Sinfonia - Destino Trocado escrita por cele_cambeses


Capítulo 2
Capítulo 1: Previsões e Confusões




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Sugestão musical: Billy Shakespeare - Skye Sweetnam

(Os portões da Escola de Ensino Superior Fluminense se abriam em boas-vindas a mais um semestre acadêmico. Diante dos edifícios amplos, vários alunos conversavam e riam, uns se reencontravam, e outros se conheciam. As árvores davam um ar de paz ao local, e a sensação de vitória pós-vestibular era a melhor possível. Por detrás de uma pilha de livros que equilibrava com dificuldade, Naty mapeava o ambiente que, agora, conheceria por novo lar. Apesar de já estar habituada ao Rio de Janeiro desde que se mudara de Florianópolis, aos quinze anos, era impossível não temer a independência inédita que representava morar longe de seus pais. Enquanto procurava o prédio em que teria as primeiras aulas, o que não era tão fácil, olhava atentamente para cada uma das pessoas como se quisesse decifrar quem, um dia, poderia vir a ser um grande amigo. Afinal, lembrava-se de ter tido um sonho muito estranho com uma jovem bonita que ajudava a ela e a um rapaz nesse início conturbado. Difícil era saber a diferença entre sonho e previsão; por mais que os fenômenos inexplicáveis a tivessem acompanhado desde a infância, era completamente incapaz de compreender ou de dominar o próprio dom da premonição. Foi subitamente invadida, então, por um forte pressentimento de que algo bom estava prestes a acontecer. "Que intuição era essa? Será que conheceria aquelas pessoas?". Fechou os olhos para apreciar a brisa que lhe agitava os longos cabelos naturalmente loiros e acabou deixando os materiais caírem por andar assim tão desligada)


Dan: Não se preocupe, eu pego.


Naty: Caramba, que vergonha! Obrigada, é... Hum... Qual é o seu nome?


Dan: Meu nome é Daniel, eu sou novato aqui. E você?


Naty: Eu sou... (nunca havia visto alguém como ele, mas por que lhe parecia familiar? Será que era esse o amigo do sonho? Encarava-o tão atentamente que o fazia estranhar tamanha concentração. Por via das dúvidas, era melhor mantê-lo por perto, já que, pelo menos, parecia ser simpático e prestativo. A ideia não soava desagradável, e a dúvida aguçava a sua curiosidade. Simplesmente precisava saber se era ele)


Dan: Oi? (recorreu à “função fática” a fim de encerrar aquela análise. Já estava estranhando, e muito, ser observado com tanto interesse, sem receber resposta alguma)


Naty: Ah, desculpa, é que você me lembra alguém. Meu nome é Nathália, mas pode me chamar de Naty. Se quiser, claro.


Dan: Prazer, Naty. Acho que você também é nova aqui. Estou certo?


Naty: Está, sim. Primeiro dia sempre me deixa nervosa. Já sou distraída naturalmente; quando estou aflita, então... Você deve estar me achando uma doida! Deixo tudo cair, fico meio que te encarando pra ver se te conheço e tudo mais. Desculpa. Eu não sou assim sempre, não, tá? Juro!


Dan: Ah, que nada. Você parece ser legal. Não precisa ficar vermelha, nem nervosa. Essas coisas acontecem. Tenho problemas do tipo às vezes, eu te entendo. Fica tranquila! (esboçou um sorriso amistoso e hábil em tranquilizá-la o pouco que fosse)


Naty: Muito obrigada. Você também parece ser maneiro, Daniel.


Dan: Er... Valeu. (encarou-a nos mesmos termos de timidez que ela, por fim, à espera de que surgisse um novo assunto para acabar de vez com o silêncio constrangedor): Então, será que vão pegar leve nos trotes neste período? (fez questão de restabelecer o diálogo ele mesmo e sobressaltou com a reação proporcionada pelo tema)


Naty: TROTES? Odeio essas palhaçadas! Fico apavorada só de pensar nisso! Até porque, sendo menina, fazem certas coisas que pegam mal e... (agitou-se de um modo tão espontaneamente exagerado que o fez rir)


Dan: Calma, Naty, sem pânico! Senão piora. Trote na ESF (Escola de Ensino Superior Fluminense) é conjunto e não por carreira. Então, todos os calouros serão igualmente zoados.


Naty: Todos tomaremos trotes juntos?


Dan: Aham. Desgraça geral e irrestrita!


Naty: Sério? Ah, então, você poderia ficar perto de mim? É que calouros andando sozinhos são alvos fáceis, e você é a única pessoa com que eu falei até agora e... (ao perceber o que havia pedido, teve o rosto completamente tomado por tons muito vermelhos. Só o divertiu mais)


Dan: Claro que posso! Você também é a primeira pessoa que conheço aqui. Quer dizer, fora os funcionários "muito gentis" da secretaria, né? Enfim, agora eu tenho aula, mas mais tarde eu prometo que te acho e dou uma força. Pode ser?


Naty: Obrigada. Eu também tenho aula agora. Aliás, sabe me dizer como eu chego na sala mil e três, bloco D?


Dan: Parece que nos esbarrarmos vai ser rotina, “coleguinha”! (mostrou, então, o papel que continha o seu horário com a mesma sala assinalada)


Naty: Não brinca! Comunicação social também?


Dan: Publicidade, e você?


Naty: Jornalismo! Mas nossa... que legal! Esbarrei na pessoa certa!


Dan: Meu pé discorda. Pesadinho o seu livro, hein? (esboçou uma careta sofrida apenas para fazer graça; o que já parecia ser um traço marcante da sua personalidade)


Naty: Ai, desculpa, mesmo!


Dan: Era brincadeira. Tudo certo. Agora, vem, eu sei chegar na sala. É só me seguir.


(Após diversas aulas de pouca didática e muita chatice, com direito a uma lista considerável sobre a bibliografia a ser usada no semestre, os dois calouros seguiram juntos para o jantar ao cair da noite)


Naty: Que comida estranha... Tenso.


Dan: E aí, Naty? Acabou que eu nem devolvi a mesma pergunta que você me fez hoje cedo. Gostando daqui? Fora esse bife mais "duro de matar” que o Bruce Willis.


Naty: Parece ser legal. Apesar do pequeno deslize com o professor. Que mico!


Dan: Eu tentei avisar que ele estava ouvindo, mas você continuou zoando os bichos que sobrevoavam a careca dele! (recordou, entretido, aquele pequeno acidente presenciado de tarde e gostou de vê-la morder os lábios para conter o riso)


Naty: Linda foi a desculpa que você usou para tentar salvar a minha pele, né? Morri de rir! Pena que não colou muito, mas obrigada assim mesmo.


Dan: Eu disse que daria uma força. Só não sabia que teria que me transferir da aula junto! (lamentava, quando foram interrompidos, de repente, pelos predadores mais temidos da cadeia alimentar universitária: os “recém-veteranos” com mania de grandeza)


Nicole: Ora, ora, ora. Temos carne fresca aqui, Bruno.


Bruno: É mesmo, Nick. Lindo o bonezinho do calouro, pena que agora ele é meu! (bateu na aba do acessório em um tom de deboche, enquanto a comparsa analisava a loira com um olhar sádico de desprezo)


Nicole: E o cabelo dela? Tão lindo! Pena que ele pode ser usado hoje para limpar a privada!


(Instaurou-se um clima de terrorismo que perdurou até a chegada inesperada de mais uma veterana. De testa franzida e braços cruzados, encarava os outros dois com a autoridade de quem realmente faz acontecer)


Babi: Se liga, gente! Deixem os calouros em paz. Eles estão comigo!


Bruno: Tudo bem, Babi. “Sem grilo”.


Nicole: Isso aí. Já acabamos. (retiraram-se de imediato, pois o timbre aborrecido dela era intimidação demais até para eles dois)


Babi: Tudo bem com vocês, calouros?


Dan: Agora tá, né! Que moral! (arregalou os olhos em demonstração de surpresa)


Naty: Tudo. Muito obrigada. Meu nome é Nathália, e esse é o Daniel.


Babi: O meu é Bárbara, mas podem me chamar de Babi. Parece que vou ajudar vocês com a semana dos trotes. Aqui eles têm essa babaquice de “trote surpresa”, e todos são muito pesados. Faculdade em que a maioria mora nela própria é sempre assim, aliás. Eles deitam e rolam porque você não tem para onde fugir. É só a gente fingir que eu dei um em vocês, e tudo certo. Só não espalhem que eu ajudei, senão... vão descobrir que já fiz isso antes, e teremos problemas!


(Naty ficava tão surpresa de ter encontrado tão rápido as duas pessoas que acabava pensando alto. Felizmente, havia sido, sim, uma previsão. Era completamente anormal o pressentimento de que fortes vínculos seriam criados com aquele par de simples estranhos colocados em seu caminho ao acaso. Mas ficava tão feliz de não estar mais sozinha que nem continha as próprias palavras)


Naty: Bem que eu tinha previsto que uma veterana iria nos ajudar. Sabia!


Babi: Previsto? (franziu o cenho, até mais confusa do que o outro ali presente)


Dan: Que papo brabo é esse, “Mãe Diná”?


Naty: Bem, é que eu... Ah, deixa pra lá! (sorriu amarelo, ciente de que aquelas testas contorcidas a ela ainda explicitavam o quão intrigados permaneciam)


Dan: Ok. Nem discuto. Vai que é chegada na macumba? (benzeu-se em zombaria e fez o sinal da cruz)


Naty: Eu me expressei mal, só isso. Calma!


Babi: Nathália, caloura, pense duas vezes antes de falar qualquer coisa, porque a primeira semana é a de ganhar apelidinhos “carinhosos”. Não vai querer parecer doida, meu bem! (finalmente desfez o semblante endurecido com um sorriso. Contudo, a felicidade não duraria tanto. Uma garota meio ruiva, de olhos fortemente azuis, foi, então, até eles, rodeada por um grupo de marmanjos da universidade e por várias colegas que tinham no semblante a expressão de “soltaram um pum”)


Michele: Olá, Bárbara! (cumprimentou a veterana de cabelos cacheados no mesmo tom de desdém com que seria retribuída)


Babi: Olá, Michele! Minha “nada-querida”.


Michele: Que ironia! Resolveu adotar novatos quando não tem nada de bom pra ensinar? Olha, se quiser virar mentora de alguém, aconselho a ficar mais na sua, ou eles logo vão se dar conta de que você é um exemplo do que não fazer. Fica feio, hein. Não tem vergonha de ser assim?


Babi: Agora eu te pego! (apagou o ar de superioridade dela com um rompante explosivo. Mas foi contida pelos novos conhecidos, para a sorte sabe-se lá de quem)


Dan: Calma, Babi! Briga de mulher só no pay per view.


Michele: É... Nem posso pedir para você não perder a classe, porque não dá para perdermos o que nunca tivemos, né? Tenho mais o que fazer. A sua dor de cotovelo já te faz companhia, não preciso fazer também. (o seu timbre retomou o sarcasmo para zombar dela): Ah, só fala menos de mim, ou vou achar que é amor, tá? Tenho namorado. (enfatizou a última frase com um risinho e depois se afastou com os seus seguidores)


Babi: Eu odeio essa ruiva falsa! Que vontade de esmurrar!


Dan: Ela é metida, mas nossa! Que g-a-t-a! Ficou até calor depois que ela passou aqui! (confessou, apesar do ranger de dentes que se ouvia da boca da morena. Só conquistou com isso um tapa simbólico no braço, daqueles que se ganham apenas dos conhecidos de anos)


Babi: Para de babar, seu mané! (exigiu no mesmo instante. Distraiu-se, no entanto, da própria revolta com a chegada de um rapaz alto, musculoso, dono de cabelos lisos e negros a contrastarem com os olhos muito verdes. Ele chamava facilmente a atenção de qualquer criatura viva do gênero feminino. Talvez até das mortas)


Alex: E aí, Bárbara! (cumprimentou-a com um aceno e se voltou para a caloura em seguida): Fala, gatinha. Qual é o seu nome?


Naty: N-Nathália. (balbuciou, pasma com tanta beleza)
Alex: O meu é Alex. Prazer em te conhecer, Nathália. Qualquer problema, fale com o veterano aqui, hein. Sou todo ouvidos.


Naty: Tá bom, claro. (sentiu a face enrubescer ao ter a mão beijada por ele na despedida, ainda que a reação de Babi houvesse sido bem diversa)


Babi: Aff! E o fanfa (fanfarrão) entra em ação! Já farejou uma saia nova no pedaço. A puberdade atrasa, mas, quando vem, não tem pra ninguém! (revirou os olhos e resmungou)


Naty: Que isso! Ele só foi gentil.


Babi: Ai, você definitivamente precisa da minha ajuda, hein. Que inocência! O lema dos homens daqui é safadeza, menina! Aprenda isso ou será a vítima favorita!


Naty: Nossa! Quase uma selva!


Babi: Entendeu o espírito! Garota esperta! (emitiu uma risada ao invés de tranquilizá-la)


Naty: Já entendi. Ele é safado.


Babi: Exato! Completamente!


Naty: Ai, mas é lindo... (tocou um indicador no outro ao comentar. Surpreendeu-se ao ser acompanhada por ela na empolgação com que emitiu o parecer)


Babi: Ai, e não é? Que cruz! Os bostões sempre são lindos! Viu os olhos?


Naty: Ai, e o cabelo? Que contraste perfeito!


(Daniel começou, então, a imitar os gestos exacerbados das duas para ver se, assim, o assunto acabava. Afinal, por mais que as chamasse incessantemente, não recebia uma molécula de atenção sequer)


Babi: E aquele corpo? Já desencaminhou muita mulher aqui!


Naty: Imagino! E que sorriso, nossa, e...


Dan: Parem de babar por aquilo, garotas! Poxa, o Dan não merece atenção? (deu um muxoxo, farto, na verdade, por terem se esquecido de que havia uma “cueca” naquele papo calcinha)


Babi: Nossa, Nathália! O bebê aqui é ciumento!


Dan: Eu não! Só não gosto de ser completamente ignorado. Eu, hein... Só falam de homem.


Babi: Sei, sei. É ciuminho!


Naty: Oh! Coitadinho! (afagou os ombros dele junto com a veterana para dar ênfase na implicância que lhe dirigiam)


Dan: Muito bobas!


Babi: Que gracinha! Ele chama de boba com tanto adjetivo pior dando sopa!


Dan: Sou um perfeito cavalheiro, dá licença? (esboçou um sorriso lateral que lhe era típico)


Babi: É só passar a primeira choppada, e vai virar um perfeito cavalo!


Naty: Tadinho, ele é legal, mesmo. Me ajudou bastante hoje.


Dan: É... Eu tento! (expandiu ainda mais os lábios diante do elogio)


Babi: Hum, entendi. Saquei tudo.


Naty: Não, que isso, maldosa! (constrangeu-se com o quê sugestivo que ela viu em nada)


Babi: Choppada resolve, mas, apressadinhos vocês, hein! Nem esperam!


Dan: Ih! Deixa quieto, ow, implicante! Nem conheço direito e já ganho o prêmio “Tio João” do ano? Tá me chamando de arroz? (fez-se de ofendido. Mal sabia o quanto aquela gíria ainda lhe seria cabível... A loira, por sua vez, bocejou em ânimo de desconversar)


Naty: Bom, já foi muita emoção por um dia só. Estou um caco, vou dormir. Se eu não me perder tentando chegar ao dormitório de novo, né? Nem sei mais de onde vim!


Dan: Sei nada de dormitório feminino, senão ajudava.


Babi: Você está em que quarto?


Naty: No terceiro do quarto andar. Lá no prédio perto da piscina.


Babi: Ah, para! É sua a malinha rosa da Barbie? Diz que não para não me decepcionar, vai.


Naty: É. Você viu? Por quê? É feia?


Babi: Menina, tem muito o que aprender. Olha a mala que traz! Ainda deixa em cima da minha cama! (gargalhou de um jeito bastante descontraído ao final da informação)


Naty: Sua cama? Você é...?


Babi: Sua colega de quarto! Mundinho pequeno, né? Como não te vi chegar, nem imaginava. Confesso que te julguei pelas tralhas que você trouxe.


Dan: Essa menina atrai coincidências! Que doideira! Sortuda demais!


Naty: Pior que é! Nossa, fiquei muito feliz agora. Estava com medo de não me dar bem com a minha colega, acredita? A gente se desencontrou, passei o dia imaginando como você deveria ser. Que bom saber que não corro o risco de um trote noturno!


Babi: Desse mal, você não morre. Eu gostei de você até agora. Não pegue as minhas coisas emprestadas sem me pedir, e não teremos grandes poréns. E não seja nojenta também! Fora isso, tá de boa.


Naty: Ow, eu também! Então, vamos? Estou quase dormindo de olho aberto!


Babi: Vamos! Tchau, calourinho.


Naty: Tchau, Daniel! Obrigada pela ajuda!


Dan: De nada. Tchau, meninas! A gente se vê.


(Foi esse o dia em que os três se conheceram, e não tinham ideia de que, dali em diante, tudo estava prestes a mudar. Tempos depois, algumas “adaptações” mais tarde, Naty estava sentada no lugar de costume de que se apossava da sala de aula, quando Dan chegou em um estado lastimável de cansaço)


Naty: Bom dia, Dan!


Dan: Finalmente parou de me chamar de Daniel! Um condenado se salvou do purgatório e foi pra luz.


Naty: Você não gosta, e a gente já se conhece há um tempinho. Cabe o apelido. Mas o que houve? Tá com uma cara... (viu-o sentar ao seu lado e soltar um bocejo)


Dan: Ai, minha irmã não se acostuma a ficar sem mim em casa, aí fiquei até muito tarde falando com ela no telefone, depois no msn, tadinha. Tá muito nervosa! Sei que tô morto!


Naty: Tadinho, logo hoje que o tal professor estrelinha de publicidade veio dar aula.


Dan: Quê? Ah, fala sério! Tenho que ficar acordado!


Naty: Não entendo por que ele nos dará aula como Comunicação Social agora, se depois só volta a ser professor de vocês da publicidade nos últimos períodos. Nem teremos nada publicitário por enquanto! Eu acho, né?


Dan: Li numa entrevista que ele considera os quatro primeiros períodos fundamentais para a nossa formação. E, como um dos idealizadores desta faculdade, ele gosta de acompanhar de perto. Só que seria impossível pegar muitos semestres aqui e trabalhar na agência dele. Aí, ele pega umas matérias importantes do começo e do final apenas. Tivemos sorte de a nossa turma cair com ele. Eu não posso dormir! Eu não vou dormir!


Naty: Pode dormir, eu te acordo quando ele chegar. (acalmou-o com um sorriso. Trinta minutos depois, todavia, seria Babi quem entraria repentinamente na sala, jogando confete e espuma de spray de carnaval)


Babi: Ê, calourada! É festa! O professor de vocês teve um problema com o oitavo período e disse que estão liberados! Todos para o churrasco! Uhul! (afastou-se da porta, por onde os calouros passaram às pressas): Naty, vocês não vêm?


Naty: Já vamos, o menino apagou! Dan? (chacoalhou-o levemente pelo braço) Da-an? Gente, morreu! Acende uma vela e prepara a missa.


Babi: Nossa, tá parecendo um peixe na bancada da feira! Deixa comigo!


Naty: O que vai fazer? (assistiu, enquanto ela colocava espuma na mão do infeliz, que estava pousada na mesa com a palma para cima. Babi mal continha uns risinhos sapecas)


Babi: Calma, calma... Foi! Agora, só o toque final! (passou o dedo suavemente na ponta do nariz do rapaz, que, ao coçá-lo, sujaria o próprio rosto)


Dan: Que isso? “Makiporra”?


Babi: Tá com hidrofobia, Dandan? (explodiu em um acesso de risos capaz de contagiar até a sulista, que tentava se conter, em vão, apenas para parecer educada)


Dan: Caraca! Que sacanagem! (limpava a face com os dedos ao mesmo tempo em que elas, por seu turno, faziam um esforço descomunal em parar de rir)


Babi: Tá bolado? Com sede de vingança?


Dan: Eu não. Seria muita ingratidão reclamar dessa bobagenzinha quando você me poupou de levar altos trotes do mal.


Babi: Ah, que bonitinho! Gostei! Vai até ganhar um abraço. (envolveu os ombros dele com o membro direito e saiu andando): Vem, calourinho cute cute, vou te dar caninha e meninas no cio, vamos! Você merece.


Dan: Tá, né, se a veterana diz...


Naty: Me esperem, vocês dois!


(No churrasco de boas-vindas, com um Dan ainda sonolento, Babi tentava animar os dois, que permaneciam retraídos demais para fazerem jus ao posto de “seus calouros”)


Babi: Vamos, gente! Animando! (dançava mais empolgada do que trio elétrico, apesar dos bocejos broxantes que Daniel insistia em emitir)


Dan: O desânimo tá coletivo...


Babi: Mais um motivo para os meus calourinhos pupilos darem o exemplo! Vão ter que agitar!


Naty: Que vergonha! Nem conheço quase ninguém. Só de vista.


Alex: Que isso, calourada? Hora de curtir pra valer! Vamos começar a diversão! Desfile das calouras! (causou uma vibração notória na multidão masculina ali presente): Eu serei o juiz!


Michele: Ei! Que isso, Alex? (encarou-o de forma intimidadora e só conseguiu com isto um improviso que não convenceria nem a mãe dele)


Alex: Tenho que ser o juiz exatamente por conhecer o que há de melhor aqui. Meu ótimo gosto já foi mais do que provado. Afinal, namoro a miss ESF!


Michele: Hum... Sei... (cruzou os braços em um estado evidente de insatisfação. Já Babi, recorria à encolha dos sussuros que segredava a Naty)


Babi: Tá bom que é por isso! Quer é um bando de calouras se exibindo pra ele!


Naty: Péra, eu sou caloura! Não vou desfilar, não! Que mico.


Babi: Se não for, vai ser visada para trote. De certas coisas, nem eu posso te proteger.


Bruno: Calouro, tem resto de espuma na sua cara? (voltou-se a Daniel na oportunidade perfeita para Babi convencê-los da farsa instaurada desde aquele primeiro dia)


Babi: Trote surpresa, né, Daniel? Eu disse que eles estavam comigo, e o meu serviço é bem feito! Estão sofrendo!


Bruno: Gostei de ver! (balançou a cabeça em aprovação antes de ir para perto dos outros veteranos, que avaliavam as calouras desfilando)


Naty: Ufa! Escapamos dessa! Bem pensado, Babi.


Babi: Infelizmente, amiga, não vai escapar de tudo. (apontou Alex, que se aproximava delas com indícios de que iria aprontar alguma. Ou apenas embalar a quentinha para comer mais tarde...)


Alex: Loirinha, logo você querendo se safar? Vai lá que eu analiso!


Naty: Ai, sabe, eu fico com muita vergonha e... (manuseava as pontas dos próprios cabelos, completamente encabulada)


Bruno: Vergonha? Cachaça! Cachaça! (sugeriu eufórico e entre palmas)


Naty: Não! Não! (sobressaltou-se diante da ameaça que se faria à sua dignidade se a obrigassem a beber): Por favor! Não precisa, eu vou! (começou, enfim, a desfilar com uma inibição cabulosa demais para tanto)


Alex: Não, não, não. Caloura, sei que faz melhor do que isso. Que sem graça! Vai lá, me mostra no estilo ESF! (sem que Michele visse, flertou com ela para que tornasse a desfilar com a confiança revigorada): Isso aí! Arrebentou! (aplaudiu satisfeito a atração que animou os homens)


Babi: Nova miss ESF! Nova miss ESF! (puxou o coro só para aborrecer a dona do título; conseguiu chamar a atenção dela, com certeza)


Bruno: Ih, briga pelo título? Só tem um jeito de resolver: vai lá, Michele, desfila contra ela! A voz do povo escolherá.


Alex: É, gata, mostra por que te chamam de miss! Michele! Michele!


Blenda: Bota moral na caloura, amiga! (pediu àquela a quem dedicava votos de amizade desde que ingressara na ESF. Conheciam-se de um trote anterior, aliás)


Michele: Tá. Vai na frente, caloura, dá o seu show.


Naty: Mas eu... Não! Miss? Não, eu não!


Alex: Vai lá, vai. Vai ser divertido!


Naty: Ai, tá. Mas rapidinho, hein! (exibiu-se novamente e tornou a ser muito ovacionada por isto)


Michele: Muito bom, admito, parabéns! Mas é assim que se faz. (começou a desfilar, então, como se houvesse nascido para aquilo. Parecia deslizar ao invés de simplesmente andar, e isto sem ao menos perder a firmeza no salto alto. Os cabelos longos que, de um marrom fechado, progrediam gradualmente ao ruivo, esvoaçavam com tanta suavidade que pareciam seda ao vento. E os olhos azuis estagnaram tão profundamente fixados em Alex, que todos, incluindo o próprio, ficaram admirados com aquele poder de hipnose; os gritos mais fortes declararam a sua vitória no fim): Obrigada. Tá, chega, gente. Foi só uma demonstração, não precisa disso tudo.


Alex: Impecável, perfeita! Uau!


Babi: Tão impecável que o calouro dormiu! Miss sonífero! (em um desdém notório até ao ser mais avoado, apontou para Dan, que dormia debruçado na mesa em frente à churrasqueira)


Michele: Ai, queridinha, só te digo uma coisa... (em combate à provocação, beijou o namorado para dar ênfase ao relacionamento que mantinha com ele): Perdeu!


Alex: Que isso, gata, deixa pra lá.


Nicole: Que derrota é essa? Alguém ressuscita esse calouro!


Bruno: Cadê a Ana da cana para dar um beijinho alcoólico nele?


Babi: Ow, deixa que eu acordo o menino! (ignorou as inúmeras zoações maldosas que conquistou com a iniciativa e tentou despertar o rapaz, passando-lhe a mão nos cabelos): Dan, abre a boca. (ouviu-o grunhir, ainda entregue ao sono): Abre a boca!


Dan: Hum? (sem nem ao menos raciocinar, obedeceu, posteriormente sendo levado a emitir tosses de engasgo pela cachaça que lhe foi derramada garganta abaixo): Ai, que porcaria é essa? Pelo amor de Deus!


Bruno: Ih, sei não, hein, o calouro não gosta de cana! Ih!


Dan: Pô, cara, quer economizar, compra gasolina! Isso aqui ninguém merece!


Nicole: Quem não gostar da qualidade, só lamento. É hora do bebe e corre! Cada calouro vai tomar um copo de caninha e depois pegar a sua dupla para uma corrida de três pernas! Escolham os seus pares, calouros!


Babi: Dan, vai com a Naty.


Dan: Tá. Já vou, patroa.


Babi: Esse aqui já está devidamente “canado” e, com o sono dele, mais zureta impossível!


Naty: Ai, sou meio fraca com bebida...


Dan: Bota na boca que não tem problema. (viu a loira entornar o copo de cachaça, toda conformada e em confiança às recomendações): O veterano virou, agora cospe!


Naty: Ih, era pra cuspir? (arregalou os olhos enquanto ele, por sua vez, pôs a palma na testa)


Dan: Ai, meu Deus! Tenha piedade dessa alma nada malandra...


Alex: Ah, Nicole entrou para completar um time, também quero participar! (postou-se queixoso e, como Dan e Naty ainda não estavam com as pernas amarradas, pensou que a sulista estivesse sem par): Vou ser a sua dupla, caloura vice!


Naty: Tá bom! (foi ao encontro dele mais rápido do que formiga ao pote de açúcar)


Dan: Ué! Como é isso? Que vacilo!


Babi: Ai, deixa, Dan, eu corro com você. Ela se deslumbrou!


Dan: Nota-se. (atrelou-se a ela sem mais resmungar)

(A corrida se iniciou como um show de trapalhadas e tropeços, a começar por Alex e Naty, que quase caíram duas vezes. Dan e Babi, por outro lado, mesmo aos trancos e barrancos, acabaram sendo os vencedores)


Babi: Ótimo trabalho, parceiro! Vem, vamos tomar uma cerveja que você precisa acordar!


Naty: Parabéns, gente! Tem que ter muita coordenação para fazer isso e...


Dan: Vou indo na frente.


Naty: O que aconteceu? (uniu as sobrancelhas em reação ao comportamento dele)


Babi: Você deu uma vacilada tensa, fala com ele lá.


Naty: Ai, sou muito desligada. Vou falar com ele! (aproximou-se do rapaz, que tornou a se sentar diante da churrasqueira): Dan, desculpa, tá? Acabei te deixando na mão, né?


Dan: Ah, tá tudo certo. Quer uma? (ofereceu-lhe uma das latas de cerveja que selecionava do isopor com gelo)


Naty: Manda. Mas, enfim, você sabe que é o garoto de quem eu mais gosto da faculdade. Na verdade, a pessoa de quem mais gosto, junto com a Babi. E a gente já passa o tempo todo junto e tudo mais e...


Dan: Sem problema, já disse. Bebe enquanto tá fria. Cerveja quente é uma droga.


Naty: Mas me conta, sei lá! Qual matéria te atrai mais daqui, fala qualquer coisa! Estou aqui para te ouvir. Até se fizer um monólogo eterno!


Dan: Desculpa, espera, meu celular tá tocando. (tirou tudo do bolso apressadamente, ciente de quem deveria estar em sua procura): Ah, é uma mensagem da minha irmã, mas fala. Estou respondendo aqui, mas tô te ouvindo!


Naty: O que é isso perto da sua chave?


Dan: Um chaveiro?


Naty: Não, aquilo rosa, ali do lado da chave.


Dan: Ah, é uma palheta velha que eu me esqueci de jogar fora.


Naty: Muito fofa! Não joga fora, não. (segurou o objeto, encantada, como se o pedaço de plástico fosse algo precioso)


Dan: Quer? É um triângulo de plástico já desgastado, mas enfim...


Naty: Posso? Jura? Sério mesmo?


Dan: É sua. Juro que não vou pedir o “tesouro” de volta, valeu? (deu de ombros e riu)


Naty: Ah, obrigada! Mas pra quê você tinha isso?


Dan: Na verdade, eu...


Alex: Caloura, vem cá!


Naty: Dan, se importa se eu..?


Dan: Não, vai lá. Divirta-se! (suspirou entre mais um gole de bebida e uma mensagem de texto)


Naty: Depois nos falamos! (afagou-o no ombro antes de acompanhar aquele que a requisitava. Adiante, quando já no centro de uma roda de homens, para não contrariar nenhum deles, acabou por sorver umas misturas estranhas de bebidas alcoólicas e logo saiu do seu normal. O que, claro, atraiu todos os interessados nela para perto)


Bruno: A gatinha quer levar um papo? (investiu nela, que começou a rir ao sentar no chão, sem nada além responder)


Dan: Ela tá comigo! Vem, levanta daí, vamos!


Naty: Aqui tá divertido! Solta... (gargalhava sozinha ao mesmo tempo em que abanava a mão para repeli-lo): Ah! Sai daí!


Dan: Vem logo! Ai, vem! (pegou-a no colo, sem mais cerimônias, e a tirou da festa; soltou-a apenas quando chegou no jardim, onde a sentou ao seu lado e perto de um canteiro de flores): Mulher, ser danada é uma coisa, ser maluca é outra! Vai ficar se embebedando no meio de um bando de desconhecidos tarados? Já tá perdendo a noção!


Naty: Tô ficando zonza... (apoiou o rosto no ombro dele, entre muitas lamúrias; estágio dois do consumo alcoólico)


Dan: Toma, sempre trago um chocolate comigo nessas festas. Come. (ofereceu-lhe a barra, demasiadamente prestativo. Ficou irônico, no entanto, ao sentir gotas geladas caírem aos poucos): Ai, ótimo, começou a chover! Vem, consegue ficar de pé?


Naty: Se eu consigo ficar de pé? Tô perfeita! Aqui, olha! (começou a dançar como o Carlton do seriado “Um maluco no pedaço”, em um regresso brusco ao estágio um)


Dan: Que isso? Bebida desinibe mesmo, "mó" doida! (gargalhou, impressionado com a oscilação comportamental que pairava sobre ela)


Naty: Se contar isso, é um homem morto! Ai, vou sentar, um minuto só. A dancinha deu tontura.


Dan: E você também é uma das pessoas de quem eu mais gosto daqui, me esqueci de dizer. (encarou-a com um sorriso diante do silêncio que se instaurou, mas só conseguiu fazê-la exclamar um “ei” repentino com isto): Ei o quê?


Naty: Não tinha reparado que você tinha olhos tão bonitos! São misturados, que louco! Parece até que estão girando! Foda! Uh, duas bolinhas de gude meio mel, meio verdes, meio giratórias...


Dan: Eu, hein. Papo de bêbado mesmo, safadona! Estão girando, sim... Só se for em reprovação ao seu estado cabuloso.


Naty: Ah, deixa eu ver melhor! Tira o boné!


Dan: De jeito nenhum!


Naty: Tira, vai! Eu quero ver, não seja assim! Eu estou alcoolizada! Pobre de mim! Nossa, rimou! Que barato!


Dan: Não, sai, sai! Pobre de você se eu não tivesse te tirado de lá. Iria acordar é dolorida! Altos rodízios na sua “perseguida”. Pronto, também rimei. Que “mágico”, não? Agora deixa de show, qual é! Para, doente! Ah, é assim? Valeu, então! (passou a retribuir os ataques implicantes dela na mesma moeda, já vendo graça naquela bebedeira. E nessas tentativas de roubo ou proteção do boné, ficaram uns bons minutos sob a chuva como duas crianças que nunca brincaram fora de casa. Estavam indo bem nessa de se conhecerem... Passados mais dois meses e, devido à convivência que tinham por morarem na república, os laços de afinidade e amizade se estreitaram naturalmente. Por isso, após acompanharem Babi em uma ida ao shopping para comprar a roupa que usaria na próxima choppada, resolveram assistir a um filme juntos no quarto das duas; o que já era um hábito desde algumas semanas)


Babi: O que ele tá fazendo? (enquanto colocava o DVD, riu ao observar a empolgação do garoto)
Naty: Não sei por que, mas ele fica todo ligadão com música! DAN! Desliga o mp3, vamos ver o filme!


Dan: Pelo caminho, garrafas e cigarros. (começou a cantar a música Natasha da banda Capital Inicial, que lhe dedicava com os indicadores)


Naty: Sem amanhã, por diversão, roubava carros! (acompanhou-o na euforia)


Dan: Era Nathália, agora é Natasha. Usa salto quinze e saia de borracha! (foi chamado de bobo, entre um risinho, ao mudar a letra da canção)


Babi: Vamos, doidos? (lamentou, então, ao se voltar para os dois): Ah, por que ficaram na mesma cama e deixaram a minha vazia? Podem ir abrindo espaço pra mim, não quero ficar sozinha!


Dan: Vem, danada! Três numa cama de solteiro vai ser brabo, mas não me importo devido ao gênero das companhias, claro.


Babi: Não, você fica no meio. Nem precisa se levantar! (impediu-o de se reerguer por completo e o empurrou de volta ao colchão)


Dan: Beleza, só entre a mulherada! (apoiou a nuca nas mãos entrelaçadas que pôs atrás da cabeça confortavelmente)


Babi: Tadinho, sonho seu! Enfim, gostaram mesmo da blusa?


Dan: Ficou gatona. Ficou gatona.


Naty: Amei! Vai arrasar!


Babi: Não sei com que sapato usar...


Naty: Com aquele seu preto ficaria ótimo!


Babi: Mas e o prata? Fica ruim?


Naty: Também tem o branco gelo.


Dan: Começou a sessão Marisa, de mulher pra mulher... Meninas, podemos ver o filme?


Babi: Estraga papo feminino! (cutucou-o na cintura até que parasse de revirar os olhos)


Naty: Autoritário! (fez o mesmo só para constar)


Babi: A única coisa que deve ser mais hilária do que o Dan surtando é ele xavecando!


Dan: Ih, entendi isso não! (ergueu a sobrancelha, um tanto contrariado)


Babi: Ah, vai, manda um xaveco!


Dan: Quer que eu te cante, não arruma pretexto, não. Me dá mole tradicionalmente!


Naty: Boa! Mandou! (deixou uma gargalhada sonora escapar dos lábios, como sempre fazia quando eles iniciavam esse surto de gentilezas um com o outro)


Babi: Que ousado! Sou pro seu bico não, meu bem. Só quero ver o xaveco por uma mera questão filosófica! (empinou o nariz, cheia de marra, ao se justificar)


Naty: Que filosofia tem nisso?


Babi: Minha tese de que meninos legais xavecam mal ou são gays!


Dan: Isso deve ser um trauma mal resolvido. Não precisa ficar neurótica, Babi. Você só escolheu mal. Existem caras legais, sim. A diferença é que gente como eu sabe que paciência é uma virtude e que vocês não são pedaços de carne que passam da validade se não dermos tempo ao tempo.


Babi: Nossa, que fofo! Fiquei impressionada, admito. (se ela assentiu em aprovação, ele, por outro lado, divertiu-se um bocado com a ingenuidade dela)


Dan: Isso foi só pra mostrar que as coisas legais que os caras falam, no fundo, são puro xaveco malandro!


Babi: Seu ridículo! (prendeu o riso ao presenteá-lo com um tapa no braço. E, ainda assim, ele insistiu em dar de ombros): Que folgado!


Dan: Pediu demonstração, ué!


(E enquanto eles se entretinham mutuamente, Naty ficava intrigada ao analisar a cena. Afinal, quem era o Dan? Gostava das duas de verdade, ou apenas se valia de um clássico golpe masculino para se aproximar? Às vezes, agia como um "safado ordinário", mas por que as coisas tão únicas que dizia, mesmo que de brincadeira, pareciam combinar muito mais com ele? Qual versão era a verdadeira? Sentia-se incomodada quando enxergava as hipóteses porque, apesar de todas elas, já tinha plena certeza de duas coisas: Daniel parecia conhecer muito bem a alma feminina e, ainda que não convivessem há tanto, já era realmente importante para Babi e ela)


Babi: Tá, tá, chega de zoar. Gente, amanhã vou a uma pizzaria com uns colegas de enfermagem, querem ir?


Dan: Eu topo. E com louvor se essas colegas forem enfermeiras gatas! (comentou o que já sabia ser capaz de conquistar um dos beliscões da veterana. Como adorava implicar com ela!)


Naty: Também! Quer dizer, sem a parte das enfermeiras gatas, claro. Agora, vamos ver o filme ou não? Daqui a pouco tá tarde, e temos que fazer as tarefas antes de dormir! (angariou uma série de zombarias proferidas em tom de obediência, como um “sim, mamãe!”, e outras mais provocativas, como “fazer tarefa é coisa de calouro” - sendo as últimas, obviamente, vindas de Babi. Divertiram-se, enfim, com o longa-metragem, mesmo que a atenção majoritária permanecesse em brincarem um com o outro como se fossem amigos de longa data. Na manhã seguinte, entretanto, a alegria desapareceria em um despertar atônito)


Babi: O que houve? (observava a amiga sentar na cama, toda suada, por detrás da revista feminina que lia)


Naty: Hum? Nada, nada. Só estou me sentindo mal. (enxugou a própria testa ao mesmo tempo em que tentava acalmar a respiração. Teve o ímpeto, em seguida, de falar alguma coisa, mas desistiu; libertou-se das cobertas apenas)


Babi: Pesadelo? (franziu o cenho àquela hesitação constante que vinha dela)


Naty: É, é. Pesadelo. Não vale a pena contar. (concentrou-se em arrumar a própria cama, ainda surrealmente inquieta. Fez com que a morena contorcesse os lábios e tornasse a folhear a revista, apesar do clima suspeito)


Babi: Tudo bem. Não precisamos falar disso. Logo você se distrai e esquece, meu bem. Aliás, vê se não se atrasa hoje, hein. (não percebeu que a deixou ainda mais nervosa ao advertir)


Naty: Ok. (dobrou as cobertas com rapidez, controlando-se para não dar com a língua nos dentes. Contudo, ao respirar fundo de novo, de repente se voltou para a carioca, em um atropelamento de palavras emboladas e muito aflitas): Vai dar um problemão na pizzaria, não sei o que é direito, mas senti algo ruim! Por favor, cancela essa saída!


Babi: Tá louca? Foi só um pesadelo! Que coisa! Eu, hein!


Naty: Não posso explicar, mas sei que não foi pesadelo! Por favor, cancele o programa!


Babi: Se te faz feliz, Dan e eu não vamos mais, pronto. Calma!


Naty: Ufa! Obrigada, Babi. (aliviou-se com o êxito das súplicas, mesmo que continuasse a suar frio)


Babi: Pode ter sido só um sonho ruim, eu insisto. Eu aceitei e tudo mais, mas vamos perder uma saída legal só por um sonho?


Naty: Tá bom, Babi, eu confio em você. Vou contar o que está acontecendo se você prometer não achar que estou doida!


Babi: Ih, prometo, menina. (intrigou-se ainda mais ao vê-la morder os lábios cheios de apreensão)


Naty: É que, bem, desde pequena eu tenho algumas previsões e pressentimentos durante os sonhos, sabe? Acontece de vez em quando, e eu quase nunca erro e...


Babi: Caramba! Sério? Que demais! (arregalou os olhos, supostamente impressionada, e simplesmente lhe estapeou o braço no minuto seguinte)


Naty: Ai, Babi! Isso doeu! Por que fez isso?


Babi: Não previu isso, não é? Então desencana, garota, tá viajando! Não sei por que tá inventando uma desculpa tão boba. Se quiser dar pra trás, inventa melhor pelo menos!


Naty: Não, é sério mesmo! Acredita em mim!


Babi: Então tá, qual é a cor da minha calcinha? (cruzou os braços, mantendo um tom sarcástico nos gestos; conseguiu irritá-la finalmente)


Naty: Aí, eu tenho previsões e não a visão de raio-x do Superman. Não faz piada com um assunto sério! Eu te contei o meu maior segredo, e você zomba de mim?


Babi: Aí, já tá se esquivando.


Naty: Você vai ver. Não vai à pizzaria, estou falando. E não mete o Dan nessa furada!


Babi: Tá, tá. Vamos mudar de assunto, não quero discutir! Só acredito vendo e ponto, assunto encerrado. Cada um com as suas crenças, ou falta delas.


Naty: Precisa descobrir do pior jeito? Por favor, não vai, não. Confia em mim. Você vai se dar mal e levar o pobre do Dan a reboque. (esbeiçou o lábio em retomada do ar meigo de sempre, mas Babi não estava disposta a deixar o assunto perdurar. Portanto, numa atitude extrema para tentar mudar o tema em foco, utilizou a distração que julgava ser perfeita a atingir o objetivo: homens!)


Babi: Falando do Dan, ele é uma gracinha, né? Um pouquinho bobo, mas muito fofo.


Naty: Quê? Ai, Babi, é o Dan, que isso!


Babi: Eu acho que vocês vão se pegar ainda! (intensificou a malícia de modo a distraí-la de vez: ao invés de insistir em pedidos aparentemente desmotivados, ela já abanava a mão e ria desdenhosamente da teoria romântica criada sobre o rapaz)


Naty: Que nada! Eu prefiro o Alex. Ai, muito gato!


Babi: Eu sei que é, mas ele é só pra admirar. Aquele cara é encrenca, é safado, metido, superficial, usa as mulheres, tem um rolo com a Michele e...


Naty: Ai, a Michele é um saco! Muito sério.


Babi: Então, fique longe do Alex, se não quiser decepção certa e problemas com ela!


Naty: Tá bom, eu fico. Mas tem certeza de que é só por isso que você está me dando esse conselho?


Babi: Bom, eu, eu... (sentiu-se aliviada quando alguém bateu na porta e a poupou de ter de responder): Entra!


Dan: E aí, gente? Estava com saudades das minhas mulheres.


Babi: Ih, folgado. Nem aproveitei, mas ganhei o título! Como assim?


Dan: Tá falando sério? Porque se for, podemos conversar sozinhos. Nunca imaginei que você estava interessada e... (tentou retribuir a brincadeira com uma postura forçosamente sedutora. Só acabou levando um tapa no ombro, mesmo que leve): Parece que fiz vestibular pra apanhar!


Babi: Se liga, menino. Você tá muito franguinho ainda. Ganha mais experiência, e depois a gente conversa, tá? Só o que me faltava, um calouro achando que estou dando mole!


Dan: Aí, não precisa esculachar, era só brincadeira!


Babi: Você vai ter que melhorar muito para ficar comigo um dia. Só pego homem com pegada!


Dan: Ih, nunca provou pra ver se eu tenho! Falou a experiente, agora.


Naty: Ai, chega, gente! Tá bom, vocês dois têm pegada, são lindos e pronto.


Dan: Hum, Naty, essa cantada sugere um triângulo amoroso? Cara, ninguém me acorda. (cerrou os olhos, desta vez, transbordando a sua malícia implicante para cima dela)


Babi: Realmente, porque só nos seus sonhos!


Dan: Não, nos meus sonhos você se arrumaria mais e abriria menos a boca.


Babi: Cara, vai se ferrar! Vou te bater, garoto.


Dan: Ih, sem grilo, Babi! (deixou o riso contido escapulir enfim): Estou só brincando com você, minha linda. Se eu não te irritar, não tem graça.


Babi: Agora sou sua linda? Não sei me arrumar, não é? (fez um charme que conquistou um beijo na bochecha de imediato)


Dan: Você é linda sempre. Bom, meninas, vou adiantar uns trabalhos e depois tomar banho pra gente sair.


Naty: Nós não vamos à pizzaria, não é? Por favor, não.


Dan: Como assim não? O que eu perdi?


Naty: Por favor! Podemos ficar todos no dormitório fazendo algo, vendo um filme.


Dan: Ah, danadinha, você, hein. Mal entrou na faculdade, já quer tirar o atraso! Eu te faço esse favor. (retomou a expressão de safadeza ao gesticular aspas): Vamos “ver um filme”.


Naty: Deixa de ser idiota, Dan. (repreendeu tão chateada que causou assombro. Afinal, o seu traço peculiar era a doçura, na opinião deles)


Babi: Ela tá com medo de ir mesmo. Não tá de zoa que nem a gente.


Dan: De quê? Primeira pessoa que conheço que tem medo de pizza!


Naty: Ai, não é isso, né! Deixa pra lá.


Babi: Eu vou. E ponto final.


Naty: Mas você disse...


Babi: Quando achei que você tivesse me pedido por um motivo lógico, né!


Dan: O que tá rolando? (tornou a perguntar, só que agora finalmente estava sério)


Naty: Dan, por favor, não vai. (cresceu os olhos cor de mel para ele em uma súplica tamanha que não poderia recusar)


Dan: Você realmente tá com medo?


Naty: Sério! Não estaria implorando se não fosse por uma boa causa!


Dan: Tá, eu fico! A gente vê o tal filme.


Babi: Vai, pau mandado...


Dan: Ela não está legal e é minha amiga. Vou ficar aqui com ela.


Babi: Divirtam-se trocando a fralda um do outro. Que besteira! Aproveita e dá um livro de colorir pra criança, Daniel Azulay! (saiu do cômodo, sem mais uma palavra a dizer. No fundo, estava aborrecida por se sentir preterida de alguma forma)


Dan: Daqui a umas horas, você vai pro meu quarto. Já vou estar até com a pipoca pronta, você só leva o filme. Tudo bem? Preciso fazer uns deveres primeiro.


Naty: Ok. Obrigada, Dan. Eu te adoro! (abraçou-o espontaneamente, sem perceber que o deixava sem jeito com tal demonstração repentina de afeto)


Dan: Nossa, que isso, pô. Não foi nada.


Naty: Pra mim, foi muito. (beijou-lhe a face em despedida. E, no horário combinado, foi ao encontro dele no dormitório masculino): Oi. Tudo pronto?


Dan: Entra. (abriu espaço para ela entrar e sentar em sua cama, que a aguardava com um saco de pipoca de micro-ondas, travesseiros e duas latas de refrigerante. Antes de poder se acomodar ao lado dela, contudo, voltou para atender a porta de novo): Vou ver quem é. Espera aí.


Babi: Oi, gente. (sorriu um tanto apreensiva ao adentrar, o que não lhe era muito característico): Desculpa, fui muito grossa hoje cedo e eu adoro vocês dois tanto! Eu sou meio chata mesmo e...


Naty: Ah, Babi, que isso. A gente entende. Não precisa ficar assim.


Dan: Por mim, está tudo bem também. Até achei criativa a do Daniel Azulay. Aliás, quase respondi que, dependendo do objeto, eu toparia ser da sua turminha do Lambe-Lambe. Mas me calei em nome da minha própria integridade, falou? (deu um risinho só para contagiá-la a fazer o mesmo. E, de fato, ela logo ficou à vontade; tanto que tratou de bater nele com a almofada)


Babi: Vocês são muito legais, sabiam?


Naty: Vai ver filme com a gente?


Babi: Não, vou para a pizzaria.


Naty: Já te disse que vai dar problema! Dá para me escutar, poxa?


Babi: Você pode estar errada, e eu vou pagar pra ver. Disse que só acreditaria vendo!


Naty: Tomara que eu esteja errada, mesmo!


Babi: Esquece isso. Mas, e aí? Estou bonita? Quero sair da seca hoje.


Naty: Tá um arraso. O Dan até perdeu o queixo. (comia pipoca ao comentar)


Dan: Ei! Eu nem disse nada! Devo ter cara de carente, só pode.


Naty: É verdade, vai, perdeu mesmo. (sorriu e bateu de leve na aba do boné sobre a fronte dele)


Dan: Ela tá gata paca, mas não exagera.


Babi: Ai, obrigada! Só não te beijo por princípios.


Dan: Que vestido tentador. Quer ficar mesmo não? (fez a habitual “cara de safado”, assim como ela também tornou a cruzar os braços a isto como de costume)


Babi: Quer realmente perder o queixo?


Dan: Era brincadeira. Ih, fica com esse humor que só vai arranjar necessitado.


Babi: Ah tá, melhor do que você, que não pega ninguém!


Dan: É, foi ótima a sua visita. Boa viagem, tchau! Não me venha de quentinha se sobrar na mesa.


Babi: Ai, meninos. Ficou sem resposta, dá nisso! Beijo, “gatinho”, fica triste não, tá? Beijo, amiga. Boa sorte para aturar o lisura esta noite! (mandou língua para ele como se fosse do primário; um gesto muito normal quando disputavam entre si)


Naty: Toma cuidado, hein!


Babi: Que os homens tomem cuidado comigo, isso sim! Hoje a chapa vai esquentar!


Dan: Tô falando que é safada! (levou a mão à testa, já incapaz de conter o riso)


Babi: E você nunca saberá o quanto! (retirou-se entretida com a própria implicância. Mas não antes de piscar e mandar um beijo para ele, o qual foi retribuído no mesmíssimo tom)


(Após um tempo decorrido do filme, já a sós com a sulista, Dan alterou o seu proceder: ao reparar o incômodo dela, que estava constantemente a mudar de posição para acabar com o desconforto, ficou bem mais cuidadoso do que brincalhão)


Dan: Tá com dor nas costas? Pode deitar no meu colo. (endireitou-se na cama, permitindo que ela acomodasse a cabeça em suas pernas)


Naty: A foto que tiramos ficou muito legal! Gostei das que tiramos os três ao longo desse tempo, mas essa foi muito espontânea. Amei! (disse ao analisar as imagens na câmera fotográfica enquanto era afagada nos cabelos dourados. E ele apenas sorriu, distraído com esses fios que percorria com os dedos): Dan, mudando de assunto, você faz todo esse estilo, mas já se apaixonou por alguém?


Dan: Já, infelizmente. Mulher é problema! Diz que quer cara sério e, quando tem, não liga.


Naty: O que houve?


Dan: O nome dela era Camila. Ela era demais, cara! Pelo menos, eu achava, né! A gente estava só ficando, mas ela dizia que era menina séria e que só queria namorar, blá blá blá. Como eu gostava muito dela, aceitei. Namoramos por dez meses, quando eu ainda era do segundo ano. Até que, um dia, como ela me disse que ia visitar a avó dela, eu resolvi sair com os meus amigos pra comer alguma coisa no podrão da pracinha. Chegando lá, acabei vendo outro cara dando um amasso nela em um dos bancos.


Naty: Quê? Safada! O que você fez? (chocou-se com a revelação como que diante do capítulo bombástico de uma novela)


Dan: Ah, disse que ele podia ficar com ela, que não valia porra nenhuma mesmo. Não ia bater nele para aumentar a moral dela, né? Piranha, ela nem dava aqueles amassos comigo, dizendo que era de família!


Naty: Ela que saiu perdendo! Você é um cara muito legal, e alguém vai ser uma ótima namorada pra você um dia.


Dan: Espero! Mas, por favor, não comenta esse assunto com ninguém. Nem sei por que me abri tanto com você, eu não faço essas coisas. É que temos uma afinidade muito grande, sei lá. Eu te considero muito.


Naty: Pode deixar, eu sinto o mesmo. Somos amigos, ué, morreu aqui.


(Enquanto isso, Babi estava nas redondezas do Campus, durante o seu caminho de regresso, quando foi agarrada bruscamente pela cintura)


Babi: Ai, caraca! Aí, negão, tá pensando que é o Will Smith pra me pegar assim? (vociferou com vontade antes de se dar conta de que o noticiário criminal seria o mais próximo do estrelato que aquele sujeito chegaria na vida. A protuberância que podia sentir sendo roçada nas costas também não era, com certeza, "felicidade" em conhecê-la; estava mais para uma arma branca): Qual é, cara! Tá maluco? Leva a minha bolsa, mas não toca em mim, ow! (quis soar destemida, mirou errado na prepotência e acabou fazendo um gol contra. Ganhou de brinde um convite a ir executar um verbo com "f" para arrematar o tapa na bunda e o soco na cara que lembrariam quem é que estava em posição de comando ali. A tensão se instaurou plena... No quarto de Dan, por outro lado, o clima permanecia agradável, e o assunto fluía naturalmente. De fato, a afinidade era imensa. Foi então que, de repente, ele ficou calado, observando fixamente a amiga, que retribuía este olhar com doçura)


Naty: Que foi? (abriu um sorriso amistoso àquela troca silenciosa de afeto)


Dan: Naty, desde alguns dias eu queria te falar uma coisa. É que... (coçou a nuca em reavaliação do que diria e como o faria, mas nem teve tempo de tirar uma conclusão acertada; assim que começou a tomar coragem, viu a entrada repentina de Babi)


Babi: Droga! Me roubaram e apertaram a minha bunda!


Dan: Quê? Como assim? (levantou-se de imediato para ir até ela)


Babi: É, pô! Fui assaltada e levemente abusada! Ninguém merece!


Naty: Ai, meu Deus! Você está bem?


Babi: Estou, estou. Que bom que ele não acertou o soco direito. Eu que fingi que doeu muito! (finalmente conseguiu acalmar a respiração após muitas tentativas inúteis)


Dan: Como é? O covarde te bateu? Ah, eu vou achar esse cara! (demonstrou uma indignação tão fervorosa que as surpreendeu por, até então, haver se portado como uma quase calmaria)


Babi: Deixa, ele fugiu. Não vale a pena. Eu só tinha dez contos mesmo. E tava usando as cópias autenticadas dos documentos, por sorte.


Naty: Pelo menos você está legal. Que susto!


Babi: Sabe o que foi pior?


Dan: Tem pior? Esse babaca fez o quê? (cerrou os punhos, cada vez mais exaltado)


Babi: O pior é que ele bate na minha bunda, e eu é que pago pra ele! Que insulto!


Naty: Ai, Babi, só você mesmo. (teve de deixar escapar uma risada incrédula ao vê-la dar de ombros e sorrir daquele modo apesar de tudo. Já Dan não parecia ter se acalmado)


Babi: Foi para descontrair e esquecer essa chatice.


Dan: Tá, de qualquer forma... (tentou conduzi-la à cama para sentá-la, cheio de cuidados): Vem, Babi. Fica aqui com a gente. Quer alguma coisa?


Babi: Não, Dan, obrigada. Preciso é de um bom banho e descansar, só isso. Já foi um saco ir prestar queixa. Vou indo, gente. Obrigada pela preocupação.


Naty: Vou contigo!


Dan: Já vão embora?


Naty: Já! Está tarde, e o seu colega de quarto já deve estar chegando.


Babi: É mesmo! Quem é o colega de quarto do Dan? Como eu nunca soube?


Dan: Ué, pensei que vocês soubessem que é o Alex. Se interessam tanto pela vida dele...


Naty: Quem? Ai, meu Deus! Tenho que sair daqui, estou muito mal arrumada! (em um sobressalto, começou automaticamente a ajeitar as roupas e o cabelo)


Babi: Como se ele ligasse. É mulher, está na lista. (revirou os olhos em uma expressão enfadada)


Naty: Mas eu ligo! Que ideia...


Babi: Então, vamos, ué. Ele deve estar chegando.


Dan: E daí? Qual é o problema?


Naty: Nenhum garoto pode nos ver assim! (valeu-se de um timbre agudo e inquieto. Entretanto, foi pelo conteúdo da declaração que ele a encarou com tanta surpresa)


Dan: Não sei se você percebeu, mas eu sou homem.


Babi: Ah, você não conta! (riu, dando-lhe dois tapinhas no ombro que só pioraram tudo. Ele já cruzava os braços, aparentemente aborrecido)


Dan: Devo agradecer tamanha homenagem?


Naty: Não, é que você é nosso amigo e não homem do jeito que estamos falando.


Dan: Hum... Amigo... Tá. Saquei. Enfim...


Naty: Ficou chateado?


Dan: Anda, vão logo. O Alex tá chegando.


Babi: Ai, Dan, não fica assim. Você é o nosso favorito! (desta vez, empurrou-o de leve, mas não obteve um sorriso sequer)


Dan: Eu tô normal. Agora, dá pra ser? (abriu a porta um tanto conclusivo): Já tô cansadão, sério. Logo ele desponta aí, e vocês dão chilique por causa da roupa, ou do fiapo de cabelo fora do lugar, que ninguém além de vocês nota. “Alá”, viu? (apontou para a loira, que se olhava em um pequeno espelho portátil, procurando ajeitar os fios arrepiados próximos à raiz dos cabelos, que eram imperceptíveis a qualquer um)


Naty: Ham? O quê? (desviou o olhar para ele, agora, a arrumar a sobrancelha com o indicador; Babi só fez prender o riso e espalmar a mão na própria testa)


Babi: Nada. Bom, tudo bem então. Fingirei que essa expulsão implícita não foi pretexto para você ficar a sós com o seu macho, ok? (mordeu os lábios, toda zombeteira, e o beijou na face em despedida): Vem, Naty.


Dan: Que bom que você compreende, né? (forçou um sorriso irônico antes de retribuir o gesto e abraçá-la brevemente): Vê se descansa. Se cuida, maluca. Até mais, Naty. (acenou para a outra, que era arrastada por ela)


Naty: Acho que ele ficou zangado. (já de pijamas, bebia um gole de água, sentada na própria cama)


Babi: Não se faz de boba, não. (virou-se de lado sob as cobertas para poder encará-la, aos risos): Tava rolando um clima, né?


Naty: Ai, você cismou com isso!


Babi: Você estava deitada no colo dele, cara. Só me deu argumentos!


Naty: Somos amigos. Ficamos conversando, só isso.


Babi: Sei, sei. Não importa. O mais importante agora é: que b-i-z-a-r-r-o! Você acertou que aconteceria algo ruim hoje! Que assustador! (mirou-a cheia de interesse, em curioso estado de animação para quem tinha se dado tão mal)


Naty: Eu te disse! Mas, por favor, é nosso segredo, tá? Confiei em você. Não quero que ninguém saiba e me veja como aberração!


Babi: Ah, vai, super legal isso! Você fala como se fosse um carma!


Naty: Sério, Babi. Promete que não vai contar?


Babi: Tá, tá. Tenho perguntas mais sérias e importantes agora. (levou-a a contorcer os lábios, temerosa pelo que lhe seria indagado)


Naty: Natural estar curiosa. Ai, que medo, fala. Qual é a pergunta?


Babi: Vem cá, dá pra prever se eu vou ser rica ou pegar um gatinho?


Naty: Ai, só pensa em homem! Eu desabafando o segredo da minha vida, e ela pensando em paquerar! Eu mereço! (resmungou, incrédula demais para quem morava com ela há um tempo)


Babi: Claro! Tem coisa melhor?


Naty: Só tenho previsões aleatórias.


Babi: “Pff”, que chato! (tornou a revirar os olhos embargados pelo tédio, como de costume, e depois riu quando a ouviu bufar)


Naty: Deixa de ser boba!


Babi: Deveria prever pelo menos se você vai ficar com o Alex, ou o Dan, ou outro cara!


Naty: Dan é o Dan, já disse, é meu amigo! E Alex está com a Michele; nunca vai rolar.


Babi: Michele é como criar peixe: no início, é bonitinho e divertido. Depois, um saco! Ele vai se tocar um dia.


Naty: Mas você também quer ficar com ele, né? Na verdade, faz estilo, mas, no fundo, acho que gosta dele.


Babi: Ficaria, sim. Riria muito da cara da Michele! Aquela besta ruiva!


Naty: Por que vocês se odeiam?


Babi: Ela se acha a mais bonita, popular e é metida a riquinha. Na última choppada do ano passado, eu bebi um pouco a mais e me atirei aos pés do Alex. Ela viu, me tacou um copo de cerveja na cara e disse que não adiantava eu tentar ou apelar, que o Alex era dela, e ninguém é igual ou melhor do que ela! Ou algo similar, não me lembro tão bem.


Naty: Que escrota! E o Alex?


Babi: Gostou da moral de ser disputado, claro. Acho que ele fica me olhando de vez em quando, mas não larga aquelazinha! Ah, pode ser só impressão minha.


Naty: Vai, Babi. Eu me abri com você, se abra comigo. Sou sua amiga! Você gosta dele, né? Não seria só para desmoralizar a Michele.


Babi: Eu não! (cruzou os braços em uma contrariedade que só arrecadou ceticismo)


Naty: Gosta sim! Para de negar o óbvio!


Babi: Tá, eu gosto! Falei! Satisfeita? Mas, se ele ficar solteiro e rolar um clima, pode ficar com ele, se quiser.


Naty: Tá brincando? Você é minha amiga e gosta dele. Ele acabou de morrer pra mim. Nunca faria isso! Ele pode ser lindo, mas você é muito mais importante! (sorriu daquele jeitinho meigo que só ela sabia fazer): Amiga, jogo no seu time e não contra você, certo? Nenhum garoto se meterá entre nós, a não ser quando você quiser que o Dan deite no meio. (tentou conter uma gargalhada que acabou por escapulir mesmo assim)


Babi: Eu te adoro demais, sério! Você é uma fofa, minha loira! (levantou-se só para abraçá-la em gratidão à fidelidade quase nunca experimentada antes em sua vida)


Naty: Você que foi muito boba de ter escondido isso!


Babi: Eu sei, desculpa. É uma história complicada.


Naty: Eu sabia que você gostava dele... (esboçou uma expressão vitoriosa à qual ela deu de ombros antes de retornar à própria cama)


Babi: E quem não gosta? Ele é um carma de tão delicioso!


Naty: Gostar, já não sei. Não admirar, impossível! (recostou a cabeça no travesseiro em preparativo para dormir): Enfim, descansa. Sonha com aquele dia em que ele estava sem camisa e vai acordar feliz da vida de novo! (abafou um risinho provocador)


Babi: Quer um conselho, meu bem? Não se meta nos meus sonos de beleza, ou vai sair traumatizada! (aninhou-se no edredom, satisfeita com o espanto da amiga. Agora, sim, poderia dormir em paz)


(No dia seguinte, Naty estava na aula de Filosofia, quando Dan chegou e não sentou ao seu lado como de costume)


Naty: Bom dia, Dan! Está tudo bem?


Dan: Está e, pelo o que eu vejo, você também. (fitou-a sério, sem o mesmo humor de sempre, apesar da animação que ela mantinha nos cumprimentos)


Naty: Ué... Não vai sentar comigo hoje? Como vou “filosofar” sem as suas piadinhas?


Dan: Ah, você dá um jeito.


Naty: Você ainda está zangado? Por favor, não fica, sério. Eu gosto tanto de você e, ain! Agora fiquei preocupada! Está me odiando tanto assim? (viu-o tentar esconder, em vão, um risinho que escapulia pelos cantos dos lábios. E morreu de vontade de bater nele por isso)


Dan: Não, mas provei o quanto você me ama! Eu vou sentar aí, sim. (levantou-se, dirigindo-se à cadeira ao lado dela. Entretanto, no caminho, foi inusitadamente abordado por Blenda, a amiga de Michele, do 2º período, que cursava o crédito pela segunda vez)


Blenda: Oi, Danizinho. Senta do meu lado.


Naty: Danizinho? (franziu o cenho tão ou mais do que ele ao vocativo)


Dan: Ham... Eu costumo sentar com a Naty.


Blenda: E daí? As coisas mudam. Por exemplo, eu saía com um cara e agora estou completamente solteira. (enrolou o cabelo para fazer charme, o que, pela expressão abobalhada dele, foi um sucesso)


Dan: Pode crer. Tá bom, eu vou, sim.


Naty: Mas... E eu? E... Ué!


Dan: Você se importa? Não, né? Viu? Resolvido.


Naty: Como é que é?


Dan: E aí, me conta, solteira, é? (acomodou-se ao lado da veterana)


Blenda: Uhum... Tá um frio, né? Minha mão está ficando tão gelada!


Dan: Ah, isso não pode acontecer, né? Eu esquento pra você. (segurou-lhe as palmas, nem parecendo o mesmo de sempre e, sim, um homem comum de se ver)


Babi: É só colocar nas suas calças que você esquenta as mãos dela rapidinho.


Dan: Babi? O que você tá fazendo aqui? (surpreendeu-se bastante com a presença dela e, mais ainda, com a ironia que ela mantinha no sorriso falsamente angelical)


Babi: Vim pegar a chave do quarto com a Naty, porque esqueci a minha lá dentro. Continuem a safadeza aí que eu tô saindo.


Dan: Que empata! (deu um muxoxo)


Blenda: É, se quiser se dar bem aqui, vai ter que se livrar dessa otária. (virou-lhe as costas e mudou de lugar. Se ele não teve ali a oportunidade de tirar satisfações com Babi devido ao início da aula, na cantina, durante o almoço, contudo, as coisas seriam diferentes)


Naty: E ele sentou com aquela boneca inflável! Me deixou sozinha!


Babi: Eu vi. Acho que atrapalhei um pouco. (divertiu-se recordando enquanto tomava um copo de guaraná natural)


Naty: Por quê? O que você fez?


Babi: Não resisti. Ela tava se atirando nele e eu fui e...


Dan: Vai, continua contando a merda que você fez. Ignore a minha presença. (juntou-se a elas na mesa, mas não na satisfação diante dos fatos)


Babi: Eu te fiz um favor. (falou tão convicta que o indignou)


Dan: Um favor? Não vou pegar ninguém só porque você não quer?


Babi: Não é isso. É só que ela não te merece! Ela é fútil, nojenta, puxa-saco da Michele, metida e muitas coisas mais. Favor, franguito. Foi um favor. De nada.


Dan: Então, porque você não gosta dela, eu tenho que me afastar? Fala sério, né!


Babi: Ela só não é boa pra você, só isso. Ela é escrota, tô falando... Conheço há mais tempo!


Dan: Para o que eu quero, ela pode ser qualquer coisa, menos santa.


Naty: Que isso? Dan, você não é assim! (levou a mão à boca para abafar o suspiro surpreso que urgia em ser expirado)


Dan: Novidade, Naty, eu sou homem. E não o seu amiguinho gay. (deixou-as para trás, ainda mais aborrecido com elas do que estava antes)


Naty: Caramba! Ele está tão irritado. Você não devia ter atrapalhado, Babi. Ela é realmente tudo o que você disse, mas não era direito seu! (garantiu aquela que mal conhecia a garota; demonstrou a sua solidariedade feminina, apesar da bronca)


Babi: Ah, corta essa! Ele tá é irritadinho porque você disse que ele não contava como homem.


Naty: E você que o chamou de frango?


Babi: Quer saber? Discutir não vai levar a nada. Vamos lá atrás dele para pedir desculpa. (partiram em busca das pazes. No entanto, encontraram o amigo no corredor, beijando o motivo da briga): Minha nossa! Ela é mais dada do que eu pensava! Um segundo, e já pegou!


Blenda: Perderam alguma coisa? (enfrentou-as, incomodada com os olhares ininterruptos)


Babi: Não, querida. Parece que é você quem está prestes a perder alguma coisa: a roupa! Coisa pior deve ter perdido aos onze!


Naty: Babi! (ficou boquiaberta com tanto “sincericídio”)


Dan: O que vocês querem agora? Estamos ocupados, sério.


Babi: Ah, claro, vocês estão é... (teve a fala interrompida pela palma da sulista, que a silenciou de imediato)


Naty: Queremos conversar com você, mas pode ser outra hora.


Babi: Outra hora? Sem chance!


Blenda: Fala com elas, Danizinho. Eu tenho aula agora, aí você vai poder dar um toco na Bárbara, que, com certeza, vai chegar em você só porque estamos ficando. Fura olho inveterada...


Babi: Ah, não! Agora você vai usar os seus pentelhos como peruca, sua... (ameaçou avançar nela como um cão raivoso, sendo contida pela amiga no intento)


Blenda: Só assim eu pareço mais com você. Sem classe e sem beleza. Não sei como tentou competir com a Michele.


Naty: Ih, agora danou-se.


Dan: Ow, ow, relaxa, Babi. (impediu mais uma investida da morena ao segurá-la pelos braços. Mas ela insistia em se debater por liberdade e em xingar o desafeto em voz alta)


Blenda: Daniel, não deixa ela falar assim comigo!


Dan: Blenda, vai para aula, que eu resolvo isso.


Blenda: Desclassificada... (obedeceu-lhe após fazer umas caretas de desprezo a quem ele só soltaria assim que terminasse de se afastar deles três)


Dan: O que você está pensando? Que show foi esse?


Babi: O que eu estou pensando? Ela começou e...


Dan: Não quero saber. Você tem que parar de se meter na minha vida!


Naty: Dan, viemos só pedir desculpas. Só isso!


Dan: Não me atrapalhem mais! Não sei nem por que vocês se incomodam tanto. Não é namoro nem nada. E, mesmo que fosse, vocês não têm nada a ver com isso!


Naty: Tá bom, chega dessa história. Por favor! Tem choppada hoje. Podíamos ir todos juntos, né? Como o combinado.


Babi: Ótimo! Uma festa cheia de gente, bebida, e eu aturando o garoto de TPM! (“fechou a cara” ao se render ao sarcasmo, ressentida por ele ter ignorado os seus julgamentos preciosos)


Dan: Relaxa, eu posso ir com a Blenda, se isso te consola.


Naty: Ah, tá bom. De qualquer jeito, nos vemos. (sorriu amarelo, desanimada pela possibilidade de ter de festejar sem ele)


Dan: Sim, nos vemos. Até.


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