A Depressão De Amy Cortese escrita por Letícia Matias


Capítulo 5
Capítulo 5: Interrogatório




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Senti alguma coisa gelada cair sobre minhas costas e minha cabeça. Eu não conseguia abrir meus olhos. Estava muito pesado.
–Vamos acorde! Qual é!
Algo dentro da minha boca... Até a minha garganta... Ah meu Deus! Abri meus olhos e curvei-me para frente e vomitei uma água esbranquiçada.
Eu estava com frio. Olhei para cima e vi uma luz fraca amarelada e depois olhei para o lado. Eu estava num banheiro... Numa banheira. Minhas calças estavam molhadas eu... Eu...
As lágrimas começaram a transbordar pelo meu rosto e eu comecei a chorar alto, soluçando.
– Ei, está tudo bem. Está tudo bem. - ouvi uma voz dizer.
Senti a água parar de cair em cima dos meus ombros e da minha cabeça.
–Está tudo bem. Peguei você.
Fui tirada da banheira, eu ainda estava chorando muito, um pouco desorientada.
Senti braços me envolvendo e me erguendo.
Parei de chorar e olhei para o rosto da pessoa que estava me carregando para fora do banheiro.
Sean.
Ele olhava para mim. Empurrou a porta de um quarto com o pé e colocou-me deitada na cama.
–Temos que tirar essa roupa molhada. - ele disse.
Eu estava sonolenta e um pouco longe dali, mas pude ver que ele estava completamente molhado.
– Me ajude a tirar sua roupa. -Ele disse puxando minha blusa e passando-a por minha cabeça. Levantei os braços para que ele pudesse tirá-la.
Ele tirou meu All-Star e as meias que também estavam molhadas e jogou-as no chão.
–Agora preciso tirar sua calça. - ele disse olhando nos meus olhos como se pedisse uma aprovação minha.
Não me mexi, ele desabotoou o botão e abaixou o zíper, deitou-me na cama, pegou nas extremidades da calça na minha cintura e puxou-a para baixo. Ela estava grudando no meu corpo porque estava molhada.
Eu estava olhando para o relógio digital que marcava 5:55 com a cor verde. Eu estava chorando novamente.
– Shh! Está tudo bem. Apenas durma. - ouvi Sean dizer enquanto eu olhava para o relógio.
Eu estava tremendo de frio e chorando de olhos fechados.
– Porra, você está congelando. Se não morreu dopada, vai morrer de hipotermia.
Ouvi um barulho de armário se abrindo e fechando e depois senti dois edredons sendo colocados em cima de mim.
– Você precisa de calor. - ele disse e deitou-se na cama.
Ele virou meu corpo para o lado dele. As lágrimas tinham secado no meu rosto. Eu olhava para ele, sem vida nos olhos, sem dizer nada.
– Está tudo bem, eu vou te esquentar ok? - senti suas mãos em minhas costas e então ele passou seus braços em volta de mim. Eu estava colada em seu corpo e minha cabeça estava praticamente enterrada em seu pescoço.
–Caramba, você teve uma viagem ruim, não foi Amy?
Não respondi, apenas olhei para seu rosto e analisei seus olhos verdes. Seu cabelo estava molhado. Com um impulso, encostei meus lábios nos dele. Eles eram macios e ele retribuiu o beijo e depois ficou olhando para mim. Eu não tive muito tempo para pensar, tudo ficou escuro novamente.
***
Eu não tinha muita certeza de onde eu estava eu me lembrava de alguns pedaços do que se passara.
Sentei-me na cama desconhecida e olhei para a janela. O Sol raiava lá fora. Olhei para o meu corpo. Eu estava apenas de calcinha e sutiã. Eu não me lembrava de ter feito...
A porta do quarto se abriu e instantaneamente puxei o edredom para cima cobrindo meu corpo.
Ele olhou para mim e sorriu ao fechar a porta.
– Não precisa disso.
Olhei para ele sem graça e ele foi até a janela olhar para a rua.
– O que aconteceu?
– Você não se lembra de nada?
Franzi levemente o cenho.
– De algumas coisas.
– Do que você lembra?
–Ah... - olhei para ele e vi que ele estava usando a camisa que eu tinha lhe dado. Mordi o lábio. - Lembro-me de ter vindo até aqui e depois eu me lembro de ter... apagado no banheiro. Eu tomei... - mordi a língua para não falar que tinha tomado remédio.
–Isto? - ele me mostrou o frasco laranja em sua mão. Era o meu remédio.
Arregalei levemente os olhos e esqueci-me de que estava seminua. Fui até ele para pegar, mas ele abaixou a mão escondendo-o.
– Eu...
– Pra que você o toma?
Balancei a cabeça.
– Você pode me dar, por favor?
– Sim, depois que me dizer o porquê você toma.
Bufei.
–Isso não é da sua conta. - falei e virei-me para voltar para a cama.- Onde estão minhas roupas? - perguntei.
–Estão na secadora. Eu vi seus pulsos. O que aconteceu com você?
– Isso não é da sua conta!- exclamei.
Ele me encarou. Seus olhos esverdeados encaravam os meus. Desviei o olhar. Merda.
– Agora você vai falar para todo mundo que a menina nova é esquisita e toma remédios e tem cicatrizes nos pulsos.
– Eu nunca faria isso. Só queria saber o que acont...
– Ninguém se importa! - eu disse. – Ninguém! Agora você poderia, por favor, me devolver minhas roupas para eu ir embora?
Ele bufou e se levantou.
– Tudo bem.
Ele abriu a porta do quarto e depois ao sair, fechou-a batendo com força.
Olhei para o relógio, se passavam das quatro da tarde.
Merda! Eu tinha perdido a escola.
A porta do quarto se abriu novamente e ele jogou as roupas na cama junto com o frasco de remédio laranja. Olhei para ele e depois olhei para minhas calças. Peguei-as e vesti rapidamente. Levantei-me da cama e vesti minha blusa também.
– Seu tênis ainda está molhado. - ele disse enquanto eu colocava as meias.
–Não tem problema.
Ele pegou meu par de tênis em cima do peitoral da janela e veio entregar para mim. Olhei para seu rosto. Ele me olhava intensamente.
Peguei o tênis de sua mão e agradeci. Ele não disse nada e voltou a ficar perto da janela.
–Eu sinto muito se te causei problemas. Eu não sei o que aconte...
– Na verdade você sabe. Foi muita irresponsabilidade da sua parte misturar bebida, cocaína e remédio. Você estava completamente dopada, poderia ter tido uma overdose e me colocaria em problemas.
– Me desculpe, eu estava bêbada e... Não deveria ter ficado. Vim só para te dar a camisa já que a outra estava suja de...
– Está fazendo errado.
Franzi o cenho e me pus de pé colocando o frasco de remédio no bolso.
– O quê?
– Se está tentando se matar, tem que cortar verticalmente. - ele disse olhando para a rua.
Olhei para ele sem dizer nada. Ele olhou para mim.
–Desculpe pelo transtorno. Eu tenho que ir. - virei-me e abri a porta do quarto.
–Quem é Dom?
Paralisei e olhei para ele.
– O quê?
– Você falou algumas vezes "Eu sinto muito Dom" enquanto estava dormindo.
Fechei os olhos e quando os abri novamente, vi que ele estava me encarando.
–Bem, parece que você vai ter muito o que contar para seus amigos populares sobre a garota estranha. - eu disse e saí do quarto.
Desci ás escadas rapidamente e abri a porta, saindo.
O Sol do lado se fora brilhava, me cegando. Fechei os olhos e coloquei a mão na cabeça. Respirei fundo e os abri novamente. Olhei para cima, na janela, Sean estava olhando para mim. Exasperada, comecei a andar rapidamente em direção a minha casa.


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