David Schreave

Um pouco depois, fui com Eliza para o quarto dela. Ela se sentou na cadeira da escrivaninha, retirou um caderno da gaveta, e esboçou alguns rabiscos.
–O que houve? –disse, tentando conseguir uma resposta. Ela me ignorou. Como havia pensando. Ela não chegou nem a se mover, se quer. Desistindo, levantei e caminhei até a porta.
–Espera –Eliza pediu- Não vai embora.
Virei, olhando diretamente em seus olhos.
–Eu só quero ajudar Liza, porem, para isso você precisa confiar em mim. E dizer o que houve.
Ela respirou fundo. Sentou-se no tapete e pediu para que eu me sentasse ao seu lado.
–Eu estava andando pelo jardim. E então, havia um coelho decapitado.
Eu sabia que não era verdade. Obviamente, ela ficaria triste com um acontecimento deste tipo. Mas não deste jeito. Não chorando, de cabeça baixa e calada. E no exato momento em que avistasse o coelho, contaria para mamãe. Porem, respeitei sua decisão, de me esconder a verdade.

Já era noite. Sempre nos reuníamos no salão principal para jantarmos juntos. Mas como Tessa estava com muito sono e acabou comendo no quarto, mamãe disse que não precisaríamos jantar no salão também. Então, aproveitei e pedi minha refeição também no quarto, e enquanto esperava, editava umas fotos que eu e papai havíamos tirado semana passada. Ouve uma batida na porta. Disse para entrar, e então minha mãe entrou.
–Está tudo bem por aqui? –ela me perguntou, com um olhar preocupado.
–Sim, porque não estaria mamãe? Aconteceu algo?
Ela olhou pro chão.
–Aconteceu de novo.
Senti um arrepio na nuca. A um mês, os sanguinários tentaram invadir o castelo pelos tuneis subterrâneos. Mais de uma vez. Papai e mamãe ficavam totalmente apavorados quando isso acontecia. Porque em nossos quartos haviam “saídas” do túnel. E era obvio que, se achassem o caminho certo, podiam entrar em nossos quartos...
–Mas já esta tudo bem mamãe? Como souberam?
–Sim, creio eu que sim. Eu e seu pai ouvimos vozes. Vozes embaixo de nos, e barulhos. Eles chegaram um pouco mais perto hoje David. Quero que você fique atento a todo minuto! E qualquer movimento estranho que perceber, procure um guarda, e em seguida a mim ou seu pai. Entendido?
Assenti com a cabeça. Ela beijou minha testa, e saiu.

Na manha seguinte, Eliza não veio me acordar. E nem ninguém. O que era um sinal de que, minha mãe havia liberado dormirmos até quando quiséssemos. Não queria levantar ainda. Minha cama estava confortável demais. Então, peguei no meu criado um livro que estava lendo. O Morro dos Ventos Uivantes. Recomendação de William, nosso estilista real.

Eliza Schreave

Eu não queria contar a verdade há David. Não podia contar. Mas eu também não escolhi isso. Acho que no fundo, ninguém escolhe. Minha mãe pediu que eu dormisse com Tessa, pois ela não queria deixa-la dormir sozinha. Tessa acordou cedo. Me acordando junto. Tomamos banho e colocamos roupas simples. Assim, ela foi brincar no parque, com algumas amiguinhas. Aproveitei e fui andar pelo palácio. Andar e observar. Observar algo especifico...
E finalmente encontrei. Como gostava de observar. Gostava muito. Pensei em me aproximar, olhar mais de perto. Afinal, não era sempre que achava. Mas então, alguém puxou meu ombro.
–Eliza, Annabel te espera em seu quarto –disse minha mãe, me assustando. Annabel era minha prima, e minha melhor amiga. Filha da minha tia May. Ela havia se casado com o principie da Escócia. O estranho foi mamãe não avisar que eles nos visitariam. Até porque isso era raro. Eu e Annabel conversávamos mais por Skype ou FaceTime. Corri para o meu quarto, afim de contar a Annabel o acontecido. Entrei rapidamente e a abracei. Ela sorriu, entusiasmada.
–Annabel, você não vai acreditar o que aconteceu! –disse totalmente sem folego.
–Ah eu vou acreditar sim Liza, até porque eu já sei. O amor aconteceu. Seu rosto diz tudo!