Abusadas escrita por skkye


Capítulo 1
Capítulo Único.




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Tendo em vista todas as loucuras que vivi, me casar com um príncipe qual não conheço e nunca conversei, parecia ser a mais normal das coisas.

Depois da fracassada tentativa de pedido de noivado, aquele qual embarquei em minha primeira aventura, aquela que saiu de meus sonhos para se tornar uma realidade que, caso eu contasse, qualquer um duvidaria e me colocaria em um sanatório, minha querida tia arranjou um novo casamento para mim. Desta vez, com um príncipe talvez mais egocêntrico que o último, mas eu não tive como escapar, fui forçada a fazer algo que era contra todas as leis de meu pai, que sempre desejou a mim tudo o que me fizesse feliz. Ah, a falta que sinto dele é tão grande.

Agora, prestes a completar dois meses de casada com o príncipe Harry Edwards, à cada nascer de Sol, vem junto uma vontade de fugir, sair correndo pelos portões do palácio e ser, então, livre. Mas, pela primeira vez, me falta coragem.

Os portões tiveram sua guarda reforçada logo depois que tentaram fugir do castelo e a ordem era que matassem todos que tentassem passar sem permissão, não importando quem fosse. A ordem era matar. E a morte era meu único medo.

Em um de meus passeios pelo jardim do Castelo, encontrei uma lagarta maravilhosa, que me lembrava muitíssimo a de meus sonhos. Cada dia que se passa, vejo algo diferente, que me lembra meus sonhos de infância e minha última aventura na festa do Príncipe Artur.
— Senhora Alice, o Rei a aguarda. — Eis que meu outro problema ressurge.

O Rei Carlos, o pai de Harry, é um homem ótimo para com a população do reino, porém uma pessoa horrível dentro do castelo. É o exemplo perfeito para a palavra adultério. O homem não tem pudores, longe de sua esposa, faz questão de fazer comentários e abusar sexualmente de todas as suas criadas e todas as mulheres do Castel. E ai de quem contar para sua esposa, ou comentar entre si.

— Querida Alice. — A voz do homem me causa nojo. — Hoje é o grande dia! —

Meu corpo permanece estático, meus olhos possivelmente esbugalhados permanecem o fitando sem piscar por alguns segundos. Hoje é o grande dia. Suas palavras se repetiam em minha mente como se fosse o grande anúncio de minha morte.

Quando cheguei ao castelo, exatamente à dois meses atrás, Rei Carlos fez questão de me receber sozinho na sala do trono, dando-me um breve aviso de que, no dia que eu completasse dois meses dentro do palácio, ele faria de mim "sua mulher", desde então, todos os dias tenho recebido olhares maldosos e maliciosos de sua parte, o homem hora ou outra, quando estou distraída, me surpreende com beijos desnecessários em meu pescoço. Atitudes baixas demais para um Rei.

Talvez fosse melhor enfrentar a Rainha Vermelha por repetidas vezes, à permanecer aqui, neste lugar.

Permaneci em silêncio, recuperei-me de meu choque e saí da sala Real, deixando-o lá, com sua risada maligna.

Tendo total certeza de que não poderia passar nem mais uma hora naquele lugar, comecei a procurar um jeito de sair daquele lugar e driblar meu pior medo: a morte. Eu tinha de sair daquele lugar e permanecer com vida, escapar pelos guardas que rondavam de um lado para o outro em volta do castelo e na entrada da Floresta Misteriosa.

Eu não poderia passar por lá, pelo Floresta. Quantas vezes ouvi histórias de pessoas que entraram na Floresta em busca da liberdade, e nunca mais saíram. Eu não podia me arriscar a fugir com vida do Castelo, e morrer na Floresta.

Naquela tarde, me deitei na grama macia do jardim e esperei por uma resposta vinda do vasto céu azul. Minha mente vagava pensando como poderia sair dali, como eu poderia me livrar dos guardas e ir embora livre... sem entrar na Floresta.

Nada veio, tudo o que tinha em minha mente era sair correndo e entrar na Floresta que, mesmo sabendo que poderia morrer ao pisar em um galho errado, estaria livre do Rei safado e de seu filho egocêntrico.

Foi quando um cavalo branco passou correndo pelo jardim e, por mais louco que seja, tenho certeza que ele olhou para mim, como se me entregasse uma ótima ideia. E então ela veio...

Sai correndo para dentro do Castelo, estava em uma velocidade maior que eu poderia imaginar. Cheguei na sala Real, onde estava o Rei, gordo, feio e velho, sentado deliciando-se com uma grande e vermelha maçã. Eu estava ofegante, minha respiração descontrolada.

— Querido Rei, peço que antes de minha "Grande Hora" — tento não demonstrar nojo ao falar — o senhor me deixe dar um passeio à cavalo fora do Castelo, quero respirar novos ares, sentir novamente a brisa e então estarei pronta para o Senhor, vossa Alteza. —

Ele pareceu pensar, até que pediu aos seus empregados para que arrumassem o cavalo número quatro para mim. Não pude conter o sorriso, mas o fechei logo que o Rei me olhou confuso e desconfiado.

Sai as presas de sua sala e fui até o estabulo. O cavalo número quatro, aquele cavalo que passará correndo por mim e havia me olhado.

Em pouco tempo, eu estava fora do Castelo. Finalmente. As pessoas me olhavam intrigadas, algumas cochichavam se perguntando o que eu iria fazer, ou o que eu estava fazendo do lado de fora. Sorri para todos, continuei cavalgando em linha reta enquanto as pessoas abriam passagem para mim e os dois guardas reais que a mim seguiam.

— Princesa, é melhor a senhora andar para outros lados. A entrada para a Floresta não tem volta. — Alertou um dos guardas. O ignorei e caminhei um pouco mais para perto, os olhei de rabo de olho e o cavalo saiu em uma velocidade incrível, logo adentrando a floresta.

Dentro da floresta, deparei-me com coisas horríveis. Entre essas mulheres mortadas jogadas ao chão, bichinhos se alimentam desses corpos e vários já em decomposição. Respirei fundo, passei cuidadosamente por cima desses corpos, tendo cuidado para não pisar em nenhum lugar em falso.

Olhei para trás, na esperança de ver o cavalo ainda ali, mas ele havia sumido, sumiu de uma forma rápida e assustadora.

Continuei meu caminho a pé, com calma e tendo certeza de que nenhum dos guardas do reino jamais ousariam entrar aqui e perder suas vidas por causa de uma menininha como eu.

Deparo-me com uma pequena casa feita de pedras, janelas de vidro, uma delas estava quebrada. Apenas uma parte da casa tinha luz, a parte que parecia ser um quarto.

Curiosa e também sufocada pelo cheiro horroroso que aqueles corpos tinham, vou até a casa na tentativa de encontrar um lugar quente e com um cheiro talvez um pouco melhor para que eu possa descansar e logo em seguida procurar uma saída desde lugar.

Empurro a porta com toda força que tenho em meu corpo e, com dificuldade, a abro. Tendo uma visão horrível bem a minha frente.

Uma mulher, cabelos negros e curtos e de pele clara, esta desmaiada sobre a mesa, suas roupas estão rasgadas, as pernas abertas, escorre sangue sobre sua parte íntima, seu corpo tem vários machucados. No chão, um dos guardas do rei, sem calça, morto por uma planta em volta de seu pescoço.

Então até mesmo as mulheres perdidas na floresta, não se safavam das mãos sujas dos homens? Não sei bem como a planta matou aquele homem, ou como chegou até ele, mas é óbvio que, de alguma forma, ela estava protegendo aquela mulher.

Não perdendo muito tempo, carreguei o homem para fora da casa e ali na frente o deixei jogado. Cuidei da mulher, a coloquei deitada em uma das camas que haviam na casa e arrumei a casa, logo me sentando na cama ao lado dela e esperando que ela acordasse.

Eu queria ter certeza de que ela estava bem, ou de que ela ficaria.

Levam horas até que ela acorde e note minha presença ali, mas parece não se assustar.

— Você... você... — Ela parecia procurar palavras.

— Sou Alice. Eu te encontrei desmaiada sobre a mesa, depois de... enfim, e cuidei de você. —

— Agradecida... Alice. — Diz. — Mas você precisa ir embora, fugir daqui. Não é um bom lugar. —

— E por que vive aqui? Eles vem para cá também. Eu venho fugida do rei, você não pode me mandar ir embora. — Disse mas logo que vi a mulher esbugalhando os olhos, imaginei não ter sido uma boa ideia.

— Existiam outros lugares para fugir, não deveria ter entrado aqui, garota. É uma entrada sem volta. — Ela explicava como se eu não soubesse dos riscos de entrar aqui. — Os guardas do palácio estão por todo canto, por todas as possíveis saídas desse lugar e você agora se destinou a perecer neste inferno coberto por árvores. —

— Você algum momento tentou fugir? — Perguntei ajeitando-me na cama. Ela assentiu e suspirou fundo.

— Não, eu sempre cheguei perto da saída mas um dos guardas sempre me viam. E então eles se aventuravam a entrar aqui, atrás de mim. Muitos chegam perto da casa, eu, indefesa, não tenho nada a fazer. Mas todos morrem. As plantas daqui me protegem. —

— As plantas te protegem? —

— Mas é claro, querida Alice. Tudo nesta floresta se alimenta dos corpos jogados nela, ou seja, tudo aqui tem vida. Eu vivo aqui desde, bem, minha adolescência, quando sofria com minha madrasta que hoje comanda meu reino. Vivia com sete anões muito gentis que infelizmente morreram à caminho do monte. — Contava enquanto eu tinha minha total atenção nela.

Branca é uma mulher bonita, como eu disse, pele clara e cabelos negros, seus olhos são azuis como o céu em um dia ensolarado e seus lábios vermelhos como sangue. E é, de certa forma, impossível manter uma beleza desta perdida em uma floresta macabra, mas ela tinha essa benção... sabe-se lá, uma maldição, talvez.

— Qual seu nome? —

— Alice. —

— Ali- — O estrondo da porta de madeira sendo aberta fez com que pulássemos da cama e olhássemos para onde veio o estrondo. Lá, dois guardas do Rei, tinham em seus olhos uma malícia que não era nada interessante para mim ou para Branca.

Olhei para os lados procurando algo para nos defendermos ou alguma brecha para fugirmos, mas nada foi encontrado. Quanto mais perto os guardas chegavam, nós andávamos para trás e minha respiração aumentava por mais que eu tentasse a controlar.

Olhei para Branca, que não parecia tão desesperada quanto eu estava ficando, mas ela estava bastante nervosa e com os olhos cheios de lágrimas. Se ela já sabia o que ia acontecer? Eu não sei, mas eu tenho certeza que sim. Meus pensamentos intercalavam entre "eles tentarão nos estuprar" e "eles nos matarão" e eu não sei qual ganhava.

— Por sua causa, pequena Alice, — um dos homens disse, esbugalhei os olhos — o Rei nos mandou aqui, numa caçada que sabemos que será sem volta. Mas, antes que eu morra, vocês duas, pagarão por isso. Pagarão muito caro. —

Em um ato rápido, nos puxaram pelo braço e nos jogaram nas camas. Tanto eu quanto Branca nos debatíamos na tentativa de fazer com que ele eles nos soltassem.

As lágrimas escorriam por meu rosto enquanto eu via os sorrisos maldosos em seus lábios enquanto rasgavam nossas roupas. Minha respiração descontrolada me deixava ainda mais desesperada. Eu não conseguia fazer nada e por um momento da vida, toda minha audácia me largou.

Por mais que eu gritasse, esbravejasse, tentasse fazer com que eles saíssem de cima de mim, nada adiantava. O homem já havia rasgado toda a parte de baixo de meu vestido e arrancava minha roupa íntima sem piedade alguma.

Eram homens ruins, muito ruins. Eles riam enquanto ouviam os choros e pareciam se deliciar com aquilo. Também, servindo ao rei que servem!

Em um ato rápido demais para meus olhos, os dois homens saíram voando pela janela, quebrando o vidro. Eu não sei como, mas eu acreditava em todas as possibilidades, principalmente nas árvores que Branca explicou terem vida.

Me sentei na cama em um ato lento, talvez lento demais para mim, abracei minhas pernas e deixei que as lágrimas rolassem.

— Ei, garota... — Branca chamou carinhosamente. A olhei. — Você não pode continuar aqui, venha. —

Me levantei com as pernas bambas e Branca entregou-me uma espécie de manto, enrolei-me nele e sai andando atrás da mulher.

— Para onde vai me levar? — Perguntei enquanto passávamos porta a fora.

— Ao monte. — Anunciou. — É o único lugar onde você ficará de fato segura, se for corajosa o bastante, pode tentar fugir por lá. —

— Por que você nunca tentou?

— Porque este lugar agora é minha casa, pequena Alice. — Ela me deu um sorriso, secando uma das lágrimas que escorriam por seu olho esquerdo. — Mas não se preocupe comigo, eu tenho como me proteger, aliás, sou protegida. —

— Mas- —

— Você não sobreviverá aqui dentro, vamos! —

Eu não discuti mais, se sua vontade era permanecer aqui, sendo vítima de um abuso que ela não precisa, que continue.

Subimos ao monte, que era, talvez, a parte mais bonita de todas dessa floresta escura e grotesca. Branca parou ao topo, onde encontrei uma linda rosa vermelha. Apenas a rosa vermelha.

— Me desculpe por isso, pequena Alice... — anuncia. A olho confusa, então, ela me joga ao chão, fazendo com que eu caía em cima da bela rosa. — Mas, você veio na hora perfeita. Você me fará livre. — Anunciou. Eu não entendi, até que o Rei Carlos, o príncipe e alguns guardas chegaram. Todos sorrindo maliciosamente para mim.

Branca saiu correndo e, então, esta foi a última vez que a vi.

Na verdade, esta foi a última vez que vi algo com minha mais pura e jovem visão...

FIM


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