Clichê escrita por Pandrita


Capítulo 9
0.9 Acontecimentos parte 1


Notas iniciais do capítulo

Estou muito feliz por observar o quanto de fantasminhas que estão acompanhando minha historia. Obrigada de coração! Fora aqueles que já se pronunciaram, claro.
Boa leitura!!



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— Calma, já estamos chegando.

— Calma? Diz isso porque não é o seu nariz que quebraram!

Agatha reclamava e bufava enquanto era levada por Scott. Uma das merendeiras pediu para levá-la a enfermaria e depois para a diretoria. Ele aceitou, mas não sabia que iria ser uma tarefa tão difícil.

— Não parece quebrado, só sangrando muito. - Disse enquanto olhava o ferimento.

— Você é médico por acaso, senhor-sabe-tudo?

— Tsc. Vem logo. – Ele a pegou pelo braço para andarem mais rápido.

Como queria deixá-la ali e voltar a comer... mas sabia que a novata ficaria zanzando como uma barata tonta por um bom tempo até conseguir encontrar a sala.

— Ei, me solta! Não pedi para me levar a lugar algum.

— Olha, quanto mais rápido chegarmos, mais rápido me livro de você e seu nariz é tratado. Bingo, os dois ganham. – Dizia olhando para frente.

Scott não percebeu, mas Agatha o olhava com nojo. Caminharam rápido e em silêncio. Ela tentou se soltar algumas vezes, mas seus esforços foram em vão.

— Toc-Toc. - Disse Scott enquanto colocava a cabeça na sala e soltava Agatha.

A enfermeira levantou o rosto da revista de móveis para ver quem estava na porta. Seus cabelos castanhos estavam amarrados, usava uma franja e alguns fios teimavam em cair no seu rosto. Seus olhos azuis não enxergavam muito bem, por isso sempre usou óculos de grau.

— Scott, quanto tempo. Como passou as férias?

— A mesma chatice de sempre, Maya. Viagens para visitar alguns parentes e coisa do tipo.

— Ao menos viaja. Deveria ficar feliz.

— Ei! Será que alguém se lembra de mim aqui?!

Agatha empurrou Scott. Antes de entrar na sala o olhou dos pés a cabeça de um jeito que ele conhecia bem. Conseguia imaginar o que ela estava pensando. “Criolo”. Bufou e resolveu esperar no corredor, não fazia questão de ficar do lado dela.

— Será que pode cuidar do meu nariz, ou tá difícil?!

— Minha Nossa. – Exclamou Maya levantando.

Enquanto estava indo até Agatha, bateu o pé na mesa, derrubou algumas fichas e quase tropeçou nos seus sapatos. Ela era uma ótima enfermeira, porém muito desastrada e tinha pouca confiança em si mesma. Agatha olhou para ela desconfiada.

— Tem certeza que é enfermeira?

— S-Sou sim. – Gaguejou um pouco e ajeito sua roupa. – Seu nariz ficará novinho em folha.

— Assim espero.

Scott escutava tudo no corredor. “Realmente essa garota existe?”. Revirou os olhos enquanto se escorava na parede. Começou a lembrar do acontecimento na cantina. Ainda não conseguia acreditar que a garota que viu ontem tinha conseguido socar alguém. Quando a viu parecia uma boneca de porcelana, não pela sua aparência, mas pela fragilidade. Até ficou preocupado com a marca roxa na sua mão. “O que será que a azulada fez para irritá-la?”. Scott colocou a mão no pescoço.

Um grito vindo da sala o assustou:

— Eu vou matá-la! – Mais gritos. – Tá doendo muito.

— J-Já a limpeza do ferimento acabará. – Maya falava como uma tentativa em vão de acalma-la.

— Ela vai me pagar!

— Guria escandalosa. – Scott sussurrou.

Estava fechando os olhos, mas uma garota loira com peitos enormes apareceu. Parecia preocupada e atrás de algo.

— Posso ajudá-la? – Perguntou.

— Você por acaso viu... - Outro grito. – Acho que encontrei. – Estava quase entrando na sala mais foi surpreendida por um puxão de Scott.

— Conhece? – Ela assentiu um pouco assustada. – Ótimo, poderia falar para ela onde fica a diretoria? Não estou com ânimo pra isso. – Assentiu novamente.

Scott deu as instruções com detalhes e logo em seguida a soltou.

— Obrigada, me ajudou bastante. – Disse com um sorriso enorme no rosto e seguiu pelo corredor voltando para a cantina.

A loira ficou observando-o ir embora. Sorriu de canto. "Gatinho". Ouviu mais um grito e decidiu entrar logo na enfermaria.

[...]

A cantina estava mais barulhenta que o normal. Todos os alunos comentavam sobre o ocorrido após a saída das meninas. Poucos foram os que as ouviram e menos ainda os que entenderam o motivo do soco. As fofocas e comentários não paravam. David, Chun Fa, Igor e Kenny estavam sentados em uma mesa perto da porta.

— Aquela imagem linda vai ficar na minha memória para sempre. – Disse David enquanto se escorava na cadeira.

— Você acha lindo uma briga de garotas? – Igor perguntou com ironia.

— Qual é. Não acha sexy duas garotas brigando? – Piscou.

Chun Fa jogou papel de balinha no garoto.

— Como consegue deixar tudo vulgar?

— Posso te ensinar um dia desses. – Disse com malícia.

— Vai sonhando. – Ela rebateu com um sorriso irônico. Em seguida perguntou. – Alguém sabe quem eram as meninas?

— Conheci uma delas ontem. – Disse Ashiley entrando no assunto enquanto chegava da lojinha. Sentou na cadeira vaga ao lado de Chun Fa e colocou as besteiras que comprou em cima da mesa. – A de cabelos cacheados. – Continuou. - Mas sobre a briga, só a vi sendo levada e a de cabelos azuis indo para enfermaria com Scott. Alguém sabe o que ouve?

— Como a conheceu? - Kenny perguntou interessado quando ela parou de falar.

— Ela foi minha primeira cliente. - Disse com os olhos brilhando. - Locou um filme na locadora do meu avô. Por quê? - Perguntou enquanto colocava o pão de queijo na boca.

— Nada não. - Respondeu

— Conheço a de cabelos cacheados também. Estava conversando com Kenny junto com outra gatinha e resolvi me apresentar.

— Não perde uma, hein, David? – Comentou Chun Fa.

— Claro. Por quê? Está com ciúmes? - Ela bufou e não se deu ao trabalho de responder. - Estava de olho na outra. Mas nunca imaginei que aquela baixinha conseguiria dar um soco tão sexy. – Kenny chutou a canela de David. – Ai!

— Desculpe. – Disse com um sorriso assustador.

— N-Não tem problema. – Respondeu engolindo em seco e alisando o local atingido. "O que deu nele?".

A única que sabia sobre os sentimentos de Kenny era Melissa.

A cada minuto sem notícias, ficava mais preocupado. Já estava se repreendendo por não ter ido atrás dela. Mas o que poderia fazer?

Enquanto agitava seus pés sem que ninguém notasse, ficou se perguntando o que Agatha teria feito para ter deixado Sofí naquele estado. Provavelmente algo muito ruim, o que o deixava mais furioso e David não estava ajudando com seus comentários.

— Consegui ouvir o que elas falavam. – Disse Igor de repente prendendo a atenção de todos. – Eu estava perto da rodinha. Perguntaram para a de cabelos azuis sobre a de cabelos cacheados.

— Sófia. – Corrigiu Ashley.

— Ok. Perguntaram sobre Sófia para a de cabelos azuis e ela respondeu. Disse que não a interessava e que tinha agonia de gente que se faz de inocente.

— Ei! Sófia não é fingida. – Ashley quase gritou de raiva deixando um bolinho cair.

Lembrava-se dela muito bem. Tinha olhar inocente, mas nada forçado. Com toda certeza podia dizer que era natural, que realmente a garota ainda tinha muito a aprender. Sorriu ao lembrar como tinha ficado quando escutou a palavra "sexo".

— Não fui eu quem disse. – Igor levantou os braços como um gesto de “eu me rendo”.

— Continua! – Ela mandou.

— Bem. – Continuou um pouco assustado. - Sófia apareceu na hora e pela expressão dela, tinha escutado tudo.

— Tá explicado porque a guria levou o soco. – Comentou Chun Fa.

Igor negou com a cabeça antes de continuar:

— Foi estranho, ela não reagiu. Pelo contrario, parecia triste e ainda queria conversar. Mas a guria começou a zombar de... – Ele olhou meio sem jeito para Ashley. – Hm... De você, Ash.

— Como assim? – Perguntou séria.

— Fez comentários sobre sua aparência e quando Sófia percebeu, não pensou duas vezes e a socou. Foi tão rápido que todos ficaram boquiabertos, foram poucos que entenderam o motivo do soco.

A mesa ficou em silêncio. Kenny escutou tudo sem pronunciar uma única palavra. Como ele sempre foi assim, ninguém se importou.

No começo, quando escutava sobre os comentários tanto de Sofí quanto de Ashley, ficou furioso. Mas no fim estava orgulhoso da pequena. Sorriu de canto. “Ensinei ela a se defender e ela usa para defender os outros... garota boba.”

— Virei fã dela, sério! – Disse David todo empolgado quebrando o silêncio.

Ashley ficou impressionada com a atitude da garota. Precisava agradecê-la de alguma forma.

Igor estava pegando o refrigerante em cima da mesa para molhar a garganta, mas acabou derramando quando ouviu a voz dela.

—Espero que Sófia fique bem. – Disse Julia.

— Disseram que ela fez a guria desmaiar. - Comentou Naara.

— Não confio muito nessa parte.

As duas estavam passando perto da mesa e se dirigindo para o fundo da sala. Ambas estavam preocupadas de mais com Sófia para reparar em volta.

— Meus salgados. – Choramingou Ashley enquanto tentava salvar alguns.

— Desde quando você é desastrado, Sr. Cavalcante? – Chun Fa perguntou desconfiada. - As férias não te fizeram bem.

— D-Desculpe. – Pediu enquanto tentava ajudar Ashley.

Nenhum dos seus amigos, além de Kenny, sabia sobre seus sentimentos por Julia, sua colega de teatro.

Quando a viu ensaiando pela primeira vez ano passado, se apaixonou na mesma hora. Já a achava linda, mas só a notou realmente quando a viu no ensaio. A atuação para ela parecia tão fácil quanto respirar e Igor apreciava isso.

Sempre quis conversar com ela, mas nunca conseguiu. Agia meio atrapalhado e sem jeito quando estavam juntos, o que dificultou as coisas. Contou ao amigo, pois Kenny sabia guardar segredo e já havia notado há tempos, muito antes dos outros, que Igor andava estranho.

— Droga, minha blusa. - reclamou Ashley. Sua blusa estava um pouco suja devido o ocorrido.

— Vem, vamos ao banheiro dar um jeito. Não sujou muito. - Sugeriu Chun Fa, já se levantando.

Ashley assentiu e as duas saíram da cantina.

Não demorou muito e Scott apareceu em seguida.

— Nossa, que fome! - exclamou pegando o saco de batata frita lacrado que ficou em cima da mesa. - Eita, quem derramou refrigerante? - Perguntou balançando o saquinho para tirar o molhado.

— O nosso desastrado aqui. - Disse David balançando o ombro de Igor.

— Desde quando você é desastrado? - Questionou Scott.

— Tsc, sei não. – Respondeu rude sem querer.

— Acordou de TPM foi? – Brincou Scott.

— Ah, já ia esquecendo. Vamos ao parque de diversões esse fim de semana? Tem promoção pra estudante. Devíamos aproveitar. - Falou David todo animado.

— Eu topo. - Concordou Igor.

— Eu também. - Confirmou Scott com a boca cheia.

— E você, Kenny?

— Deixa pra próxima, David.

— Cara, você nunca sai com a gente. – Reclamou.

— Saio às terças.

— Você entendeu. - Igor falou sem ânimo

O primeiro sinal tocou salvando-o. Sempre foi caseiro e preferiria se encontrar as escondida com Sófia para ficarem horas conversando. Infelizmente Elisa nunca deixou os dois saírem juntos. Por culpa de Kenny.

Há quase quatro anos atrás Sófia adoeceu. Estava com fortes dores de cabeça e febre alta, ele nunca a havia visto daquele jeito. O garoto ficou tão preocupado que esperou todas as luzes da casa se apagarem e tentou invadir o quarto através da janela pela primeira vez, e conseguiu. Escolhia um canto do quarto, afastado da cama para ficar observando-a dormir durante horas. Temia que o pior acontecesse. No terceiro dia ela já estava melhor, porém teve uma piora repentina na madruga. A febre ficou tão forte que começou a ter alucinações e chamava por Kenny várias e várias vezes.

Ele ficou perdido, a voz dela era tão fraca que parecia mais um sussurro. Sem perceber o que fazia, Kenny se aproximou da cama e segurou sua mão. “Eu estou aqui” ficava repetindo para a pequena. Suas palavras eram como cura para Sófia. Demorou, mas aos poucos a febre abaixou e a garota voltou a ter um sonho calmo e tranquilo. Mas Kenny continuou segurando a sua mão e a olhando de perto. Sentiu um forte desejo de beijá-la e tela em seus braços.

Fazia algumas semanas que vinha sentindo algo estranho por Sófia, mas agora tão perto dela e o medo que sentiu o fez perceber o que realmente sentia. Acariciou o rosto da pequena e sussurrou: “Eu te amo”. Elisa apareceu na porta e se deparou com a cena. Não fez escândalo para não acordar a filha, mas com muita raiva fez sinal para que Kenny saísse da casa.

Elisa nunca tocou naquele assunto com Kenny e muito menos ele. Por respeito aos seus amigos e por ser o único amigo de Sófia. Ela deixou passar. Porém, sua atenção triplicou e por isso inventou várias regras e pediu para a vizinha avisá-la se o garoto aparecesse na casa enquanto Sófia estivesse sozinha.

Todos se levantaram e estavam voltando para as salas, exceto ele:

— Não vai pra aula não? – Scott perguntou.

— Tenho que fazer uma coisa antes. – Disse enquanto olhava a mesa onde estava a mochila de Sófia.

[...]

— Então, qual o motivo da sua vinda?

O diretor sentou em cima da mesa enquanto esperava Sófia falar. Ela ficou confusa com a pergunta. “O Sr. Rufous não contou?”, pensou.

O primeiro sinal indicando o fim do intervalo tocou. Respirou fundo e começou a falar:

— Bati... Em uma aluna agora pouco. – Disse enquanto brincava com a jaqueta de Kenny.

— Hm... Sabe o que isso significa, certo?

Mordeu os lábios enquanto olhava para baixo.

— Não, senhor...

— Terei que chamar seus pais. - Sófia estremeceu. Sentiu um frio ruim na barriga, sua mãe iria realmente matá-la. – Mas antes, posso saber o que te levou a ter essa atitude?

— Bem... A aluna estava criticando uma amiga minha e acabei sendo impulsiva.

– Não pensou nas consequências do seu ato? O que iria ocorrer depois? - Falou com um tom de voz assustador.

— N-Não, senhor... - Disse com a voz fraca e trêmula.

Ele saiu de cima da mesa e se aproximou:

— Olhe para mim, menina. - Ela levantou o rosto para olhá-lo. - Você fez bem. - Ele sorriu. O que a fez relaxar. – Protegeu sua amiga. Mas, infelizmente tenho que chamar sua mãe. - Voltou a ficar preocupada. - Gostei do motivo, porém não é certo o que fez mocinha. Entende?

— Entendo sim, senhor.

O telefone tocou. Ele fez o gesto de "um minuto" com o dedo, voltou à mesa e atendeu ao telefonema.

— Spark falando. - Franziu a testa. - Não. - Silêncio. - Certo... Tem certeza? - Suspirou enquanto ouvia. - Saiba que não irei desistir! Ele pode tentar o quanto for. Vou desligar agora.

Não esperou resposta, simplesmente colocou o telefone no gancho encerrando a ligação. Deu um sorriso forçado para Sófia que estava bem atenta observando-o.

— Quatro meses é pouco tempo não acha?

— Depende, senhor.

— Para conseguir dinheiro é sim... - Sussurrou, mas Sófia conseguiu escutar. -Gostaria de ligar para sua mãe agora? Acho bom ela vir te buscar.

O segundo sinal tocou.

Confirmou sem ânimo e se dirigiu para o telefone. Olhou o relógio na parede, 09h58min. Por sorte ou azar, sabia que sua mãe ainda estava em casa. Respirou fundo e discou o número. O telefone chamou uma, - o coração da menina disparava – duas, - “Não atende, por favor,” – três.

— Alô?

— M-Mãe?

— Filha?! O que aconteceu? Está tudo bem?

— Está sim, mas... será que a senhora poderia vir aqui?

— Como está tudo bem se tenho que ir aí? – Seu tom mostrava irritação.

— B-Bem... É que eu...

— Você o que? – Sua voz era séria e fria.

— Eu bati em uma aluna hoje e a senhora tem que vir aqui. – Disse o mais rápido que conseguiu.

— Eu não estou acreditando. Filha, como pode fazer uma coisa dessas?! - Sua voz era alta e severa. - Nunca fez nada do tipo e agora com quase dezesseis anos na testa resolve fazer? - Sófia afastou o telefone da orelha por causa da gritaria. - Sabia que estudar na mesma escola que ele não era uma boa ideia. Eu sabia...

O diretor fez um gesto para finalizar a ligação, mesmo distante conseguia escutar a conversa toda.

— M... M... Mãe... Mãe. – Tentava, em vão, fazê-la parar de falar – Mãe!

— Sai batendo nas pessoas e agora grita com sua mãe?! Deixa quando nos encontrarmos, mocinha!

— Desculpa, mãe... É que o diretor está pedindo para desligar.

— Diretor?! – Sófia a escutou bufar. – Quando for para o trabalho passarei aí. – Desligou.

— Sua mãe não é fácil, hein.

— O senhor nem imagina.

— Qual sua aula agora?

— Química.

A porta se abriu com força assustando ambos.

— Expulsa ela, diretor. É uma vândala!

Agatha disse furiosa enquanto apontava para Sófia que tentava não rir. Seu uniforme estava sujo de sangue, por isso usava uma camiseta rosa chamativa com desenhos de golfinhos que tinha pegado nos achados e perdidos. Seu nariz ainda estava vermelho e com curativo. Após pronunciar as palavras observou melhor o diretor e o olhou da mesma forma que olhou para Scott. Com preconceito.

— A senhorita entra na minha sala sem permissão e ainda sai dando ordens? – O diretor perguntou com uma voz calma e assustadora.

— S-Sim. – Agatha estava perdendo a pose de durona aos poucos. – Digo, ela me agrediu sem nenhum motivo. Não fiz nada para ela e agora olhe para o meu nariz. – Dizia choramingando.

— Sófia, pode ir para aula. Quando sua mãe chegar irei pedir para chamá-la.

Ela assentiu e se retirou da sala o mais rápido que pode. Ao passar pela porta, viu sua bolsa no banco. “Não me lembro de ter pegado minha bolsa". Pensou confusa.

Ao lado avistou um saquinho de salgado. Tinha esquecido completamente da fome que sentia, por causa da raiva e depois pelo medo. Mas ao ver a comida sua barriga reclamou. Pegou a mochila e ficou pensando se pegava ou não o salgado.

A vontade de comê-lo era tanta que sua barriga gemia, sabia que a cantina não estava mais aberta.

— Amanhã prometo comprar e deixar algo aqui. – Sussurrou.

Pegou o saquinho de salgado e saiu correndo do local. Foi direto para as escadas o mais rápido que podia, não ficava muito longe da diretoria e em poucos minutos, já estava sentada na escada do primeiro andar.

Novamente não notou se tinha alguém em volta, simplesmente começou a comer tentando ignorar a culpa de ter pegado. Mas parou quando escutou barulho de lápis e borracha.

Olhou na direção do som e no topo da escada, quase chegando ao segundo andar, avistou uma garota de pele clara e algo pequeno brilhava no seu pescoço conforme ela se movimentava. O cabelo preto um pouco enrolado tampava seu rosto. Usava uma saia, a blusa do uniforme, meias até o joelho e tênis. Estava sentada e bastante concentrada enquanto escrevia algo. Sófia comeu tudo o mais rápido que conseguiu e começou a subir as escadas.

— Oi? – Disse, mas a menina levantou assustada. – Espera! – Saiu correndo. Sem perceber, deixou uma folha cair no corredor entre as salas.

“É, acho melhor deixar as apresentações para a Naara".

Pensou enquanto terminava de subir os últimos degraus. Reparou na folha. Chegou mais perto para pegar. E antes de tocar observou o desenho lindo do papel de uma garota no estilo mangá. Olhou em volta e não viu nenhum sinal da menina. Provavelmente entrou em uma das salas ou no banheiro. Pegou o desenho na intenção de devolver.

— Sinto muito, Miguel, mas acho que essa é a única solução.

Sófia olhou para a porta da sala de literatura e viu a professora Laura conversando com um aluno. Ele era branco, seu cabelo era preto azulado, repicado e usava uma jaqueta.

— Não sei como isso vai ajudar. – Bufou.

— Você tem potencial, consigo ver isso. Só não entendo o motivo do desinteresse. – Ele revirou os olhos. – Amanhã traga assinado pelos pais. – Ela entregou uma folha. Parecia a ficha que recebeu ontem do professor Thomaz.

— Ai, não! – Exclamou alto.

A professora se virou, mas Sófia foi rápida e subiu as escadas correndo. Sua próxima aula séria no terceiro andar, laboratório. Estava bem atrasada, não sabia se o professor a deixaria entrar. Mas essa não era sua preocupação no momento. Tinha esquecido completamente de preencher o formulário e contar para sua mãe sobre as aulas de teatro.

Colocou as mãos no joelho enquanto pegava ar. Poderia preenchê-lo na aula do professor William. Claro, se ele a deixasse entrar. Começou a andar até o laboratório enquanto respirava com dificuldade por causa da correria. Ao chegar bateu duas vezes na porta.


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