A família Lima morava em uma mansão localizada perto do Recreio, no Rio de Janeiro e tinham tudo do bom e do melhor: cozinheiras, passadeiras, lavadeiras, mordomos, secretários... Mas Ariel não gostava de tudo aquilo. Ela não era uma menina mimada, mesmo que todos a sua volta quisessem isso, Ariel jamais havia ligado tanto para sua condição financeira. Ela só queria algum amigo, alguém para lhe contar segredos, para compartilhar aventuras ou para assistir a um filme em seu quarto... Mas ela também não tinha isso, pois seu pai não permitira que ela saísse, que ela interagisse. Era escola, casa, casa, escola e por Ariel ser completamente tímida, não chegava nem a falar um "oi" audível, mesmo tendo a chance de se comunicar no recreio ou nos intervalos do colégio, não conseguia.

Por vir de família pobre, seu pai pensava que todos queriam apenas se aproveitar do bom coração que sua filha tivera. Arthur Lima era um empresário de renome, mas vivia infeliz desde a morte da esposa, Melanie Lima.

– Papai papai. - disse Ariel, correndo para a sala de TV. - Quero que você me prometa duas coisas. - ela mostrou os dedinhos.

– Ai meu Deus. - Arthur passou a mão no rosto e puxou Ariel para a por sentada em seu colo. - Pode falar minha princesa.

– Ta bem. - ela se ajeitou no colo do pai e começou a mexer nos cabelos encaracolados. - O primeiro é que quando eu e você morrermos, formos para o mesmo lugar que a mamãe. - ela fez um sorriso sapeca e sussurrou para o pai. - Ela foi para o céu né? - disse esperançosa e seu pai fez que sim com a cabeça. - Promete que quando nós morrermos vamos ficar junto com a mamãe?

– Claro que sim princesa. - o pai acariciou os cabelos avermelhados da filha.

Ariel sorriu.

– O segundo é que quando eu fizer 15 anos, eu quero uma festa papai. Uma festa de verdade! - seus olhos brilhavam. - Igual as que a mamãe e você davam para comemorar o aniversário de casamento de vocês. Eu quero uma festa de arromba, muito muito legal. - Ariel bateu palminhas.

– Tudo bem filha. - o pai sorriu e recebeu um beijo no rosto. - Você tem amigos para convidar Ariel?

– Ainda não né, - fez uma careta. - mas isso é o de menos papai.

– Mas tem pouco tempo filha. - Arthur fez-se de desapontado.

– Não tem nada, eu ainda tenho 10 anos papai. - Ariel bufou e saiu do colo do pai. - Mas se você acha que eu não sou capaz, eu também não quero mais nada, - ela disse, sílaba por sílaba - N A D I N H A vindo do senhor papai. - e virou as costas, indo para o quarto.

Arthur respirou fundo e foi atrás da filha, mas a porta estava trancada e ao por a orelha atrás da porta, ouviu apenas uns ruídos. Ariel estava triste e chorava de soluçar. Arthur mal sabia o quão seria raro os momentos que encontraria a filha depois daquele dia, mal ele sabia o quão seria difícil ter a sua princesa de volta.

*

Os dias foram passando e Ariel mal via o pai e sibilava algo com ele. Ela começou a mudar radicalmente. De uma menina um tanto quanto infantil, até para a idade, Ariel começou a crescer. Parou de brincar de barbie e começou a se maquiar com as coisas herdadas pela mãe, quando seu pai não estava em casa. Ela pegava saltos e ficava andando pela casa, treinando para a sua futura festa. Com 12 anos, ao dar uma fugida para o quarto do pai, o viu olhando uma foto da mãe e sentou-se ao lado dele.

– Eu também tenho saudades dela.

– Vocês são muito parecidas, sabia?

– Uhum. - ela pegou a foto e seus olhos começaram a lacrimejar. - Papai, você vai fazer a minha festa de 15, não vai?

– Vou filha. - ele abraçou a menina. - Eu percebi nesses anos o quanto você mudou e eu espero que seja para melhor, espero poder ver você feliz daqui a 3 anos, se você ficar feliz, eu também ficarei.

– Eu vou ficar papai, eu vou ficar.

*

Aos 13 anos, Ariel já vestia e calçava igual a mãe, então pegou várias roupas da mãe e sempre que saia com o pai(agora que a relação deles tinha dado uma pequena melhorada), se vestia no estilo da mãe e todos achavam a ruiva linda.

Ariel começou a fazer teatro e canto, para tentar melhorar sua timidez e assim, começou a fazer muitas amizades. Pessoas que ela sabia que eram boas e realmente eram. Ela comunicou isso ao pai e ele só disse "fico feliz por você, querida." Mas ela queria mais, ela queria mostrar ao pai que iria conseguir ganhar amizades e que sua festa seria de arromba, seria a melhor festa de todos os tempos.

Quando finalmente completou 14 anos, Ariel estava no seu melhor momento. Ela não era mais aquela menininha tímida e agora se tornara mulher, com corpo e jeito de mulher. Ariel já tinha feito peças e era conhecida como 'pequena sereia', já que seu nome era igual ao da princesa dos mares dos contos da Disney e ela também tinha cabelos ruivos. Sua carreira deslanchou quando foi convidada para protagonizar a própria Ariel no musical do colégio de "A Pequena Sereia" e aceitou. Foi um sucesso, uma pena que seu pai não pode estar lá para vê-la.

Os tão esperados 15 anos estavam próximos e Ariel, após o sucesso com o musical, pensou em fazer a festa no tema da princesa que era sua xará e com a ajuda que precisava, conseguiu fazer tudo igual seu sonho. Agora só faltava esperar para o seu grande dia chegar e chegar logo.

*

O dia de princesa de Ariel Lima havia chego e ela, nervosa que só, não conseguia pensar mais em nada direito. Os convidados do seu pai e alguns amigos seus começaram a chegar aos poucos e a festa foi enchendo no inicio de sua duração. Ariel estava com um vestido rosa e cumprimentava a todos com a maior alegria, seu pai a olhava admirado. Ela havia conseguido amigos e era uma menina linda, não havia mudado sua essência para isso, o que era admirável.

A hora mais esperada da noite, a das homenagens, haviam chego e Ariel estava tremendo de nervoso. Ela estava com o vestido branco agora e em cima do palco que haviam feito especialmente para isso.

(...)

– Eu queria, primeiramente, agradecer a todos por estarem aqui, prestigiando minha filha linda, minha princesa. Filha, - o pai se virou para a menina. - você conseguiu. Você conseguiu provar não só a mim, mas a você mesma que era uma mulher de verdade, uma princesa e acima de tudo, uma pessoa maravilhosa. Como seria bom se sua mãe estivesse aqui para ver a pessoa boa que você se tornou. Você era tão tímida minha filha, mas tão determinada também. Eu sofri esses anos por não lhe ver tanto e quando lhe ver, você não me dar bola ou simplemente me ignorar. Espero que você não fique mal por falar isso para seus amigos, mas hoje é dia de comemorar sua passagem para a vida adulta. Parabéns minha filha, não só hoje, mas todos os outros dias que já foram e os que estão por vir, eu te amo muito minha princesa!

Com lágrimas nos olhos, Ariel sorriu e abraçou o pai forte, que estava emocionado também.

– Papai, eu pude perceber nesses anos que, mesmo eu te deixando de lado e mesmo eu lhe abandonando e lhe xingando várias vezes, o senhor nunca me deixara, nunca me abandonara e sempre me deu sustento, força e tudo o que eu queria e pedia, sempre me mimou e cuidou de mim, mesmo que de longe. Eu agradeço à Deus todos os dias por ter-te como meu paizinho, meu mundo e meu melhor amigo. Eu tinha um texto para lhe falar, mas agora, não consigo nem respirar direito de tão emocionada que estou. Me desculpe por qualquer erro que eu possa ter tido contigo, papai. Nunca foi minha intenção te magoar, eu juro. Eu te amo muito!

Eles se abraçaram e todos bateram palmas, os dois dançaram a tradicional música lenta e a festa continuou até altas horas da madrugada.

Ao chegar em casa, Ariel caiu na cama como um anjo e o pai ficou feliz em ver sua filha tão sorridente. Na manhã seguinte, ela chegou ao quarto do pai e o viu dormindo, então resolveu escrever-lhe uma carta para lhe agradecer pelo dia anterior.

"Papai,

Muito obrigada por ser assim, tão amável! Nesses anos, como eu disse antes, você me mostrou, mesmo que indiretamente, o que é uma amizade de verdade, eu, como tímida, sempre procurando pessoas que fossem leais a mim, confiáveis e outras milhões de coisas que você e a mamãe me ensinaram, mas você sempre me deu apoio e apesar de algumas vezes eu simplesmente querer jogar tudo para o alto, largar minha vida e fugir de casa, fugir desse mundinho que o senhor criou para mim, eu percebi papai, que o senhor sempre procurou o melhor para mim, o senhor sempre fez o melhor por mim e é por isso que não há ninguém melhor que o senhor nesse mundo. Meu paizinho, meu herói, meu rei, meu melhor amigo para sempre. Eu te amo eternamente, meu rei.

Um beijo da sua princesa,

Ariel."