Era a última semana de aula e, como as provas já haviam acabado, os professores apenas davam aula para cumprir a grade de estudos da instituição. Talvez pelo anúncio de férias antecipadas na aula de teatro e pela falta de ter o que estudar, aquela semana passara mais lentamentamente do que o normal. Até a carga horária que eu cumpria no trabalho e que sempre fora pequena para mim, parecia agora longa e desgastante. Mas desgastante mesmo era a expectativa. Aquela expectativa que eu sabia ser ingênua e infantil, que eu sabia que acabaria me magoando mas que ainda assim não conseguia evitar. Fato: se tem algo pior do que se apaixonar, é ter expectativas fantasiosas demais.
Sábado finalmente chegara e trouxera com ele um dia lindo e ensolarado que Rachel interpretara como um sinal dos céus indicando sorte. Eu interpretei apenas como um sinal do tempo indicando calor. Sempre achei que as pessoas deveriam parar com suas manias de procurar 'sorte' em tudo, antes que acabassem por não acreditar em mais nada. Decepções provocavam isso. Decepções com a vida. Simples expectativas trazem decepções catastróficas. Então é melhor não tê-las .
Eu estava deitada na sala assistindo um pouco de TV quando Grace ligou.

_ E então?Já está tudo pronto? - perguntou Grace ao telefone.
_ Grace., são cinco horas da tarde. O baile é ás oito.
_ Bem, você deveria começar a se arrumar. Sabe como é. Eu liguei pra perguntar se você tem alguma presilha prateada para me emprestar. A minha quebrou e não encontro nenhuma loja aberta onde eu possa comprar uma nova. Tô desesperada.
_ Eu tenho uma sim. Quando os pais de Leah e Rachel passarem para nos buscar eu te entrego.
_ Tá louca? Estou passando aí imediatamente para buscar. Será melhor ainda porque posso terminar de me arrumar aí com você. Detesto me arrumar sozinha. Eu posso?
_ Mas você já começou a se arrumar?
_ Claro que sim. Querida, estou acordada desde as seis da manhã. Não consigo me conter de expectativa.
_ Exagerada. - eu ri - Pode sim. Desde que você não fique me apressando.
_ Eu não prometo nada. - ela riu.

Grace demorou cerca de uma hora para chegar em minha casa. Provavelmente ela teria ficado um pouco mais na sua dando os 'retoques finais' á sua produção. Eu coloquei o meu vestido sobre a cama e os meus sapatos próximos ao mesmo e entrei na banheira a fim de relaxar um pouco,quando a campainha tocou.

_ Pode deixar que eu atendo! - gritei, correndo do banheiro de toalhas, descalça e com o cabelo molhado, pingando por todo o carpete.
_ Você ainda está assim? - ela perguntou assim que me viu, olhando-me de cima a baixo.
_ Relaxa Grace. Ainda temos muito tempo.
_ É. Você não faz noção do quão grande é a sua sorte.
_ Ah, é? - eu ri. - E por quê?
_ Porque eu posso ajudar você a se arrumar. Eu trouxe um secador,grampos e maquiagem para dar a você uma produção incrível. Então você poderá até impressionar o...
_ Não ouse! - eu pedi, antes que ela terminasse a frase. - Eu não quero impressionar ninguém. Eu só vou por causa de você e das meninas. Só por vocês. Entendeu bem?
_Tá bom. Desculpa. Eu não tenho culpa de ser realista. - ela disse, subindo as escadas correndo antes que eu ficasse brava.

Aquelas horas que nos restavam voaram como penas ao vento, mas graças a ajuda dela tudo havia ficado do jeito que eu desejava. Ela me ajudou com os meus cabelos, secando-lhe, prendendo-lhe e fazendo-lhe lindos cachos. Ela fez uma maquiagem que combinasse com o meu vestido e me ajudou a vestí-lo sem estragar nada e sem que soltasse um grampo sequer de meus cabelos. Devo admitir que jamais conseguiria fazer isso sozinha. Muito provavelmente a maquiagem borraria, o meu cabelo se soltaria e eu teria de fazer tudo novamente

Já eram quase oito horas quando meu avô entrou devagar no quarto, sorrindo ao me ver daquela forma, tão arrumada.

_ Jenni, você está linda. Nunca a vi assim, estou tão surpreso. Aposto que deixará todos os garotos do baile boquiabertos.
_ Ela deixará sim, senhor John. Pode apostar. Sou uma ótima maquiadora. - Grace disse.
_ Ah, claro que não. Há garotas lá muito mais deslumbrantes. E, além do mais, não é de meu interesse deixar ninguém boquiaberto. Eu só quero me divertir. - retruquei zangada. Grace franziu o nariz e meu avô piscou disfarçadamente para ela. Certo, não tão disfarçadamente assim.
_Tem uma coisa que eu quero dar a você. Você pode vir aqui? - ele pediu, puxando-me pelas mãos.

Meu avô levou-me, então, até o seu quarto, retirando uma caixinha preta mais ou menos do tamanho de um livro na gaveta, abrindo-a cuidadosamente e pousando-a sobre minhas mãos. Eram as joias mais bonitas que eu já havia visto.

_ Caramba vô...São lindas!
_ Eram da sua mãe. Eu guardei para dar a você quando você já tivesse idade o suficiente para usá-las. Finalmente chegou a hora. - ele sorriu. - O vestido ficará mais bonito ainda quando você acrescentá-las.
_ Mas vô, eram da minha mãe. Eu não posso usá-las assim, para algo tão bobinho.
_ Sua mãe ficaria orgulhosa de ver a moça que você se tornou. E sei que ela seria a primeira a querer te dar essas joias para que você usasse em seu primeiro baile. Aceite, querida.
_ Obrigada. - eu sorri, tocando com cuidado o conteúdo da caixa. Ele me ajudou a colocar o colar, e os brincos e pulseiras coloquei por conta própria. Realmente era o toque final, como ele mesmo dissera. Tudo estava perfeito.
_ A campainha está tocando, Jenni. Você quer que eu atenda? - gritou Grace do lado de fora do quarto.
_ Pode deixar. Devem ser Rachel e Leah.

Rachel estava parada em frente à porta da casa, encostada em sua soleira e Leah estava encostada na porta aberta do carro com uma expressão apressada. Elas estavam tão bonitas. Leah usava um vestido tomara que caia vermelho e brilhoso colado ao corpo e havia feito cachos por todo o cabelo, além da maquiagem tão brilhante quanto o vestido. Mas ficava bem nela. Rachel usava um longo e romântico vestido rosa com alças finas, uma maquiagem clara e havia prendido o seu cabelo em uma trança diferente.Ela parecia tão nervosa e sem jeito quanto eu.

_ Oi. - Rachel sorriu - Vocês estão prontas?
_ É. Vamos logo que eu não quero me atrasar. - disse Leah que, impaciente, checava o relógio a cada segundo.
_ Acho que a Grace está quase terminando. Só falta... - eu comecei dizendo,quando fui interrompida por ela.
_Eu já estou pronta também. - ela disse enquanto descia as escadas. Ela usava um vestido azul extremamente sexy, com com as costas abertas e justo, de forma que destacava as muitas curvas que, aos seus quinze anos, já despertava a atenção de homens muitos mais velhos que a gente e olhares de inveja de muitas meninas. Ela parecia muito mais adulta que qualquer uma de nós e, era inegável, estava muito bonita.
_ E então? Vamos ficar todas paradas aqui mesmo? - provocou Leah.
_ Tá Leah. Que droga. Já estamos indo. - gritou Rachel.