O filho do pirata escrita por Eduardo Marais


Capítulo 5
Capítulo Cinco




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Cosme gesticula para que seu companheiro continue caminhando para algum local menos movimentado do que aquelas ruas. O mercador bêbado segue atrás xingando e praguejando as mais torpes e inúteis maldições.

– Para onde estamos indo?

– Vamos parar por aqui mesmo. – ele toca o braço de Andreas e o traz para próximo. – O mercador está furioso e vai responder o que perguntarmos sem precisar de pagamento.

Os olhares das pessoas que transitavam pela feira começam a incomodar Andreas. Ele percebe comentários e uma forte preocupação acompanhada por medo, invade seu coração e o faz tamborilar acelerado. Conseguiria lutar com três homens, porém jamais havia enfrentado um número maior de pessoas.

– Muitas pessoas ouviram que a tal dama daria o que o mercador pedisse, caso me levasse. Estou correndo perigo! Veja os olhares!

Jota Ruivo chega tropeçando e aponta o dedo gordo para Cosme.

– Aí está você, seu rato peçonhento e ruído por traças!

– Certo! Você me convenceu! Eu vou lhe entregar o rapaz em troca do feijão ou da informação de onde achá-lo. Pode depois dizer-me quem é a tal dama?

O bêbado gargalha e cospe num canto qualquer.

– Agnese! A mais bela flor que os olhos humanos já viram! Porém, a mais terrível fera que as palavras humanas já definiram! Velha como o tempo, cruel e perdidamente apaixonada pelo Capitão pirata! – ele aponta para Andreas. – Ela sorrirá novamente e me presenteará com os mais belos diamantes e moedas de ouro, quando eu entrar pelo palácio levando este jovem!

– Certo! E quanto ao feijão? Você não tem o feijão e nem sabe dele.

– Sei sim!

O homenzinho gargalha e empurra o ombro do bêbado.

– Caso fosse verdade, você venderia o feijão para esta dama e ela iria pelo portal atrás do Capitão!

– Ela morrerá se sair do casarão. A vitalidade dela está toda dentro daquelas paredes. – o homem escorrega contra a parede.

Andreas mostra-se nervoso com o pequeno aglomerado de pessoas naquele espaço da feira. Algumas pessoas avançam para o espaço pessoal deles.

– Vamos sair daqui! – ele começa a se afastar, olhando Cosme por cima do ombro. – Venha logo!

Cosme se inclina sobre o bêbado.

– Onde está o feijão?

– Eu não sou idiota! Não vou lhe entregar o feijão sem a mercadoria que pedi! – ele leva a mão ao peito e protege o bolso, sendo rapidamente atacado pelo homezinho com cara de rato, que rouba o conteúdo e sai correndo dali.

Os amigos correm o mais rápido que podem e conseguem se esconder em um dos becos laterais da rua principal. Escondem-se entre as pessoas que usavam aquele beco como encurtamento do caminho para as bancas da feira. Ali, observam toda a movimentação esperando um momento certo para reiniciarem sua fuga.

– Precisamos voltar à taverna e pegar nossas coisas. – Andreas apoia a mão na parede e olha para a multidão transeunte. Atrás dele, Cosme dá uma espiadela.

– Você deve camuflar-se entre os mendigos, Andreas. Eu retornarei à taverna para apanhar nossas coisas. Encontro você em breve!

– Nem pensar. É muito arriscado! Iremos os dois!

– Eu estou apenas comunicando. – ele se empertiga e recebe os olhos dos companheiros sobre si. – Você não pode ser tão rápido quanto eu. Não vou entrar pela porta da frente. Vou pela janela e vou num formato menor. Sou um homem rato, lembra-se!

Os dois homens se entreolham e sorriem.

– Fique camuflado por aqui. Sugiro que se sentem no chão para que sua altura não seja um ponto de referência. Voltarei em pouco tempo!

Antes que o rapaz pudessem responder alguma coisa, ele se afasta rapidamente como se fosse um verdadeiro rato. Andreas senta-se no chão entre os pedintes e procura ficar num ponto não muito iluminado.

A noite cai totalmente e tochas são acesas para que as ruas ainda movimentadas sejam iluminadas, para facilitar a continuidade do comércio. Muitos visitantes continuavam chegando e trazendo seus produtos para serem vendidos na feira e para tanto precisavam enxergar os espaços para armarem suas bancas. A movimentação seguiria por toda a noite.

Um grupo de homens fortes, grandes e protegidos com roupas em tecidos grossos, acompanhados por uma mulher ruiva usando roupas masculinas, se aproxima do grupo de pedintes e fixam-se em um em especial. Formam um circulo, prendendo-os contra a parede de pedras.

– O que desejam? – pergunta Andreas olhando-o fixamente.

– É este, mas onde está o homenzinho? – pergunta um dos homens.

– O que me importa a outro? Quero apenas o príncipe! – brada a mulher.

Antes que Andreas pudesse empunhar sua arma, é arrancado do chão e praticamente carregado para longe dali. É levado para uma entrada de um prédio e somem em seu interior.

Não muito longe, a dona de os olhos seguidores esconde ainda mais seu rosto pálido sob o capuz. Como lutar para tirar seu valioso tesouro do poder dos ciganos?

Um período depois, Andreas se encontra sentado no chão frio de uma galeria sob a cidade. Um local iluminado por focos de fogueiras que aqueciam pequenos grupos de pessoas. Muitas crianças e mulheres jovens, além de alguns idosos. Todos vestidos com trajes masculinos, provavelmente para facilitar suas fugas.

– Olá, rapaz! Eu sou Amira e líder desta comunidade cigana. Seja bem vindo!

– Agradecemos a hospitalidade, porém em preferiria conversar em pé e desamarrado. – Andreas luta contra os cabelos revoltosos que insistiam em cair em seu rosto e roubar-lhe a seriedade.

Amira inclina-se para frente e segura o queixo dele, obrigando-o a encará-la. Sorri maliciosa e vitoriosa.

– De fato ele tem uma beleza esplêndida! Vai valer o que quisermos pedir!

Horas depois, Andreas é retirado da carroça e está com as mãos desamarradas. Não poderia ser avariado para não perder o valor. Observa calado, a aproximação de um grupo de homens a cavalos e com uma carroça que se assemelhava a uma cela com grades. Mantendo sua altivez, Andreas permanece impassível e observa toda a negociação comercial entre os ciganos e Jota Ruivo. Moedas de ouro em imensa quantidade são trocadas de mãos.

– Ah, minha entrada para a nobreza! – ele caminha para perto de seus prisioneiros e atreve-se a tocar as pontas dos cabelos de Andreas, percebendo como eram sedosos. – Você é meu passaporte para a realeza, meu rapaz! Vai fazer de mim, um homem muito rico! - seu hálito e cheiros fétidos causam incômodo no moreno e ele faz uma careta de repulsa, involuntária. Ele gesticula para os empregados e sorri ao ver o prisioneiro ser colocado na cela. Não poderiam macular a mercadoria. Sorri. – Vamos seguir viagem! Quero estar junto à dama Agnese antes do inverno!

“Não o firam! Ele é muito valioso para mim!” – murmura a dona dos olhos vigilantes, escondida pela escuridão da noite. – “Vou salvá-lo, meu amado!”.

O dia termina e a noite estende seu manto salpicado de pontos prateados no firmamento.


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