Na hora do intervalo nenhuma surpresa. Eu, Gerard e Mikey nos sentamos em um canto das enormes escadarias do pátio, e vez ou outra víamos Bert nos observando de longe, enquanto conversava com uns rapazes. Gerard ignorou completamente a presença dele, diferentemente do que fez anteriormente.

Ainda era tudo muito estranho com Gerard. Minha ficha ainda não havia caído, e essa idéia de que eu tinha alguém simplesmente não entrava na minha cabeça. Vez ou outra enquanto ele e Mikey conversavam sobre alguma coisa, eu o fitava, adimirando-o, ainda incrédulo de que aquele de cuja beleza era simplesmente impossível falar, estava saindo comigo. E mais incrédulos do que eu estavam todos da escola, que olhavam como se não pudessem compreender o porque de um garoto tão lindo ser gay.

"Gay"

Outra palavra que me parecia tão estranha. Eu não conseguia me intitular, ou intitular Gerard. Éramos apenas... nós, juntos como qualquer outro casal. Porque nossa relação tinha que ser intitulada de um jeito diferente? E porque NÓS tínhamos que ser intitulados de um jeito diferente? O que nos faz diferentes das demais pessoas, afinal? Isso eu jamais compreenderia, assim como nunca compreendi, mesmo antes de descobrir essa minha...preferência.

O intervalo acabou, e não nego que por puro despeito diante de todos aqueles imbecis que agora nos julgavam, fizemos questão de nos beijarmos calorosamente bem no meio do pátio da escola, para que todos vissem que nada do que eles pudessem estar pensando nos importava, e quem sabe assim para que se acostumassem de uma vez por todas com a idéia e esse ar de novidade parasse de rodear nossas cabeças.

O dia passou arrastado como todos os outros. Fomos embora, e chegando em nossa rua nos sentamos no meio-fio e nos pusemos a conversar sobre coisas irrelevantes. Cerca de uma hora depois Mikey se despediu e foi pra casa, ficando só eu e Gerard lá. Conversamos muito sobre passado, e todos esses assuntos banais que surgem quando se está conhecendo alguém.

Sem que percebêssemos a noite caíra, expondo uma linda lua minguante no céu escuro e sem estrelas. Um vento frio pairou sobre nós, e Gerard me abraçou por traz me segurando com força tentando me aquecer, o que me arrancou um sorriso bobo. Fechei os olhos e senti o cheiro que exalava de seu corpo quente; senti-me seguro como nunca me sentira antes. Alguns minutos depois uma luz forte obrigou-me a abrir meus olhos; eram dois faróis que se aproximavam cada vez mais. Na hora não consegui enxergar de quem se tratava, até que finalmente aquele carro estacionara na garagem ao lado. Era minha mãe.

Na hora nem consegui pensar em me preocupar com o que ela havia visto, até que Gerard me soltou de seu abraço e me fitou nos olhos com receio. Percebi então a situação em si, e tentando esconder o receio que também tomou conta de meus pensamentos, sorri para ele sussurrando que estava tudo bem, e, sem saber de onde tirei coragem suficiente para isso, convidei-o para irmos até lá.