Seguindo em frente escrita por Miss Fictions


Capítulo 1
Parte I


Notas iniciais do capítulo

Volteeei!
Comecei a rabiscar essa história quando estava no fim da Verão Verde-Azulado, em um surto de criatividade após ler e assistir os filmes de It's kind of a funny story (Se enlouquecer não se apaixone, em português - acho que só saiu o filme aqui D:) e As Vantagens de ser Invisível. Quem leu/assistiu os dois vai logo notar as inspirações SHAOIHS
Boa leitura e espero que gostem! ♥



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Acordo e vejo um teto branco que nada se assemelha ao teto de meu quarto, que é azul com estrelas que brilham no escuro – infantil, eu sei. Meus movimentos estão pesados e, quando tento me levantar, percebo que estava em uma maca. Antes que eu pudesse me lembrar como vim parar ali, alguém abre a porta da pequena sala.

“Enfim o belo adormecido acordou!” Uma senhora de óculos entra, fechando a porta atrás de si e seguindo para se sentar no banco a minha frente. Ela vestia um guarda-pó branco com um crachá de identificação no bolso direito, o qual eu encaro para tentar ler seu nome. Ela nota minha intenção e ri de leve. “Sou a Dra. Hanji Zoe, Eren. Vou te acompanhar durante toda sua estadia aqui.”

“Onde eu estou?” A pergunta que eu mais queria fazer escapa de meus lábios.

“Você não se lembra de como chegou aqui?” Ela responde com sua própria pergunta, ajustando seus óculos.

Repito a pergunta mentalmente, tentando me lembrar. As imagens estavam desconexas e eu só conseguia ver flashes do que parecia ser a noite anterior. Ou será que foi um sonho?

“Eu...” Começo, ainda confuso em meus próprios pensamentos. “Acho que fui em uma festa da faculdade com minha irmã e alguns outros amigos...”

“Uhum.” Hanji pega, da mesa atrás de si, uma caneta e uma prancheta com uma ficha para começar a anotar.

“Não lembro de mais nada direito.” Eu digo, forçando a memória. Tudo que conseguia ver eram cenas fora de ordem, que não pareciam ver sentido.

“Tente me contar da forma que vem a sua mente.” Ela me pede, calma. Algo me dizia que ela já sabia de tudo e estava apenas me testando, mas eu ignoro o fato e continuo tentando organizar meus pensamentos.

“Lembro de pegar uma bebida para mim e para ela em algum momento...” Franzo o cenho, forçando o máximo que conseguia. “Lembro de uma garota estranha... Acho que ela estava dando em cima de mim. Não sei se foi bem isso. Mas fiquei um tempo com ela, sem minha irmã.”

“Entendo...” A Dra. Hanji continua a anotar. “E você sabe onde a Mikasa estava enquanto isso?”

Sinto uma sensação ruim quando ela pronuncia o nome de minha irmã. Ela realmente já sabia de tudo e estava apenas me testando.

“Não sei...” Coloco a mão na testa, sentindo uma fincada na cabeça.

Repentinamente me lembro de ver sangue em minhas mãos e me levanto bruscamente da maca. Hanji se levanta também e me segura pelos braços.

“Calma, Eren...” Ela pede com a voz tranqüila. “Sente-se novamente.”

“Eu não me lembro de nada...” Eu digo, a encarando com olhos arregalados.

“Você está indo bem. Só se acalme e relaxe.”

Acabo por me sentar mais uma vez e tento clarear meus pensamentos. Por que havia sangue em minhas mãos? O cheiro de grama molhada também vem à minha mente e eu me recordo de estar na frente da casa onde a festa acontecia.

“Havia gente me olhando...” Vou falando enquanto as imagens apareciam em minha cabeça. “E eu estava na grama. Com sangue nas mãos.”

“Onde sua irmã estava?”

“Ela...” Lembro-me de ouvir sua voz gritando meu nome. “Ela estava me segurando. Mandando eu parar.”

“Certo.” Ela continua a fazer as anotações em sua prancheta e, quando termina, me encara com paciência. “Eren, você se lembra em quem estava batendo?”

Minha mente se recusa a aceitar suas palavras. Eu não estava batendo em ninguém. Eu não estava... Faziam anos, eu não havia—

“Eren.” Hanji me chama, notando o quão assustado eu pareço. “Eren, se acalme e ouça a minha voz.”

“Eu não fiz isso.” Não me seguro e começo a chorar. “Eu não fiz.”

Ouço Hanji suspirar enquanto eu tento controlar meus sentimentos. As coisas estavam ficando mais claras em minha mente.

“Eu fui procurar a Mikasa... Havia um cara idiota segurando seu braço. Sei que ela sabe se defender, mas meu sangue ferveu ao escutar ele a xingando de vadia por não querer nada com ele. Eu não podia deixar ele ir embora assim.”

“E você se lembra do que fez?”

Fico alguns segundos pensando em sua pergunta. Era óbvio o que eu havia feito. Entretanto, não consigo me lembrar de fazê-lo. Lembro do antes e do depois, mas não me lembro de nada durante.

Exatamente como haviam sido minhas outras crises.

“Não consigo lembrar.” Pronuncio em um murmuro.

“Tudo bem.” Hanji faz mais algumas anotações e, depois, deixa a prancheta sobre a mesa. “Eren, você quebrou a socos o nariz daquele rapaz. Ele também teve um dente quebrado e a mandíbula deslocada.”

Meu cérebro não registra direito o que ela diz, como se eu não quisesse aceitar que eu realmente fiz isso.

“Você está ciente de que poderia ter sido preso por agressão? Por sorte você já estava em tratamento e sua família conseguiu comprovar seu distúrbio na policia para você ser mandado para cá. Lembre-se, poderia ter sido muito pior para você.”

Eu não havia o que discutir. Eu sabia o que tinha feito e eu sabia que merecia uma punição. Aquele cara também, claro. Mas o problema agora era eu.

“E onde eu estou?” Pergunto com a voz fraca.

“Na ala psiquiátrica do hospital de Trost.” Ela fala com calma. “Farei um acompanhamento seu durante seus trinta dias aqui.”

Trinta dias. Trinta dias isolado da sociedade em um lugar cheio de malucos como eu. Ou até piores do que eu.

“E a faculdade? Eu tenho aula—“

“Não se preocupe com nada disso enquanto estiver aqui. Todos lá fora estão avisados e apenas aguardam seu retorno.” Ela tenta me acalmar. “Se concentre apenas em melhorar.”

Melhorar. Essa palavra fica ecoando em minha cabeça.

Eu não tenho cura. Já tomei remédios, já fiz tratamentos. De uma forma ou de outra, as crises encontram um jeito de voltar. Eu não tenho controle sobre mim mesmo, meu corpo apenas age instintivamente.

“Eu não tenho solução.” Eu gaguejo, nervoso. “Eu não consigo impedir.”

“Consegue sim, Eren. E vai conseguir.”

Gostaria de poder acreditar na Dra. Hanji. Mas é impossível.

Nada jamais conseguirá controlar o ódio que explode em minhas veias e me tira o controle. Nada.

~*~

Havia dezenas de regras a seguir neste lugar. Nada de celulares, computadores, objetos cortantes ou cordões, por exemplo. Fico sem tênis e sem casaco até meus pais chegarem com roupas para mim. A Mikasa me abraça firme, repetindo mil vezes para mim que tudo ia ficar bem. Meus pais também acreditam nisso. E eu tentava me forçar a acreditar com eles.

Eu poderia receber apenas uma visita por semana, no sábado à tarde. O único telefone que eu poderia usar era o público, no corredor dos quartos, tanto para receber quanto para fazer ligações.

E, o mais importante: eu tinha um horário de atividades a cumprir diariamente. Minha presença em cada uma valia um ponto. No final de minha estadia, se eu não tivesse todos os pontos necessários, eu teria que ficar mais tempo aqui até cumprir tudo que precisava.

Claro que isso não seria um problema para mim, eu não pretendia faltar a nenhuma atividade. Mesmo que umas parecessem idiotas, como “Aula de Pintura” e “Desvendando o mundo da música”. Havia até uma sobre dança. Mas eu iria sobreviver.

Sou levado por um dos monitores, chamado Moblit Berner, para o meu quarto. Noto que nenhum deles tinha porta, apenas uma cortina plástica branca, e eu me preocupo um pouco com privacidade. Chegando nele, me dou de cara com outro rapaz, de idade provavelmente próxima à minha, que estava deitado em sua cama lendo uma revista em quadrinhos. Merda.

“Eren Jaeger, este é Jean Kirstein.” Moblit nos apresenta. “Vocês dividirão esse quarto.”

“Eu...” Gaguejo de leve, observando enquanto o outro cara se levanta e me olha, cruzando os braços. “Não me sinto confortável dividindo o quarto, será que não há algum quarto individual?”

“Todos aqui dividem o quarto.” Moblit sorri. “Vocês vão se dar bem, não se preocupe.”

Antes que eu pudesse dizer alguma outra coisa, Moblit sai do quarto e nos deixa a sós. Jean continua a me encarar, como se estivesse tentando me analisar.

“O que você quer?” Eu pergunto, não segurando o tom e sendo meio rude. Odeio que me encarem.

“O que você tem?” Ele pergunta diretamente, ainda me encarando.

“Hã?”

“Você me escutou, o que você tem?” Ele pergunta novamente, perdendo a paciência. “Matou alguém? Tentou pular da ponte? Saiu correndo pelado pela rua?”

“Ei, não te interessa!” Balanço a cabeça e caminho até a cama livre, do lado oposto do quarto, e deixo minhas coisas sobre ela. Já vi que não me darei bem com esse cara.

“Eu não quero dividir o quarto com um psicopata, então é melhor ir falando logo o que você tem pra eu dar um jeito de ficar longe de você.” Jean torna a sentar em sua cama, mas não deixa de me encarar. “Anda, desembucha!”

“Por que você não me fala primeiro o que tem, então?” Eu o olho de lado, bravo.

“Certo.” Ele cruza os braços. “Eu não tenho nada.”

“Nada?” Rio ironicamente e me viro para encará-lo direito.

“Nada.” Ele afirma.

“Ah, claro. Então por que você está aqui?”

“Foi tudo um mal entendido.” Ele revira os olhos.

“Claro, é sempre um mal entendido.” Eu ironizo e volto minha atenção as minhas coisas, vendo as camisetas que meus pais me trouxeram.

“Agora é sua vez. O que você tem?”

Não faria sentido mentir como aquele cara estava fazendo. Uma hora ou outra a verdade apareceria, seja por mim ou em alguma das seções de terapia em grupo. Então seria melhor deixar as coisas claras de uma vez.

“Eu tenho Transtorno Explosivo Intermitente.” Falo de uma vez, julgando que ele não saberia o que é sem que eu explicasse.

Jean fica em silêncio por alguns instantes antes de dizer alguma coisa.

“Causa social ou biológica?” Ele pergunta abruptamente, me surpreendendo.

“Principalmente biológica, apesar de que algumas coisas que passei na infância tenham ajudado a piorar...” Respondo calmamente. “Você sabe o que é, então?”

“Sei.” Ele se levanta da cama e eu olho para ele. “É melhor não se atrasar pro almoço. Ele também vale pontos.”

Sem dizer mais nada, Jean sai do quarto e me deixa ali, um tanto confuso. Mas eu dou de ombros e volto a organizar meus pertences, colocando minhas roupas no pequeno armário ao lado de minha cama.

Eu iria me acostumar com esse lugar.

~*~

O refeitório não era lá muito diferente do da faculdade. Só era uma versão menor e com menos gente, mas com fila e comida ruim da mesma forma. Sinto vontade de vomitar quando colocam aquela gororoba verde em meu prato, dizendo que era um purê de vegetais. Onde é que se faz um purê de vegetais?

Com a bandeja em mãos, olho em volta do refeitório para encontrar um lugar afastado para me sentar. Todas as mesas estavam cheias, umas mais do que as outras – como a que eu mentalmente chamo de “dos velhos”, já que havia apenas idosos nela, e a de “prováveis criminosos”, onde só havia mal-encarados – então sou obrigado a encontrar um lugar sobrando em alguma das outras. Vou andando por entre as fileiras, analisando as pessoas sentadas em cada uma, até encontrar uma com duas garotas de aparentemente minha idade. Penso em me sentar na beirada oposta da que elas estavam até me dar conta de que Jean estava lá. Sem outra opção, acabo seguindo até lá ainda assim, me sentando de frente para ele.

“Tá me seguindo?” Ele me olha, irritado.

“Não tem outro lugar.” Eu resmungo, colocando a bandeja sobre a mesa.

“Tsc. Não vim aqui para fazer amiguinhos.” Ele revira os olhos e continua a comer.

“Nem eu.” Dou de ombros. “Tudo que eu quero é fazer tudo para sair daqui logo.”

Jean só me dá uma olhada e continua a comer, sem me dizer outra coisa. Aproveito o silêncio enquanto como para olhar em volta, observando as outras pessoas internadas. A maioria era já adulto, provavelmente da idade de meus pais. Havia poucos jovens em lugares espalhados, e começo a prestar mais atenção neles. Alguns comiam com dificuldade, outros tinham cicatrizes no rosto. Vejo um cara grande e com expressão brava que me lembra o cara que quebrei o nariz. Duas mesas a frente vejo uma garota pequena e de longos cabelos dourados que sorria enquanto conversava com todos em sua mesa. Sua forma de agir, parecendo tão alegre e segura de si, me faz me perguntar a razão de ela estar ali.

“Ei.” Chamo o Jean, ainda a observando.

“O que foi?” Ele me olha com impaciência.

“Por que aquela garota está aqui?” Eu indico com a cabeça onde ela estava.

Jean se vira e a olha rapidamente.

“Ah, a Christa.” Ele volta a sua posição inicial e continua comendo. “Não se engane pelo sorriso.”

“O que ela tem?” Pergunto, sem me preocupar se estava sendo intrometido demais. Eu estava apenas curioso.

“Ela é bipolar. Uma hora extremamente feliz e carinhosa e outra extremamente depressiva e reclusa. Já presenciei uma de suas crises, não foi legal.”

“Nossa, nem parece. Acharia que ela é uma garota normal.” Continuo olhando para ela, que agora ria de algo que alguém disse.

“A questão é, o que é ser normal?” Jean murmura, praticamente para si mesmo. “De qualquer forma, as aparências enganam muito, principalmente nesse lugar. Se acostuma com isso.”

Aproveito que Jean estava se mostrando comunicativo e o pergunto sobre algumas das outras pessoas que estavam ali. Por exemplo, o cara grande, que descobri se chamar Reiner, era esquizofrênico. Chutaria que ele tem algum problema como o meu, não isso. Realmente as aparências enganam.

Após o almoço, tenho duas horas vagas que uso para passear pela ala psiquiátrica inteira. E ela não era nada grande, demoro menos de cinco minutos para conhecer todos os lugares. No fim, ainda presencio alguém passar por uma crise e ter que ser anestesiado para se acalmar. Foi meio assustador.

Naquela tarde teria a primeira atividade, que seria na sala de artes. Chego lá e encontro algumas pessoas sentadas em torno de uma mesa grande. Ao me ver, a instrutora vem até mim.

“Olá, vejo que você é novato.” Ela sorri e me indica um lugar livre para me sentar. “Meu nome é Petra e você pode me chamar sempre que precisar. Qual o seu nome?”

“E-Eu sou o Eren.” Eu concordo e me sento rapidamente no lugar, que era entre duas pessoas que já havia visto no almoço.

“Muito prazer, Eren!” Ela me entrega algumas folhas em branco. “Os lápis de cor são de uso coletivo, então é só aguardar sua vez para usá-los.”

“Ok.” Concordo rapidamente.

Alguém do outro lado da mesa a chama e, assim que ela vai atendê-lo, eu observo o que as outras pessoas estavam fazendo. A senhora a minha frente desenhava uma casa, e o homem ao meu lado fazia rabiscos sem sentido na folha inteira. Pego um dos lápis de cor para fazer algo, mas não consigo pensar em nada.

“Srta. Petra...” A chamo. “O que é pra eu fazer?”

“Ah, sim...” Ela se aproxima novamente. “Essa atividade é de expressão artística. Quero que cada um expresse o que está sentindo por meio da arte. Então apenas liberte tudo que está sentindo nesse papel!”

Eu olho para o papel em branco novamente e o lápis verde em minha mão. Mas nada me vem à cabeça.

“Mas eu não tô sentindo nada.” Eu falo, confuso.

“Então desenhe o que você gostaria de estar sentindo.”

Mas não havia nada que eu gostaria de estar sentindo também, então continuo observando as outras pessoas até decidir desenhar qualquer coisa e acabar desenhando o meu cachorro.

No fim da atividade, Petra me diz que eu deveria me libertar mais, mas eu não entendo como eu poderia e volto para o meu quarto sem pensar a fundo no assunto.

Jean já estava lá quando eu chego, de novo na mesma posição lendo quadrinhos na cama. Ele nem me olha enquanto eu sigo até minha cama e sento. Eram sete da noite, ainda muito cedo para dormir. Mas não havia mais nada pra fazer.

“Ei, Jean, o que tem pra fazer aqui no tempo livre?”

“Melhor pedir pra alguém trazer algumas revistas ou algum vídeo-game portátil pra você. Não tem nada aqui.”

“Sério?”

“Tem a sala de televisão, mas tá sempre cheia.”

“E aquela sala de jogos?”

“Bom, não conheço nenhum jogo que dê para jogar sozinho.”

“Você não quer jogar nada?”

“Vai sonhando.”

Entediado, deito na cama e fico olhando para o teto.

“Há quanto tempo você tá aqui?” Eu o pergunto.

“Uma semana.”

“E vai ficar trinta dias também?”

“Sim. Deu com o interrogatório? Eu tô tentando ler.” Ele balança o quadrinho em sua mão.

“Tá.” Resmungo.

O silêncio misturado com o tédio acaba por me dar sono e eu acabo adormecendo pouco depois.

Ao menos dormir eu ainda conseguia.

~*~

A minha conversa com Hanji seria todas as manhãs. Acordo cedo demais por ter dormido naquele horário e vou para o café da manhã sem nem me trocar direito. E eu nem precisaria me importar com isso mesmo; todos aqui pareciam passar o dia de pijamas.

Como sozinho, já que Jean não acorda no mesmo horário que eu, e vou encontrar-me com Hanji. Ela me faz perguntas genéricas sobre estar gostando do lugar e ter feito algum amigo, e eu só falo do Jean mesmo. Não que eu esteja considerando ele um amigo, mas ele foi a única pessoa que conversei desde que cheguei. Ela me receita alguns medicamentos que teria que tomar todos os dias antes do almoço e de dormir e nossa conversa termina. Não imaginava que seria tão rápido e fácil assim, mesmo que só seja o segundo dia.

Tenho que enrolar até a hora do almoço, quando enfim me encontro com Jean novamente. Ele não se incomoda quando sento de novo em sua frente, talvez já desconfiando que eu o seguiria quando o visse. Não que eu precise sempre de companhia, mas eu gosto de ter com quem conversar caso queira. Ou precise de algo.

Enquanto estava me forçando a engolir a gororoba do dia – um macarrão a bolonhesa de procedência questionável – noto que alguém adentra o refeitório acompanhado por Moblit. Era um rapaz pequeno e de cabelos pretos que encobriam seus olhos, mas não disfarçavam suas olheiras enormes. Será que era um novato? O que será que ele tinha?

Noto que ele mal reage e apenas se deixa ser levado por Moblit, que o coloca sentado em uma mesa ao fundo, longe da maioria das pessoas. Alguém traz uma bandeja com comida para ele e, depois de o dizer algumas coisas, Moblit o deixa sozinho.

Era estranho como ele apenas encarava o prato de comida, sem nem se mexer.

“Ei, Jean.” O chamo, ainda encarando o outro rapaz. “Quem é aquele cara?”

“Ugh, Eren, eu não sou seu guia...” Ele resmunga, mas olha na direção que eu indico de qualquer forma. “Ah, ele enfim saiu do quarto.”

“Quem é ele?”

“Levi. Acho que é a pessoa que tá aqui há mais tempo.” Jean dá de ombros e continua a comer. “Parece que ele não quer sair, ele não faz nada.”

“Você sabe o que ele tem?” Fico um tanto chocado.

“Depressão, sei lá. Ele nunca vai às terapias em grupo e nem participa das atividades, então não dá pra saber ao certo...”

“Ele parece apático.” Continuo o observando. Seu rosto parecia cansado e pesado, como se ele nunca conseguisse dormir. “Por que ele não come?”

“Não faço idéia. Acho que ele faz fotossíntese, nunca o vi comer nada.”

“Sério? Ele vai ficar mais doente desse jeito.” Saber disso me deixa um tanto incomodado. Como alguém poderia se deixar chegar nesse estado?

“Fala isso pra ele.” Jean diz, indiferente.

“Vou mesmo.” Em um impulso, me levanto de meu lugar, ainda olhando para o Levi. “Ele não pode continuar desse jeito.”

“Ei, calma...” Jean me olha, surpreso. “Cada um tem seu próprio problema, não se intromete com o dele.”

“Algumas pessoas precisam de um empurrão, sabia?” Ignoro a falta de iniciativa de Jean e saio de meu lugar, seguindo até a mesa do outro rapaz.

Eu sentia que o que estava fazendo era o mais certo. E era nobre, de certa forma, já que estava fazendo pelo bem dele.

Sem hesitar me sento à sua frente e o encaro. Levi levanta o olhar de seu prato para mim, ainda com a mesma expressão de antes. Mórbida, sem esperança.

“Oi.” Eu o digo.

Ele não responde nada e continua olhando pra minha cara.

“Olha, eu estava te observando de minha mesa e vi que você não ta comendo nada. E, como eu não tinha te visto ainda aqui no refeitório, deduzi que você não tem comido muito.” Sua expressão continua inalterada enquanto eu falo. “Você precisa se alimentar se quiser melhorar.”

Fico esperando por uma resposta sua, mas ele não diz nada. Nem reage ou se move. Simplesmente nada.

“Ouvi dizer que você está aqui há um tempão. Você não quer sair daqui logo? Comer vale pontos pra sair também.” Tento explicar calmamente, ainda positivo de que teria uma resposta em algum momento, e não noto que meu tom cresce a cada frase que digo. “Por que você não tenta? Essa comida só parece ruim, mas ela é boa. Você precisa de energia pra melhorar.”

Nada do que eu falo gera qualquer reação.

“Seu nome é Levi, não é? O meu é Eren. Quantos anos você tem?” Eu tento fazer perguntas, mas ele apenas continua me olhando. “Olha, eu só estou tentando ajudar porque eu quero sair daqui, e eu imagino que você queira também. Mas, pra isso, você precisa comer. Você precisa se alimentar.”

Não noto que as pessoas em volta nos olham curiosas, meu tom de voz tendo crescido bastante a essa altura.

“Por que você não responde? Por que você não come nada?” Eu pergunto, colocando minhas mãos sobre a mesa. “Você precisa estar forte para melhorar!”

Eis que sinto uma mão em meu ombro. Era Moblit.

“Eren, volte para o seu lugar.” Moblit me pede, sério.

“Eu só estava tentando ajudar...” Eu explico, confuso. “Ele precisa comer.”

“Sim, Eren. Mas o Levi precisa de espaço. Você pode deixá-lo?”

Dou uma ultima olhada para ele e o encontro ainda do mesmo jeito. Sem poder discutir, retorno para o meu lugar, onde sou recebido por um Jean aflito.

“Você tá doido?” Jean me xinga, murmurando. “Você não pode fazer isso!”

“Eu só tava tentando ajudar...” Suspiro pesado, pegando meu garfo. “Não suporto ver alguém assim.”

“Não se meta no problema dos outros e foca em melhorar sozinho.” Jean me diz.

Olho para Levi novamente e, para a minha surpresa, o encontro me olhando. Ainda do mesmo lugar, da mesma posição. Trocamos olhares por alguns segundos até que ele se levanta e sai do refeitório sem nem encostar em seu prato.

Acho que nunca fiquei tão intrigado por alguém antes.

~*~

Tenho a primeira atividade de música naquele dia, que era, literalmente, escolher um instrumento e explorá-lo – ou seja, tentar aprender a tocar sem ter noção alguma. Nunca ouvi tantos barulhos irritantes ao mesmo tempo. Eu peguei um violão e fiquei tentando alguns acordes que havia aprendido, mas o barulho era tanto que eu desisto em certo momento e só espero a atividade acabar.

Durmo meio mal naquela noite, por algum motivo. Acordo com tempo apertado para tomar café da manhã e para me encontrar com Hanji, então chego na sala dela ofegante por ter corrido.

“Ei, Eren.” Ela me cumprimenta quando entro. “Senta aí.”

“Eu demorei?” Fecho a porta e sigo para sentar na cadeira em frente a sua mesa.

“Chegou bem na hora.” Ela pega sua prancheta. “Ah, antes de começarmos, o Moblit me disse que ontem você foi conversar com o Levi no almoço...”

“Ah, sim...” Não imaginava que isso chegaria aos ouvidos dela. “Fiquei preocupado. Ele não tem comido, né?”

“Sim... Mas não se preocupe com ele, nós estamos acompanhando e tentando ajudá-lo da melhor forma possível.”

“O que ele tem pra estar assim?”

“Ele passou por uma situação muito difícil e ainda não conseguiu sair dela. Mas você não deve se preocupar com isso, ele precisa de mais tempo e nós estamos aqui o apoiando.”

Eu deveria me convencer pelas palavras de Hanji, mas não consigo tirá-lo da cabeça.

“Vamos começar?” Hanji me pergunta, me acordando de meus pensamentos.

Eu apenas concordo com a cabeça e ela começa com seu questionário diário. Como eu estou, como as coisas estão indo por aqui. Depois ela começa a falar sobre meu transtorno e propor formas de relaxamento.

E eu não consigo me concentrar totalmente em nada.

Na hora do almoço, sento-me com Jean no mesmo lugar dos dias anteriores. Como lentamente, sem apetite, até que a porta do refeitório se abre e era Moblit trazendo Levi de novo. Mais uma vez ele é colocado sentado no fundo e fica encarando o seu prato de comida, sem tocá-lo.

Ele não ia comer de novo? Será que ele não ficava com fome nunca?

O que será que ele passou para ficar desse jeito, sem vontade de fazer nada?

Talvez eu não devesse ter me metido daquele jeito. Acho que fui muito brusco, sendo que Hanji me disse que ele precisa de tempo.

Será que ele se sente sozinho? Sem ninguém para conversar ou com quem contar? Alguém que o acompanhe pelas atividades difíceis e que o apóie durante elas?

Assim eu decido pegar minha bandeja e me levantar, sem dizer nada para o Jean. Noto que Moblit me olha em alerta, mas eu continuo e sigo até a mesa que Levi estava.

“Oi de novo.” Eu digo, parado ao lado da mesa, e ele levanta o olhar para mim. “Desculpa por ontem, eu fui estúpido e rude. Mas eu posso sentar aqui de novo?”

Levi continua me olhando, sem dizer nada. E eu continuo ali patético com minha bandeja em mãos. Quando noto que ele realmente não ia responder, decido puxar a cadeira em sua frente e me sentar, de qualquer forma.

“Desculpa de novo, não quero encher o seu saco...” Pego meu garfo e parto um pedaço da lasanha em meu prato. “Mas pensei em sentar aqui pra comermos juntos.”

Mantenho minha atenção em meu prato e continuo comendo tranquilamente, como se estivesse tudo normal e eu estar ali fosse a coisa mais natural do mundo. Dou uma olhada para ele e o vejo ainda me olhando, sem tocar seu prato.

“Essa lasanha ta ótima.” Comento, colocando uma garfada em minha boca. “Nossa, hoje eles se superaram.”

Enfim percebo uma mudança em sua expressão: ele me olha com as sobrancelhas levemente franzidas. Isso me deixa feliz, já que eu temia nunca conseguir qualquer reação dele.

“Você vai comer?” Eu pergunto, com a boca cheia. “Se não, deixa seu pedaço pra mim que eu quero.”

Ele continua me olhando enquanto eu como, ainda com sobrancelhas franzidas. Eu o encaro de volta, tentando parecer o mais empolgado em comer que consigo. Ficamos assim por alguns segundos até que eu aponto para seu garfo, gesticulando para que ele comesse.

E ele move o braço. Ele o levanta lentamente, com a mão tremula, e pega o garfo. Ele o segura em seus dedos e corta um pedaço pequeno da lasanha. Eu chego a parar de mastigar para assistir enquanto ele leva o pequeno pedaço à boca.

Ele mastiga. Uma, duas vezes.

E se levanta abruptamente para sair correndo.

“Levi!” Eu o chamo, mas ele sai do refeitório e Moblit corre atrás dele.

Eu não podia deixar as coisas assim, então decido ir atrás dele também e saio do refeitório. Vejo Moblit tentando alcançá-lo enquanto ele segue até os quartos e vou atrás deles, até ser impedido, no meio do caminho, por Hanji.

“Woa, calma aí, garoto!” Hanji diz, risonha. “Pra que a pressa?”

“Preciso ver como o Levi está! Ele saiu correndo e—“

“Não se preocupa, o Moblit já foi atrás dele. O que aconteceu, hein?”

“Eu sentei com ele pra conversarmos e ver se ele se sentia mais confortável para comer, mas, quando ele enfim foi comer algo, ele saiu correndo.”

“Ah, isso já aconteceu, não se preocupa.” Hanji me acalma. “O Levi tem problemas pra comer, Eren. Por isso ele não come.”

“Sério?”

“Sim. Por isso eu disse que ele precisa de tempo... Por enquanto seu corpo está sob tanto stress que está rejeitando comida.”

Então ele tem sempre vomitado? Isso é péssimo para sua saúde. Como ele ia melhorar continuando assim?

“Mas... Ele não tem comido nada?”

“Ele come, às vezes, durante a madrugada. Abrimos uma exceção pra ele e o servimos algo fora do horário, se não ele não comeria nunca.” Ela me explica, ainda paciente. “Mas, Eren, eu preciso te pedir pra agir com calma com ele. O Levi gosta de se isolar e se sente pressionado com outras pessoas. É preciso ter calma com ele.”

“Eu sei. Eu só tava tentando ajudar.”

“Eu sei que estava. Mas deixa ele sozinho agora, tá?”

Hanji dá uns tapinhas em meu ombro e me deixa ali, perdido em meus pensamentos. Será que eu fiz algo errado? Será que eu o pressionei a comer e, por isso, o fiz vomitar? Será que eu estraguei tudo?

Não sinto apetite para voltar para o almoço e apenas rumo ao meu quarto.

~*~

Não vejo Levi pelo restante do dia e nem no dia seguinte. Até penso em procurar saber como ele estava, mas decido seguir o que Hanji me pediu e o deixo sozinho.

Talvez ele não quisesse a companhia de ninguém. E eu estava sendo um estorvo, atrapalhando sua lenta recuperação.

A atividade do dia seguinte era de dança. Não havia nenhuma técnica especifica, só precisávamos nos soltar ao som do estilo de música que colocassem naquele dia. E o escolhido para a noite foi jazz. Dancei um pouco com Christa, que estava puxando todos que não queriam participar para dançar um pouco com ela. Mas depois apenas retornei ao meu canto e fiquei curtindo as músicas sem dançar com mais ninguém.

Assim que a atividade acaba, ando em passos lentos até meu quarto. Como sempre, estava cedo, Jean provavelmente ia ficar lendo a noite inteira e eu ficaria em um tédio tremendo até cair no sono.

No corredor dos quartos, entretanto, avisto Levi sentado em um banco perto do telefone. Não esperava vê-lo tão cedo e acabo ficando parado ali, sem ação, até que ele nota minha presença e olha para mim. Eu engulo seco e vou até ele.

“Ei.” Eu paro ao seu lado, sem jeito. “Tudo bem?”

Ele não me responde e só fica me olhando. Eu devia ter esperado uma reação como essa.

“Você... Tá esperando uma ligação?” Tento puxar assunto. “Ou talvez vai ligar para alguém...”

“Só estou aqui porque me proibiram de ficar em meu quarto.” Ele responde em um tom baixo e irritado. Não esperava ouvir sua voz tão cedo e isso me deixa empolgado.

“Ah, que chato!” Falo, mostrando em meu tom que estava feliz. “Por que não participou da atividade de dança?”

“Não participo das atividades.” Ele responde brevemente.

“Mas ela foi divertida, acho que ia gostar... Hoje foi jazz. Eu podia dançar com você se você não tivesse par.”

“Eu sou casado.” Ele levanta a mão esquerda e me mostra seu anel dourado.

Minhas orelhas queimam e, por um segundo, eu tenho vontade de enterrar minha cabeça na terra. Não era minha intenção parecer estar dando em cima dele.

“E-Eu não queria dizer nesse sentido...” Eu balanço os braços em defesa. “Só estava tentando ser simpático.

Ele não diz mais nada e cruza os braços, olhando para o nada. Fico em dúvida se deveria ir embora ou continuar puxando assunto e acabo optando pela segunda, já que ele enfim havia respondido algo para mim.

“Sua esposa vem te ver aqui sempre?” Tento puxar assunto novamente.

Levi me olha com um olhar irritado e repentinamente se levanta. Ele passa por mim sem nem me olhar e ruma para os quartos, adentrando em um no final do corredor. Será que fiz a pergunta errada? Será que o irritei demais vindo puxar assunto?

Não chego a conclusão nenhuma sobre o assunto e torno a caminhar até meu quarto.

~*~

O dia seguinte era um sábado, enfim o primeiro de visitas. Eu ligo para Mikasa pela manhã e a peço para trazer alguns mangás e meu Nintendo 3DS para passar o tempo, já que estava impossível continuar nesse tédio.

Meus pais e Mikasa chegam logo no começo da tarde e eu vou vê-los na sala de visitas. Jean estava em uma das poltronas sentado ao lado de sua mãe, que o trouxe alguns lanches e o perguntava centenas de vezes se ele estava bem. Também vejo Christa em um dos sofás, abraçada em uma garota alta que a trouxe uma bolsa provavelmente cheia de roupas limpas.

Em meu caso, recebo mais roupas limpas de meus pais e Mikasa me entrega tudo o que pedi. Todos me perguntam como as coisas estavam indo, mostrando todo o apoio que eu precisava no momento.

No meio das perguntas de meus pais, ouço a porta ser aberta e observo uma garota ruiva entrar e se sentar em uma poltrona perto das janelas. Poucos minutos depois me surpreendo ao ver Levi entrando na sala e indo até ela. Os dois se abraçam e conversam baixo naquele canto. Seria ela sua esposa? Tento procurar um anel em seu dedo, mas da distância que estava não conseguia ver nada.

A conversa dos dois não dura muito e eles logo se despedem. Se meus pais não tivessem no meio de um assunto, eu com certeza teria corrido atrás de Levi para perguntá-lo sobre a garota. Bom, talvez não perguntá-lo assim de repente, de forma tão invasiva, mas tentaria puxar algum assunto com ele a respeito disso.

Apenas saio da sala de visitas no final da tarde. Dou uma caminhada pelos corredores para tentar encontrar Levi, mas não o encontro em lugar algum. Provavelmente ele estava escondido em seu quarto, como sempre. Eu até cogito ir até lá, mas desisto ao ver Reiner adentrando nele. Então ele quem era seu colega de quarto. Bela combinação, um mal fica no quarto e o outro mal sai dele.

Sigo para o meu quarto para deixar minhas coisas e encontro Jean organizando seu armário cuidadosamente, dobrando as camisetas e as guardando sem amassar. Provavelmente elas haviam sido passadas por sua mãe, e eu não deixo de notar que ele parece agradecido por isso. Entretanto, quando ele nota minha presença, ele faz uma bola com o resto das roupas e as guarda de qualquer jeito, batendo a porta do armário com força no fim.

“Não apareça assim, como se fosse um fantasma!” Ele me xinga, seguindo até a cama e se atirando sobre ela.

“Foi mal.” Eu seguro o riso e vou até minha cama.

Ajeito minhas coisas em meu armário e pego meu 3DS para jogar. Como Jean já havia pegado seus quadrinhos para ler novamente, decido me atirar na cama e fico jogando até cair no sono.

~*~

Domingo era o dia de programação especial. Não havia entendido direito como seria quando Hanji me explicou, mas, basicamente, todos eram obrigados a participar e passávamos o dia juntos na sala de jogos e de televisão comendo algo diferente e socializando um com o outro.

Nesse domingo foi decidido que pediríamos pizzas e faríamos um pequeno torneio de ping-pong. Alguns dos mais velhos pareciam bastante empolgados, dizendo que eram os melhores, então eu nem me envolvo muito e deixo para ser um dos últimos a jogar – contra Jean, já que ele estava ao meu lado na hora que as duplas e a ordem das partidas foram decididas.

Fico aguardando o Levi aparecer, mas ele nunca passa por aquela porta. Os monitores conferem os nomes das duplas e vão atrás dos pacientes que não estavam participando, incluindo ele. Poucos minutos depois ele aparece na sala de jogos, tendo sido trazido por Moblit. Ele é colocado para jogar contra uma senhora que sempre se perdia pela ala – e por isso ainda não estava ali – e depois se senta em um banco ao fundo, perto da parede. Eu não consigo evitar olhar para ele, e como eu não estava sendo discreto, sou logo notado por ele. Mas ele não reage, só me olha de volta por alguns segundos e vira o rosto.

Quando as pizzas chegam e o torneio começa, pego duas fatias e sigo na direção dele. Puxo uma cadeira e sento ao seu lado, o entregando uma delas.

“Peguei pra você antes que acabe.” Fico segurando-a em sua frente, esperando que ele a pegue. “Parece boa.”

Ele não reage, nem para aceitar e nem para recusar.

“Desculpa... Estou sendo um babaca, não estou?” Eu coloco a fatia sobre o móvel atrás de nós. “Não quero te forçar a nada, só estou tentando ser gentil.”

“Por que você está falando comigo?” Ele pergunta, sem me olhar. Seu olhar se mantém fixo em um ponto aleatório, como se ele tivesse perdido em pensamentos.

“E-Eu?” Gaguejo estupidamente. “B-Bom, eu...”

Ele vira a cabeça de leve para poder me olhar e eu engulo seco.

Acho que eu deveria ser honesto.

“Desculpa. Eu só... Não consegui te ver naquele estado. Senti uma angústia e vontade de te ajudar que não consegui controlar.”

“E por que acha que pode me ajudar?” Seu olhar se torna mais firme e um tanto bravo.

“Desculpa, acho que me expressei errado...” Me perco entre as palavras, tentando acalmá-lo. “Não queria parecer convencido e nem nada. Eu só senti e quis ir falar com você. Não quis nada mal com isso...”

Levi não me diz nada e volta a olhar para frente. Eu continuo bastante nervoso, temendo tê-lo ofendido de alguma forma, e penso em alguma outra coisa para dizer e tentar me explicar.

Mas as palavras somem de minha mente quando ele pega a fatia de pizza do móvel e fica a segurando entre as mãos.

“Eu não preciso que sintam pena de mim. Eu sei bem o estado que estou e como pareço no fim da linha.” Ele murmura, observando a fatia. “Mas vou levar seu gesto como gentileza. Você parece inocente o suficiente para fazer algo estúpido assim.”

“Desculpa.” Peço de novo, apesar de feliz com suas palavras.

“Chega de pedir desculpas.” Ele suspira levemente.

Não consigo pensar em nada para dizer e fico em silêncio até decidir começar a comer minha fatia de pizza. Enquanto mastigo, vejo do canto do olho Levi partir um pequeno pedaço com a mão e o levar à boca. Ele mastiga lentamente algumas vezes. E engole.

Fico tão feliz por ele não ter saído correndo que como com ainda mais vontade.

“Ah, eu vi sua esposa ontem.” Decido comentar, com a boca ainda meio cheia. “Vocês parecem se dar bem.”

“Ela é minha cunhada, não minha esposa.” Ele me corrige, partindo outro pedaço pequeno.

“Ah, desculpa...” Coro. “Mas que bom que ela veio te ver! Ela sempre vem?”

“Sim.” Ele responde, sem prolongar, e come o pedaço.

Fico ansioso assistindo ele mastigar mais uma vez. Mas, da mesma forma, ele engole sem sair correndo. Além do alivio que ver isso me dá, me recordo do que Hanji disse sobre ele não comer por estar estressado. Talvez ter visto a sua cunhada o acalmou e, por isso, ele está conseguindo comer com outras pessoas.

“Mas e sua esposa, ela não vem te ver?” Decido continuar o assunto.

“Eu nem tenho uma esposa.” Ele me fala friamente.

Não consigo entender nada. Ele não é casado? Como ele pode não ter uma esposa?

Será que eles se divorciaram e ele não conseguiu superar isso, por isso veio parar aqui? Ou pior, será que ela morreu?

“Ei, Eren!” Ouço a voz de Jean e olho para a direção de que ele me chamou. “Vem cá, é nossa vez!”

Surpreso e desajeitado, peço licença para Levi e vou até a mesa de ping-pong. Dou uma olhada para ele antes de começarmos nossa partida e o encontro nos assistindo. Isso me traz uma sensação tão boa que acabo sorrindo para ele.

Eu pretendia jogar apenas por diversão, sem me preocupar em ganhar e nem nada. Mas os comentários provocativos de Jean sobre meus erros me deixam tão irritado que decido dar tudo de mim.

E Jean continuava dando tudo dele. Nunca imaginei participar de uma partida de ping-pong tão intensa assim. Eu não me distraio nem por um segundo, atento à bola e evitando ao máximo qualquer erro.

Assim acabo ganhando por dois pontos de diferença. Jean joga sua raquete no chão, com raiva.

“Você me paga, Eren!” Ele grita, deixando todos surpresos.

Para encerrar a cena, Jean empurra algumas pessoas do caminho e sai da sala de jogos, batendo a porta com força. Não esperava que ele fosse reagir assim, já que era apenas um jogo bobo, e fico imóvel. Penso em segui-lo para ver como ele estava, mas olho para o banco onde Levi estava e o encontro lá ainda. Não resisto ir até ele.

“Seu amigo pareceu irritado.” Levi comenta, soando desinteressado.

“É, não entendi porque ele ficou assim.” Passo a mão por meu cabelo, sem jeito.

Quando penso em me sentar de novo ao seu lado, Levi se levanta repentinamente.

“Minha partida é a próxima.” Ele explica. “Vou jogar e voltar pro quarto.”

“N-Não quer...” Eu gaguejo, inseguro. “Não quer ficar mais um pouco? A-Acho que tem pizza ainda...”

“Acho que deveria ir atrás de seu amigo.” Ele me diz.

Levi passa por mim e segue para a mesa de ping-pong. Eu queria ficar ali e assistir sua partida, mas ele me lança uma olhada tão fria que decido ir mesmo atrás de Jean.

O encontro em nosso quarto, caído de bruços em sua cama. Entro com cuidado, tentando não irritá-lo ainda mais, e planejo algo para dizer a ele.

“O que foi?” Opto pelo simples.

“Cala a boca, Eren.” Ele resmunga detrás de seu travesseiro.

“Sério, precisava sair daquele jeito?” Fico um tanto irritado. “Foi só um jogo!”

“Já mandei calar a boca!” Jean abruptamente pega seu travesseiro e joga em mim.

Levar uma travesseirada na cara não me surpreende tanto quanto o que acontece em seguida. Seguro o travesseiro para evitar que ele caísse e, de dentro da fronha, vários comprimidos caem no chão.

“O que é isso?” Pergunto, olhando para o chão em choque. Alguns dos comprimidos lembravam aos que eu mesmo tomo.

“Não é da sua conta.” Jean se levanta, com o rosto avermelhado, e toma o travesseiro de minha mão. “Vaza daqui.”

Ele se ajoelha no chão e começa a catar os comprimidos, colocando-os dentro da fronha novamente.

“Você não ta tomando seus remédios?” Eu concluo, chocado.

“Já mandei sair daqui, Eren.” Ele resmunga, bastante bravo.

“Jean, você precisa tomar os remédios pra melhorar!” Eu repito o óbvio. “Você não quer sair daqui logo? Sem tomar seus remédios você não vai conseguir!”

Assim que termina de coletar todos os comprimidos do chão, ele se levanta e me segura pela camisa.

“Cuida da sua vida.” Ele me diz lentamente, bufando.

Após isso ele me empurra e volta para sua cama, colocando o travesseiro sobre ela e se deitando novamente. Fico sem saber o que fazer completamente. Não imaginava que Jean faria isso; ele parecia tão firme na idéia de sair daqui, participando de todas as atividades e fazendo tudo certo. Será que ele realmente acredita que não tem nada e, por isso, não toma os remédios?

Sem saber o que fazer, acabo decidindo ir para minha cama e me deitar também. Pensaria com calma no que fazer para ajudá-lo.

~*~

Jean me ignora na manhã seguinte e nem olha para a minha cara no café da manhã. Vou para minha conversa com Hanji e ela me pergunta sobre a visita de sábado e sobre o torneio de ping-pong no domingo. Eu comento brevemente sobre os dois, mencionando a reação exagerada de Jean e o fato de Levi ter comido a pizza que eu levei para ele.

Hanji apenas me diz que pareço ser alguém que se preocupa muito mais com os outros do que comigo mesmo. Eu concordo, mesmo achando que eu poderia fazer muito mais do que faço.

Na hora do almoço, vejo Jean sentado no mesmo lugar de sempre e penso em me sentar com ele, mas desisto quando me dou conta que eu ainda nem sabia o que dizer para ele ainda. Queria dizer algo que o convencesse a tomar seus remédios direito.

Em meio à minha dúvida de onde sentar, vejo Moblit adentrar o refeitório, trazendo Levi consigo. Apenas aguardo que ele o deixe sozinho para ir até ele.

“Ei.” O cumprimento, sentando no banco à sua frente.

Ele me olha com indiferença. “Por que não estava sentado com seu amigo?”

“Ah...” Pego meu garfo e mexo um pouco com a comida. “Eu fui atrás dele como você me disse ontem e... Acabei descobrindo um segredo seu. Agora ele ta com raiva de mim.”

“Você descobriu que ele não toma seus remédios?” Levi se ajeita em sua cadeira e olha para seu prato, não parecendo com vontade de comer.

Suas palavras me surpreendem. “Como você sabia disso?”

“Eu o vi fingir que estava engolindo os comprimidos e depois os guardando no bolso. Mais de uma vez.”

“Sério?” Fico um tanto chocado. “O que acha que eu devia fazer?”

“Não sei. Mas, se ele quer melhorar, ele precisa tomar os remédios.”

Fico pensativo enquanto levo uma garfada à boca e mastigo. Será que eu deveria contar à Hanji? Acho que Jean não me perdoaria. Gostaria de convencê-lo sem precisar contar a mais ninguém.

“Você toma seus remédios?”

“Só o para dormir, de vez em quando. E algumas vitaminas.” Ele me responde sem hesitar.

Então ele só notou que Jean não toma seus remédios porque ele faz o mesmo. Isso me deixa um tanto angustiado, mas eu não falo nada.

Afinal, ele mesmo estava consciente de que precisava tomá-los para melhorar.

Será que ele realmente não quer melhorar e nem sair daqui?

“Por que você tá aqui?” Decido perguntar.

Levi coloca os cotovelos sobre a mesa e olha em volta. Depois, ele olha para mim, parecendo cansado e desinteressado.

“Os médicos chamam de Transtorno de Estresse Pós-Traumático.” Ele fala lentamente, pegando o garfo de seu prato e brincando com a comida.

“Por causa de sua esposa?”

“Eu já disse que não tenho esposa.” Ele revira os olhos.

“M-Mas...” Ainda não fazia sentido para mim. O que aquele anel queria dizer, então? E quando ele me disse que era casado?

“Meu marido morreu há seis meses.” Ele interfere meus pensamentos com sua revelação. “Seis meses e dezesseis dias. Estaria contando as horas se eu soubesse a hora certa em que ele morreu, mas não quiseram me dizer.”

Fico sem palavras. Confesso que fui burro em não pensar que ele poderia ser gay, mas o que me deixa mais chocado é saber de verdade o que ele estava passando.

“Eu sinto muito.” Eu digo, o mais sincero que consigo.

“Eu também.” Ele continua brincando com sua comida. “Você não imagina o quão.”

Queria abraçá-lo quando vejo suas sobrancelhas se franzirem. Levi inspira fundo e coloca o garfo ao lado do prato para se encostar em sua cadeira.

“Você devia decidir como vai ajudar seu amigo.” Ele me diz antes de afastar sua cadeira para se levantar.

Não impeço que ele saia do refeitório, mesmo sabendo que ele não comeu nada mais uma vez. Tudo que consigo pensar é na dor que ele deve estar sentindo e em como ele deve estar lutando para continuar abrindo os olhos todas as manhãs.

É uma dor que eu não gostaria de sentir nunca.

~*~

Naquela noite, Jean nem olha para a minha cara novamente e eu decido apenas dormir. Passo o dia seguinte sozinho, já que Levi também não aparece no almoço. Chego a ficar preocupado, mas não tenho tempo de procurar saber como ele estava porque tinha que ir para a atividade da tarde.

Após a atividade, penso em passar em seu quarto, mas vejo Reiner entrando nele e desisto de novo. Penso em ir para o meu próprio quarto, mas me lembro de Jean irritado comigo e desisto da mesma forma. Estava difícil pensar em uma forma de ajudá-lo, sendo que ele nunca parece ouvir o que eu falo.

Assim acabo por vagar pelos corredores. Passo pela recepção, pelas salas de atividades, pela sala de jogos... Até passar pela sala de televisão e me surpreender ao ver Levi sentado em um dos sofás ao fundo.

Adentro a sala tentando fazer o mínimo de barulho possível e sigo para me sentar ao seu lado. As outras pessoas assistiam a um jogo de baseball, o que não me chama atenção alguma.

“Você gosta de baseball?” Pergunto, apenas para puxar assunto.

“Nem um pouco.” Ele dá de ombros, desinteressado. “Só estou aqui porque me proibiram de ficar no quarto de novo.”

“Que chato isso.” Eu me acomodo no sofá. “Mas é bom sair de lá de vez em quando. Falando nisso, não te vi no almoço hoje.”

“Não estava me sentindo muito bem.” Ele suspira. “Mas é por não ter ido que estou proibido de ficar no quarto até a hora de dormir.”

“Entendi.” Concordo com a cabeça. “Pelo menos você tem a minha companhia.”

Ele me olha de lado e revira os olhos.

“Eu sou tão chato assim?” Pergunto de brincadeira, me movendo para sentar mais perto dele.

“Se falasse menos não seria tão chato.” Ele torna a olhar para a televisão. “Engraçado que você me faz mil perguntas, mas não me fala nada sobre você.”

“Bom, o que quer saber?” Ofereço tranquilamente.

“Vejamos...” Ele me olha de novo. “O básico. Por que está aqui?”

“Ok.” Inspiro fundo. “Eu tenho Transtorno Explosivo Intermitente. Em minha última crise eu quebrei o nariz e outras partes do rosto de um cara que estava mexendo com minha irmã em uma festa da faculdade que fomos.”

“Parece perigoso.” Ele me olha, ainda com a mesma expressão desinteressada.

“Eu fico mais preocupado por não me lembrar de nada depois. E eu realmente não consigo me controlar. É muito estranho...”

“Eu nunca vi alguém com esse transtorno. Imagino que seja difícil.” Ele diz, compreensivo. “Confesso que não consigo imaginar você sendo violento, você parece tão... amigável.”

“Eu sou, na verdade.” Acabo rindo, encabulado. “Mas algumas situações especificas me fazem perder o controle. Já notei que sempre acontece quando mexem com pessoas importantes para mim.”

“Como sua irmã.”

“Sim, exatamente.”

Levi se ajeita no sofá e senta mais relaxadamente. Eu espelho sua posição e fico mais confortável também.

“Em qual faculdade você estuda?” Ele pergunta. Não esperava que ele fosse continuar puxando assunto e fico feliz.

“Ah, na de Trost aqui perto mesmo.” Eu respondo prontamente.

“Eu também estudei lá.”

“Sério?” Fico empolgado por termos algo em comum e não escondo isso em meu tom. “Faz quanto tempo que se formou?”

“Uns quatro anos.” Ele pensa um pouco. “Cinco, na verdade.”

“Você não é tão mais velho que eu, então. Falta pouco pra eu me formar...”

“Eu atrasei um ano no curso, mas, é, não sou tão velho assim.” Ele levanta a mão e começa a olhar para as próprias unhas. “Eu pareço velho?”

“De forma alguma.” Balanço a cabeça repetidas vezes. “Na verdade eu chutaria que você tem a mesma idade que eu.”

“Você tem quantos anos, vinte?”

“Vinte e dois.” Respondo com um sorriso. “E você?”

“Vinte e oito.”

“Tá vendo, nem é muita diferença.” Eu o dou uma cotovelada de leve. “Qual curso você fez?”

“Design.” Ele suspira e olha para mim.

“Hm, um designer...” Acomodo-me melhor, sem parar de olhar para ele.

“O que foi, acha essa área boba?” Ele provoca sem maldade. “Aposto que você é das engenharias.”

“Não, credo. Odeio exatas.” Faço careta. “E não, não acho design uma área boba, muito pelo contrário. Era uma de minhas opções, mas a biologia falou mais alto.”

“Biologia e design, que eclético você.” Ele dá uma risadinha suave. O som me agrada imensamente.

“Eu sempre gostei de muitas coisas... Menos matemática.” Rio junto. “Você não teve dúvidas de qual curso fazer?”

“Era design ou artes. Fiquei com design só pelo mercado de trabalho, que é um pouco melhor...”

“Artes também é legal.” Ainda continuo olhando para ele. “Você pinta?”

“Só como hobby.” Ele desvia o olhar e olha para minha camiseta.

“Quero ver suas pinturas um dia.”

A porta da sala de televisão se abre nesse momento e nós dois a ignoramos, ainda focados em nossa conversa. Entretanto, somos obrigados a desviar nossa atenção quando alguém anda em passos firmes até nós e para logo à frente do sofá. Era o Reiner.

“Cadê a minha carta?” Ele pergunta, quase gritando, olhando diretamente para Levi.

“Hã?” Levi franze o cenho, confuso.

“Você me escutou.” Reiner bufa. “Cadê a minha carta?”

“Eu não sei do que você está falando.” Ele responde calmamente.

Reiner fica ainda mais inquieto do que estava, dando passos de um lado para o outro a nossa frente.

“Claro que sabe.” Ele fala, ficando ofegante. “Eu vi o jeito que você olhou pra carta quando eu estava lendo. Foi você. Quero ela de volta agora!”

“Olha, calma...” Levi se senta direito e gesticula. “Acho que me lembro de ter te visto com um papel na mão, mas realmente não sei onde está. Você deve ter esquecido ela por aí, já que nunca fica no quarto...”

“Foi você!” Ele grita ainda mais alto, fazendo algumas pessoas decidirem sair da sala de televisão. “Para de mentir e me devolve!”

“Eu não peguei nada.”

Quando Reiner estica o braço para segurar o de Levi, eu me levanto e o empurro. A atenção inteira dele se volta para mim.

“Não encosta nele.” Eu digo seriamente.

“Ele roubou minha carta.” Reiner insiste.

“Ele já disse que não pegou nada!” Explico, ficando irritado. “Com certeza você deixou ela por ai mesmo...”

“Você vai defender um ladrão?” Reiner dá um passo em minha direção e eu dou um passo atrás, quase caindo de volta no sofá.

“O que eu ia querer com algo seu?” Levi tenta apaziguar. “Se acalma. Podemos te ajudar a procurar...”

“Seu babaca...”

Reiner desvia de mim e agarra o braço de Levi, apertando com força para puxá-lo para se levantar, e meu sangue ferve com isso. Não consigo assimilar o que Reiner continua a gritarpara Levi, enquanto ele tenta sem sucesso se explicar.

Olho para o braço de Levi de novo e o vejo ficando vermelho pelo aperto.

Olho para Reiner e o vejo gritando, com suor descendo por sua testa.

E olho para Levi, tentando manter a calma para sair da situação.

E não me lembro de mais nada depois disso.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada por lerem ♥
Como avisei nas notas da história, essa fic será dividida em duas partes, então espero vê-los todos lá o/
Ainda não terminei o resto, mas vou continuar trabalhando nele e postarei assim que der :3