League of Legends: As Crônicas de Valoran 2ª Temp. escrita por Christoph King


Capítulo 9
Capítulo 8: Shurima


Notas iniciais do capítulo

Sivir faz seu caminho à Shurima após fugir de Noxus.



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Capítulo 8:

Shurima


Chegar em Shurima foi difícil, mas não tanto quanto ver as ruínas de sua antiga casa.

Sivir passou por maus bocados enquanto se dirigia a sua nação natal. Teve que pegar carroças e mais caronas, teve de andar por vários quilômetros sob chuva, neve e, ao final, um sol escaldante. Vestia-se como os peregrinos que percorriam toda a Shurima, com panos leves que protegiam do sol e eram frescos. Havia comprado água em vários pontos, era barata, por sorte. Seu dinheiro era escasso, comia restos que encontrava.

Lembrava-se do que sua mãe dizia: Sem comida você sobrevive por semanas; sem água, no entanto, apenas poucos dias.

Seu caminho foi árduo. Passou por montanhas altas e sombrias, depressões, morros, cidades pequenas... chegou a uma cidade rodeada por montanhas gigantes que mais pareciam órgãos de uma igreja. A cidadela era grande, cheia de pessoas, mas elas pareciam mortos-vivos. Andavam para lá e para cá, sombrios, olhando para lá e cá, quase que desconfiados.

A cidade em si era escura, e por ser perto de Shurima, já era cheia de areia em algumas partes. Estava perto do destino, mas precisava de alguém. Estava destruída, exausta, mas se recusava a tombar. Só precisava comer algo, beber algo. Era uma mulher bonita, afinal. Podia conseguir algo bom sem precisar se prostituir.

Adentrou ao bar mais próximo, com vários olhares se encontrando com o dela. Viu vários homens, na verdade, só homens. As mulheres que haviam ali eram serviçais e putas, apenas. Os homens de lá ou eram ogros musculosos, ladrões encapuzados e aventureiros. Todos bebiam.

Sentiu seu estômago roncar e lambeu os lábios, precisando hidrata-los urgentemente.

Tateou os bolsos, procurando alguma moeda. De todas as suas viagens só restou uma. Antes de sair de Noxus roubou um saco de moedas de um ladrão que corria em sua direção. Ao que parecera, Swain a deixara fugir, já que os portões nem se fecharam e os soldados pararam de segui-la. Mesmo assim a sua jornada mal começara.

Sentou-se em um banco do bar e colocou sua moeda na mesa com força, chamando a atenção do badernista, um homem imensamente gordo com cabelos ruivos longos e uma barba bizarra. Ele se vestia com um turbante e um manto bem longo, tamanho extra GGG.

– Me dê alguma coisa... – ela pediu, ofegante. – Água... algo para comer.

O badernista emburrou-se, e Sivir pensou que ele iria enxotá-la.

– Uma moeda de prata não pode pagar nem por uma cervejinha.

Sivir nunca quis implorar nada a alguém, principalmente tendo morado em Noxus por tantos anos. Mas estava desesperada. Estava faminta e desidratada. Precisava de algo.

– Por favor!! – implorou, quase chorando.

– Me desculpe, mas...

Sivir só viu uma mão colocar várias moedas no balcão, moedas de ouro. Os olhos do badernista cintilaram tanto quanto o ouro.

– Dê a ela o quanto de água e comida que ela precisar – a voz era grossa e majestosa, como a de um anjo ou ser celestial.

Sivir se virou para ver quem era seu salvaguarda, vendo que era nada mais nada menos que um homem negro, algo, musculoso e careca, com olhos azuis, algo um tanto quanto incomum. Ele usava vestes shurimanes azuis e douradas, demonstrando seu poder aquisitivo. Ele deveria ser um homem rico, e estava fazendo caridade com Sivir.

– E-eu não posso aceitar – ela retrucou, arfando, cansada. A sua vista estava quase se fechando e ela, só de ter sentado, teve todo o cansaço acumulado de todos os dias e noites de viagem soltos. Estava destruída, mas sua honra permanecia.

O homem sorriu.

– Não se preocupe, tudo por minha conta.

Sivir queria contestar, mas estava fraca, e quando a grande caneca com água foi posta sobre a mesa, ela não aguentou, bebeu tudo com um ímpeto inacreditável. O badernista teve de encher a caneca mais cinco vezes para saciar sua sede. Quando ela terminou, se sentia muito melhor.

Olhou para seu salvador, pensou em sorrir, mas não o fez. Preferiu analisa-lo calculadamente.

– Obrigada – ela disse. – Mas eu me virava.

Ele suspirou.

– Certamente iria.

Os dois se entreolharam por alguns segundos, esperando ver quem falaria primeiro.

Sivir tomou à frente.

– Por que me ajudou?

– Sou um curador, meu dever é ajudar.

Ela cruzou os braços.

– De onde eu venho ninguém ajuda ninguém sem segundas intenções – fez uma cara feia. – O que quer?

– Quero leva-la até um lugar – de primeira ela pensou em vários locais aonde homens ricos poderiam levar mulheres desacompanhadas (um prostíbulo, talvez?), e percebeu que toda aquela laia dele podia ser para seduzi-la e fazê-la fazer o que ele quisesse. – Esperei por seu retorno há séc... anos.

Ela franziu a testa.

– Primeiramente, quem é você e qual o seu nome?

Chegou-lhe um prato de comida para ela, um prato famoso em Shurima, chamado Khlar, que consistia em uma travessa de carne de carneiro com um tempero picante. Era famosa, também, por manter uma pessoa alimentada por quase um dia inteiro.

Sivir começou a comer a carne enquanto conversavam.

– Meu nome... – hesitou o homem. – Não importa meu nome, Sivir.

Ela engoliu a comida, ignorando o molho picante queimando sua boca.

– Pelo visto não preciso me apresentar, já que Swain foi sujo o suficiente para mandar alguém como você!

– Espere! – ele exclamou, preocupado. Ela estava prestes a sair, mas não iria sair realmente, iria apena pressioná-lo. Não iria largar aquela comida deliciosa nem que as areias de Shurima devorassem aquele fim de mundo. – Eu conto meu nome.

Sivir sorriu. Gostava da forma como ele falava. Parecia estar se contendo para não explodir e agradecer aos deuses pela sua aparição. Realmente ele parecia nervoso; como antes dito, estava há anos esperando por ela. Mesmo assim ele era extremamente elegante, falava com uma imponência surpreendente, comparada à forma que aqueles homens grotescos do bar falavam. Ele parecia da realeza, o que era estranho, já que não havia realeza nem monarquia em Shurima fazia um milênio.

– Pois bem, conte.

– Ainda não é a hora certa – ele retrucou. – Aprenda que em Shurima nomes têm poder. Não posso mencioná-lo perto de tais homens.

Sivir riu, com a boca levemente suja de molho.

– É mesmo, é? – debochou.

– Sim – respondeu ele, firmemente. – Peço que me siga, tenho camelos e suprimentos nos esperando.

Ela franziu a testa. Ele não parecia querer se aproveitar dela, mas algo mais. Parecia querer leva-la para um local secreto, mas por sorte nada que fosse trazer o mal dela.

– Tudo bem – ela disse. – Se você tem como nos manter, eu o sigo.

Ele sorriu pela primeira vez durante toda a conversa. Foi quando uma luz quase a cegou, mas depois percebeu que foi só um feixe projetado sob um pingente que pendia do pescoço do homem. Ela notou que tal pingente era semelhante à cabeça de um cachorro em hieróglifo, feito de ouro e safira.

– Agora selamos um contrato – ele anunciou. – Se seu caminho acabar se desviando da rota, você acabará voltando a ela de um jeito ou de outro. No final das contas o curador sempre cumpre suas missões.

Sivir arregalou os olhos. O curador sempre cumpre suas missões. Lembrou-se de um conto que sua mãe vivia lhe contando, sobre um ser celestial shurimane. Foi quando tudo veio à tona: sabia quem ele era.

– Eu sei seu nome.

Os olhos dele brilharam como se fosse uma estrela.

– Então diga.

Ela engoliu em seco, mas não hesitou.

Nasus...

Uma palavra foi o suficiente para distorcer toda uma realidade. Viu o bar inteiro se desfazer em areia, varrido pelos ventos quentes de Shurima. Parecia uma breve tempestade de areia, mas, quando ela ousou abrir os olhos, se viu no centro de uma tempestade, de um furacão.

Seus cabelos se esvoaçaram para todos os lados. Nasus estava longe, ela só podia ver sua silhueta, mas ela parecia completamente diferente do homem que ela havia acabado de conhecer. Era de uma silhueta grande, mais corpulenta ainda e com um rosto diferente. Ouviu sons de metais se movendo rapidamente, como se uma armadura de ferro estivesse se fechando.

Quando viu, Nasus tinha dois metros de altura, e o pior e mais assustador: ele tinha um rosto de cachorro, com focinho, dentes, nariz redondo, mas seus olhos permaneceram. Ele usava um curto capacete com espaçamento para as orelhas e uma armadura dourada com detalhes azuis, semelhantes ao do pingente. Ele em si era um grande animal com uma armadura, como uma antiga divindade. O Curador das Areias.

Sivir Ahkmun-Rá – ele disse numa voz celeste, como se dissesse direto na mente dela. – Você tem um destino brilhante pela frente; só precisa me seguir.

Sivir parecia estar sendo soprada de todos os lados, algo nada agradável, principalmente para ela, que usava saia.

– E precisa criar esse tornado de areia para me dizer isso?!

Sim. Para que você acredite na veracidade de meus poderes.

– Ah, claro, você é um mito vivo. Agora acabe com isso!!

Nasus a obedeceu; ele bateu o pé no chão e a tempestade se desfez. Sivir se viu de olhos fechados; os abriu e percebeu que Nasus voltara a forma de homem, sua pele escura refletindo o sol escaldante do deserto.

Percebeu que já estavam em Shurima, sendo que ainda haviam vários quilômetros a se percorrer.

– E então já estamos aqui? – ela perguntou.

Nasus assentiu.

– Não podemos demorar muito. Precisamos encontrar uma civilização, pois as areias desertas são perigosas.

Sivir olhou para trás, percebendo que estavam no topo de uma duna. A visão de baixo era a coisa mais perfeita que já havia visto, lhe trazendo toda uma nostalgia, como lembranças boas de anos, séculos atrás. Eram dunas douradas e cintilantes, longas, grandes e estendidas por quilômetros e mais quilômetros. Ao canto inferior direito de sua vista havia uma pequena parte de uma ponte ainda não soterrada, por onde poderia passar para evitar as dunas.

Mais ao longe, ao centro da vista, ela podia ver vários pilares gigantescos, parecendo torres, eram escuras e tinha fendas amarelas, como uma esfera amarela com pedras a prendendo.

– Onde estão os camelos que me prometeu? – perguntou ela.

– Essa área aberta é muito perigosa para camelos. São as presas favoritas dela.

Dela... A forma como Nasus a mencionou fez o coração de Sivir pulsar mais rápido. Ouvira boatos sobre uma besta que rondava ruínas shurimanes, mas nunca acreditou. Justamente viajara para Noxus numa viagem que muitos chamaram de suicida. Porém, nada lhe ocorreu. Talvez a besta estivesse ocupada comendo alguns camelos.

– Com ela, você quer dizer...?

– Em breve verá – ele começou a andar, contornando o precipício de areia, que dava para uma ladeira arenosa de mais ou menos vinte metros. Cair dali não faria muito bem para a pele. – Agora você precisa atravessar aquela ponte, é mais segura.

Sivir franziu a testa.

Eu preciso atravessar aquela ponte? Como assim? Você não ia vir comigo?

Ele suspirou, com pesar.

– Você ainda tem assuntos pendentes. Resolva-os, e então eu tornarei a guia-la.

Assuntos pendentes. Realmente, Sivir não viera até Shurima para encontrar Nasus ou algo assim. Viera por causa do relato de Draven sobre sua casa destruída. Ainda tremia ao pensar naquilo. Precisava chegar intacta até sua casa, mas ainda estava longe, sabia disso. Precisaria andar ainda mais para chegar.

– Então, estou sozinha de novo?

Ele fez que não.

Ele retirou o pingente de cão do pescoço, entregando a ela.

– Pegue. Se precisar de mim é só chamar, mas só me chame em situações de extremo risco onde você não possa fazer nada. Sei que odeia depender dos outros.

Ela sorriu e pegou seu disco que logo se tornou um bumerangue de ouro.

– Claro.

Ele analisou o bumerangue.

– Quando a hora chegar, esta arma será a chave. Você nasceu para ela, e ela para você.

Sivir franziu a testa.

– Como assim...? – mas Nasus já havia se desfeito em areia.

O silêncio se fez total e uma ventania arenosa começou a zumbir.

Sivir ouviu vozes de pessoas e camelos blaterando alto. De repente ouviu um outro som, como um chiado de uma besta gigante, algo que ecoou por todo o deserto. Depois ouviu gritos, e foi aí que percebeu que deveria correr.

Correu, correu, correu na direção da ponte. Graças a Nasus, ela estava com as forças renovadas. Mas não parecia o suficiente para correr naquela pequena tempestade de areia.

Socorro!! – ouviu um grito mais alto.

Não conseguia perceber de onde vinha o grito, mas sabia que algo muito ruim acontecia naquele momento. Sentiu tremores na terra e guinchos poderosos de alguma coisa.

Xer’Sai!!! – gritaram.

Foi quando a memória de Sivir se lembrou dos contos que lhe contavam quando ela morava em Shurima. Xer’Sai era uma raça de criaturas demoníacas que habitavam o subsolo, cavando e emergindo para caçar. Geralmente alguns eram do tamanho de um escorpião até o de um cavalo, mas havia o mito de uma Xer’Sai maior e mais rápida que todos: Rek’Sai. Se estava na área dela, então realmente teria problemas.

Ouviu um grito de criança, e foi quando seu coração se apiedou. Percebeu de onde o grito vinha e correu em sua direção, indo para uma direção oposta à da ponte por puro instinto heroico.

Infelizmente o grito foi mais potente, e de acordo com o que aprendera em Noxus, aquele era um grito de morte. Pessoas atingiam um tom a mais durante gritos de agonia.

Mesmo assim ela não parou. A tempestade impedia que ela visse a maioria das coisas que acontecia ao redor, mas ela não parou. Só parou quando tropeçou e caiu de cara no chão de areia, indignada.

Quando ergueu a face, deu de cara com o corpo morto de uma criança, um garoto moreno vestido como mercador. Ele estava esmagado do tronco para baixo, sento uma cabeça e braços seguidos por entranhas soltas e esmagadas, sangue para todo o lado. Não sabia se vomitava ou chorava.

Havia ouvido barulhos antes, quando Nasus a havia deixado ali, mas não dera a mínima atenção. E o pior, ele havia a deixado na zona daquela besta roxa gigantesca.

Sivir sentou na areia, tentando se erguer, mas uma força parecia a puxar para baixo. De repente uma luz roxa cintilou pela tempestade. Uma figura gigantesca surgiu à sua frente, um monstro terrível, com garras, presas e patas. Aquilo não era desse mundo.

R-Rek’Sai... – murmurou Sivir, apavorada.

Shiaaaaaaarghh!! – respondeu o monstro gigantesco.


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Notas finais do capítulo

Capítulo pequeno, mas significativo. A história da Sivir começa aqui e se estende até o final, ela sendo a dona do Poslúdio. Por isso a história dela vai ficar muito bem contada, mas será em capítulos pequenos, desse tamanho, para dividir em partes iguais.



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