Mais que a Minha Própria Vida escrita por Melissa J


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Queridos leitores, nesse feriado tive um tempo extra e resolvi acessar o Nyah, que estava um pouquinho abandonado, e fiquei super feliz quando vi que novas pessoas haviam favoritaram e estavam acompanhando. Quero agradecer de coração aos leitores: Anne Mayle, Gabriela Cavalcante, Karine Torres, Luiza T, Beatriz Aurich, Clara Emanuelle, Lily Kawanne, Juliet Johnson e The Lost Girl por se interessarem pela história e, dessa forma, me apoiarem e me impulsionarem a escrever sempre.



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As últimas semanas de férias passaram rápido e o fato de eu estar namorando Eric fazia com que eu me distraísse um pouco. Ele fazia questão de que ficássemos juntos todo o tempo e conquistou meu avô já na primeira conversa. Além disso, eu estava no segundo ano e sabia que teria de pegar muitas atividades estracurriculares para ser aceita na universidade de Liverpool ao fim do último ano. Eram as condições perfeitas de distração para que aquele tempo passasse rápido. Quando eu me mudasse para Liverpool eu me renovaria, como se minha antiga vida pudesse ser apagada e, eu, reinventada. Talvez eu conseguisse voltar a ser quem eu era antes. Recuperar a frieza, saber me manter longe daquilo que poderia me machucar. O amor faz com que você se sinta fraco e eu estava cansada demais de me sentir daquela forma.

O segundo e terceiro ano eram no andar de cima. Para as garotas da minha sala estar com todos aqueles garotos mais velhos era o cúmulo do prazer. Eu tinha outros conceitos sobre isso. Eles ainda eram os mesmos meninos sem graça, brincalhões e imaturos de sempre. Eu odiava o jeito como eles andavam e o jeito descontraído como falavam. Mas esse mesmo jeito levava as outras garotas a querer despi-los em pensamento. Eu nem cogitava pensar no assunto.

_Jenni! Ai, parece que tem anos que não nos falamos! Como eu senti sua falta... - gritou uma voz do outro lado do corredor. Aquela voz alta e macia que fazia com que eu me sentisse razoavelmente mais alegre. Era Grace.
_Eu nunca imaginei que sentiria falta de você me acordando sábado de madrugada e me deixando com vergonha com os seus gritos no meio do colégio...Mas até disso eu senti falta. - eu ri - Acho que eu amo você mais do que eu imaginava.
_Nunca vi você tão carinhosa - ela brincou. - Aconteceu algo nessas férias que eu deveria saber?
_Ah, aconteceram um monte de coisas. Mas não tem nada a ver. Depois que a Rachel começou a namorar e a Leah a sair com umas meninas que não conheço acabei por ficar com muitas saudades de quando éramos nós três.
_Pára tudo! A Rachel tá namorando? Como assim? Com o Brandon? A Leah tá saindo com outras garotas? Quando ÉRAMOS nós quatro? Mas nós SOMOS nós quatro.
_É. Eu acho que sim. Ah, você sabe que eu a Leah nunca tivemos muita compatibilidade uma com a outra, né? É só ficarmos sozinhas que acabamos brigando. Ainda mais sem a Rachel por perto. Mas relaxa, não é nada sério. Agora tudo vai voltar ao normal...Eu acho.
_Como a Rachel conseguiu começar a namorar com o Brandon? - ela disse, fazendo-me rir ao lembrar o quão isso era impossível. - Que foi? Por que tá rindo?
_ Nós temos muito, muito mesmo o que conversar.

Eu não contei a ela a verdade sobre o Brandon. Ainda que ela fosse minha melhor amiga era um segredo dele, e eu sabia que não era algo que ela conseguiria guardar, afinal todas as garotas daquele colégio eram loucas por ele desde o ensino fundamental. E Brandon era tão bom comigo que eu não achei justo fazê-lo. Mas eu contei sobre o novo namorado de Rachel, fazendo-a sorrir de orelha a orelha, contei das minhas saídas nas férias, das aulas de teatro que eu continuara a frequentar, e deixei por último o fato de que eu estava namorando com Eric, que, afinal, ela nem conhecia.
_Mas quem é esse? E o Connor?
_Ah, Grace! Eu disse que não era mais pra você tocar no nome dele. - soou uma tímida voz por detrás de mim. Era Rachel, que trazia Leah consigo.
_Por que não é mais pra tocar no nome dele? Você já contou pra ela? - perguntei rispidamente por ela ter dado uma ordem que deveria vir de mim, só de mim.
_Ela não quis contar. Ela só me ligou ontem e disse que é pra eu fingir que ele não existe. Mas você me conhece, Jenni. Ele existe e eu não sou hipócrita. Quero saber o que aconteceu.
_Depois. - eu disse em voz baixa, torcendo silenciosamente para que ela percebesse o quão mau aquilo me deixava e mudasse de assunto. Como se eu não a conhecesse.
_Depois nada. O que eu perdi, hein? Agora vocês escondem tudo de mim.
_Bem, eu e Leah vamos pra sala. Eu sei que você está chateada comigo por que eu não te liguei para falar sobre o Connor, Jenni. Eu sinto muito, eu sinto muito mesmo. Mas é que eu odeio ver você assim e eu fico sem saber como agir para alegrar você. Você é intensa demais. Então, quando você fica triste, isso me deixa arrasada.
_Está tudo bem. Eu até prefiro que você não fale. - eu disse. - Eu jamais ficaria brava com você. Mas eu senti falta do apoio das minhas amigas. Eu me sinto muito sozinha.
_Desculpa. - ela baixou a cabeça.
_Tudo bem, Rachel. Pode ir pra sala.
_Tá. Vamos Leah. - ela disse com uma voz triste. A verdade era que eu não queria magoá-la. mas eu ficara feliz por ela não ter ido me consolar assim que soube do que me acontecera no aeroporto. Sim, eu ficara feliz. Ela estava tão alegre com o namoro, carregava uma enegia tão boa consigo, que eu não queria estragar tudo. Como ela mesma dissera, eu era muito intensa. Eu não queria levar as pessoas pro mesmo buraco onde eu estava entrando.

_Poxa, eu realmente sinto muito. Eu não imaginava que fosse algo assim que estivesse acontecendo. Na verdade eu não fazia ideia de que você se sentia dessa forma. Isso torna as coisas bem piores do que realmente são. - sussurrou Grace em meu ouvido, enquanto me protegia em seus braços. Eu havia contado tudo, desabafado tudo o que me mantinha em silêncio sobre a forma como em me sentia e sobre tudo o que acontecia. Isso tirava um enorme peso de minhas costas. Ela acariciava levemente os meus cabelos, fazendo com que o coque frouxo se desfizesse. Aquilo me acalmava. Eu limpei as lágrimas com o dorso das mãos antes de olhar novamente para ela.

_ Eu sei que as faz piores do que são. E eu realmente me sinto uma idiota por me sentir assim. Eu sei que é tolo, e sei que não faz sentido. Mas não é algo que eu possa controlar. Eu já não podia controlar desde a primeira vez que o vi.
_ Mas você tem de esquecer, tem de seguir em frente. Você não pode ficar assim pra sempre, Jenni. Até a Rachel conseguiu seguir em frente. Eu acho que você deveria continuar com o Eric. Quem sabe ele até te faça mais bem do que você imagina.
_ Ele me faz lembrar a imagem do Connor a cada segundo. Mas é bom ser amiga dele.
_Uma hora você vai começar a se esquecer de como ele é. Até que não sobre mais nada.
_Eu não vejo a hora disso acontecer.

Primeiros dias de aula são sempre primeiros dias de aula. Nada muda. A mesma monotonia de sempre. Os professores se apresentando, colegas de anos se reencontrando, os novatos sempre loucos para conhecer gente nova. E pensar que há não muito tempo atrás, eu era a novata. E não fazia ideia do quanto essa mudança de colégio afetaria a minha vida no futuro.

_ Prazer em conhecê-los, crianças. Até amanhã, e lembrem-se de fazer os exercícios das páginas 6 e 7 do capítulo 1. - disse o professor assim que ouviu o sinal anunciando o fim da aula. Como se algum aluno realmente tivesse ouvido. Em menos de dez segundos toda aquela sala estava vazia como se aquele sinal fosse a sirene de incêndio ou algo assim. Eu guardava meus materiais calmamente quando vi uma sombra ao chão. Era a Rachel.
_ Que aula chata, né? Eu estava esperando você. Vamos? - ela sorriu.
_ Tá bom.
_ O seu avô vem buscar você hoje?
_ Não. Eu vou a pé.
_ Então vou pedir pra minha mãe deixar você em casa. Tudo bem?
_ O Ethan não vem te buscar hoje?
_ Bem, ele não disse nada sobre isso. Mas, se ele vier, ainda assim nós te daremos carona.
_Tá bom. - eu sorri.
_Desculpa ter sumido no final das férias. Eu estava com saudades. - ela disse, com uma expressão receosa.
_Tudo bem. Eu também senti sua falta. - eu sorri, abraçando-a.

Nós caminhamos até o estacionamento e, exatamente como eu imaginava, o Renault azul escuro de Ethan estava parado perto da porta de onde ele sabia que nós sairíamos. Brandon estava com ele, o que fez com que Grace abrisse um indiscreto e enorme sorriso. Eu me senti melhor ainda por não ter contado o seu segredo. Eu sabia que ela não conseguiria disfarçar. Grace sorriu,correndo em direção a Ethan, e beijando-lhe docemente. Brandon estava no banco de passageiro com o celular na mão e fez um sinal com o dedo, chamando-me. Grace seguiu-me até ele.
_Oi. - eu sorri, abraçando-o.
_Tudo bem? Você sumiu, menina. Eu senti falta de sair com você e com os garotos.
_Desculpa. Eu andei meio ocupada com isso de volta ás aulas e tal.
_Ah...Tntão...Tem alguém que quer falar com você.
_Como assim? Quem? O Ethan?
_Não...outra pessoa. - ele disse, entregando-me o celular. Mas eu tive medo de quem seria. Eu não quis me arriscar e ter de descobrir ouvindo sua voz. Eu sabia que, se fosse Connor, ouvir sua voz acabaria comigo.
_Quem é? - eu perguntei, olhando-o com uma expressão séria.
_ É o Connor. Ele quer conversar com você.
_ O Co...eu... - eu gaguejei, tendo de respirar fundo para terminar a frase - Mas eu não quero conversar com ele.
_ Como não?
_ Eu já disse. Acabou. Eu não tenho mais nada a ver com isso.
_ Jenni, ele só quer pedir desculpas. Eu contei a ele que você o esperou todo aquele tempo no aeroporto. Ele não sabia. Ele se sentiu muito mal por isso. Fala com ele.
_ Eu não quero. Pode dizer que eu já desculpei. Eu não tenho mais nenhuma mágoa dele. Diga que ele pode aproveitar a viagem sem nenhum remorso.
_ Não seja teimosa! O que é que custa? Apenas ouça o que ele tem a dizer.
_ O que quem tem a dizer? - perguntou uma voz atrás de mim. Logo eu senti braços envolverem a minha cintura, puxando-me para perto. Quando eu senti o beijo que ele me deu no rosto, seguindo por toda a minha face até a minha boca, eu senti pela primeira vez uma sensação de alívio. Salva pelo gongo...digo...pelo beijo.
_ Oi Eric. - eu sorri.
_ Oi. Do que vocês estão falando?
_ Nada não. Coisa a toa. - eu disse, olhando sério para o Brandon como um aviso de que ele deveria parar de insistir e desligar logo o celular. - O que você está fazendo aqui?
_ Eu vim ver você. E te levar pra casa. Talvez a gente passe pra almoçar em algum lugar se você quiser.
_ Tá.
_Quem é ele? Nem apresenta. - disse Brandon de uma forma irônica colocando-se ao meu lado.
_Brandon, esse é meu namorado, Eric. Eric, esse é meu amigo, Brandon.
_Oi. - Eric sorriu simpático.
_ A Jenni não contou que estava namorando. - ele disse, de uma forma ainda mais irônica.
_ Brandon! - repreendi.
_ Que é?
_ Posso falar com você um segundo?
_Tá. - ele disse, andando alguns metros pra frente e esperando-me encostado no carro.
_ Tudo bem se eu falar com ele rapidinho? Você espera? - eu perguntei para Eric.
_ Tudo bem. Espero. - ele disse, tentado ser simpático, mas com uma cara de quem não estava gostando nada daquilo. Então eu andei até Brandon e tanto Eric quanto Rachel não tiraram os olhos de mim. Ele, enciumado, ela, com uma inveja sem fim. Ah, se ela soubesse.
_Qual é o seu problema, hein?
_ O que eu fiz?
_ Trate bem ao Eric. Ele é meu namorado agora e você tem que respeitar. Ele me faz bem, ao contrário do seu amigo.
_ Mas Jenni! O Connor se importa com você. Eu não entendo por que você está com outra pessoa se é dele que você gosta.
_ Ele se importa tanto que ele está do outro lado do mundo agora por livre e espontânea vontade. Eu não quero mais saber dele. Ele me machuca. Por favor, respeite isso.
_ Você tem certeza disso?
_ Eu tenho. - eu disse, afastando-me dele e indo em direção a Eric antes que ele tentasse mais alguns argumentos para fazer-me mudar de ideia. - Vamos?
_ Vamos. - disse Eric, puxando-me pelas mãos e me levando para longe,

Nós caminhamos um pouco pela rua até que ele parou ao lado de um carro vermelho, acariciando-o com um brilho nos olhos. Eu, sem entender por que ele estava fazendo aquilo continuei andando, mas voltei ao ver que ele ainda estava parado lá.
_ Eric. - eu chamei, com voz de desânimo.
_ Sim? - ele sorriu.
_ O que é que você está fazendo aí? Vamos! Vai que o dono chega. Ele não vai gostar nem um pouco de ver alguém assim com as mãos no carro dele.
_ Acho que ela não vai se importar. - ele riu.
_ Como você sabe que é ELA?
_ Por que a dona é minha mãe. Eu peguei emprestado o carro.
_ Tá...E desde quando você dirige?
_ Bem, eu estou tendo aulas em uma auto-escola. Não foram muitas, mas meu pai me ensinou a dirigir quando eu era mais novo. Então eu sei me virar.
_ Se virar? Você quer matar a gente é?
_ Jenni, se eu não soubesse dirigir razoavelmente bem, você acha que minha mão emprestaria o carro?
_ E ela sempre empresta o carro?
_ Ah, sempre não. Mas eu disse que era uma ocasião especial. - ele sorriu - E então ela deixou.
_ E qual é a ocasião especial? - perguntei incrédula.
_ Buscar você do colégio. - ele respondeu, me olhando com aqueles olhos grandes e curiosos. E depois ele sorriu de novo. - Não vai entrar?
_ Claro. - eu disse, sem graça. Ele abriu a porta para mim e espero até que eu entrasse. Por que é que ele tinha de ser tão gentil? Era para que eu me sentisse pior ainda?
_ Onde nós vamos? - perguntei,após olhar pela janela e perceber que ele tomara um caminho diferente de minha casa.
_ Almoçar, ué.
_ Onde?
_ Você verá. - ele respondeu, rindo-se da minha curiosidade.

Eric carregava uma mistura de mistério e excitação no rosto enquanto dirigia. Lembrava muito a expressão de Grace quando tinha alguma plano 'maligno' em mente, ou mesmo a de Rachel quando esbarrava com Brandon nos corredores do colégio (ainda que o esbarrar fosse tão sutil que somente ela percebesse), quando ele ainda estudava por lá e antes, é claro, de conhecer ao Ethan. Ele parou em uma esquina que eu conhecia, mas em frente a um aglomerado de sobrados que não sugeriam restaurante algum.
_ Vamos andar um pouco. - ele disse descendo do carro.
_ Pra quê tanto mistério?
_ Você não gosta de surpresas?
_ Não. Eu odeio surpresas. Eu queria poder ter uma vida exageradamente previsível.
_ Acredite. Você não iria querer isso. - ele disse, passando os braços pela minha cintura e puxando o meu corpo para perto do dele - Não se preocupe. Já estamos chegando.
_ Tá. - eu disse, tentando disfarçar a cara amarrada. Eu não estava brava com ele. Eu estava brava com Connor. Por que ele tinha de me ligar? Era tão difícil me deixar em paz? Quem ele achava que era?
_ E, de qualquer forma, - ele continuou - Eu gosto de andar assim com você. Perto. Abraçado. Você é tão misteriosa que é como se eu nunca a tivesse de verdade. Ao menos quando estamos assim, em contato, eu posso te sentir mais perto. Ao menos eu posso fingir que você está perto.
_ Mas eu estou perto. Eu estou aqui.
_ Ahã. - ele respondeu, com certa ironia, o que não era normal no caso do garoto doce e inocente que ele era.
_ E então? Vamos? - eu tentei, cortando intencionalmente o assunto.

Não tivemos que andar muito até que ele desacelerasse o passo ao passar na frente do 'Les meilleurs',um restaurante do qual eu gostava bastante. Era o meu favorito na verdade. Mas não tinha como ele saber...tinha? Bem, ao menos ele tinha um ótimo gosto para restaurantes.
_ É aqui. - ele disse.
_ Tá. Vamos entrar?
_ Espera. Você não percebe algo diferente?
_ Diferente como?
_ Algo que possa fazer com que isso signifique surpresa. Algo tipo...o seu restaurante favorito.
_ É verdade, e isso foi muito legal Eric. - eu sorri
_ Gostou?
_ Mas como você sabia? Andou me seguindo? - eu brinquei. Foi, portanto, particularmente estranho quando ele ficou sério após a brincadeira.
_ Bem...
_ Bem o quê Eric?
_ Eu já te conheço há um pouco mais de tempo que você me conhece. Eu a vi por algumas vezes na praça com a Rachel, as ouvi conversando, portanto sei algumas coisas sobre você. Mas não foi assim que descobri sobre o restaurante. Seu avô me contou. Agora que você perguntou se eu andei te seguindo me senti mal por não contar que eu ouvia suas conversas.
_ Você o quê? Você ouvia minhas conversas? Você praticamente me seguia? Quanto você sabe sobre mim, hein? - perguntei recuando dois passos.
_ Calma. Pouca coisa, eu juro. Eu sei algumas coisas sobre...Sobre o menino lá que você gosta. Mas eu juro que não conto pra ninguém. É que você é...É tão bonita. Eu só quis me aproximar um pouco. Foi a única forma. - ele foi dizendo, receoso. Foi então que eu percebi. Como eu demorei tanto? Era como Connor e eu. O Eric era eu. Ele era apaixonado platonicamente por mim e eu não sabia por quanto tempo. E eu nem queria saber. Era muito para mim. Eu sabia exatamente como ele se sentia. E eu nem gostava dele. Não daquela forma que você tem de gostar para ficar junto. Era apenas um carinho, quase pena. Eu não queria magoá-lo porque eu sabia como ninguém o quanto seria doloroso. Se fosse possível me obrigar a me apaixonar por alguém assim, num passe de mágica, eu queria me apaixonar por ele naquele exato momento. Eu queria acariciar o seu rosto, beijar a sua boca e dizer que eu sentia exatamente o mesmo. Mas eu continuei parada, sem dizer uma única palavra. E ele ali me olhando, um pouco assustado, um pouco receoso. Foi então que eu percebi que tinha de dizer alguma coisa. Eu diria a primeira frase que viesse à minha cabeça.

_ Vamos entrar Eric?
_Claro, claro. - ele respondeu rapidamente puxando-me para dentro do restaurante.

Já fazia um tempo que eu não aparecia por lá. Quando eu era criança eu ia sempre com os meus pais, mas desde que os perdi eu passei a ir apenas em ocasiões especiais. Como se fosse o meu lugar especial. Como se o fato de eu estar lá fizesse parecer que nada ruim houvesse acontecido. Como se a qualquer momento os meus pais fossem entrar por aquela porta, beijar-me na face e desculpar-se pela demora.

_ Você sabe como a sua mãe se demora para arrumar. - meu pai diria, zombateiro. Ela lhe beliscaria o braço com uma delicadeza impossível e sentaria ao meu lado, pegando o cardápio. - O de sempre, filha? - ela perguntaria.
_ O de sempre.
_ O quê? - perguntou Eric, olhando para mim preocupado.
_ Que foi?
_ Você tá falando sozinha.
_ Tô?
_ Tá.
_ Não é nada. Esquece.

Apesar do tempo que se passara, o lugar continuava o mesmo, exatamente igual eu me lembrava. O mesmo lustre, o mesmo posicionamento das mesas, o mesmo tapete vermelho com uma pequena mancha eu sua parte próxima á janela, o mesmo enfeito florido na mesa. As pessoas diziam que o dono era tão pão-duro que jamais comprava coisas novas para o estabelecimento. Eu não via assim. Talvez ele não quisesse acabar com o encanto que despertava todo o tempo através de cada um daqueles móveis velhos, moveis estes que já presenciaram pedidos de casamento, jantares em família, inícios de namoro, sorrisos, momentos especiais que nunca seriam apagados, nunca seriam esquecidos. O fato de estar sempre tudo igual era pra mim como uma lembrança, uma lembrança alegre.

_ Jennifer? É você mesmo?
_ Oi Walter. - eu sorri para o aquela gentil senhor, que se vestia sofisticadamente com aquele terno xadrez. Walter era o dono do lugar, e me conhecia desde os meus cinco anos de idade.
_ Como você está grande. E está linda. James olha isso aqui. - ele chamou um dos seus garçons com quem trabalhava há muito, muito tempo.
_ É a Jennifer? Como cresceu! Quem é esse com ela?
_Ah! Esse é o...é o...
_Prazer. Eu sou o namorado dela. - disse Eric levantando-se. Como é que eu não conseguia nem dizer a palavra? Inacreditável.
_Prazer em conhecê-lo. Cuide bem dela, viu? Você tem uma menina muito especial nas mãos.
_ Eu sei disso. - ele sorriu, enquanto o meu rosto corava de uma forma que me fazia querer enfiar-me embaixo da mesa.
_ O que vocês vão querer? - perguntou James retirando uma caneta preta do bolso.
_ O que sugere?
_ O especial do chefe. - ele sorriu, dando uma piscadinha para mim.
_ Tudo bem. Vou querer isso.
_ E você, Jenni? O de sempre?
_ Não...Vou querer o mesmo que o Eric hoje. É bom variar as vezes.
_ É. É bom variar. - ele sorriu olhando para o Eric e, em seguida, retirou-se.
_ Você é bem conhecida aqui, hein? - ele disse enquanto acariciava as minhas mãos.
_ É. Eles me conhecem desde criança. Como você sabe, meu restaurante favorito.
_ Mas por que tem tanto tempo assim que você não vem? Eles falam como se não a visse há anos.
_ É que aconteceram...coisas.
_ Você quer falar sobre isso, ou...
_Não.
_ Certo. - ele disse, mudando logo em seguida para assuntos mais alegres. Era algo que eu gostava nele. Um ponto, um dos vários pontos nos quais ele era melhor que Connor: ele não me obrigava a falar sobre coisas que me deixavam entristecida ou envergonhada. Ele me ouvia, mas sabia como agir se eu simplesmente não quisesse falar. Isso dava um ar de cumplicidade, um ar de confiança que me transmitia calma. Eu sabia que, se um dia fôssemos amigos, poderíamos nos gostar muito nesse quesito. Mas eu sabia que se não fosse da forma como ele quisesse, as coisas jamais dariam certo entre a gente. Porque ele estava apaixonado por mim, ele não gostava de mim só como amiga. Ele estava apaixonado desde a primeira vez que conversamos. E eu temia que qualquer erro, qualquer deslize pudesse quebrar o seu coração.

O nossa pedido chegou juntamente com duas coca-colas geladas. Ele agradeceu com um sorriso, e depois ficou um pouco pensativo. Nós apenas comíamos em silêncio, mas eu percebia que por muitas vezes ele havia aberto a boca para falar, mas mudado de ideia logo depois.
_ E então? - eu tentei. Talvez se eu quebrasse o gelo ele pudesse sentir-se encorajado.
_ Jenni...eu queria falar uma coisa com você.
_ Que coisa?
_ Não é bem uma coisa. É uma proposta.
_ Proposta? - eu perguntei, sentindo todos os meus músculos da minha face congelarem.
_ É que assim...O que você pretende fazer nesse feriado?
_ Não tenho nada em mente ainda.
_ Mas você vai viajar?
_Viajar não. Por quê?
_É que toda vez que tem um feriado grande como este, minha família quase toda viaja para a fazenda dos meus avós. Lá é muito grande, e costuma ser muito legal encontrar todo mundo e tal. É meio que uma tradição, não tem como não ir. Então...
_ Você está se sentindo mal por me deixar aqui sozinha no feriado? Ah, Eric. Não se preocupe. Eu não ficarei sozinha. Tenho as minhas amigas, tenho ao Brandon, e...
_Não, não é isso. Eu quero que você vá comigo.
_Quer?
_É. Isso mesmo, você vai adorar. Costuma ser muito divertido. E você poderá conhecer minha, mãe, meu pai, meus avós, meus tios, meus primos, meus irmãos, meu... - ele começou dizendo com uma empolgação encantadora. Eu toquei de leve os seu lábios, com a ponta do dedo, torcendo para que ele me deixasse falar. - Que foi?
_ Eric, eu não acho que eu deva ir. É um evento de família e tal. Não é o meu lugar.
_ Mas você é a minha namorada. É como se você fosse...da família. - ele disse, pronunciando tão baixo quanto um sussurro ás duas últimas palavras.
_Hmmm...não sei não. Eu me sinto mal por deixar meu avô sozinho o feriado todo, sabe? E também tem todos os trabalhos escolares e estudos que preciso adiantar, e... - eu fui dizendo, e então foi sua vez de fazer com que eu me calasse. Ele beijou-me delicadamente, tocando o meu rosto com aquelas mãos macias que só garotos de desesseis anos conseguiam ter, e aquilo fez com que eu parasse.
_ Eu já falei com o seu avô. - ele disse em um sorriso triunfal. - E ele adorou a ideia. Disse, inclusive, que você já adiantou todos os trabalhos escolares e ele prefere que você se divirta no feriado do que ficar trancada em casa sem fazer nada.
_Mas...Mas...O meu avô não sabe de nada. Eu tenho dezenas de trabalhos para fazer. - eu disse, tentando fugir á minha derrota que já estava escrita.
_Eu te conheço Jennifer Summers!
_Ah, Eric. É que não sei se tô pronta para conhecer os seus pais, avós, tios, toda a sua família. Não sei se quero que o namoro se torne tão sério dessa forma. Afinal a gente mal se conhece e eu não quero que um de nós dois saiamos magoados dele. - eu disse, deixando implícito que, a única pessoa que poderia estar incluída no 'sair magoado' era ele e somente ele. Eu já havia sido magoada por outro cara e não havia nada que pudesse piorar. Quanto mais eu desejava pegar leve, mais e mais fundo ele ia em tudo. Não adiantava, porém, que eu deixasse implícito. É claro que não. Era o Eric e ele era inocente demais para entender que eu já era um caso perdido.
_ Por que é que você não se permite ser feliz, hein? Eu posso dar isso pra você. Você sabe que posso. - ele disse, deixando que o seu hálito de morango contaminasse todo o ambiente. Ele falava e agia como se tudo fosse mais fácil do que realmente era. E quando eu estava com ele era como se eu pudesse ter uma pontinha de esperança em relação a isso.
_ Não é isso Eric. Quem disse que eu não sou feliz? Parece até que eu ajo como uma vítima, como uma menininha dramática todo o tempo.Não é verdade.
_ Os seus olhos dizem. - ele respondeu, como se somente a pergunta importasse. E eu não consegui dizer mais nada.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo de hoje. E não hesitem deixar a opinião de vocês através dos comentários. Gostaria muito de saber o que acham. Um beijo!!



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