Um conto de dois irmãos escrita por La-Fenix


Capítulo 2
Um amor proibido-Festival das Estrelas


Notas iniciais do capítulo

Tive de reescrever algumas partes durante o processo de escrita, e passei um tempão me preparando pras provas e fazendo trabalhos pro colégio. Não me matem T.T



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Assim que eu desliguei o telefone, percebi que estava arrepiada. A voz rouca de Rin havia me deixado desconcertada por ter soado tão casual, quando eu estava me sentindo nervosa com ela.

Nossa mãe não estava em casa, o que era bom porque ela tinha uma implicância fora do normal com o meu irmão, ela tinha ido até a cidade vizinha por uns dias para trabalhar num evento de floricultura inter regional. Nossa relação mãe e filha se resumia à jantarmos juntas de noite e trocarmos algumas palavras sobre o dia uma da outra, ela não se animou muto quando eu disse que estava ajudando o time de natação do meu colégio, ainda que não tivesse comentado muito sobre o fato do Rin ter voltado.

Meu irmão era tão esforçado, era triste ele não querer voltar pra casa… Meu irmão também era carinhoso, quando queria, apesar de tudo… E meu irmão tinha me convidado para o festival.

Subi até o meu quarto e me joguei na cama, abraçando meu tubarão de pelúcia velho, ele havia sido do Rin quando criança mas passou pra mim quando ele foi pra Austrália, era uma pelúcia fofinha e macia. Tubarões sempre me lembravam dele, tubarões quando abocanhavam alguma coisa não largavam, e o Rin fazia isso com seus objetivos e ambições, nunca largava.

Por algum motivo eu me sentia incomodada em encontrar o meu irmão. Até mesmo pensar em seu nome me deixava constrangida ao imaginar que estaríamos sozinhos num festival. Será que ele me acharia infantil demais? Afinal, fazia muito tempo que nós não os encontrávamos, ele poderia estar muito mais maduro do que eu.

Sempre que nos encontrávamos era junto de outras pessoas, nossos times de natação.

Afinal, porque eu estava tão nervosa para ver meu irmão? Eu via garotos semi nus todo dia.

Mas o Rin(!) é diferente.

Corei com seu nome na minha mente.

A personalidade forte dele, na verdade sua personalidade imprevisível, me deixava sem jeito, com medo(?), mesmo de longe parecia que ele ia me abocanhar com aqueles dentes pontudos.

Me acalmei e decidi não pensar no encontro. Soltei meu cabelo, coloquei meu pijama e sentei na janela, abraçada com o tubarão de pelúcia.

Olhei para o mar ao longe e senti o cheiro da brisa marinha, as estrelas estavam especialmente brilhantes naquela noite.

Quando criança meu irmão me contou a lenda do festival das estrelas numa noite como aquela. Eu estava sem sono e o Rin deixou eu deitar com ele para me ajudar a dormir.

A lenda era que, a muito tempo atrás havia uma princesa chamada Orihime, ela era muito linda e morava perto da Via-Láctea com seu pai, o senhor celestial Tentei. Querendo que a moça se casasse ele a apresentou a um jovem belo,chamado Kengyu.

O problema foi que Orihime e Kengyu se apaixonaram fulminantemente, e deixaram de lado seus deveres e obrigações. Indignado com o resultado Tentei decidiu separa os dois, colocando cada um de lados opostos da Via-Láctea. Contudo a separação trouxe muita tristeza e sofrimento para sua filha, então o Senhor Celestial permitiu que o casal se encontrasse, mas só no sétimo dia do sétimo mês do ano, e nesse dia o casal deveria atender a todos os pedidos vindos da Terra.

Por isso as pessoas escrevem seus pedidos em pedaços de papel e os penduram em bambus nesse dia.

Era uma história linda, e me fez dormir muito bem depois de ouví-la. Esse era o Rin carinhoso que eu amava, eu queria ser uma Gou carinhosa para ele, mostrar o quanto eu tinha amadurecido e o quanto eu podia fazer sozinha.

Deixei meu tubarão em cima da cama e tirei a caixa de madeira do armário, aonde estavam minhas yukatas, tive de escolher entre elas por algum tempo até me decidir pela vermelha com flores brancas. O dia seguinte era oficialmente sem aula, mas eu ainda teria de ajudar os meninos no treino para o campeonato regional.

Tudo bem- Pensei confiantemente.-Vai ser um dia como qualquer outro e depois eu vou num festival com o meu irmão, um dia muito bom.

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Saí do chuveiro com uma nuvem de vapor quente ao meu redor, a água estivera tão quente que a minha pele estava vermelha. Me sequei com uma toalha macia que o colégio disponibilizava, e enrolei uma toalha maior ao redor da cintura para me trocar no quarto, sem me importar com isso graças ao fato de eu viver num dormitório masculino. Saí do banheiro e fui dar a volta no corredor quando meu ex-colega de quarto apareceu.

–Rin-senpai! -Nitori parecia um moleque de doze anos se fossemos somente avaliar sua musculatura e altura franzinas, mas ele tinha um coração de ouro para compensar.-Perdão… Eu… Eu… Queria saber se você pode me ajudar a melhorar meu tempo na piscina.

O mais novo de cabelos platinados realmente precisava treinar um pouco mais para melhorar sua técnica, mas como estávamos no meio de um feriado, eu lhe respondi:

–Amanhã, Nitori-san. Hoje eu vou sair e provavelmente vou chegar tarde para te ajudar. -Contudo, como o mais novo realmente parecia querer treinar eu lhe sugeri. -Você também pode pedir para o Sousuke-kun para te ajudar nos treinos, ele não vai achar ruim.

Nitori pareceu meio chateado mas concordou com a cabeça e eu pude ir para meu quarto meu trocar.

Como eu não tinha uma Yukata(NA:Uma espécie de quimono)vesti uma calça jeans e uma blusa de malha vermelho ferrugem. Não eram cinco horas, ainda, mas, eu teria de atravessar a cidade para chegar no lugar da comemoração e encontrar a minha irmã. Uma ansiedade crescia no meu peito, conforme eu me dirigia à estação de trem, eu queria desesperadamente ver a minha irmã e me divertir um pouco. A viagem em si passou tão rápido que eu sequer tive o tempo de digerir que eu veria a minha irmã.

As pessoas na rua vestiam diferentes tipo de yukata e conversavam sobre as comidas que o festival oferecia. Minha antiga casa não era muito longe dali, contudo eu pedira à Gou para que ela me encontrasse no parque na frente do festival. Um pedaço de mim queria muito ir em casa e ver se tudo continuava igual à minha infância vivida lá.

O parque não era muito longe dali, e eu conhecia o caminho até de olhos vendados.

Foi aí que eu a encontrei.

Na hora me lembrei da lenda do festival das estrelas que eu contara à Gou quando ela era pequena, ela estava tão bonita que poderia ser uma donzela estelar entre meros humanos.

–Gou? -Eu devia ter dito seu nome, mas o meu espanto fazia aquilo parecer uma pergunta. -Você está linda…

Que idiota….

–Obrigada, Rin.-Seu sorriso tímido foi acompanhado por um leve tom róseo em suas bochechas, me recriminei por achar aquilo extremamente atraente.-Porque não veio de yukata?

Seus lábios delicados me distraíram por um segundo.

–Eu não tenho, não comprei nada que não fosse ligado à natação ultimamente. -Ofereci meu braço para Gou casualmente.-Vamos logo ver o festival, ainda quero ir no templo da água na colina.

A ruiva aceitou e assim nós fomos até a dança de luzes e cores que era o festival. Lanternas de papel estavam penduradas por toda a extensão de barracas e o cheiro de comida me deixou faminto. Haviam barracas com comidas diversas, vendedores de máscaras, balões de água coloridos que se pescavam numa piscina de criança, palcos com apresentações de música, tudo extraordinariamente bonito e vivo.

A primeira coisa que nós dois fizemos foi tentar pegar balões.

O conceito básico é puxar a linha que eles prendem no balão de água e tirar ele da piscina, o complicado do jogo é não deixar a linha estourar.

Eu não era o mestre naquilo, mas ao menos um balão eu conseguira pegar, Gou era tão ruim que nem mesmo isso conseguira, toda vez que ela puxava minimamente a linha do balão ela se arrebentava. Era engraçado pois, toda vez que isso acontecia ela fazia um beicinho com os lábios e franzia o cenho.

Na terceira vez que isso aconteceu decidi dar um fim ao seu sofrimento:

–Toma aí.-Dei meu balão pra ela.- Era pra você desde o início mas tava engraçado te ver tentando pegar um balão.

Ela sorriu pra mim. Sorriu de verdade, um sorriso que já vale por mil agradecimentos e ainda faz a alma ficar mais leve.

–Quer ir no templo antes de comer? -Concordei com a cabeça e paguei o dono da barraca de balões com alguns yens.

O caminha até o templo serpenteava ao redor do terreno do festival, em um caminho de terra antigo com estátuas de pedra indicando a direção, o templo em si ficava num morro que formava um mirante para as festividades abaixo, não era nem um pouco difícil de subir, pelo menos pra mim, afinal eu nadava e malhava todo dia. Observei Gou para ver se ela tinha alguma dificuldade, mas mesmo com as sandálias de madeira ela estava tranquila na subida.

–Ei, Gou.

–O que foi Rin?-Senti ela olhar pra mim com aqueles olhos de filhote que me derretiam por dentro.

–Como a mãe reagiu quando você disse que vinha aqui comigo? -Eu não queria perguntar aquilo, mas o silêncio me fazia pensar em como eu amava minha irmã de uma maneira doentia.

–Ela está viajando, nem sabe que você me chamou.-O tom de indiferença na voz dela me surpreendeu.

–Está tudo bem entre você e ela?

–Melhor do que entre você e ela, mas muito distante de uma relação saudável. Tem dias que ela está bem, e tem outros que ela age como se fosse um robô. Fico imaginando que ela deve odiar ter tido uma filha, ela é tão fria...

–Não acho que ela vá te tratar como me trata algum dia, você é a bonequinha dela. Se ela souber que estamos juntos provavelmente vai me expulsar da cidade, eu sim sou o filho odiado.

–Eu não sou a bonequinha de ninguém… -Gou fez bico de novo e eu não resisti em puxar sua bochecha.-Aí! Para de judiar de mim!.

–Não resisto, quando você fica assim é um impulso meu te judiar. -Ainda assim, soltei sua bochecha e ri.-Estamos quase lá…

O templo era uma construção baixa em estilo oriental com um poço do lado e um sino que se tocava ao término da oração.Gou soltou meu braço, por um instante me fazendo sentir faltar de seu calor, isso na verdade durou vários instantes, uma vontade, de tocar e de sentir algum calor vindo dela acendeu dentro de mim. Eu era um pavio acesso esperando para chegar ao final e me acalentar num amor reprimido.

Tentei orar silenciosamente ao deus do templo, pedindo para me ver livre daquela maldição de amor proibido, ao mesmo tempo que pedia para ele não ser proibido e sim ser libertador. Eu queria que as minhas correntes fossem também uma chave, algum funil por onde eu poderia escapar e respirar. Aquele amor era um mar escuro, onde eu não podia encontrar o que queria, era algo que me reprimia ao mesmo tempo que me motivava.

Ela não te ama.

Mas eu queria que me amasse, nem que fosse uma fração do que eu a amava, só um pouco de amor já me bastaria, seria como uma golfada de ar no meio de um nado livre.

Olhei para a minha irmã sentada no poço selado e bloqueei qualquer pensamento auto-depreciativo.

Sentei ao seu lado encostando minha mão na sua. Ela se assustou na hora,mas ficou quieta, enquanto eu fazia um carinho nas costas de sua mão com a ponta dos meus dedos, sua mão era macia como um pedaço de seda, em contraste com a minha, que era grande e áspera. Ela reagiu a isso aproximando sua mão da minha e entrelaçando seus dedos nos meus.

Encostei minha testa nos cabelos cor de maçã de Gou, ela ergueu o rosto e com a minha outra mão eu acariciei de leve seu rosto delicado até tomar coragem de levar minha boca até seus ouvidos.

–Posso te beijar? -Minha voz soou desesperada, como se eu estivesse quase morto de sede e lhe pedisse um copo d’água.

. -Pode.-Com uma voz rouca e baixa ela me respondeu, apertando minha mão.

Meus lábios encontraram os dela se esforço, minha mão correu para sua nuca para mexer em seu cabelo, nossas línguas se encontraram por acaso, duas estranhas se conhecendo.

Ela estava tímida. Eu queria explorá-la com o beijo, sua boca imaculada um presente divino.

Sua língua queria entrar na minha boca, quis que ela tivesse cuidado com meus dentes perigosos, mas não consegui me afastar o suficiente para falar. Percebi que toda aquela tímida curiosidade era um primeiro beijo. O primeiro beijo dela.

Deixei ela se separar e beijei sua testa.

Não precisávamos dizer mais nenhuma palavra.

Éramos irmãos.

Éramos amantes.


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Notas finais do capítulo

Convivam com isto bolacheros, valeu a pena esperar?^^



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