mamãe sempre foi afetiva, um privilégio para mim que gosto de carinho. As mães não costumavam tratar as filhas assim, principalmente as mães ricas. – Como foi a viagem?

- Bem, obrigada. – Damon sorri, e a beija na mão. – Não via a hora de voltar para casa.

- Eu sei, querido. Não sentirá falta de Oxford?

- Não, Sra. Gilbert. Esse é o meu lar. A cidade não faz o meu tipo.

- Exatamente como a Elena. – mamãe sorri. Eu a reprimo com um olhar, ela nunca perdia a oportunidade de fazer esses comentários.

- Cadê papai? – pergunto.

- Teve que sair, querida. Pediu desculpas a você, Damon.

- Sem problemas, já estava de saída também. Só passei para dar um “olá”.

Eles se despedem, e eu acompanho Damon até a porta.

- Te vejo em minha festa surpresa? – ele sorri.

- Sim! E, por favor, finja surpresa!