Tudo É Possível escrita por Nena Lorac


Capítulo 5
5 - Não Chore


Notas iniciais do capítulo

"Confie mais nas pessoas."



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Francis encarava o pequeno garoto, com a cabeça baixa e chorando muito. Realmente deve ter sido doloroso ele lembrar de todos esses fatos. Ele estava até se sentindo ruim por ter perguntado aquilo. Talvez ele devesse ter ficado calado. Mas a sua curiosidade ainda não tinha sido saciada.

– Posso ver? – ele apontava para as pernas de Matthew cobertas com os trapos.

– Elas não são bonitas... Por que você quer vê-las?

– Então eu não posso ver?

O garoto ainda estava um tanto recluso ao mostrar suas pernas, então ficou alguns minutos sem falar nada. Francis se aproximou dele e deu um suspiro. Era bem capaz dele ficar ali, parado, até Matthew mudar de ideia. E enquanto parava de chorar, Matthew tentava ganhar coragem para mostrar a situação mais degradante da sua vida para outra pessoa.

Ele deu uma fungada, enxugou as lágrimas e disse que iria mostrar as suas pernas para Francis. Ele então, retirou os panos velhos que as cobriam, e Francis pode testemunhar duas pernas, cheias de cortes cicatrizados e manchas vermelhas espalhadas por todos os cantos. Francis estava relutante em toca-los, mas queria ter certeza de que aquilo era real.

– Você não vai ficar doente por colocar a mão nas cicatrizes.

– Eu sei disso...

Ele, realmente, parecia não acreditar no que estava vendo. E o que Francis mais se perguntava era como Matthew tinha chegado a esse ponto. Ficar num beco, e numa situação dessa! Ele precisava saber de tudo. Ele queria ajuda-lo, mas precisava saber de tudo.

– Como você veio parar aqui? – Francis dirigiu o seu olhar para Matthew – Como veio parar nesse beco?

O garoto se calou. Ele não queria falar, pois sabia que Francis iria ficar irritado e com raiva se soubesse o que ele tinha feito. Era bem capaz dele ligar para a polícia depois disso.

Matthew pegou os seus trapos, se cobriu e deitou sobre as placas de papelão e não falou mais nada. Isso deixou Francis mais confuso, então ele começou a balançar o ombro de Matthew para que ele explicasse toda a história, mas Matthew só dizia para Francis voltar para casa e esquecer que ele existia.

– Me conte o que aconteceu!! Eu quero ajudar!! – Francis berrava.

– Não posso! – ele chorava – Vá embora e me esqueça!

– Não!! Não posso simplesmente esquecer de tudo o que me contou!!

Ele não parava de remexer os ombros do garoto estirado sobre o papelão. Ele só queria as repostas logo. Francis berrava e esperneava para que ele parace de brincadeira e contasse logo o que aconteceu. Matthew já não aguentava mais e então soltou um grito que fez Francis parar de empurra-lo.

– Eu... fugi!

Essas duas palavras não fixaram na mente de Francis. Ele não conseguia entender como ele tinha feito isso. Como um garoto de oito anos foge de um orfanato? Isso não explicava nada, então ele voltou a empurra-lo, implorando para que Matthew explicasse tudo direito.

– Se eu contar, eu vou ter que voltar para lá. Não quero isso!

– Eu não vou contar para ninguém! Mas me diga o que aconteceu!!

Depois de um longo suspiro, Matthew revelou que o orfanato para qual ele fora destinado a ir, ficava nos limites da cidade, e a prior, seria o melhor orfanato para ele. Porém, o lugar não era o que tinham lhe contado. Ele pensara que seria um lugar com várias crianças para ele se divertir e tentar recomeçar a sua vida. Mas todos os dias, as crianças o machucavam e o ofendiam. Diziam que ele nunca seria adotado por ser defeituoso e que ninguém de lá gostava dele.

Ele era obrigado a ficar nunca cadeira de rodas velha e que a qualquer momento poderia quebrar. Era deixado de lado em todas as atividades que as mulheres do orfanato inventavam de fazer. E durante a sua estadia de dez dias, ele recebia as agressões físicas dos garotos mais velhos. E os principais alvos, eram as suas pernas.

E no dia, que ele pode sair, alegando que faltava papéis higiênicos para o minúsculo banheiro que ficava em seu minúsculo quarto, ele aproveitou para fugir. Ele girava as rodas daquela cadeira velha muito rápido, e quando se deu conta, já nem enxergava a entrada do orfanato. E quando a cadeira quebrou, ele foi se arrastando para mais longe daquele local.

– E então... eu encontrei esse beco.

– E está vivendo aqui a cinco meses...

Ele notara o quanto Matthew estava mal ao falar abertamente o que ele tinha passado. E Francis agora compreendia o que Matthew tinha falado para ele no primeiro dia. Ele sabia o quanto era doloroso perder os pais, e está convivendo com isso a sete meses. Ele precisava ajuda-lo.

– Vamos. – Francis se aproximou dele e tentava carrega-lo – Vou falar com a minha tia.

– Me deixe no chão! – ele tentava se equilibrar – Você não precisa me ajudar.

– Eu vou te ajudar.

Matthew encarava o rosto de Francis enquanto ele o carregava pelas ruas. Ele queria chorar durante todo o caminho, mas sabia que não adiantaria em nada. Francis continuaria a levar ele para a sua tia. Então ele só se agarrou ao pescoço dele e repousou o seu rosto naqueles ombros e aguardava o momento que chegaria na casa de Francis.


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Notas finais do capítulo

Vamos adiantar a linha do tempo no próximo capitulo?



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