Kiseki - One Shot escrita por Sachie


Capítulo 1
A neve cai... Como se estivesse esquecido de parar




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Quando nada acontece, há um grande milagre ocorrendo, mas não estamos vendo.
Guimarães Rosa

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Para Nonoe, que sempre inebriou meu ar com sua doce fragrância de canela e melado...

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Os humanos possuem o costume de sempre se reerguerem após caírem. Eles choram e sofrem em silêncio, mas nunca conseguem desistir. Mesmo que tentem, mesmo que queiram. Os humanos são seres fracos que não conhecem seus próprios limites, mas isso... Também é a sua força.

Essa história se arrasta desde o inicio dos tempos e tudo sempre termina do mesmo jeito. As pessoas morrem, as pessoas matam, as pessoas se esquecem e seguem em frente. Mas... E os Ghouls?

O cenário era esse: O fim de uma guerra. Uma peça de tragédia. Não haveriam finais felizes naquela noite e talvez alguém louco o suficiente para assistir esse espetáculo, aplaudiria de pé na platéia, o cúmulo da tristeza.

Nenhum dos lados vencera; Não era possível chamar aquilo de vitória. E ninguém comemorou, ninguém tinha vontade de comemorar.

Pilhas de corpos começavam a se decompor nas ruas. Ghouls e humanos; Talvez fosse a única ocasião em que as duas raças se encontrariam lado a lado: Na morte.

Era assim que eu pensava, como um membro da CCG, meu dever era eliminar ghouls. Odiá-los. O mundo era pequeno demais para que as duas raças coexistissem, além do que, ghouls se alimentavam de humanos. E isso já era motivo suficiente.

Mas em meio aquele cenário caótico, em meio aquele banho de sangue... Um milagre aconteceu.

Alguém ainda estava em pé no meio daquele inferno. Os puros e simples flocos de neve, caíam aos montes sobre aquele garoto de cabelos brancos. Em seus braços repousava um corpo, escondido pelas camadas de um fino pano perolado. Nos olhos daquele ghoul, haviam lágrimas.

Um ghoul remanescia. Era nosso dever eliminá-lo, antes que tivéssemos mais perdas. E ninguém mais queria perder alguém, não naquela noite. Nós apontamos nossas armas. Apontamos, mas não atiramos.

Uma leve brisa tocou o rosto do garoto platinado, um toque gentil. Como se o próprio vento tentasse limpar suas lágrimas. Foi quando nós vimos, o corpo que aquele garoto levava, não era de um ghoul, não era de um semelhante. O corpo era de um humano. Um humano da CCG.

Eu nunca fui uma pessoa muito religiosa, garanto que nenhum de nós nunca foi. Quem vê a morte todos os dias, sempre questiona sua fé. Sempre questiona o motivo da existência dos ghouls.

Mas aquele ghoul, aquele garoto de cabelos brancos, aquela criança de um olho só... Carregando seu melhor amigo, enquanto arrastava seu corpo ferido através do campo de batalha...

Aquela foi a primeira vez que nos questionamos sobre tudo. Até mesmo sobre o sentido daquela guerra. Porque aquele ghoul chorava? Porque ele chorava por um humano?

Talvez fossem apenas as luzes dos helicópteros, mas naquele momento, eu pensei ter visto um milagre, iluminado pelo próprio Deus...


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