Eu era solitário, um fã de animes e games qualquer, mas eu ficava mais tempo no Facebook interagindo com pessoas do mundo todo (pessoas de todo o Brasil, dos Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul, Tailândia, Portugal, etc) do que com gente daqui da minha cidade, Capão do Leão?, ou até mesmo da minha vizinha que é de certa forma popular, Pelotas. Até meu amigo me convidar para irmos no evento AnimeBomb. Nunca tinha ido em um até então, portanto fiquei bastante animado.
Lá eu conheci várias pessoas muito gente fina e divertidas, além de dividirmos o mesmo gosto. Experimentei alguns doces japoneses, assisti aos shows de J-Rock e às apresentações, bati papo com bastante gente, enfim... o evento foi ótimo. Aproveitei e comprei algumas lembranças, inclusive uma touca do PedoBear, que sinceramente amei. Mas o foco da trama são dois de cinco bottoms que comprei lá, mais especificamente as personagens que estavam neles.
Vocaloid, uma série de cantores virtuais, é bastante popular com os otakus. Mas eu não esperava ser tão popular com os otakus daqui de Pelotas. Duas das personagens que mais gosto são Megurine Luka e Haku Yowane. Gosto tanto a ponto de considera-las minhas esposas. É um amor muito intenso que tenho por elas (meu amor pela Luka é puramente pela voz e a personalidade matura; já a Haku é pela aparência e a personalidade calma e gentil e extremamente fofa que é apresentada no jogo Miku Miku Date, um "visual novel dating sim" onde o objetivo é namorar uma das vocaloids). Lá no evento, encontrei uma garota fazendo cosplay da Haku, obviamente fiquei atraído logo no primeiro olhar. Vi ela várias vezes no evento, mas não cheguei a falar com ela, muito menos reencontrei-a. Me arrependo de não ter obtido contato... mas pelo menos comprei uns bottoms, dois de vocaloids, uma de um OC que se popularizou por meio de uma música de vocaloid dela própria e outros dois — o foco desse capítulo será uma das Vocaloids e aquela OC.
Voltei para casa assim que acabou o 2º dia do evento — já a emoção levou um bom tempo para sair de mim. Fui tanto no grupo do evento no Facebook discutir com o pessoal que estava lá quanto falar com meus amigos sobre ele. Finalmente tirei aquele sentimento de solidão de mim. Estava me sentindo uma nova pessoa. Não sabia explicar. Mas era um novo sentimento. Me sentia cada vez mais assim dessa maneira quando conversava com o pessoal que foi no evento. Pessoas da minha cidade.
Quando vim para a aula, coloquei alguns bottoms na minha mochila para enfeite: um da Luka, uma daquelas vocaloids, na alça direita, o da Black Rock Shooter, aquela OC, na alça esquerda, e um da Hatsune Miku, outra vocaloid, na parte da frente. Preferi deixar Luka e BRS nas alças de uma maneira que sempre estivessem do meu lado. Eu amo muito ambas, eram de fato minhas waifus prediletas.
Porém o conceito de Waifu, uma esposa estilo desenho 2D, diz que só podemos amar a uma personagem só — ter um harém seria um desrespeito. Eu precisava decidir logo, para que eu não a desrespeite — pode parecer ridículo, mas é uma questão de amor verdadeiro, difícil de ser compreendido.
Tinha que escolher logo. Não ter respeito com sua waifu é terrível. Então peguei minha mochila, eu estava suando frio, coloquei-a sobre uma das classes da minha escola na minha sala de aula, meu coração batia forte e rápido, queria fugir dali mas no fundo decidi que era algo necessário. Olhei fixamente para elas. Chegou a hora de finalmente virar homem e escolher apenas uma esposa e acabar com a fantasia de harém.
Automaticamente me recordei do momento em que me apaixonei por cada uma delas. Apaixonei-me pela Luka em 2013, quando jogava um jogo de ritmo das vocaloids para PSP, a voz dela era encantadora, e a maneira que ela dançava era espetacular, me seduzia a cada movimento; já a Black Rock Shooter foi em 2014, por meio dos traços mostrados na música dela própria de mesmo nome, cantada pela Hatsune Miku. Foi uma bela nostalgia relembrar isso, e até que me ajudou a refletir um pouco para minha decisão, mas precisei manter o foco.
Ambas me faziam feliz, isso é fato. Mas cada uma de uma maneira diferente. A Luka era mais alegre, madura, mais velha, competente, entre muitas outras qualidades. Mas a BRS combinava mais comigo: era solitária, fofa, obscura, objetiva... Porém nesse momento me lembrei do AnimeBomb, de como eu me senti acompanhado, abandonando a solidão de vez. Até então, eu combinava com a Black Rock Shooter, algo que fortaleceu meu amor por ela — não mais. Eu virei um novo homem, mais competente, mais maturo, mais confiante, menos solitário. Por isso tive que recusar ela. Deu um aperto muito forte nesse momento, mas foi preciso. Não posso me agarrar mais ao passado e à solidão, mesmo que eu tenha sido, de certa forma, feliz com minha atual vida nessa época, devo seguir em frente com o que conquistei. Sabia que escolhendo a Luka serei mais feliz daquele ponto em diante. Obviamente não esquecerei meu passado, quem eu era, como eu era, mesmo sendo feliz, dei um passo para uma felicidade mais alegre, um sentimento capaz de derrubar qualquer barreira que ouse se erguer na minha frente: Vida. O sentimento de viver. Algo que eu nunca tinha experimentado antes de uma forma direta. Mas agora sinto.
Agarrei a alça onde estava o bottom da Luka, e coloquei em meu peito e disse: "Eu sou o que sou agora, e você me completa."
Senti que foi a decisão certa. Espero ter sido mesmo...