O ladrão de maçãs escrita por Bloody Rose


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Não, eu não voltei KKKKKKKK mas trouxe uma one pra quem sentiu saudade (acho que ninguém -q)
Espero que gostem.



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Um sorriso largo e aparentemente cruel desenhou-se nos lábios da figura encapuzada que avistava sua presa ao longe. A destra puxou o capuz ainda mais para baixo, ocultando a franja de coloração peculiar e parcialmente os vibrantes olhos azuis que não se desviavam da imagem do que mais almejava. Quem retirasse a peça e olhasse diretamente seu rosto poderia julga-lo como louco, psicótico. Talvez fosse, ou talvez apenas aparentasse. Para Kardia não havia mais espaço para doença alguma se não aquela que o assassinava pouco a pouco, corroendo seu coração com chamas que diminuíam, porém nunca se apagavam. Não sobrava lugar para nenhuma psicose, entretanto, não era como se não pudesse se dar ao luxo de aparentar. Tornava tudo um pouco mais divertido.

Quando não trajava a armadura, recém adquirida, ao passear pela vila, o escorpiano nunca era reconhecido. Era tratado apenas como um ladrão qualquer, caçado pelo misero roubo de maçãs. Oras, azar dos comerciantes, dourados também sentiam fome! E a culpa não era sua que tanto em sua casa quanto na cozinha dos templos acima uma das poucas coisas que realmente entravam em seu organismo tivesse se esgotado. As maçãs, algum tempo atrás, não eram assim tão apreciadas pelo jovem quanto mais recentemente. Forçou-se a inclui-las no cardápio ao descobrir que lhe faria bem ao coração. Para alguém que desejava ultrapassar seu limite em batalhas ao invés de uma cama, era perfeito. A pior forma de morrer seria se sentindo um inútil, então, que fosse o perturbado suicida – como era apelidado por ali.

Sorrateiro, guiava seus passos em direção a uma das bancas de frutas. Parou em frente, analisando as frutas vermelhas e adocicadas, escolhendo as suas preferidas. Sentia o olhar fixo do comerciante em si até o momento em que outro cliente chegou capturando a atenção do homem de meia idade. Perfeito. A unha até então escondida cresceu tão rubra quanto as frutas que desejava, mirada em um ponto específico. O disparo mortal da agulha escarlate atingiu um vaso de cerâmica específico entre todos os empilhados, estilhaçando não apenas este, mas todos que se sucederam em queda, causando um estrondo alto anunciando o prejuízo do mercador. Rapidamente Kardia recolheu as frutas, coisa de oito – seu número da sorte, ironicamente – para depois em seguida sair correndo dali. Para um azar divertido, os soldados rasos perceberam a peripécia do "ladrão de rua" que habilidosamente pulava as outras barracas e criava obstáculos em meio a sua fuga a fim de despistar a patente mais baixa dos subordinados da deusa que ainda não tivera o prazer de conhecer e sequer sabia o que esperar dela. Sabia da história de que a Athena reencarnava como humana, dessa vez quebrando um costume de séculos e nascendo na Itália. Haviam muitas opções, podia ser uma riquinha mimada de nariz em pé ou uma jovem humilde e de coração puro. Fazia preces regularmente para que não fosse uma pessoa insuportável pela falta de orientação sobre sua verdadeira identidade desde cedo. Se não... Ah! Genioso e infantil como era, teria muitos problemas bem piores do que a enrascada em que se metia.

Partiu de dentro de um beco, encostando-se próximo a uma banca de flores quando os guardas passaram. Livrara-se temporariamente da capa, escondendo-a atrás dos vasos bem dispostos pela família da protegida do cavaleiro de Peixes que raramente via o rosto, tampouco recordava seu nome. Em mãos, apenas uma das frutas levada aos dentes com imensa tranquilidade. Pelo canto do olho, via a pequena Agasha encolhida, aparentemente segurando o riso. Em resposta ele lançou uma piscada.

- Senhor Kardia, o que faz fora do Santuário?

Kardia reprimiu com força uma careta pelo modo tão formal como era tratado. Por mais que alimentasse seu ego facilmente inflado ao ser tratado como superior – e mais rapidamente murchado pelas palavras rispidas de Sage – ainda detestava ser tratado como velho. Pelos deuses, será que ninguém percebia que sequer tinha rugas?!

- Procurando a paz que não me dá. – Arqueou uma sobrancelha, abaixando parcialmente a fruta ainda posta diante dos lábios. – Teu ladrão foi naquela direção. – Apontou com o queixo numa direção que poderia ser qualquer, se não tivesse calculado minunciosamente cada milímetro trilhado tanto na teoria quanto na prática. Inútil. Mordeu a maçã um pouco mais fundo absorvendo o suco que passava entre os dentes, sufocando um riso no fundo da garganta quando o grupo se distanciou as pressas para prender o procurado nem um pouco amado por aqueles que não sabiam sua identidade. Não que como cavaleiro de Escorpião fosse o mais adorado entre todos. – Agasha, nunca leve essa influência pra sua vida, entendeu? – Sorriu com a confirmação da garotinha, retirando de dentro do bolo que era a vestimenta escondida uma das maçãs estendendo-a para a menor que a aceitou de bom grado.

O caminho de volta para o Santuário – por sorte – fora tranquilo mesmo que tivesse voltado a imagem de antes. Já não se escondia tanto, mesmo que fosse inevitável escorregar o capuz para esconder parcialmente o rosto bronzeado, isto é, até tê-lo puxado bruscamente para trás, bagunçando os cabelos azulados. A franja se virou para um lado que sequer imaginava conseguir, assim como – exageradamente falando – teve a sensação de perder mais fios capilares com aquele ato do que se caíssem automaticamente em uma semana. Deixou escapar um xingo alto, voltando-se para o imbecil que tinha atrapalhado sua caminhada, encontrando o olhar sério de Sísifo que tinha como companhia uma criança. Oh, merda.

- Controla tua boca, Escorpião. Não aprendeu a ter respeito?

- Aprendi tanto quanto o pangaré foi ensinado a ser delicado. – Estreitou os olhos, seu lado infantil e inconsequente pedindo por uma briga que não veio. Apesar das patadas, Sísifo era paciente. Infelizmente.

- Faça-me o favor e cuide dela, tenho que ver o Grande Mestre.

Descontente, olhou para a menina acuada que agora era solta, confiada aos seus cuidados enquanto o cavaleiro de Sagitário se afastava sem sequer esperar por uma resposta provavelmente malcriada. Ótimo, virei babá agora. Kardia lamentou mentalmente com um suspiro de visível frustração.

Iludido, mal sabia ele que aquela menininha se tornaria sua melhor amiga e mais querida protegida.


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