Londres escrita por Lostanny


Capítulo 1
Intervalo de tempo


Notas iniciais do capítulo

Outro Kiyohana ~ Escutei Diamonds da Rihanna para escrever isso aqui, mas não é songfic... Se passa no pós Winter Cup, mas não está seguindo o enredo fielmente... Espero que gostem ~



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Era apenas longe demais para que pudesse segui-lo. Nem em seus sonhos poderia acompanhar Hanamiya naquela empreitada de ir à Inglaterra com seus poucos recursos.

- E eu disse que queria sua companhia? - Hanamiya questionou apontando a lapiseira na direção do rosto a sua frente.

- Não, mas... - Kiyoshi disse tentando escolher as melhores palavras.

No entanto sabia que não tinha muita chance de fazer o rapaz mudar de ideia.

- Nem continue. Qualquer palavra a mais vai me deixar enojado.

Kiyoshi acabou enchendo as bochechas de ar para não falar mais nada. A verdade era que tinha ficado chateado o quanto Hanamiya podia fazer tanto pouco caso de sua companhia. Eram namorados no fim das contas! Só que conhecia a figura: mesmo que quisesse de fato sua companhia iria deixar aparente que não. E era muito difícil saber o quanto de verdade e o quanto de mentira ali havia. Nunca era 100%.

Continuaram o estudo para o vestibular que seria dali a algumas semanas. Tinham combinado que passaram um na casa do outro depois da escola para que se preparasse devidamente. Quer dizer, Hanamiya passava a maior parte do tempo lhe observando do que qualquer outra coisa. Uma expressão entediada ficava presente em sua face e ele ficava nervoso. Porém nunca tinha ouvido nenhuma reclamação tão séria por isso continuavam. Porém francamente...

- Hanamiya, se não te agrada ficar aqui por que... - Kiyoshi disse tentando tirar um pouco do peso do peito, mas falhou terrivelmente.

Começou a se sentir pior. Era para ser um tom menos necessitado. Definitivamente. Sabia o quanto o outro detestava ser cobrado. No entanto precisava dizer aquilo ou poderia cometer uma besteira pior.

- Huh... Interessante. - Hanamiya disse entre um tom ácido e divertido - Você acha que é tão importante assim para que eu ficasse aqui se não quisesse Kiyoshi?

Kiyoshi piscou os olhos algumas vezes para compreender de fato o que o outro dizia. Sentiu-se ofendido é claro. Mas ao mesmo tempo um sorriso acabou por se desenhar em seu rosto.

- Então, você realmente gosta da minha companhia não é? Pelo menos um pouco.

- Ei, ei, não confunda as coisas. Idiota. - Hanamiya disse aborrecido - Só quer dizer que eu tenho um interesse aqui.

- E qual seria... - Kiyoshi disse deixando a questão no ar.

E como tudo que se referia a Hanamiya Makoto, Kiyoshi apenas conseguiria uma resposta efetiva por gestos e não palavras.

Talvez por serem mais sinceros do que o som hipnotizador de seus lábios?

Hanamiya que estava do outro lado da mesinha se colocou ao seu lado. Kiyoshi acabou com o rosto em tons fortes de vermelho ao notar que Hanamiya estava bem colado ao seu ombro. E agia como se fosse algo natural. Isso não acontecia. Pelo menos era o que pensava até ali.

Na verdade não se tocavam além do necessário quando Kiyoshi estudava ou quando saiam para algum lugar qualquer. Nem mesmo mãos dadas eram permitidas.

Era “careta” e “repugnante” agirem dessa forma tão amável um com o outro. Se já não tivesse beijado aqueles lábios juraria que aquela relação nem existisse de fato.

Porém ali estava Hanamiya voluntariamente.

Kiyoshi sentia bem o choque térmico da frieza do corpo do outro com a sua pele quente.

A mão de Hanamiya estava repousando sobre o papel de questões que Kiyoshi tinha pegado com Hyuuga enquanto analisava o conteúdo detidamente.

- Agora. - Hanamiya disse como se ignorasse a indagação de Kiyoshi - Vejo está fazendo tudo errado desde o começo. Hilário... Realmente entendeu essa matéria...?

- Na verdade não... - Kiyoshi disse embaraçado por vários motivos.

Hanamiya alcançou a bolsa que trouxe de onde estava e tirou algo de lá. Era uma caixinha retangular que parecia o suficiente para pagar mensalidade da sua escola.

- Certo. Até onde? - Hanamiya questionou em um tom desinteressado enquanto tirava o objeto da caixinha.

- Hã? Ah... Bem... Acho que nem porque existe isso...

- Hum... Começo daí. - Hanamiya disse decidido - Não vou repetir, então presta a atenção direito.

Eram óculos. E nossa... “Como Hanamiya parecia charmoso com eles”. Mas Kiyoshi não diria isso em voz alta já que não queria aumentar ainda mais o ego da pessoa ao lado.

Foi duro prestar a atenção na explicação. Parecia que, mesmo que tivesse dito para prestar a atenção nele seriamente, Hanamiya estava fazendo de tudo para que não o fizesse. Segurava sua mão para ajudá-lo a desenhar os carbonos de forma não menos que exata. Fazia com que Kiyoshi repetisse os tipos existentes junto a ele de forma que os lábios de ambos quase se tocassem! Que método de estudo era aquele? Era uma sedução proposital? Só sabia que sendo ou não isso... Não era nada bom para seu coração e para seus hormônios.

- Hanamiya acho que já está bom por hoje... Você é um bom professor. - Kiyoshi disse sem jeito.

Não era uma mentira. A linguagem que Hanamiya utilizava era bem simples de compreender. No entanto teve outros problemas.

E como se não fosse o suficiente:

- Vou fazer um teste amanhã quando nos encontrarmos. Só para ter certeza... - Hanamiya falou e só para não deixar nenhuma dúvida sobre suas intenções - Se errar eu te quebro.

E assim aquela aranha enigmática se foi deixando Kiyoshi ainda mais confuso do que antes. Primeiro que o rapaz no caminho ate ali tinha lhe dito sobre aquela mudança de lar repentina após a formatura. E quando estava absorvendo a ideia de que nem no fundo daquele ser havia um pingo de romantismo Hanamiya lhe dera toda a atenção que um adolescente necessitado poderia querer. Não foi nem um pouco romântico, mas mesmo assim... O rapaz estava de alguma forma tentando animá-lo? Poderia interpretar dessa forma?

De um jeito ou de outro ia acabar quebrado tinha certeza. Seja porque devia se lembrar no máximo 10% do que Hanamiya havia dito, como suas expectativas podiam estar muito erradas.

- Realmente... Não entendo esse cara... - Kiyoshi disse para si mesmo enquanto empurrava a franja para cima com a mão.

Tinha que clarear as ideias. E quem melhor para lhe ouvir do que seu melhor amigo?

- Nem pensar. Pode cortando essa Kiyoshi.

- Mas Hyuuga... Você geralmente é tão atencioso com todo mundo!

- De onde você tirou essa ideia? Não sou como você... - Hyuuga disse, acabando por interromper a si mesmo por se ver falando besteira - Enfim. Pelo que ouvi do Kagami, o Kuroko seria a melhor escolha já que ele entende de relacionamentos.

- Oh...! Eu nem tinha tocado no assunto! - Kiyoshi disse realmente surpreso.

- Está estampado no seu rosto idiota. Sério, o que você viu naquele cara? - Hyuuga disse tomando um gole de seu café.

Como não teriam aulas aquela tarde, Kiyoshi deu um jeito de arrastar Hyuuga até a lanchonete para ver se conseguia algum tipo de ajuda. Não podia contar com nenhum dos outros, principalmente Kuroko, mesmo que Hyuuga sugerisse.

Era fato que mesmo depois de passados um ano toda a vez que Kiyoshi acabava deixando escapar o nome do namorado - ou algo próximo disso - acabava despertando desgosto. Sentia-se triste que ainda se sentissem dessa forma, mas não era algo que poderia obrigá-los a mudar. E Hanamiya até ali não havia pedido desculpas e os provocava sempre que se encontravam o que tornava as coisas ainda mais difíceis.

Porém esquecia tudo isso quando tinha aqueles olhos comumente desinteressados pela vida fixos nele.

- Ah, mas ele não é tão ruim assim... - Kiyoshi disse olhando para seu café intocado - E você sabe que eu não gosto de café... Ainda me odeia tanto assim?

- Aham então só aguente. - Hyuuga disse fazendo pouco caso - Já que estamos falando nisso, vou te dar pelo menos um conselho... Já que tá difícil, e você ainda não quer desistir, apenas pare de pensar nisso e aja da sua maneira. As coisas se ajeitam.

- Ah... Foi assim que você e a Riko...? - Kiyoshi disse com certa insinuação.

- Pode parar aí! Vou matá-lo se continuar! - Hyuuga ameaçou acionando a sua segunda personalidade ou algo similar.

A fala mais alta e o levantamento súbito fizeram com que as pessoas que se sentavam mais próximas se sobressaltassem. Hyuuga, percebendo sua exaltação, fingiu tossir e voltou a se sentar.

-... Sabe Hyuuga - Kiyoshi falou meio pensativo -, até que você e o Hanamiya são parecidos de algum modo...

-... Você quer que eu voe no seu pescoço né? - Hyuuga questionou se controlando o máximo que podia.

No entanto um sorriso tenso ainda estava presente ali. E isso de alguma forma deu uma ideia a Kiyoshi. Seus olhos piscaram e se direcionaram para a latinha de café que haviam comprado, depois voltou seus olhos para Hyuuga, posteriormente voltando à latinha.

- Obrigado Hyuuga, sabia que podia contar com você! - Kiyoshi disse dando umas tapas sonoras no ombro do amigo que apenas reclamou.

Faltava apenas duas horas para que se encontrasse com Hanamiya. Tinha que se preparar e logo. Despediu-se de Hyuuga e correu para fora da lanchonete. Seguiu seu caminho conhecido.

Ou nem tanto assim. Sem Hanamiya para guiá-lo Kiyoshi ainda se perdeu algumas vezes até achar uma grande construção em um bairro notável. Não havia guardas na frente do portão principal, porém câmeras e porta travada a código estavam presentes, muito diferente da casinha tradicional japonesa que estava acostumado.

Tinha se impressionado bastante quando viu aquela construção pela primeira vez, e a incredulidade não cessou até ali. Talvez nunca se acostumasse. Engoliu em seco. Estava saindo do planejado, mas como era essa intenção tinha que se sentir pelo menos um pouquinho menos culpado. Não dava mais para desistir. Tocou o interfone. Para seu espanto e surpresa não houve nenhum empecilho para que entrasse no local.

Até mesmo haviam lhe cumprimentado por onde passava. Não estava sonhando? Em meio ao constrangimento outro se seguiu: estava entrando no quarto de Hanamiya sem autorização. Não iria ficar só na quebra... Provavelmente ia ser morto quando descoberto por certa pessoa.

Então a pessoa que ele menos queria noticia no momento lhe ligou. Hanamiya detestava usar e-mail então as coisas deviam estar mesmo ruins para o seu lado.

Porém quando atendeu, levou um susto ao ouvir a voz mergulhada em ódio dizendo:

- Onde está?

A princípio Kiyoshi acreditou que o outro direcionava aquele ódio para ele, então acabou se encolhendo involuntariamente. Nenhum dos dois falou nada depois de algum tempo. Porém o próximo questionamento de Hanamiya foi bem intrigante:

- Quanto você quer? - Hanamiya perguntou em um tom mais diplomático, porém era como se estivesse cerrando os dentes com força para dizê-lo.

Por algum motivo Kiyoshi supôs que a alteração do outro não era simplesmente por uma mudança de rotina. Estava faltando informações. Kiyoshi então teve que ignorar o conselho de Hyuuga e fez o contrário: fingiu ser outra pessoa.

Mas como não tinha confiança para inventar qualquer papel absurdo, tratou de apenas usar as ferramentas que possuía: sua sinceridade. Não dizem que as verdades podem ser tidas como as melhores mentiras?

- Ele já está livre. - Kiyoshi disse apertando o nariz para que seu tom de voz saísse diferente.

Claro que Kiyoshi estava querendo demais se pensava que conseguiria enganar Hanamiya com uma fraude daquelas. Porém o outro rapaz não devia estar em seu normal. O motivo foi dito a seguir em um tom amargo:

- Eu sei que ele não está. E vou acabar com sua raça quando descobrir.

Certo. Havia sido uma péssima ideia continuar com aquilo. Estava sentindo o pânico dentro de si crescer quando se lembrou do conselho do amigo. Hum. Meio tarde para isso, porém dessa vez falou em seu tom de voz normal:

- Hanamiya.

Isso pareceu ser o suficiente para que o outro se calasse por algum tempo. Kiyoshi se sentou na cama do namorado para o que viesse daqueles lábios quando voltasse a falar.

-... Se eu te encontrar vou bater em você. Sério Teppei.

E a ligação foi cortada com o coração de Kiyoshi batendo horrores em seu peito. Nem o filme mais assustador que viu na vida tinha causado tanto temor e receio quanto naquele momento.

Hanamiya o chamou pelo primeiro nome.

Deveria se sentir extremamente feliz por isso. Se não soubesse que aquele podia ser o fim de tudo. Sentiu-se um ridículo ao observar aquelas paredes com papel de decoração. Flores em tons vivos pareciam dançar em volta de si, ou era o mundo que estava girando demais? Só na ideia que algo que nem ao menos teria florido realmente terminar daquela forma.

Tirava seu chão literalmente.

Devia ir para casa antes que Hanamiya chegasse ali. Mas seu corpo não obedeceu. Apenas jogou seu corpo de lado e sentiu o cheiro de seu Makoto ali naqueles lençóis. Não conseguiu se mover, envolvido naquele perfume único ele dormiu.

Acordou sentindo muito frio. Minha nossa! Será que ele tinha morrido de tanto desgosto? Sabia bem que não era tão “coração de ferro” como a plateia achava. Mas um fim desses não combinava com si. Pelo menos era o que achava.

Foi então que Hanamiya chamou com todo o seu aborrecimento:

- Levante! Desde quando você se acha no direito de dormir na minha cama?

Kiyoshi piscou algumas vezes para melhorar seu foco. Os dedos batiam um no outro pelo frio. Ao tentar se esquentar com as mãos percebeu que sua roupa estava molhada. Hanamiya tinha um balde nas mãos. Era fácil até para ele saber o motivo.

- Hum... Eu queria sentir o cheiro do Hanamiya. - Kiyoshi disse sem pensar muito.

Ainda estava sonolento, mas entendeu que Hanamiya tinha ficado aborrecido, pois respirou fundo.

- Paciência... Já que recebeu sua punição pode fazer suas malas. - Hanamiya disse em um tom desinteressado.

Isso fez voltar quase que imediatamente o peso que estava sentindo em seu coração.

- Er... Eu não posso mesmo voltar mais aqui? - Kiyoshi questionou em um tom cuidadoso.

Hanamiya pareceu analisá-lo por um momento, acabando por lhe estender a toalha que descansava em seu ombro.

- Claro que não, idiota. Não tem motivos.

- Você disse que ia bater em mim. Não tem problema se quiser fazer isso agora... Me desculpe.

Hanamiya não pensou duas vezes em esmurrar a face de Kiyoshi. Teppei acabou por reclamar baixinho da dor enquanto colocava a mão na região acertada. Não podia negar que Hanamiya tinha força.

- Já te falaram que você é um masoquista Kiyoshi? Esse negócio de proteger pra lá e pra cá... Não se importa de receber um soco meu. E você ainda quer que eu te desculpe? - Hanamiya questionou como se desconhecesse o motivo. - Eu teria que te matar se quisesse me compensar por tudo.

- Foi tão grave assim...? - Kiyoshi questionou atônito.

Estava sentado na cama que também estava ensopada. Hanamiya ou pareceu ignorar isso ou não se importar já que se aproximou de Kiyoshi mesmo assim. Os rostos ficaram apenas alguns centímetros de distância um do outro. Hanamiya falou baixo como se tratasse de uma confissão de um pecado:

- É... Muito grave o que você fez Kiyoshi. Por sua causa eu estou ficando idiota. Só pode ser isso... Você deveria ser um objeto para mim. Para eu usar e abusar... - Hanamiya falou segurando o queixo de Kiyoshi com força relativa em sua direção - e usar de novo até não ter mais utilidade. Então o que é isso?

Os dois não disseram nada se permitindo apenas analisarem o rosto um do outro. Kiyoshi via como as sobrancelhas de Hanamiya estavam franzidas como se estivesse diante de um problema complicado a se resolver.

Era uma expressão muito rara para não dizer inimaginável se não estivesse vendo ao vivo. Aquele rosto não estava necessariamente carregado de emoções. Na verdade mantinha a frieza costumeira tal qual quanto antes. Porém era nítido que estava incomodado. Isso não acontecia normalmente por ser um mestre em mascarar suas emoções verdadeiras.

Então ficava a dúvida:

O que poderia perturbar Hanamiya Makoto para que aquilo ficasse suficientemente transparente em seu rosto?

Kiyoshi acabou entendendo o recado um pouco tarde tinha que admitir.

“Ah. Ele estava preocupado comigo.”

E de repente a atuação inusitada de Makoto da última vez fez sentido. Se antes era apenas uma fraca esperança tinha se tornado uma certeza quase absoluta.

E seu peito se aqueceu.

-... Se não me der uma resposta agora... - Hanamiya sussurrou perto de seu ouvido.

Para que seu rosto não fosse visto. Porque nem que estivesse prestes a morrer Hanamiya Makoto permitiria que alguém o visse caindo. Mesmo se fosse à pessoa que mais amasse naquele mundo.

Nenhum segundo a mais tinha sido necessário. Suas mãos seguraram o rosto de Hanamiya e o trouxeram para bem mais perto.

Fazia tempo que não beijava Hanamiya com a intensidade que trocavam entre si. E não reclamaria do tempo perdido, pois era como se estivesse condensado ali. Todos os beijos que ainda não tinham trocado e o que talvez o futuro reservasse caso fosse mais gentil. As línguas se entrelaçavam ávidas, saboreando o gosto uma da outra como um prato único. As bocas se encaixavam e desencaixavam. E apenas pararam pela impossibilidade de seus pulmões em continuarem trabalhando naquele ritmo.

Naquele momento não existiram roupas molhadas. Ou frio. Ou qualquer outra preocupação.

- Hanamiya... Essa não vai ser a última vez que te vejo não é? - Kiyoshi questionou com apreensão na voz ao passar um tempo para recuperar o fôlego.

Uma pequena esperança estava depositada ali. Porém teve que voltar a terra e saber era humano e limitado.

Hanamiya se afastou e olhou para a parede enquanto dizia em um tom de voz neutro:

- Hum... Talvez. Pelo menos durante um bom tempo. - Hanamiya disse afrouxando a gravata de seu uniforme e a retirando - Deve ter uma noção do motivo.

- Arrumou briga com alguém? - Kiyoshi perguntou tentando ao seu máximo manter a linha de raciocínio do outro.

- Isso não é nenhuma novidade. E eu não me incomodo com ameaças de todo modo... Pelo menos eu tinha certeza disso. - Hanamiya disse as últimas palavras com irritação.

- Mas como isso me inclui? - Kiyoshi questionou sem entender - Essa pessoa sabe da gente?

- Não me inclua nessa “gente” Kiyoshi, eu não sou como você.

Então Hanamiya desabotoou os últimos botões de sua camisa e retirou a peça. Kiyoshi acabou desviando o olhar ou ia perder o foco.

- Não... Não foi bem isso que eu quis dizer... - Kiyoshi disse tentado se virar e ver a pessoa a sua frente.

- Eu sei. Não sou idiota. - Hanamiya disse entre um tom espinhoso e desinteressado - Estou dizendo que você pode continuar sua vida e ter a mais careta possível sem problemas. Logo estou dando um jeito nisso.

“Por isso a Inglaterra?” Kiyoshi se questionou impressionado o quanto Hanamiya podia ir longe pelas suas decisões.

Mas isso não era incomum.

Hanamiya pareceu se inclinar para fazer alguma coisa. Kiyoshi se atreveu a se olhar e se arrependeu ao saber que o outro estava tirando a calça também.

- Hum... Vai mesmo continuar tirando sua roupa na minha frente?

- Eu não entrego informação de graça. Então para seu bem é melhor tirar também.

Certo. Agora Kiyoshi definitivamente tinha se surpreendido. Aquele não era um salto longo demais? Seu rosto corou com aquela proposta.

Porém Kiyoshi não considerou tanta loucura assim que já que não se veriam por um tempo longo o suficiente para ser indeterminado. “Isso se nada mais acontecesse é claro”. Porém Kiyoshi afastou esse pensamento e tentou sorrir. Saiu embaraçado, ainda mais por se esforçar em dizer:

- Então... Poderia me chamar pelo primeiro nome outra vez?

- Vai ter que me convencer melhor “Coração de ferro”. - Hanamiya disse apenas para provocá-lo.

Hanamiya sabia bem o quanto Kiyoshi detestava aquele apelido. Porém naquele tempo que passaram juntos também tinha aprendido um truque ou dois para atingir o ego de Hanamiya.

- Eu posso te chamar de “Makoto”, é o suficiente? - Kiyoshi questionou baixinho.

Tinha colocado as palmas da mão próximas a cada lado de Hanamiya. Era Kiyoshi quem falava baixo no ouvido Hanamiya. O efeito veio bem mais imediato do que esperava.

- Você vai me pagar... - Hanamiya disse em um tom controlado.

E pulou sobre Kiyoshi. Ah, ia sentir falta daqueles beijos doces. Abraçou aquele corpo como se fosse seu bem mais precioso. Mas aquela pessoa não era algo para ser guardado a sete chaves, mesmo que tivesse seu valor. Mesmo que sua mente apagasse de tempos e tempos algumas palavras e Hanamiya ressoavam em sua mente como uma melodia de piano. Uma profunda o suficiente para lhe tocar sua alma.

“Então o que é isso?” Ambos já deveriam saber disso. A comunicação era difícil entre duas pessoas com visões tão antagônicas de mundo. Kiyoshi gostava de deixar explícito quando aos seus sentimentos e por isso repetiria quantas vezes fosse necessária para que Makoto acreditasse nele.

Só que para Hanamiya as coisas não funcionavam dessa forma. Por isso Kiyoshi tinha que adivinhar entre muitas coisas que poderiam se passar naquela mente. Hanamiya não as diria a não ser nas mais urgentes circunstâncias. Às vezes nem isso.

E Kiyoshi não se permitiria assumir nada por conta própria.

- Hanamiya você... Você me ama...? - Kiyoshi questionou uma hora.

Pois mesmo depois de tudo ele ainda tinha que ouvir uma resposta para aquela questão daqueles lábios.

Só que não se pode mudar a natureza das pessoas de uma hora para a outra.

-... O que você acha Teppei...? - Hanamiya questionou com uma nota de divertimento na voz.

Ah, ele tinha dito o nome. Mesmo que tivesse desviado sua pergunta. Como quando começaram a namorar. “O que você acha?” estava sempre ali. Hanamiya sempre o convidava para desvendá-lo. Não poderia dizer que odiava isso.

Acabou apoiando a testa no ombro de Hanamiya e deu um suspiro.

- Você hein... Bem que podia ser mais sincero de vez em quando.

- E você podia ser menos animado de vez em quando. Eu não sou um coelho seu idiota. - Hanamiya disse transparecendo o tanto de exaustão que devia estar sentindo ao “recebê-lo”.

- Desculpe. Eu vou sair agora mesmo. - Kiyoshi disse em um tom envergonhado.

- Hum.

Hanamiya não se dignou a fazer mais nada além de fechar os olhos. Kiyoshi se retirou daquele espaço aperto do outro e apenas se acomodou ao lado amante. Usando o resto da força de vontade que tinha para vencer o cansaço pegou o celular do outro que se encontrava na cômoda e viu as horas. Era tarde do dia seguinte! Porém Hanamiya continuava com o uniforme do dia anterior. Como se tivesse o observado a noite... A imagem de um Makoto velando seu sono com sua cara apática encheu seu coração de felicidade. E quase pulou em Hanamiya para abraçá-lo.

Porém sabia que no mínimo ia levar um chute se o fizesse. Mesmo em suas últimas forças Hanamiya ainda podia ser perigoso.

Como queria permanecer próximo dele!

Mesmo que ninguém concordasse com tal ideia.

Não trocaria aquela companhia nem se tivesse o direito à escolha. Apesar de que ainda considerasse seus amigos e família.

Kiyoshi se contentou em apoiar a testa nas costas de Makoto. Ainda podia aproveitar seu tempo ali já que era fim de semana.

No entanto uma hora teria que voltar para casa. E o dia da formatura estava terrivelmente próximo.

Uma coisa era certa: Não gostaria mesmo de voltar ali sabendo que Hanamiya não estaria mais lá. Poderia reclamar o que quiser, mas não teria muito efeito.

O que restava era aproveitar aquele curto período que tinham antes que Londres chegasse. Mesmo que o outro não fizesse questão em deixar as coisas como estavam, o que não seria difícil.

Como se tivesse colocado para avançar um filme chato eles chegaram ao final previsível: tirando o fato que Kiyoshi, mais do que ninguém, o estava detestando. Não havia nada diferente aquela manhã, porém sentia que dentro de si havia algo muito frio tomando espaço. Um vazio.

No entanto Kiyoshi não deixou seu sorriso desaparecer de seu rosto. E perguntava a Hanamiya se ele estava bem ou precisava de alguma coisa.

- Ei, você é minha mãe agora por acaso? - Hanamiya questionou aborrecido. - Então é isso...

Kiyoshi sabia bem que Hanamiya odiava promessas, no entanto não conseguiu se impedir de abraçá-lo com força. Tinha noção que estavam sendo observados com estranheza por causa daquela demonstração tão aberta de afeto. E mesmo que no máximo eles achariam que eram apenas muito bons amigos, o próprio Kiyoshi estava embaraçado só que não voltaria atrás. Falou em tom que apenas os dois escutassem:

- Não se esqueça do primeiro nome... Eu vou vir te buscar.

- Huh. Não obrigado isso é muito careta. - Hanamiya disse em um tom divertido.

Deu algumas tapinhas no ombro de Kiyoshi para que fosse solto, e isso “até que era um avanço” Kiyoshi tinha que admitir para si.

Mesmo as nuvens pesadas com o anúncio de chuva, lá fora, pareceram se dissipar por um momento quando o chamou de Teppei.


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Notas finais do capítulo

E é isso povo, além das minhas fics em andamento vou postar periodicamente umas one. Mas não garanto que serão do mesmo casal... Até ♥



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