The Killer Society escrita por Redblue


Capítulo 2
Preto e Branco


Notas iniciais do capítulo

Simplesmente preciso tirar essa história da minha cabeça. Enquanto não terminá-la, não dormirei em paz, não trabalharei em paz, não farei nada em paz. Então está ai, mais um capítulo. rsrs
Esse é um capítulo que introduz o que irá acontecer nos próximos, com diversos diálogos e não muita ação, mas mesmo, é essencial para entender mais um pouco sobre os personagens.



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“Segundo Carlos Drummond de Andrade a confiança é um ato de fé, e ela dispensa o raciocínio.

Eu... não... tenho... fé!”

Sábado, 27 de dezembro.

Rafael estava em seu quarto, encostado na parede ao lado de sua janela, olhando a rua. O cômodo não era grande, mas a simplicidade escolhida para decorá-lo e a quantidade de moveis, passava essa impressão. Essa decoração era composta por uma cama de solteiro, um guarda roupa de tamanho médio, com quatro portas, um suporte de parede onde estava sua TV Led e seu Playstation 4, uma cadeira e, finalmente, o seu santuário, a mesa onde estava seu computador de montado por ele mesmo e um Mac Book.

Toda mobília do quarto era de madeira sintética, pintada de preto, contrastando diretamente com suas paredes brancas e posicionadas sobre o piso da mesma cor, criando uma ilusão de continuidade, sendo assim praticamente impossível distinguir sem uma atenção maior onde era a separação entre os móveis e o chão.

Ele foi o único responsável pela decoração do quarto. Seus pais acharam a ideia “peculiar”, mas não foram contra. Essa era uma das vantagens de ter pais modernos, eles eram adeptos ao ideal de não ir contra as decisões filosóficas de sua prole. Argumento utilizado diversas vezes por Rafael para conseguir que as coisas fossem feitas do seu jeito. No entanto, a escolha daquele tipo de quarto não foi para provocar seus pais, mas sim por uma questão de praticidade para organização e, essencialmente, por entender que aquela junção de fatores combinava com ele fisicamente, já que ele era um garoto de olhos negros (tão negros que, além dele, ninguém conseguia distinguir sua iris da pupila), seus cabelos seguiam a mesma tonalidade e eram lisos e curtos, sua pele extremamente branca. Não existia quarto mais adequado.

Alguém bateu em sua porta.

Não fazia ideia de quem era, pois não vira nenhum de seus amigos passando pela rua. Deveria ser sua mãe.

– Pode entrar mãe.

– Mãe? – questionou Pedro, enquanto abria a porta.

Como ele conseguiu entrar na minha casa sem eu o ver passar? Pensou.

– Ei, Pedro! Como você conseguiu entrar na minha casa? – foi em direção de seu amigo.

– Como assim? – questionou, com uma cara de quem não estava entendendo o que estava acontecendo. – Pela porta da frente, oras.

– Mesmo, então como não te vi passando pela rua, muito menos entrando no meu quintal?

– Não estou entendo – disse Pedro, sua expressão de confusão parecendo mais forçada a cada segundo.

– É isso ai! Estou aqui faz uns trinta minutos e não te vi passar pela frente da minha casa.

– Eu cheguei na sua casa fazem uns trinta e cinco minutos e sua mãe me alugou para ajuda-la com algumas tarefas e, claro, pediu conselhos jurídicos pra mim – explicou calmamente. Rafael desconfiava se aquilo era verdade, mas decidiu não discutir quando viu Sophia e Alice no final de sua rua, pois precisava conversar com Pedro antes que outra pessoa chegasse.

– Tudo bem! Agora, mudando de assunto, eu sei que concordei na quinta-feira – disse Rafael, sua voz impaciente. – Mas, sério, iremos confiar no Garçom?

– Confiar não Rafael – Pedro falava sem alterar seu tom de voz, demonstrando calma em sua voz. – Nós iremos deixa-lo participar e durante esse tempo você, com suas habilidades de hacker, irá descobrir cada detalhe da vida dele.

Ao ouvir a palavra “hacker” sua autoestima elevou-se de tal forma que as incertezas sobre o garçom desapareceram. Mas apenas por alguns minutos. Rafael conhecia Pedro há anos e sabia que dissera aquilo com essa intenção, de fazê-lo esquecer desse assunto.

– Você acha que é o suficiente? – questionou Rafael nervoso. – Se ele for inteligente o suficiente ou possuir habilidades como as minha será impossível descobrir todas as informações sobre ele e, convenhamos...

– Rafael! – a voz de Pedro estava firme. – Eu sei que ele não é ameaça. Eu sei – suas últimas duas palavras pronunciadas lentamente.

A discussão acabará. Rafael sabia o que aquilo significava. Seu amigo tinha um dom em ler as pessoas, com apenas alguns minutos de conversa ele já poderia dizer as reais intenções de qualquer individuo. Não era algo que Rafael gostava, mas conviveu com aquela realidade nos últimos anos e isso não mudaria agora. Então apenas assentiu e esperou encostado na parede, olhando para a janela.

– § -

Felipe foi o último a chegar à casa de Rafael, superando até o atraso de Davi. Mas uma qualidade que todos possuíam era a de serem extremamente pacientes.

Cada um escolheu um lugar para se acomodar. Davi sentou no chão, apoiando suas costas no guarda roupas. Sophia e Alice sentaram na ponta da cama. Pedro puxou a cadeira que ficava na mesa do computador e sentou. Rafael permaneceu de pé, encostado na parede onde estava há quarenta minutos, porém dessa vez de costas a janela que agora desaparecia atrás da cortina escura. Sem muitas opções restantes, Felipe sentou-se ao lado do Davi.

– Acho que você devia ficar de pé Davi, já que irá nos explicar sua bela ideia – disse Pedro, quebrando o silêncio.

Davi obedeceu e levantou. Rafael andou até seu guarda roupa, onde o garçom estava anteriormente, abriu a porta e tirou de lá uma lousa branca e pendurou num eixo acoplado a porta do armário.

– Assim você poderá explicar com detalhes – disse Felipe.

– Tudo bem – a expressão de Davi era de alguém que estava se divertindo com toda aquela situação e aquilo deixava Rafael extremamente receoso com aquilo. Não entendia o porquê sugerirá aquele encontro em sua casa com um completo estranho. Sua mãe estava no cômodo abaixo.

Aquela situação estava errada, ele deveria fazer algo. Deveria expulsar aquele desconhecido da sua casa ou, talvez, pegar o canivete que estava em seu bolso e cravá-lo no pescoço de Davi, que estava de costas para ele, totalmente vulnerável.

Seus pensamentos foram interrompidos quando o garçom começará a falar e, juntamente, sua coragem desaparecera.

– Não é um plano simples. Mas é extremamente funcional e livre de erros.

– Isso é o que veremos – disse Alice confiante.

– Em primeiro lugar precisamos escolher o cemitério e estuda-lo por dias, para entender a rotina do local e dos trabalhadores. O que quero dizer é, precisamos ver uma abertura nessa rotina que nos permita ir lá, realizar todo o processo de esconder o corpo em algum túmulo e ir embora sem que ninguém note nossa presença.

“Eu entendo que o estudo pode ser feito durante o dia e isso não levantará suspeitas, porém não podemos ir todos, grupos grandes de jovens em cemitérios não são muito comuns. Na verdade, não é comum ver jovens em cemitérios. Então sugiro que quem for utilize roupas formais, para não chamar atenção e, essencial, não conversem com ninguém do local e não deixem ninguém olhar para os rostos por muito tempo.”

“Acredito que a parte mais complexa é essa”.

“Após, precisamos apenas trabalhar cooperando um com o outro de maneira extremamente organizada.”

Rafael apenas ouvia o que Davi dizia e evitou interrompê-lo, porém perceberá que seu discurso havia acabado. Mas e o corpo?

– E o resto do procedimento? Simplesmente vamos pegar o corpo, levar no carro até lá, depois carregaremos os quatro um cadáver como se fosse a coisa mais comum e jogar numa tumba? – questionou Pedro, suas palavras eram ríspidas, porém sua fala era calma. Claramente estava apenas testando Davi, pois essas perguntas eles todos já tinham as respostas.

– Imaginei que vocês já tivessem se preocupado com tudo isso – retrucou Davi, sorrindo. – Mas vou explicar do meu ponto de vista o que deveríamos fazer desde o início.

“A pessoa escolhida não pode ser um conhecido, pois isso nos transformaria em potenciais suspeitos. Quanto ao ato de matar, este deverá ser cometido por parte do grupo, enquanto os outros serviram de álibi. Sem contar que quanto menos pessoas participarem, menos será a possibilidade de deixar evidências físicas.”

“Luvas, roupas escuras e algo para cobrir o rosto durante todo o processo são itens essenciais, então não falarei deles. Só acho importante ressaltar que sou contra cometer um homicídio utilizando métodos que resultem em sangue derramado, não curto lidar com sangue. Agora, vamos supor que já realizamos toda a primeira parte de maneira impecável, o que faremos com o corpo? Simples, limpá-lo, tirando vestígios como digitais, nosso DNA, fezes da pessoa e urina (esses últimos dois itens causam um cheiro forte e podem chamar atenção durante o transporte até o cemitério e no próprio túmulo, após deixarmos o corpo lá).”

“Finalmente, o transporte. Percebi que todos vocês são menores de idade e consequentemente não podem dirigir, o que é uma dificuldade nessa etapa. No entanto, para sorte de vocês, eu tenho habilitação. Sendo assim irei explicar como transportaremos o cadáver. O ideal na verdade seria que tivéssemos dois carros, para que um seguisse na frente, servindo de isca para possíveis paradas policiais, desta forma evitando que nós fossemos parados e flagrados com um corpo no porta-malas. Como isso não é possível, precisarei dirigir com muito cuidado, evitando sempre avenidas de grande movimento.”

“Chegando ao cemitério temos duas opções para entrar, pulando os muros, o que requere muito trabalho ou, a segunda opção e mais adequado, quebrando o cadeado do portão.”

– Isso não é uma forma de deixar provas contra nós? – questionou Felipe, interrompendo o discurso de Davi.

– Não! – respondeu Alice. – Cadeados de cemitérios são quebrados constantemente por delinquentes que querem entrar para se divertir, roubar itens dos mortos ou apenas vadiar. Não é comum acontecer, pois eles preferem pular os muros, mas acontece.

– E é exatamente isso que os administradores do local irão pensar – completou Sophia.

“Continuando. Vamos quebrar o cadeado para entrar. Poderemos escolher um túmulo fechado ou aquelas gavetas onde são guardados os ossos depois de algum tempo. Durante a pesquisa inicial deveremos decidir.”

– É isso – disse Davi, enquanto uma expressão de satisfação ocupava seu rosto.

Os cincos olharam para ele e pensaram. Pensaram por diversos minutos, antes de dizer qualquer palavra. A espera fez, pela primeira vez, o sorriso de Davi desaparecer e ser substituído por um ar de incerteza.

– Há falhas – disse Alice.

– E eu não gostei... – começou Pedro.

– Pense duas vezes se for falar da retórica dele – interrompeu Alice, lançando um olhar de desdém.

– Quais falhas? – questionou Davi.

– O que faremos em relação às câmeras? Hoje em dia tudo é filmado – disse Alice. – O que acontecerá se escolhermos um túmulo de uma família que enterrará alguém nas próximas semanas ou meses?

Davi não disse nada, apenas pensou e pensou. Rafael percebeu que estava com dificuldades para articular uma resposta às questões que Alice acabara de fazer.

– Alice – começou Rafael. – Eu acredito que esses dois pontos são fáceis de consertar e na etapa de estudo. Como iremos estudar o cemitério, lidaremos com as câmeras nesse momento, se for necessário eu posso hackear o sistema e desliga-las, ou, caso elas forem extremamente antigas, eu dobro algum dos seguranças e dou um jeito de pelo menos garantir que elas não gravem o que acontecer durante o tempo que estivermos lá. Sobre a família, precisaremos pesquisar e, de preferencia, escolher um túmulo que não exista mais membros da família.

Alice apenas assentiu ao ouvir as ideias de seu amigo.

– Você consegue hackear o sistema de uma grande empresa de monitoramento? – questionou Felipe de forma inocente.

– Acredito que sim.

– Não podemos trabalhar com “acredito”, Rafael! E você sabe bem – advertiu Pedro.

Já sei, pensou Rafael.

– A área de um cemitério é gigantesca, correto? Com certeza não haverá câmeras em todas as esquinas, elas provavelmente estarão em pontos estratégicos, totalmente distantes umas das outras. Caso eu não consiga, podemos simplesmente desativar algumas...

– E alertar a empresa imediatamente – interrompeu Alice.

– Talvez. Mas mesmo se alertássemos eles demorariam pra chegar ao local, criando assim, um espaço para realizarmos o trabalho. Um espaço menor, bem menor.

– Não acho que meu plano funcione se for realizado com pressa – opinou Davi, finalmente voltando a contribuir na conversa.

– Tudo bem. Tudo bem! – disse Rafael, elevando sua voz um pouco, pois o incomodava ter suas ideias invalidadas tão rapidamente. – Precisamos encontrar um cemitério que o sistema de segurança esteja enquadrado no que eu disse, com câmeras não próximas umas das outras, ok? Garanto que consigo alterar o sistema delas e criar uma repetição de imagens durante o tempo que ficarmos lá. Ok? Problema Resolvido? – Rafael agora estava satisfeito consigo mesmo e sorria para todos os seus amigos os desafiando a discordar de sua ideia.

– É uma ideia boa, mas não precisa ficar se achando por isso – brincou Sophia, que até agora estava apenas ouvindo.

– A ideia é boa mesmo – concordou Pedro. – Vamos precisar começar a fase inicial, o estudo. Veremos, de verdade, se há algum buraco restante na sua ideia Davi a partir desse momento.

Os dois se olharam, Pedro desafiando a ideia de Davi. E ele aceitando sem hesitar. Os dois estavam extremamente confiantes. Rafael só não conseguia entender o motivo daquele desafio. Pedro quis Davi no grupo. Pedro acalmou Rafael quando ele teve dúvidas sobre Davi. E não via qual a vantagem da ideia não acontecer, porque isso só atrasaria as coisas. Rafael simplesmente não sabia o que seu amigo queria com aquilo.

– Então, acho que está na hora de iniciar esse “projeto” – disse Felipe, com ar de ansiedade.

– Isso! Se preparem! - exclamou Davi. - Vamos ao cemitério hoje – completou. Todos o olharam, mas ninguém viu motivo para discordar de sua sugestão.

Rafael retirou seu smartphone do bolso e olhou a hora. 9:23pm.


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Notas finais do capítulo

Criticas ou sugestões, estamos aqui para ouvir e respondê-las :D



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