O filho do pirata escrita por Eduardo Marais


Capítulo 11
Capítulo Onze




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– Vejam, aquela casa de pedras pertence à Dama Triste, que me manteve prisioneiro.

– Caso sua dona não se lembre mais de você, daremos meia volta e partimos atrás do papai Gancho. – Marlene caminha garbosa ao lado dos companheiros. – Mas eu ainda insisto que deveríamos esconder este mocinho aqui. Imaginem o susto da senhora ao ver essa...essa...essa...

Os olhos cristalinos de Andreas fixam-se no animal, pedindo pela incontável vez que poupasse o pequeno de seus comentários.

– Essa divindade caída do Olimpo. Vai dizer o que a ela? Que é o seu filho?

Andreas não se incomoda em responder. Caminha para o portão de entrada e puxa a corda do sino, anunciando a chegada de visitantes. Em poucos minutos, alguns empregados surgem e demonstram reconhecê-lo. Apressam-se em permitir que o homem entre acompanhado pelos seus convidados.

Lá dentro do salão principal, são recebidos pelo saltitante e excêntrico Dovar, que surge batendo palmas e emitindo sons risonhos. Entretanto, ele para ao deparar-se com os convidados do belíssimo consorte de sua irmã.

– Andreas...meu...querido...

– Ele deve ser uma corsa transformada em humano. – Marlene desce deixa os olhos nebulosos e entediados. Senta-se no chão.

Dovar se aproxima com cautela e esboça um movimento para segurar os ombros de Andreas. Para e repugna-se ao sentir o forte cheiro do homem.

– Você voltou a tempo! E trouxe amigos!

– Não! Ele trouxe apenas uma amiga! Isso aqui do lado é o resultado da diarreia do Kraken!

– Oh! Um cavalo falante! Isso é hilário! Você é real? – Dovar se aproxima do animal e toca-lhe o rosto, prendendo-o com ambas as mãos.

– Não sou real. Sou o resultado do ópio de ontem à noite!

Andreas segura a mão do pequeno ogro e empurra Dovar, abrindo caminho à força. Começa a caminhar em direção ao quarto de banhos. Marlene fica em pé e balança a cabeça, livrando-se de Dovar, encantado e apaixonado pelo animal. Segue Andreas.

– Mas você é divina! Veja essas crinas! – ele segue o trio e gesticula incrédulo. – Você consegue falar!

– Consigo falar, dar coices, morder e fazer cocô em seu soalho de pedras.

Quando Andreas acorda, começa a recordar os últimos passos antes de chegar à cama. Olha para o lado ao ouvir um ronronado e encontra o pequeno ogro adormecido. Vasculha o imenso quarto e encontra Marlene deitada sobre o carpete alto e felpudo. Ao lado dela, Agnese acariciava sua crina, apaixonada pelo que via.

– Retornamos a tempo, Agnese. Cumpri minha palavra. – ele murmura e se senta sobre o colchão. – Agora temos de ir atrás do Capitão para que ele ajude a minha mãe.

Ela ri debochada. Levanta-se e vai para uma cadeira, apontando as roupas sujas de Andreas.

– Vasculhei seus trapos e sua mochila e não encontrei os feijões.

Andreas levanta-se da cama e apanha seu casaco. Vira-o pelo avesso e com o auxilio de uma tesoura tirada de um móvel, descostura o forro, retirando um pequeno odre. Mostra-o para a dama.

– Esta é a nossa passagem para o outro reino. – entrega o odre nas mãos delicadas da mulher. – Pensei muito e não vou retornar para procurar meu amigo Cosme. Seguirei adiante porque você me tirou muito tempo de minha vida.

Ela movimenta a mão fina e toca aquele rosto masculino belíssimo e totalmente másculo, enfeitado pelo nariz fino e levemente arrebitado, com parceria com aqueles discos num azul cobalto. Devolve-lhe o pequeno odre e sorri ao vê-lo pegar carinhosamente.

– Foi seu amigo quem blindou o seu corpo para que não fosse tocado por mulher alguma?

– Nada disso aconteceu. Eu fiz um voto!

– Andreas, meu lindo consorte, eu o tive tantas e tantas vezes à minha mercê, adormecido, fragilizado, inconsciente e desprovido de defesas e roupas. Poderia tê-lo feito meu, porém, minhas mãos tocavam uma redoma invisível. Alguém o marcou. Quem?

– Isso não me interessa! Agora, tenho de preparar mantimentos para a passagem pelo portal.

Cerca de uma hora depois...

– Não sabemos nada sobre o reino e não poderemos nos fazer notar. E se forem bélicos? E se estiverem no meio de uma guerra? E se o Sombrio também destruiu esse reino como fez com a Floresta Encantada? – Marlene balança a cabeça arrepiando sua crina. - Todos sabem que os portais abrem onde pensamos anteriormente. Sabemos o nome, mas não temos outra informação sobre o reino. E se cairmos bem no centro do palácio do rei de lá?

Andreas continua absorto na arrumação da roupa no menino ogro.

– Coitado do que ficar embaixo de mim e feliz quem ficar embaixo de Andreas! – a égua comenta baixo, mas é ouvida. - Imagine a infelicidade de quem receber um ogro sem calças, bem em cima da cabeça? E se cairmos sobre a mesa de um jantar?

Silêncio por parte do humano. O menino ri.

– E se cairmos num pátio onde está havendo uma execução? – a pergunta dela provoca um silêncio sepulcral. – Já pensaram na possibilidade de cairmos num ninho de dragões? Ou no covil de lobos ou ogros? Ou se cairmos no meio do mar? Isso dá muito medo!

Um gesto delicado surge da mão forte de Andreas. Ele sorri para a amiga.

– Quando formos abrir o portal, pensarei e pedirei que nos leve para um local em terra firme. Temos de ser rápidos e retornar brevemente para minha mãe. Já perdi muito tempo preso no casarão de Agnese.

Marlene observa Andreas organizar uma mochila para que o pequeno ogro carregasse. Coloca nas costas do menino e vai apanhar a sua mochila, colocando-a a tiracolo. Mostra-se tão entretido que não percebe o quanto tem sua beleza admirada. Ela sorri, imaginando que o rapaz tão tinha noção do quanto perturbadores eram seus traços.

– Eu confio em você, Andreas, mas quero que abra a vagem e divida os grãos.

Ele levanta a cabeça e a olha indeciso.

– O que me disse?

– Quero que abra a vagem e divida os feijões. Eu quero ficar com um dos grãos.

– Ora, Marlene! Acha que eu iria trapacear?

– Não conheço você, Ganchinho. Caso o sangue do Capitão corra mesmo em suas veias, preciso ficar precavida. Agora, abra a maldita vagem e faça a divisão.

Empertigando seu corpo, o homem apoia as mãos na cintura slim. Inclina a cabeça para o lado e encara a égua. Depois caminha até uma das mochilas e apanha o pequeno odre, retirando a vagem de lá. Com cuidado, começa a abrí-la e expõe os três grãos, grandes morangos.

– Petrus, segure estes grãos. – volta-se para Marlene e depois de proteger o grão em um lenço, o coloca num dos bolsos de um alforje preso à cela do animal. – O seu grão está protegido por você. Por favor, não o perca, porque irá usá-lo para negociar com o Sombrio.

– Se tivéssemos o espelho do qual falou, poderíamos negociar com o Sombrio.

– O espelho não é meu. E se fossemos negociar com o Sombrio algo que é dele, correríamos o risco de surgir mais um cavalo. – volta-se para o menino. - Pode devolver os grãos?

O menino abre as mãos e exibe uma careta de que não estava entendendo o pedido. Parece mastigar algo.

– O que fez com os grãos?

– Comendo...

Marlene não se contém e começa a relinchar alto e freneticamente. Estava gargalhando.

– Comendo os grãos? Cuspa-os imediatamente! – Andreas corre até o menino e segura seu bracinho roliço com cuidado. – Cuspa agora!

Sem hesitar, o pequeno expulsa algo esbranquiçado e triturado de sua boquinha, derrubando aquilo no soalho.

– Ops... – murmura Marlene observando o surgimento de um pequeno rodamoinho verde no local onde haviam caído os grãos. Ela leva seus olhos grandes para Andreas e o vê abraçar o menino assustado, que se encolhe talvez imaginando que seria agredido.

O círculo vai aumentando e antes que os três pudessem correr, são sugados pelo imenso buraco verde surgido no quarto. Eles gritam, mas não são socorridos a tempo.


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