Me Nocauteie

“Me jogue no fundo do poço e me assista afundar”

Hold me Down- Halsey

Apertou um botão e então a transmissão foi iniciada, naquele momento todas as cidades ainda existentes, todas as bases da fundação, todos os locais em que havia sobreviventes estavam vendo o jogo de assassinatos daquela classe. Ria alto em meio a sua sala enquanto seus desesperados colegas procuravam por pistas, podia ver as reações das pessoas, levando as mãos a boca, fazendo caras de espanto, enquanto viam as mortes dos jovens estudantes. Quando o “filme” acabou era a hora da transmissão ao vivo, apertou mais alguns botões mostrando a sala do julgamento enquanto os jovens restantes chegavam a ela.

Ajeitou a capa e a coroa que havia vestido para aquela ocasião especial, seria o momento mais desesperante, chocante e divertido que tivera até então. Ficar assistindo eles matando uns aos outros, articulando formas de leva-los ao desespero era muito entediante, mas participar diretamente e saber que havia a chance de perder e tudo ir por água abaixo... Era a sensação mais excitante de todas. E havia sido tão brilhante.

Levou Kazuyo a matar Albert, usando sua família e seus segredos sombrios.

Levou Percy a matar Miya, usando a pessoa que ele mais amava.

Levou Aru a matar Aya, mostrando que ele estava sozinho no mundo.

A morte de Annie veio antes do que ele previra, mas ele sabia que ela iria intervir.

Watashima fora a mais fácil de levar para o desespero, a fazendo se livrar do pequeno estorvo que era Mayu.

E por fim concluiu seu plano, se livrando daquele agente chato e da repórter intrometida, Nathan fora uma ferramenta importante.

E agora tinha ali os seus atores e atrizes principais, aqueles que desde o começo sabia que iriam sobreviver, na verdade precisava que sobrevivessem para cumprir seu próprio fetiche. A empregada misteriosa, a doce médium, o elétrico skatista, o quieto ilusionista e o atrapalhado famoso da internet. Se lembrava claramente das palavras de Clarabell:

— Sabedoria, Espiritualidade, Alegria, Paciência, Humildade... Amor! São as coisas que mais mantém a esperança, destrua elas e terá o desespero completo.

Sabia que era idiotice- ou talvez não- mas fizera de tudo para ter no último momento todos os seis aspectos que poderiam trazer a esperança e esmagaria todos, trazendo apenas o sublime e completo desespero, apenas para satisfazer a sua doce Clarabell e a sua rainha Junko Enoshima. Seria muito divertido.

— Upupupu- começou a rir- hora de iniciar o julgamento!

° ° °

Mikazuki Onimaru

[Clica]

Estar naquele tribunal outra vez me dava sensações que eu desejava não precisar sentir novamente, ver naqueles póstumos as faces de meus amigos era estranho e isso me enchia de tristeza. Todos eles morreram tentando buscar a esperança, mesmo aqueles que nos traíram cometendo o assassinato no fim apenas queriam deixar essa cidade maldita e poderem viver em paz. Notamos que agora o tribunal possuía um décimo oitavo lugar, no qual estava presente o urso odioso sentando em uma cadeira alta, ele ria e acenava para que andássemos logo. Em um segundo tudo voltou a minha mente.

Albert e Kazuyo.

Miya e Percy.

Aya, Aru e Annie.

Mayu e Watashima.

Onihiru.

Nathan e Yuuka.

Pessoal, estejam onde estiverem, eu prometo que suas mortes jamais terão sido em vão, vou derrotar o desespero e vai ser hoje nesse último julgamento de classe.

Class Trial Start!

[Clica]

— Upupu, como este é o último julgamento de classe, resolvi que eu também deveria participar, ficar como observador o tempo inteiro é a coisa mais entediante que existe- Monokuma falou levando as mãos ao seu rosto numa expressão de êxtase- isso significa que eu também posso ser votado e claro, ser executado.

— Está dizendo que vai ser executado caso perca? É tão louco a esse ponto? – Cody falou arregalando os olhos.

— As melhores pessoas são loucas, não é o que dizem por aí? De qualquer forma ainda não é o momento de falarmos sobre como o julgamento vai acabar, vocês estão aqui para desvendar os segredos desta cidade, então para isso eu preparei algumas dicas para ajuda-los a chegar ao seu objetivo.

— E que dicas seriam essas? – Kocho questionou apoiando as mãos no pódio, o urso puxou uma espécie de bloco de notas, e pigarreou iniciando a leitura.

— Vocês estiveram presentes de alguma forma na Grande Tragédia.

O manda-chuva- no caso eu- é uma pessoa conhecida de vocês. 

Essa cidade foi construída por um motivo que nada tinha a ver com estudos.

Vocês-incluindo os professores babacas- foram traídos por alguém, a pessoa que me ajudou a fazer a esse jogo.

— É só isso? – O garoto disse fazendo bico- esperava umas dicas mais diretas.

— Não esperava que eu fosse entregar tudo de bandeja não é mesmo? Afinal eu já dei todas as pistas que vocês precisavam, então porque não param de conversa mole e me mostram uma teoria interessante.

— Você disse que estivemos presentes na tragédia, então quer dizer que nós também éramos seguidores da tal Junko? Nós também somos parte do desespero? – Yui tremia enquanto falava, demonstrando-se mais inseguro do que o normal.

— Bom, nós aparecemos naqueles vídeos fazendo coisas horríveis não é mesmo? Eu estava explodindo prédios e casas e deviam ter pessoas ali dentro- Cody disse lentamente visivelmente abalado por se lembrar do vídeo que vimos- acho que faz sentido sermos desespero, embora eu custe a acreditar que eu fosse capaz disso.

— Não podemos tomar conclusões precipitadas, precisamos analisar o que temos com bastante calma- Kon disse tentando tranquilizar os outros- não sabemos se aquelas imagens são verídicas, podem ter sido adulteradas por esse urso escroto.

— Adulteradas? Está brincando comigo? Eu sou um urso totalmente confiável, todas as imagens daquele vídeo são verídicas- seu olho em formato de raio começou a piscar- ou não se lembram dos vídeos que eu mostrei para vocês antes? Suas famílias sofrendo, seus amores sendo despedaçados, acham que aquilo foi montagem também?

— Não venha com essa agora- Kocho protestou voltando seu olhar a nós- de qualquer forma eu sinto que não há outra saída, se os vídeos são verdadeiros então nós só podemos fazer parte do desespero, somente eles são capazes de fazer aquelas coisas.

— Não exatamente- eu intervi imediatamente, me lembrando de uma pista bastante importante, coloquei as mãos no bolso retirando as cartas que achei mais cedo- eu encontrei essas cartas de Anitta Leaveau, foi ela junto com aquele outro professor que nos trouxe para cá, segundo essas cartas ela era da Fundação Futuro e lutava contra os seguidores de Junko Enoshima.

— Não entendi onde está querendo chegar Onimaru-chan- Cody disse ajeitando os óculos escuros os prendendo na camisa- o que isso prova que não somos os tais seguidores?

— Se ela fazia parte da tal fundação não havia motivo para nos trazer até aqui, já que sua missão era nos prender ou até mesmo nos eliminar- Kon falou calmamente- acho que estou entendendo onde quer chegar.

— Em uma dessas cartas ela cita os novos agentes da fundação, que iriam ser uma espécie de força especial para lutar contra o desespero. Ao que parece os dois resgataram esses agentes das mãos de um dos seguidores do desespero e os transformaram em membros da fundação.

Todos me encararam com ar de dúvida, Monokuma fazia expressões esquisitas enquanto me encarava. Por mais que seu rosto de urso não se alterasse era possível notar que ele estava com certo medo, o que significava que eu estava indo pelo caminho certo. Sorri com o canto dos lábios, enquanto recomeçava minha argumentação:

— Ela também cita que estava levando os agentes para uma nova base... Seria essa base a Cidade da Esperança?

— Upupu... Então a Onimaru-chan acha que é um membro da Fundação Futuro- o urso riu balançando as pernas de modo infantil- não pensei que ouviria tantas baboseiras em tão pouco tempo de julgamento, mas continue, continue com essa idiotice.

— Eu acho que interpretamos errado, nós não podemos ser membros do desespero, fomos resgatados das mãos deles e realocados como membros da tal fundação, membros que lutariam contra Junko Enoshima.

— Então quer dizer que naqueles vídeos, nós estávamos lutando contra o pessoal da Junko? – Cody disse com certa insegurança- e esses apelidos podem ser codinomes de agentes? Faz certo sentido. Teríamos notado isso antes se aquelas fichas que vocês acharam não estivessem cheias de duplo sentido.

— De qualquer forma vamos considerar que nós somos esses agentes, e fomos trazidos para cá pelos tais professores- Kon disse fazendo um sinal para que fôssemos adiante.

[Clica]

Pelo menos uma coisa havia sido resolvida- ou pelo menos eu esperava que sim- mas ainda haviam muitas perguntas sem resposta e eu sabia que aquele julgamento estava longe de acabar. Monokuma nos fitava com ar de tédio enquanto os meus colegas comentavam coisas sobre como era estranho serem da tal fundação e terem feito tanta coisa sem se lembrarem de nada. Eu apenas me concentrava em desvendar o quebra-cabeça em minha mente para acabar logo com aquilo:

— Bom, já decidimos que somos os tais membros e que fomos trazidos até aqui, mas sinto que deveríamos discutir como esse urso desgraçado entrou aqui- Kocho disse lentamente enquanto olhava para Monokuma que apenas riu da expressão de nervosismo do garoto.

— Não seja estúpido Kazuo-kun, vocês mesmos me deixaram entrar não lembram? Oh- ele levou as mãos a boca fingindo surpresa- é mesmo, eu tirei todas as memórias de vocês. Que peninha.

— Deixamos você entrar? Nunca em sã consciência nós deixaríamos algum membro do desespero entrar aqui, seria muita idiotice! - Cody protestou.

— Talvez um de nós tivesse deixado ele entrar... um traidor- Yui disse pensativa- não, não tem como um de nós ser um traidor, isso é loucura.

— Loucura? A verdade está na frente de vocês, só que estão se recusando a enxerga-la. Sim minha garotinha das fantasminhas, dois de vocês eram traidores e foram estes que abriram os portões da cidade e me ajudaram a começar esse jogo, foram obrigados de certa forma, mas eu não teria entrado aqui sozinho- o urso rodopiava e brincava em seu trono enquanto nos contava aquilo, eu apenas ficava quieta tentando achar uma saída.

— Então você executou aqueles professores? – Kocho perguntou.

— Mas é claro que sim! Eles se meteram no meu caminho, eu havia conseguido raptar todos vocês usando uma pessoa como isca, eu sabia que os amiguinhos viriam correndo, mas aí aqueles dois intrometidos apareceram e arruinaram meu plano- o olho em forma de raio brilhou fortemente- eles tinham que pagar por isso.

— Você só pode estar de brincadeira- Kon falou enquanto brincava com os dedos fazendo pequenas chamas aparecerem- não há garantia de que podemos confiar nessas suas historinhas.

— Na verdade tem sim- falei chamando a atenção de todos- eu encontrei um diário da Yuuka, e ela falava sobre termos sido raptados e resgatados pelos professores depois, ela falou também que nós havíamos fugido no começo da tragédia, todos os dezesseis alunos da nossa turma junto com Yui que era de outra turma e uma outra pessoa.

— Que seria...- Cody questionou.

— Haruka Tatsumi- todos fizeram expressão de surpresa- ao que parece fugimos todos juntos e depois nos separamos por algum motivo, até acontecerem os eventos que nos trouxeram até aqui.

— Está tudo muito lindo, muito romântico, uma história digna de virar uma série de futuro distópico, mas não acham que estão esquecendo de desvendar algo REALMENTE importante- o urso disse bocejando, arqueei uma sobrancelha em dúvida- quem eu sou oras! Quem foi a pessoa que os capturou pela primeira vez, quem é o manda-chuva desse jogo de matança, quem é que controla este belíssimo corpo de urso.

[Clica]

Ele tinha razão, eu precisava descobrir quem havia feito tudo aquilo. Quem era o tal seguidor da Enoshima Junko que resolvera continuar o seu trabalho e fazer pessoas matarem umas as outras de forma desesperadora. Meu coração batia muito mais rápido do que o normal e eu tinha certo receio, tinha medo de errar e condenar todos nós, eu precisava ir com calma e desvendar aquele mistério aos poucos. Eu encarava Monokuma que parecia deliciar-se com a situação, aquele seu olho cor de sangue brilhava enlouquecido. “Quem é você?” Eu me perguntava.

— Não deve ser a tal Junko, já que ela provavelmente está morta- Kon disse- pode ser alguém de fora, algum dos membros do desespero que lutaram conosco naquele vídeo.

— Não acho que seja alguém de fora- falei com certa dor no peito- o Monokuma disse que exceto os professores apenas dezoito estudantes entraram com vida nessa escola... tem que ser um de nós.

— Então é óbvio que é o tal do Haruka Tatsumi, ele é o único que não esteve conosco desde o começo- Yui disse em tom de revolta- devia ser ele por detrás de tudo, rindo da nossa cara enquanto caíamos em desespero.

— Tem razão, na ficha dele dizia que ele era claramente um seguidor de Junko Enoshima, que era muito perigoso- Kon falou levando a mão ao queixo como se pensasse- faz sentido ser ele.

— Oh, será que eu estou sendo descoberto? Morrendo de medo- Monokuma falava em tom de deboche.

Havia algo errado, eu não conseguia acreditar que Haruka fosse o manda-chuva. Parecia ser óbvio demais, se ele fosse a pessoa por trás de tudo porque apareceria para mim daquela forma descuidada? Porque eu seria tão próxima a ela visto que era para sermos inimigos? E ainda tinha o que Yuuka falara em seu diário, sobre sermos muito próximos. Devia ter alguma forma de descobrir a identidade do Monokuma, eu não conseguia acreditar que fosse ele.

— Será mesmo que é o Haruka? E se ele fosse apenas uma distração? – Falei tentando ganhar tempo- ele parecia muito próximo a nós naquele vídeo, não acha que se ele fosse mesmo parte do desespero não estaríamos lutando contra ele?

—  Está errado Onimaru-san – o urso odioso falou com sua risadinha irritante- você era muito próxima a ele no tal vídeo, talvez você seja uma das traidoras. Upupu...

— Cale a boca- Cody gritou- nós sabemos muito bem o que está tentando fazer, quer jogar uns contra os outros para que a gente não possa pensar direito.

— Mas Onimaru-chan, só pode ser o Haruka, não há mais ninguém que possa conseguir ser o manda-chuva controlando o Monokuma e estando conosco o tempo todo- Kocho disse- no entanto sinto que o que você diz é verdade, então se assumirmos que não é o Haruka... quem seria?

— Upupu, se Haruka Tatsumi não sou eu, então eu só posso ser um de vocês! – Monokuma falou rodopiando em seu trono- não que isso faça qualquer sentido.

— Só pode estar de brincadeira- Kon falou.

— Mas é claro que não, vocês são os únicos estudantes vivos nesta cidade. Se vão assumir que Haruka Tatsumi não é o manda-chuva, então as únicas opções são vocês.

— Na verdade existem outras opções- falei enquanto as coisas se clareavam na minha mente, como eu não tinha percebido antes? – nós não sabemos quem é que está vivo de verdade. Se nenhum de nós aqui nesse tribunal é você, e nem Haruka é, ainda nos sobra os nossos colegas que “partiram”.

— Está ficando louca Onimaru- Yui disse- não tem como isso ser verdade... é insano e impossível.

— Yui tem razão- Kocho disse aparentemente preocupado- eles eram nossos amigos, nós checamos os corpos, vimos as execuções, nós vimos a morte de todos eles.

— Isso está errado... Kocho-kun- o rapaz se silenciou, Monokuma fez uma expressão de dúvida enquanto me analisava- existe uma pessoa que não está mais entre nós, e que ninguém aqui presenciou sua morte e assumimos que era ela devido as roupas, mas a verdade é que não pudemos reconhece-la, já que estava quase que completamente carbonizada.

— Você não pode estar falando do... – Kon começou a falar, mas eu o interrompi.

— O manda-chuva, a pessoa por trás do Monokuma, é ninguém mais do que Onihiru Mikamaru.

[Clica]

— O quê? – Todos falaram num uníssono, Monokuma apenas riu.

— Tem outra coisa também- continuei falando- naquele vídeo, na camisa que Haruka usava estava escrito o nome Ceifador, que pode ser traduzido como Reaper... Mas nas fichas esse era o codinome do Onihiru, e se ele tivesse trocado as fichas? E se o agente especial fosse na verdade Haruka, o Super Highschool Level Spy e Onihiru fosse o tal Corpse? 

— O desespero não fez bem a sua mente minha querida, acho que isso é falta de louça para lavar. Onihiru está morto, eu o matei por quebrar as regras, e todos vocês ouviram ele gritar não ouviram? Não há provas de que eu seja aquele policial medíocre.

— Aquele grito podia ser mais uma de suas gravações, Haruka Tatsumi havia aparecido para mim no dia anterior, dando pistas sobre os segredos da sua cidade e ironicamente no dia seguinte você decide punir um estudante, foi tão óbvio que eu nunca vou me perdoar por não ter percebido isso antes.

— O que está insinuando? Que eu matei Haruka Tatsumi e o coloquei ali no meio da estrada? Vocês nem conheciam Haruka pessoalmente, não há como provar isso- ele falou em tom de vitória, eu peguei meu ID do bolso rapidamente.

— Tem razão, não conhecíamos Haruka, mas conhecíamos Onihiru, e eu posso afirmar com segurança que ele possuía uma cicatriz no abdômen- comecei a passar as fotos que haviam em meu ID até chegar a que eu queria- eu tirei uma foto do corpo carbonizado, não consigo ver nenhuma cicatriz aqui, e olhando bem ele parece mais alto do que o Onihiru que conhecíamos, podem ver por vocês mesmos- todos pegaram o meu ID e analisaram a foto apavorados.

— Isso é estranho demais, até para alguém como você Onimaru- o urso falou visivelmente abatido- uma simples foto não prova nada.

— Então porque não vamos todos ao necrotério? – Monokuma fez expressão de susto- vamos olhar o corpo de Onihiru e ver se é mesmo ele- o urso se silenciou- você perdeu Mikamaru-kun.

Ele ficou parado, estático, por um longo tempo. Nos olhávamos nos perguntando o que havia acontecido. Teria o urso quebrado? Quando então luzes coloridas começaram a piscar ao som de uma música psicodélica. Holofotes apontavam para uma das paredes do tribunal que começaram a se abrir lentamente enquanto uma fumaça branca tomava conta do local. Ouvimos o som de passos em meio a fumaça, alguém se movia na direção do trono, sentando-se nele, e quando finalmente a fumaça cessou, pudemos ver com clareza, aquele que era o nosso verdadeiro inimigo o tempo todo.

[Clica]

— Upupu! Vocês são tão, tão, tão incríveis. Eu imaginava que isso fosse ser a coisa mais entediante do mundo, mas a Onimaru-chan tornou isso tão desesperante que sinto que vou ter um orgasmo aqui mesmo- ele estava muito diferente, o cabelo divido em preto e branco, um dos seus olhos exibia uma lente vermelha cintilante, usava roupas também em preto e branco com um aspecto real, segurava o urso como uma criança com seu brinquedo- acho que estamos chegando ao momento mais excitante de todos não é mesmo? Era isso que nosso público queria.

Onihiru Mikamaru- Super Highshcool Level Despair

— Onihiru-kun? – Yui sibilou assustada- então esse tempo todo era você?

— Isso, é loucura, você estava conosco o tempo todo, como você conseguia ser o manda-chuva? – Kocho gritava visivelmente revoltado- como conseguiu trair os seus amigos dessa forma?

— Isso é uma história muito engraçada- ele falou sentando-se no trono com ar de superioridade- vou tentar falar devagar para que suas mentes captem tudo. Lembram que eu falei que existiam dois traidores? Bom, um deles era Haruka, eu o obriguei a me ajudar controlando o Monokuma enquanto eu me fazia de amiguinho de vocês, disse para ele que estava com sua família, mas ela já estava morta é claro.

— Então... Ele era nosso amigo... e você o obrigou a controlar o Monokuma? – Kon disse entristecido- e quem era o outro traidor?

— Vocês já deviam saber não? A minha patética espiã Mayu, foi só roubar os animaizinhos dela que ela me deixou entrar na cidade e eu pude passar a perna em todos vocês, para uma serial killer eu esperava que ela tivesse um pulso mais firme. Ela também foi a isca que eu sequestrei para atrair vocês da primeira vez, foi tão fácil.

— Você é completamente insano- Cody disse se segurando para não avançar no outro- porque você fez isso conosco? Nós éramos seus colegas de turma, éramos seus amigos!

— Upupu... foi exatamente por isso que eu escolhi vocês- ele fazia uma expressão assustadora, respirava ofegante como se estivesse extasiado com a situação- meus lindos amigos, eu queria tanto brincar com vocês, foi divertido não foi? Eu consegui fazer a turma mais unida da Topo da Esperança, o esquadrão mais bem-sucedido da Fundação Futuro cair em desespero, consegui fazer vocês se matarem... Oh Junko-chan ficaria mais do que orgulhosa de mim.

Eu sabia que era real, mas ao mesmo tempo eu me recusava a acreditar. Não conseguia relacionar o Onihiru a minha frente com o Onihiru que eu conhecera antes, com o grande perito criminal que resolvera diversos homicídios e fazia o seu melhor para ajudar os seus amigos. Seria tudo aquilo atuação? Como que a maldita Enoshima conseguiu muda-lo daquele jeito? Eu apenas me mantinha em silêncio enquanto o garoto se glorificava em meio aos protestos dos meus colegas. Fiquei assim por alguns minutos até ele me encarar com seu sorriso assustador.

— Não vai nos contar o porquê de ter feito tudo isso? – Questionei com uma expressão séria- ou como conseguiu nos colocar nesse jogo maldito?

[Clica]

— Prender vocês aqui foi a coisa mais fácil do mundo, consegui subornar Mayu a me deixar entrar, então usei umas bombas de gás para botar vocês para dormir, depois só precisei apagar as memórias de vocês e executar aqueles dois professores, e não me perguntem como pois um chefe nunca conta suas receitas- falava lentamente, seu olhar maligno em cima de mim, seu riso assustador, aquilo era o desespero em pessoa- consegui com que a Haruka me ajudasse, graças a você Onimaru-chan, o maior tesouro dele, afinal ele não queria perder sua amada não é mesmo?

— Você não pode estar falando a verdade, eu não sou nada dele, eu não...

— Não se lembra, não é? Upupu... deveria me agradecer, você passou por umas situações bem cabeludas, ainda bem que se esqueceu não é?- começou a gargalhar alto- mas isso era apenas um detalhe do grande show, vocês são a estrela essa noite, as pessoas que eu escolhi a dedo para representarem a esperança! Onimaru com sua sabedoria, Yui e sua espiritualidade, Kocho com sua humildade, o paciente Kon e o alegre Cody, e claro eu... O amante desesperado, Onihiru- ele disse fazendo uma reverência como se estivesse em um teatro.

— Não entendi uma palavra do que você disse- Cody cruzou os braços- então você forjou tudo para que nós fossemos os sobreviventes apenas para realizar uma loucura da sua cabeça?

— EXATAMENTE! – gritou animado jogando o urso para o alto- assim como a minha doce e amada Clarabell, me ensinou, se ela estivesse aqui iria me afagar dizendo que fui um bom menino. Oh pobre Clarabell... deve estar dançando com Junko no inferno.

— A bailarina... – falei calmamente- fez tudo isso por ela? Porque você a amava? Acha mesmo que isso a deixaria orgulhosa?

— Ela também era uma serva de Junko, claro que ficaria orgulhosa, sua idiota- ele protestou visivelmente irritado- sabe eu era uma pessoa normal, eu a conheci e começamos a sair, então ela me levou a Junko... e Junko me mostrou o verdadeiro desespero, ela me torturou por dias e dias, e ninguém me ajudou, Clarabell também participou disso rindo de mim, zombando da minha dor, aquilo me enlouqueceu.- lágrimas escorriam pelo seu rosto enquanto ele sorria loucamente- E foi tão excitante, tão empolgante, que minha mente só conseguia oscilar entre desespero e o amor que sentia por Clarabell, nada mais me importava, a dor não era nada, era até interessante sentí-la, então eu quis que vocês a sentissem também. Então quando a tragédia começou e nós fugimos, eu arquitetei tudo, fiz vocês se separarem, então sequestrei Mayu assumindo a identidade de Corpse, oh foi tão empolgante.

— Como conseguiu nos achar? Nós mudamos de base certo? – Kocho falou assustado.

— Eu sou uma pessoa incansável, e meu talento investigativo ajudou no fim das contas! Eu era o lobo e vocês eram meus lindos coelhinhos!

— Mas acabou agora, nós descobrimos você e nós vencemos o seu julgamento ridículo- falei irritada- então já pode nos deixar ir embora e dar um enterro digno aos nossos amigos. Enquanto você pode ir para o inferno de uma vez por todas.

— Oh, mas o julgamento ainda não acabou- ele disse arregalando os olhos, eu me espantei com sua expressão- ainda teremos a nossa última votação! – quando ele disse isso, várias telas surgiram das paredes da sala exibindo imagens de cidades, acampamentos, locais onde pessoas pareciam assistir algo em telões, estavam nos assistindo- esses são os sobreviventes da tragédia, os seres humanos que conseguiram escapar do desespero de Junko Enoshima e seus seguidores.

— E o que eles têm a ver conosco? – Kon perguntou.

— Eu tomei a liberdade de instalar explosivos em todos esses locais, sem nenhuma exceção. Essa cidade possui explosivos também só para vocês saberem- falou com um sorriso simpático no rosto- a votação é simples, se vocês votarem para deixar vivo, os explosivos dessas cidades vão detonar, matando todos os sobreviventes existentes e deixando o mundo no desespero mais uma vez, se me executarem, eu deixo as cidades em paz... mas essa aqui vai explodir assim que eu morrer.

— Espere um pouco... então você quer dizer que...

— Vocês terão que escolher meus lindos coelhinhos, quem vai viver? Vocês ou o resto do planeta? Upupu....

— Como saber se está falando a verdade? – Cody perguntou.

— Vão mesmo querer arriscar? Eu acredito que não!

[Clica]

Eu estava perplexa. Meu coração batia tão rápido que eu podia ouvi-lo como se fossem milhares de tambores rufando ao mesmo tempo, na face de meus colegas eu podia ver o desespero, estavam boquiabertos, os olhos arregalados, estáticos, com medo de terem que tomar aquela decisão. Pela primeira vez em minha vida eu senti as lágrimas querendo chegar, esquentando meu rosto enquanto eu me perdia na minha própria cabeça. Podia ouvir as risadas de Onihiru, ele sabia que havia tocado no nosso ponto fraco, sacrificar a esperança pelas nossas vidas ou sacrificar nossas vidas pela esperança? Iríamos mesmo deixa-lo ganhar? Ou iríamos leva-lo para o inferno morrendo no processo? Quando dei por mim eu não estava mais na sala de julgamento, estava no mais completo vazio, tudo escuro, estranho, não via meus colegas, nem ouvia suas vozes.

— Mikazuki-chan – uma voz doce sussurrou em meu ouvido enquanto braços me abraçavam – você sempre foi a garota mais linda que eu já conheci.

— Tatsumi-kun? – Eu podia vê-lo nitidamente, talvez eu estivesse louca, talvez aquela fosse alguma memória perdida que voltava aos poucos, seus cabelos negros e seus olhos castanhos, seu sorriso meigo que me acalmava- eu estou morta? Você está vivo?

— Não minha querida, eu apenas estou dentro de sua cabeça. É tudo imaginação- ele sorriu afagando meus cabelos- sinto muito por ter deixado isso acontecer, logo eu que prometi que nunca deixaria nada de ruim acontecer.

— Não foi sua culpa, não foi culpa de nenhum de nós. É culpa do Onihiru.

— Ele é só mais um dos seguidores loucos daquela loira diabólica... está tão perdido quanto vocês...

— O que eu faço Tatsumi? Eu não sei o que fazer! - Ele ficou de frente para mim, pegando em minhas mãos.

— Faça o certo meu amor... você sabe qual a decisão a ser tomada.

Ele soltou minhas mãos se afastando, atrás dele eu pude ver meus colegas, sorrindo para mim. Todos os meus colegas que morreram, sorrindo e acenando para mim, chorei ao vê-los, eu sabia que era tudo uma alucinação minha, mas eu não podia negar o quanto eu sentia a falta deles, mesmo não lembrando de nada eu sentia que havíamos sido muito próximos, eles eram meus amigos, meus lindos amigos.

— Onimaru-chan- Yuuka sorriu para mim, abraçada a Albert- não se preocupe com o que vem depois, aqui é lindo, você vai gostar, faça isso pela esperança.

— Faça isso pelo amor- Albert disse.

— Faça isso pelo que você acredita- disse Kazuyo.

— Faça isso pelo futuro- disse Miya.

— Faça isso pelos seus tesouros- disse Percy.

— Faça isso pela sua história- disse Aru.

— Faça isso pela sua fé- disse Aya.

— Faça isso pelo o que você acredita ser o certo- disse Annie.

— Faça isso pelas suas convicções- disse Mayu.

— Faça isso pelas memórias dos seus amigos- disse Watashima.

— Faça isso pelos sonhos dos que estão lá fora- disse Nathan.

— Faça isso, Onimaru-chan- todos falaram em uníssono.

— Pessoal- falei em meio as lágrimas- eu amo vocês!

Quando dei por mim estava de volta ao tribunal, as lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto os outros me olhavam em expressão de dúvida. Onihiru parecia entediado como se esperasse nossa decisão, ele bocejou enquanto sentou-se no trono de maneira relaxada. Eu o ignorei e voltar a olhar os meus colegas, que sorriram para mim, eu os amava intensamente, os amava com todas as minhas forças, e eu sabia que eles concordariam comigo.

— Pessoal... devemos salvar as pessoas lá fora- falei calmamente- é o certo a se fazer, eles precisam continuar vivendo na esperança, podemos vencer o desespero aqui e agora.

— Você não tem medo da morte? – Onihiru falou.

— Eu convivi com a morte na minha porta por anos, enterrando as vítimas do meu mestre. Agora eu entendo as suas palavras, a vida acaba como num sopro. E se eu vou morrer, morrerei fazendo o que é certo pela primeira vez. Mas só farei isso se meus amigos concordarem comigo- olhei para eles um por um, que mesmo temerosos acenaram suas cabeças em afirmativo- nós já decidimos, e votamos pela sua execução, vamos salvar a humanidade.

— AMAZIIIIING!- Onihiru gritou saltando do trono, indo pegar o Monokuma que ele havia jogado antes- eu já imaginava que vocês fossem escolher esse caminho, na verdade eu QUERIA que vocês tomassem essa decisão. Tanto tempo assistindo aquelas execuções, me deu vontade de participar de uma, isso é incrível.

— Espere- gritei- você não precisa fazer isso, pode poupar a si mesmo e tentar mudar...

— CALADA SUA BASTARDA INÚTIL! – um botão surgiu na frente do trono, Onihiru segurava a pata de Monokuma e aproximava-se para pressioná-lo – chegou a hora do clímax, saber que vou morrer de forma glorificante é muito desesperante. Vamos com tudo, HORA DA PUNIÇÃO!!!!

E dizendo isso ele apertou o botão, e várias correntes surgiram o agarrando e o arrastando para os seus últimos momentos.

° ° °

[Clica]

Congratulations!

Onihiru Mikamaru foi decidido como o grande culpado.

Começando a Punição.

° ° °

[Clica]

Last Chapter: Morgue’s Massacre

Onihiru estava sentado em um trono em um local que lembrava muito a um necrotério. Ele segurava o Monokuma em suas mãos e sorria acenando para nós com uma expressão de pura loucura. As chamadas gavetas dos necrotérios se abriram sozinhas deixando cair no chão diversos sacos pretos, parecidos com os que os peritos usavam. Sirenes começaram a soar e de dentro dos sacos saiam cambaleantes os corpos dos nossos amigos, todos eles estavam lá com suas feridas, queimaduras, ou outros ferimentos, tinham um dos olhos vermelhos e levavam machadinhas e facas consigo, controlados como se fossem marionetes.

Eles se atiraram sobre Onihiru, o perfurando e o cortando, enquanto seu sangue jorrava ele ria de dor e desespero, os cadáveres o apunhalavam sem dó, criando uma poça enorme no local e as gargalhadas do rapaz só tornavam tudo mais bizarro. Após um tempo os cadáveres caíram sem vida, deixando um Onihiru quase morto e que insistia em rir agarrado ao urso destroçado. Quando o cadáver de Clarabell entrou no local, dançando como uma bailarina desajeitada, segurando uma faca. Ela se aproximou do garoto desferindo o último golpe e tombando junto aos outros. Uma cortina desceu na frente da tela com as palavras: The End.

° ° °

—  Até mesmo na morte ele continua sendo louco e insano- Cody sibilou- e pensar que ele fingiu ser nosso amigo esse tempo todo.

— Desculpem pessoal- falei fazendo uma reverência- agora por minha causa estamos condenados, eu sinto muito mesmo.

— Está tudo bem Yuuka-san – Cody falou pegando em minha mão- nós não iríamos conseguir viver sabendo que matamos milhares de pessoas, e tenho esperança de que vou ver Percy mais uma vez.

— Sim, ver a Aya de novo vai ser incrível- Yui falou abraçando Kocho que chorava feito uma criança- vamos estar todos reunidos mais uma vez.

— Eu sinto que minha irmã está me esperando- Kocho falava em meio as lágrimas- eu estou muito ansioso por isso.

— Foi a decisão certa Onimaru- Kon falou pegando minha outra mão- estamos com você nessa.

— Pessoal... eu amo vocês!

E todos nos abraçamos enquanto uma voz eletrônica fazia uma contagem regressiva. Sabíamos que a morte estava próxima, mas demos a chance da humanidade continuar a ter esperança, havíamos derrotado o desespero ali mesmo e eu estava imensamente feliz por ter feito uma coisa boa em minha vida. Meus amigos, eu estou indo para vocês!

— 3....2....1!

E então com um barulho ensurdecedor...

Tudo chegou ao seu fim!

° ° °

[Clica]

Em frente ao prédio principal da Fundação Futuro, se encontrava uma grande multidão que depositava flores em uma estátua recém feita. A estátua mostrava uma águia gigante alçando voo e em sua base estavam talhados os nomes dos novos heróis da humanidade. Os estudantes que sacrificaram a si mesmos para salvar o mundo. Enquanto o novo presidente da Fundação discursava, homenageando a bravura dos jovens, Carlos apenas fitava a estátua com uma expressão vazia:

— Eu não acredito que não chegamos a tempo- ele murmurava- poderíamos ter salvado todo mundo!

— Quem ia imaginar que quando estávamos prestes a derrubar as paredes tudo explodiu- Kanoto falou entristecida- eles não mereciam isso.

— De qualquer forma o desespero acabou não é mesmo? – Esther falou forçando um sorriso- Corpse está morto, e o tal do Naegi Makoto conseguiu dar um fim aos seguidores restantes de Enoshima Junko.

— Acha mesmo que está tudo acabado- Daniel falou- e se ainda existir um deles por aí? Tramando alguma coisa? Parece que aquela tal Monaka Towa ainda está viva, não é?

— Estamos de olho nela- Joey falou- ela não vai incomodar e se fizer, sabemos como agir. Não há como livrar o mundo do desespero, mas conseguimos nos reconstruir, a esperança retornou.

— E mesmo que o desespero volte- Adari disse sorrindo- estaremos preparados.

^-^ Obrigado por tudo! :3