Riko podia ser bastante insistente. Kagami não imaginava logo ele sendo colocado naquele esquema, porém agora que estava ali o melhor que podia fazer era aproveitar da companhia daquela caprichosa mulher.

A roupa formal o desconfortava, apesar de vir de uma família rica. Não era acostumado aquele tipo de festas já que passou boa parte de sua juventude se dedicando ao basquete. A treinadora demorava. Talvez não tivesse essa sensação se não tivesse vindo mais cedo que o combinado. Mas bem que ele queria garantir que o pai da moça estivesse bem ciente de seus propósitos, isso se queria estar vivo no dia seguinte é claro.

Não era apenas isso, mas que assim fosse entendido.

Ainda não tinha lhe caído à ficha de todo que estava prestes a sair com sua treinadora carrasco Aida Riko. Alguns dias atrás ela de repente lhe pediu para que acompanhasse no baile de formatura. E como poderia negar? Nessas horas queria ter a metade do jeito de seu amigo fantasma Kuroko Tetsuya para lidar com aquele tipo de assunto. Provavelmente ele não estaria suando tanto e se atrapalhando no japonês mais do que o normal.

No entanto ali estava Taiga esperando na sala de estar com o pai tirano da treinadora lhe fuzilando com o olhar.

- Muito bem, deixarei a Riko-tan a seus cuidados! Mas se fazer minha filha chorar... - Kagetora falou fazendo uma linha horizontal no pescoço com o dedo indicador.

- Claro... - Kagami falou forçando as palavras a sair.

- Desculpe a demora! ... Ei, papa, você não intimidou muito o Kagami-kun não foi? - Riko questionou o adulto com aborrecimento no tom.

- Mas claro que não! Apenas o suficiente, não é mesmo, “Kagami-kun”? - Kagetora falou em um tom animado forçado.

Kagami concordou mesmo a contragosto. Se Aida pareceu notar isso, isso foi esquecido ao vislumbrar o horário no celular que trazia.

-... Já é essa hora! Melhor irmos logo Kagami-kun. - Aida lhe estendeu a mão para que saísse do sofá, ao ver sua hesitação completou - Não tem problema, se meu papa tentar alguma coisa eu não vou falar com ele por uma semana!

- Mas Riko-tan...

Aida olhou com firmeza e aborrecimento para o pai, provavelmente para ver se falaria contra.

- Certo... Não vou fazer nada... - Kagetora disse levantando as mãos num gesto de rendição. - Por enquanto.

Riko suspirou. Kagami decidiu que era melhor não perderem mais nenhum segundo e se levantou por conta própria. Deu umas tapinhas no ombro da treinadora e disse:

- Eu sei me cuidar. E... Você fica bem diferente de vestido.

Certo. Poderia ser que tinha definitivamente entrado para a lista negra de Kagetora, porém as palavras acabaram por escapar de seus lábios. Corou ao perceber ainda mais para quem dirigia aquele elogio.

Porém aparentemente Aida Riko não estava muito ciente da própria beleza.

- Hum? E o que quer dizer com isso? Vamos?

Kagami deu de ombros dando pouco caso ao que tinha dito anteriormente. Era observado detidamente pelo pai da moça então não poderia explicar muito mesmo que quisesse.

Apenas quando já estavam fora da casa da treinadora Kagami ousou entrelaçar seu braço com a da treinadora, como um casal legítimo.

- Você não precisa ir tão longe Kagami-kun - Riko disse com divertimento pelo ato - sua missão é só dançar uma vez comigo e está liberado!

- Ah, mas assim parece mais certo... De alguma forma. - Kagami disse com constrangimento - Por favor, não se incomode, treinadora.

- Hoje está liberado para me chamar de Riko. Na verdade ia ficar estranho se ficar me chamando de “treinadora” lá. Faz esse favor para mim?

E lá ia a moça se utilizando de toda a meiguice e feminilidade que conseguia. Não conseguia dizer não a esse tipo de pedido. “Na verdade eu estaria honrado” No entanto ia guardar esse pensamento para si, ia deixar tudo ainda mais estranho.

Kagami não tinha com prioridade arranjar uma namorada, no entanto se tivesse que escolher provavelmente seria uma elegante. E essa palavra bem que resumia a garota ao seu lado: Com os cabelos castanhos um pouco acima dos ombros soltos; um vestido vermelho; saltos que ajudavam na diferença de altura dos dois; uma maquiagem leve; brincos. E ainda com aquela exaltação de sua natureza Riko continuava com a mesma animação de sempre e simplicidade de espírito.

- Claro... Só que tem que fazer a mesma coisa ou nada feito. - Kagami disse esboçando um sorriso divertido.

- Taiga-kun? - Riko sugeriu em tom semelhante - Não posso ceder mais que isso.

- Tudo bem... Vamos ver se continua pensando assim quando ganharmos o primeiro lugar.

- “Mas é claro!”... Era o que eu gostaria de dizer, mas não tem esse tipo de competição na nossa escola. - Riko explicou.

- Não quer dizer que não dá para fazer por conta própria. - Kagami rebateu.

- E seria quem? Eu e você contra...?

- Eu tenho alguém em mente...

O local alugado para a festa havia sido de todos os lugares o clube o basquete, porém como as competições do ano haviam se encerrado ninguém teve prejuízo.

Era uma época para despedidas, mas só naquele instante Taiga percebeu o peso do tempo que passou. Os veteranos que tinha conhecido em seu primeiro ano do ginasial iriam para lugares diferentes e logo ele mesmo estaria seguindo seu rumo.

Era o fim dos treinamentos exigentes e grupos de estudo emergenciais. Claro, ainda lhe faltaria um ano, mas as coisas tenderiam a mudar. Isso era uma certeza.

Só não sabia se para melhor ou pior.

- Kagamin! Obrigada pelo convite! - Satsuki exclamou animada.

A garota trajava um vestido azul escuro e tinha os cabelos presos em um coque. Era incrível como Momoi conseguiu ser tão veloz em se aprontar e ainda arrastar seu parceiro junto a tempo. Quem que a acompanhava?

Não era uma questão tão difícil.

- Satsuki... Onde ‘tá a comida? - Aomine questionou como que desinteressado em tudo mais.

- Ora! Mas não viemos aqui para comer Dai-chan! Porque não se anima um pouco mais? Faz tempo que vamos a uma festa!

- Não tô afim. - Aomine disse sem nenhuma modificação em sua expressão. - Sei que a gente ganha de 10 a zero no Bakagami então...

- Ei, ei! Eu estou escutando isso e bem Ahomine! - Kagami disse já esquecendo que aquilo era para ser uma festa.

- Hã? E eu alguma vez disse que não era para escutar? - Aomine disse em seu tom desinteressado.

- Ah... Eu queria que o Tetsu-kun tivesse vindo! Pelo menos ele seria mais animador! - Satsuki disse sonhadora.

“Não sei onde” Kagami pensou e tinha impressão de que não tinha sido o único.

- Vamos não se zangue tanto! - Ainda disse dando uma tapinha no ombro de Kagami - Temos tempo de sobra para vencer eles.

- Ei, ei, esse garoto está dizendo umas coisas estranhas... - Aomine disse examinando Aida de cima a baixo.

- Dai-chan, essa é a Aida-san do tamanho “quase p”. - Momoi explicou com um sorriso divertido.

- Ah... Entendo. Já tava pensando que o Kagami jogava no outro time. - Aomine disse aparentemente se interessando pela conversa.

- Ei... - Aida disse a raiva quase transbordando de seu sorriso forçado.

- Não se preocupe treinadora. Vamos ver quem é o mais “quase” o que quando ganharmos.

Kagami provavelmente teria ganhado uma cotovelada pelo “quase” se Aida não se lembrasse de que ali era uma festa. Na verdade tinha até uns casais que tinham parado para observá-los. Não que os quatro estivessem preocupados com isso. Depois disso chegou Hyuuga, Izuki, Kouga, Mitobe... Kiyoshi não aparecia ali por vários motivos.

Kagami quase se arrependia de ter convidados aqueles dois para a festa. Aida parecia que pularia em qualquer um que perturbasse aquele frágil equilíbrio emocional que tinha feito para si. Porém quando estava prestes a se desculpar ela começou a rir.

- Hã... Treinadora? - Kagami perguntou preocupado pelo estado mental da garota.

- Já falei para chamar de Riko enquanto estivermos aqui, Taiga-kun. - Riko disse lembrando-o.

- Mas... Você tá legal? Digo... - Kagami disse cuidadoso com as palavras.

- Não, eu não estou. - Aida admitiu - Mas isso é bom eu acho. Não vai ser uma festa de formatura comum, isso eu vou garantir...

- É... O que está pensando em fazer? - Kagami questionou receoso.

- Apenas me siga quando for à hora Taiga-kun.

Terminaram de se alimentar com uma refeição leve na grande mesa que ali havia.

Quando uma música mais animada foi colocada para colocar, Kagami percebeu que a hora havia chegado e Riko não parecia nem um pouco diferente, apesar de parecer um pouco mais calma. Ou era o que achava.

- Tentem não me desanimar muito. - Aomine disse com um sorriso arrogante.

- Ah, pode deixar... Moleque. - Aida disse com um tom hostil, porém mantendo seu sorriso.

- Vamos nos divertir, Kagamin! - Momoi disse acenando para o ruivo.

- Espero... - Kagami disse com incerteza.

Aida tomou-lhe uma das mãos, enquanto a outra mão da garota foi parar em seu ombro. Taiga então, como ouvido antes de Kuroko quando perguntando, usou a mão livre para segurar a cintura de Riko.

Passo para frente; passo para trás. Volte e meia recebia o olhar de uma das colegas de Aida. Não estava desacostumado a receber esse tipo de olhar de garotas mais velhas, mas se sentia um tanto incomodado essa era a verdade.

Apesar de fazerem suas brincadeiras, Momoi e Aomine pareciam mesmo empenhados em chamarem a atenção. Não queria admitir, mas até que Aomine parecia ter mais experiência do que ele ou pelo menos era mais cara de pau em seguir o ritmo da música. Movendo o corpo de acordo. Não era muito difícil que assim fosse considerando o jeito do moreno.

Tentou fazer o mesmo, porém isso não deu muito certo. Depois da segunda pisada no pé da garota Riko disse:

- Espera um pouco.

Eles pararam de se movimentar, porém ficaram na mesa posição. A mão dele na cintura dela, assim como ela permanecia com a mão sobre o ombro dele. Os olhos dos dois mantinham contato.

- Treinadora...

-... É tão difícil assim me chamar só de Riko? Desse jeito acho melhor desistirmos por aqui, não vai ser vergonha. - Aida disse em um tom mais calmo.

“Eu até que quero, mas...” Kagami não conseguiria dizer algo assim. Nem em pensamento. E isso por certo o motivo.

- Primeiro tenho que saber uma coisa. - Kagami disse sentindo seu estômago revirar em muito tempo.

- Se eu puder responder. - Riko disse com a mesma calma de antes, sem entender aonde queria chegar.

“Ah, é agora ou nunca!” Kagami disse reunindo coragem.

Porém algo inacreditável aconteceu. A música mudou para uma ainda mais animada. E Riko deu-lhe uma girada, era incrível como o tamanho da garota escondia a força que possuía, e colou os lábios aos seus. Talvez seu nível de surpresa só não superasse em ver sua professora nua andando por seu lar.

Mas que quase que o coração parava não poderia negar.

- Achava que eu não conseguia perceber quando alguém me elogia? Não é muita gente que faz isso, infelizmente... - Riko disse com um sorriso sem graça, e após perceber que todo mundo até mesmo a dupla da Touo os observava completou - Uau parece que conseguimos.

E lá se tinha ido a oportunidade para se declarar. Mas dependendo dos motivos da treinadora, um novo momento viria mais cedo ou mais tarde.

- Eu topo ir para qualquer lugar. - Kagami disse apressadamente.

- Vamos chamar os garotos para um churrasco então! A noite ainda é uma criança! Vocês dois podem vir se quiserem. - Riko convidou mesmo que sem jeito a dupla da Touo.

- Parece uma ótima ideia...! Vamos Dai-chan. Você não estava ainda com fome?

- É mais... - Aomine disse ainda perdido.

- Vamos logo! - Satsuki disse começando a empurrar o amigo de infância - E vocês podem continuar com a festa! Não estivemos aqui!

Como se isso fosse possível. Mas foi relativamente fácil eles saírem do local, acompanhados por um grupo relativamente grande de pares.

O local escolhido havia sido um similar ao que tinham ido ao enfrentarem o primeiro amistoso contra a Kaijo. Um lugar em que você pudesse comer o quanto quiser desde que o terminasse em determinado tempo. Em meio a tantas pessoas lanchando como se a vida dependesse disso, não houve muito espaço para conversa. Nada podia ser feito já que havia sido a forma encontrada para despistar a multidão a respeito do ato de Riko.

Bom, seriam poucos que voltariam a se encontrar depois daquilo. Kagami espiava as expressões engraçadas que seus veteranos esboçavam ao fazer a comida passar pela garganta. O tempo acabou e todos tiveram que ir embora. Coisas da vida.

Kagami mais do que nunca ficou embaraçado quando veio o momento de levar Riko de volta para casa. A garota também não parecia disposta a falar então teve que se esforçar a dizer:

- Até que não foi ruim. - Kagami falou meio sem pensar muito no conteúdo, ele apenas queria quebrar o silêncio.

- É. Também não achei. - Riko falou de modo pensativo.

Certo. O que ela “não tinha achado tão ruim”? Não conseguiu dizer mais nada depois disso.

- Bom... Obrigada por me acompanhar Kagami-kun.

E num passe de mágica tinham voltado ao ponto de partida. Mas não era bem isso o que o ruivo queria.

- Treinadora, eu quero ter permissão para usar seu primeiro nome. Digo... De novo.

Riko olhou bem para o ruivo, o analisando. Geralmente não se importava com olhares alheios, mas os da treinadora sempre se fixavam nele mais profundamente. Talvez não a princípio, mas nos últimos tempos isso o deixava alarmado por muitos motivos.

Poderiam descobrir alguma coisa que ele não gostaria. Pelo menos não ainda.

E quando seria?

- Olha. Eu não me importo Kagami-kun, mas você nem chegou a usar direito... E não tem motivo, não é?

- Uma hora eu vou conseguir dizer. Então quero que me espere até lá... Por favor. - Kagami disse acrescentando a última parte só para garantir.

- E como você vai fazer isso se eu não vou estar mais no Seirin?

- Eu dou um jeito!

Riko que estava apenas alguns passos de casa, e provavelmente vigiada pelo seu pai superprotetor, apenas deu um suspiro.

- Você... Dá valor a sua vida não é? - Riko questionou sem estar olhando para o ruivo.

Kagami que antes tinha uma leve suspeita sentiu muito bem o olhar mortífero a alguns metros dirigido a si. Só que ele não poderia parar ali. Aproximou-se.

Então Kagami agarrou os ombros de Aida com ambas as mãos e disse com toda a seriedade:

- Não sei se entendeu bem... Mas não achei ruim quando você me beijou. Sério.

Não era momento para se preocupar com aqueles orgulhos construídos a respeitos de “papéis”. Ele apenas era um garoto que estava apaixonado pela sua treinadora carrasco. E isso era normal até certo ponto. E mesmo que não fosse o que realmente importava era apenas uma única coisa.

O sentimento que fazia seu peito bater tão forte que a simples ideia de chamar seu nome fosse demais.

Claro que não poderia dizer nada disso. Mesmo que quisesse iria se atrapalhar com seu japonês outra vez e falar um monte de resmungos sem sentido. Apenas quis transmitir tudo isso com seus últimos dizeres e seu olhar. O que provavelmente era muito pouco.

Porém Aida sorriu. Parecia até que ela fosse chorar por algum motivo. Ela o abraçou pelo pescoço.

- Obrigada. Isso é importante. Mesmo...

Ah, provavelmente Kagami não ia ver mais a luz do dia depois dessa. No entanto não estava tão arrependido quanto deveria. De ceder àquela pequena loucura. Provavelmente pela felicidade que era aqueles braços lhe circundarem aquele momento e de ninguém mais. Aquele agradecimento sincero e o beijo na testa. Porque a noite ainda era uma criança não era? Ainda poderia haver outras mais.

Como dito antes, não era sua prioridade, mas se tivesse que escolher não teria dúvidas.

Kagami também podia ser bastante insistente.