O filho do pirata escrita por Eduardo Marais
Cosme gesticula para que seu companheiro continue caminhando para algum local menos movimentado do que aquelas ruas. O mercador bêbado segue atrás xingando e praguejando as mais torpes e inúteis maldições.
– Para onde estamos indo?
– Vamos parar por aqui mesmo. – ele toca o braço de Andreas e o traz para próximo. – O mercador está furioso e vai responder o que perguntarmos sem precisar de pagamento.
Os olhares das pessoas que transitavam pela feira começam a incomodar Andreas. Ele percebe comentários e uma forte preocupação acompanhada por medo, invade seu coração e o faz tamborilar acelerado. Conseguiria lutar com três homens, porém jamais havia enfrentado um número maior de pessoas.
– Muitas pessoas ouviram que a tal dama daria o que o mercador pedisse, caso me levasse. Estou correndo perigo! Veja os olhares!
Jota Ruivo chega tropeçando e aponta o dedo gordo para Cosme.
– Aí está você, seu rato peçonhento e ruído por traças!
– Certo! Você me convenceu! Eu vou lhe entregar o rapaz em troca do feijão ou da informação de onde achá-lo. Pode depois dizer-me quem é a tal dama?
O bêbado gargalha e cospe num canto qualquer.
– Agnese! A mais bela flor que os olhos humanos já viram! Porém, a mais terrível fera que as palavras humanas já definiram! Velha como o tempo, cruel e perdidamente apaixonada pelo Capitão pirata! – ele aponta para Andreas. – Ela sorrirá novamente e me presenteará com os mais belos diamantes e moedas de ouro, quando eu entrar pelo palácio levando este jovem!
– Certo! E quanto ao feijão? Você não tem o feijão e nem sabe dele.
– Sei sim!
O homenzinho gargalha e empurra o ombro do bêbado.
– Caso fosse verdade, você venderia o feijão para esta dama e ela iria pelo portal atrás do Capitão!
– Ela morrerá se sair do casarão. A vitalidade dela está toda dentro daquelas paredes. – o homem escorrega contra a parede.
Andreas mostra-se nervoso com o pequeno aglomerado de pessoas naquele espaço da feira. Algumas pessoas avançam para o espaço pessoal deles.
– Vamos sair daqui! – ele começa a se afastar, olhando Cosme por cima do ombro. – Venha logo!
Cosme se inclina sobre o bêbado.
– Onde está o feijão?
– Eu não sou idiota! Não vou lhe entregar o feijão sem a mercadoria que pedi! – ele leva a mão ao peito e protege o bolso, sendo rapidamente atacado pelo homezinho com cara de rato, que rouba o conteúdo e sai correndo dali.
Os amigos correm o mais rápido que podem e conseguem se esconder em um dos becos laterais da rua principal. Escondem-se entre as pessoas que usavam aquele beco como encurtamento do caminho para as bancas da feira. Ali, observam toda a movimentação esperando um momento certo para reiniciarem sua fuga.
– Precisamos voltar à taverna e pegar nossas coisas. – Andreas apoia a mão na parede e olha para a multidão transeunte. Atrás dele, Cosme dá uma espiadela.
– Você deve camuflar-se entre os mendigos, Andreas. Eu retornarei à taverna para apanhar nossas coisas. Encontro você em breve!
– Nem pensar. É muito arriscado! Iremos os dois!
– Eu estou apenas comunicando. – ele se empertiga e recebe os olhos dos companheiros sobre si. – Você não pode ser tão rápido quanto eu. Não vou entrar pela porta da frente. Vou pela janela e vou num formato menor. Sou um homem rato, lembra-se!
Os dois homens se entreolham e sorriem.
– Fique camuflado por aqui. Sugiro que se sentem no chão para que sua altura não seja um ponto de referência. Voltarei em pouco tempo!
Antes que o rapaz pudessem responder alguma coisa, ele se afasta rapidamente como se fosse um verdadeiro rato. Andreas senta-se no chão entre os pedintes e procura ficar num ponto não muito iluminado.
A noite cai totalmente e tochas são acesas para que as ruas ainda movimentadas sejam iluminadas, para facilitar a continuidade do comércio. Muitos visitantes continuavam chegando e trazendo seus produtos para serem vendidos na feira e para tanto precisavam enxergar os espaços para armarem suas bancas. A movimentação seguiria por toda a noite.
Um grupo de homens fortes, grandes e protegidos com roupas em tecidos grossos, acompanhados por uma mulher ruiva usando roupas masculinas, se aproxima do grupo de pedintes e fixam-se em um em especial. Formam um circulo, prendendo-os contra a parede de pedras.
– O que desejam? – pergunta Andreas olhando-o fixamente.
– É este, mas onde está o homenzinho? – pergunta um dos homens.
– O que me importa a outro? Quero apenas o príncipe! – brada a mulher.
Antes que Andreas pudesse empunhar sua arma, é arrancado do chão e praticamente carregado para longe dali. É levado para uma entrada de um prédio e somem em seu interior.
Não muito longe, a dona de os olhos seguidores esconde ainda mais seu rosto pálido sob o capuz. Como lutar para tirar seu valioso tesouro do poder dos ciganos?
Um período depois, Andreas se encontra sentado no chão frio de uma galeria sob a cidade. Um local iluminado por focos de fogueiras que aqueciam pequenos grupos de pessoas. Muitas crianças e mulheres jovens, além de alguns idosos. Todos vestidos com trajes masculinos, provavelmente para facilitar suas fugas.
– Olá, rapaz! Eu sou Amira e líder desta comunidade cigana. Seja bem vindo!
– Agradecemos a hospitalidade, porém em preferiria conversar em pé e desamarrado. – Andreas luta contra os cabelos revoltosos que insistiam em cair em seu rosto e roubar-lhe a seriedade.
Amira inclina-se para frente e segura o queixo dele, obrigando-o a encará-la. Sorri maliciosa e vitoriosa.
– De fato ele tem uma beleza esplêndida! Vai valer o que quisermos pedir!
Horas depois, Andreas é retirado da carroça e está com as mãos desamarradas. Não poderia ser avariado para não perder o valor. Observa calado, a aproximação de um grupo de homens a cavalos e com uma carroça que se assemelhava a uma cela com grades. Mantendo sua altivez, Andreas permanece impassível e observa toda a negociação comercial entre os ciganos e Jota Ruivo. Moedas de ouro em imensa quantidade são trocadas de mãos.
– Ah, minha entrada para a nobreza! – ele caminha para perto de seus prisioneiros e atreve-se a tocar as pontas dos cabelos de Andreas, percebendo como eram sedosos. – Você é meu passaporte para a realeza, meu rapaz! Vai fazer de mim, um homem muito rico! - seu hálito e cheiros fétidos causam incômodo no moreno e ele faz uma careta de repulsa, involuntária. Ele gesticula para os empregados e sorri ao ver o prisioneiro ser colocado na cela. Não poderiam macular a mercadoria. Sorri. – Vamos seguir viagem! Quero estar junto à dama Agnese antes do inverno!
“Não o firam! Ele é muito valioso para mim!” – murmura a dona dos olhos vigilantes, escondida pela escuridão da noite. – “Vou salvá-lo, meu amado!”.
O dia termina e a noite estende seu manto salpicado de pontos prateados no firmamento.
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