Palácio Schreave --- Illéia

David Schreave

O dia realmente foi agitado. Reuniões, conselhos, e uma decisão. Sinceramente, minha cabeça doía apenas de pensar na pressão que passaria nesta noite. A parte que eu mais odiava na Seleção, era a da eliminação. Aquilo doía profundamente em mim... Porem eu não tinha escolhas. Não podia ficar com todas elas, prendendo-as lá dentro, sem ter a menor noção de qual seria o meu verdadeiro amor.

–-David! Preste atenção na reunião –repreendeu-me minha irmã.

Eliza andava um pouco distante, talvez pelo fato de estar sobrecarregada com tantos trabalhos.

Estávamos em uma reunião sobre serviços públicos. Papai queria investir mais na saúde de Illéia. Mas eu não estava no clima para debates. Pedi licença, e sai da sala. Papai não reclamou, pois apenas ele sabia toda a pressão que eu estava sentindo.

Quando estava no caminho de meu quarto, vi uma selecionada sentada no jardim. Parecia estar chorando. Aproximei-me, e rapidamente a reconheci. Era Alice Olliver. Agache-me para não assusta-la, e toquei seu ombro. Ela retirou o rosto das mãos, e encarou-me.

–-Está tudo bem?

–-Não. Desculpa alteza, me desculpe. Mas estou sentindo tanta falta de minha família...

Não conseguiria pensar em ficar longe de minha família.

–-Você não precisar estar aqui Alice. Não quero prende-la aqui.

–-Mas é aqui que eu quero estar. Porem sinto saudades... Tantas saudades.

–-Tenho uma ideia... Mas não sei se agradará você.

Ela retirou as lagrimas do rosto, e prestou atenção.

–-Podemos tomar um chá juntos, pois já é 16h. E você prometeu-me, logo no inicio da Seleção, mostrar um de seus textos para mim. O que acha?

–-Acho ótimo... Irei pegar o texto, e nos encontramos no Salão ou na Varanda?

–-No jardim...

Ela levantou-se, animada, e correu pela escadaria.

Rapidamente, providenciei uma mesa, e pedi para a cozinheira trazer alguns bolinhos, biscoitos e folhados. Café e chá também. Alice apareceu correndo minutos depois, e tinha em mãos duas folhas.

–-Aqui! –ela disse, as erguendo.

–-Sente-se, acho que gostará deste café. Tem vários folhados doces.

Ela pegou um deles, e mordeu. Disse que estava gostoso, e entregou uma das folhas para eu ler. Coloquei-a na frente de minhas têmporas, e li.

“Eu finalmente estava encontrando o caminho para a saída do meu labirinto. Não estava mais tão perdida, e agora sabia o certo a se fazer. Mas era difícil dizer adeus. Estava pensando se deveria ir sem me despedir. Ou se deveria permanecer onde estava... Afinal, como sair desse grande labirinto de escolhas da vida?”

–-É lindo Alice.

–-Mesmo?

–-Mesmo! Porque não o publicou ainda?

Ela corou.

–-Não costumo publicar coisas deste gênero, apenas mostro para pessoas especiais...

Rapidamente ela entregou-me a outra folha, não dando espaço para poder respondê-la.

“A vida. Resumida em três partes. O começo, meio e o fim. Somos jovens, e temos tanto tempo. Vamos nos apaixonar, e ficar com corações envolta de si. Os olhos vão brilhar, e você vai se sentir nas nuvens, apenas por ouvir a voz da sua paixão. Também vamos fazer muitas burradas. Brigar com amigos por bobeiras, e acabar se afastar de pessoas que você jamais pensou viver sem. E vamos conquistar sonhos! Viajar para uma determinada região que sempre quis, ou até mesmo se formar em determinada profissão. Vamos criar uma família. Ter uma família esperando para colocar o almoço na mesa todo domingo, e um bebê no quarto esperando que a fralda seja trocada e a mamadeira feita. Também vamos errar... Fazer as escolhas erradas, e esquecer, as vezes, que a nossa missão na terra, nada mais é que: viver. Viver sem pensar muito nas consequências, porque querendo ou não, nunca uma escolha vai agradar a todos. Mesmo que você ache que agradou, sempre vai ter um que não se contentou. Então viva. Sorria, chore, namore, beba, saia, procrie! Deixe-a sua marca no mundo. Mas não espere demais. Não faça muitos rascunhos no caderno, pois talvez não dê tempo de passar tudo a limpo. Viva. “.

Os textos eram maravilhosos, e chegavam a emocionar. Ela tinha potencial para a profissão que exercia. E parecia sonhar com o amor...

–-São lindos... Alice, infelizmente preciso ir. Desculpe por não ter mais tempo.

Ela sorriu, e aproximou-se.

–-Esse pequeno tempo, me deu esperanças que ainda posso ser sua escolhida.

E então, virou-se e saiu andando.

Eu já estava pronto para a apresentação do Jornal. Tudo parecia estar pronto também. E então, deram inicio. Dessa vez, quem começou falando foi minha mãe. Dizendo sobre os projetos públicos e tudo mais. Depois Eliza, contando sobre a festa de noivado que irá dar, dia primeiro, em quinze dias. Logo foi meu pai, contando sobre e nossa nova aliança, França. E então, fui eu. Estava apreensivo ainda, mesmo sabendo que a melhor decisão a ser tomada seria aquela. Mesmo depois de tudo, não rolou certa química com aquela selecionada. E não gostávamos das mesmas coisas...

–-Boa noite. É gratificante ver o quão estão gostando da Seleção. Obrigada pelas mensagens no e-mail e twitter. Também gostaria de dizer algo que minha irmã esqueceu-se de falar. O tema do baile, e festa de noivado, será baile de mascaras –alguns riram do esquecimento de Eliza –Não a culpo também, pois garanto que ela está muito cansada. Hoje, infelizmente, teremos mais uma eliminação. Como todos podem imaginar, esta é, em minha opinião, a parte mais apreensiva e difícil, e também que tras mais tensão, tanto para mim, como para as Selecionadas. E até mesmo para os telespectadores, pois tenho certeza que cada um tem uma Selecionada favorita. Minha escolha é apenas por não termos muitas coisas em comum. E também percebi, que ela não esta tão envolvida na Seleção como todas as outras. Não a desmerecendo, jamais. É uma garota sensacional, e muito inteligente. Mas infelizmente, não é a garota que pretendendo passar o resto de meus dias. Espero que não guarde ressentimentos, e que sempre venha nos visitar no palácio, pois é mais que bem vinda, Woori.

Ela levantou-se, com um sorriso fraco nos lábios. Pegou um buque de flores que estava em minha mão esquerda, e abraçou-me. Logo as palavras foram passadas para ela, e deu-se fim á apresentação.