The Killers II- Interativa escrita por White Rabbit, Neve de Verão


Capítulo 31
Capítulo 25- I'm waiting for the afterlife


Notas iniciais do capítulo

Hey minna, eu iria demorar mais para postar esse capítulo, visto que ainda não terminei os outros capítulos finais, mas eu não queria deixar vocês sem nada, então resolvi postá-lo logo. Espero que gostem ♥



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Naquele momento todas as televisões da cidade ligaram automaticamente, e os estudantes que restaram assistiam confusos. O miniteatro parecia ter sido construído improvisado, a única iluminação do local eram umas luzes coloridas que piscavam fracamente. No centro do palco, Monokuma estava de pé, usando um terno e uma cartola, sapateando contente enquanto ria de forma diabólica, para uma plateia um tanto quanto incomum: um monte de ursos iguais a ele, mas que no entanto estavam desativados. As câmeras do local focavam no urso, e quando ele terminou a sua dança, agradeceu a plateia e riu alto mais uma vez.

Monokuma Teather

— Upupu... sei que vocês estão animados com o nosso espetáculo de matança, afinal nossos coelhinhos caíram rapidamente não é mesmo? E um a um, todos caíram no mais completo e excitante desespero. Mas antes de continuar infernizando a vida desses pobres bastardos, porque não contar a vocês uma historinha? Oh sim, sim. Todos amam uma bela historinha não é mesmo? E a que contarei hoje é mais bela, excitante, intrigante, emocionante, desesperante de toda a humanidade!

Um telão ligou-se atrás do urso mostrando em imagens pixeladas- como a de jogos antigos- a antiga Academia e seus alunos, com letras coloridas que brilhavam na tela “O maior, mais terrível, mais trágico evento da história da humanidade”. Uma música divertida e infantil tocava enquanto o urso saía do palco e as imagens na tela continuavam sob sua narração:

— Oh, a Academia Topo da Esperança, um lugar onde grandes e inteligentes cientistas vivem junto com seus estudantes, os Super Highschool Level Student, jovens talentosos e cheios de força de vontade, à espera do nosso mundinho, mas para sustentar esses estudantes é necessário fundos, por isso eles criaram o curso reserva, um lugar onde alunos normais e tediosos pagam taxas absurdas apenas para poderem usar o nome da escola depois. E é isso que nos cientistas pesquisam, o talento, como induzir o talento de forma artificial e criar a maior, a melhor, a mais impressionante esperança do mundo!

Ouviram-se barulhos de aplausos e assovios animados, enquanto Monokuma ria alto:

— E eles criaram esse talento, o Super Highschool Level Hope, Izuru Kamukura. E tudo estaria perfeito se não fosse um certo estudante, a nossa linda, diva, maravilhosa, rainha das noites sangrenta, Junko Enoshima- a tela mostra imagens pixeladas de Junko e seus seguidores, em meio a uma cidade totalmente destruída- ela queria o desespero, o mais completo desespero, para isso ela fez com que Izuru matasse os outros representantes de turma, não é desesperante? Não é?! Oh, ela filmou tudo e mostrou aos alunos do curso reserva, esses se revoltaram contra a academia, sim, foi um grande escândalo. Mas as coisas não pararam por aí, depois a academia foi forçada a fechar as portar, após UM SUICÍDIO EM MASSA DE TODOS OS ALUNOS DO CURSO RESERVA! Upupu!

A televisão mostrava agora imagens reais, o que parecia ser o pátio de uma escola, corpos de estudantes caídos por todos os lados, com poças de sangue por todo o chão do pátio, vários revólveres e seringas caídos por todo lado. Era no mínimo chocante, mas o urso gargalhava e dançava como se aquilo não fosse nada demais.

— E então Enoshima Junko e seus seguidores disseminaram desespero pelo mundo, e criaram a maior guerra que esse planetinha medíocre já viu, não era guerra por território, por religião, era apenas a bela e pura guerra- imagens de cidades destruídas e pessoas sendo massacradas apareciam- O mais forte matava os mais fracos e os mais fracos se uniam para abater o mais forte. Mas logo nosso querida Junko-chan acabou por morrer e seus seguidores se espalharam pelo mundo, mas isso não é relevante, agora vocês se perguntam: Como o mundo pode ter sido destruído? Quando tudo isso aconteceu? O que nós temos a ver com isso? Isso vocês terão que descobrir, no nosso último julgamento de classe. Upupupu... E se querem uma dica, deveriam tentar lembrar onde tudo começou.

E as televisões se desligaram, deixando tudo no mais completo silêncio. E os estudantes pensavam consigo mesmos, confusos, atordoados, assustados, desesperados. “Onde tudo começou... onde tudo começou... onde tudo começou...”  

° ° °

Estou esperando pela pós-vida

"Eu só quero ser amado"

Afterlife- XYLO

Suas mãos estavam doloridas, toda a sua roupa estava suja de terra e só não desmaiara de cansaço porque a chuva que caía pesadamente de certa forma revigorava suas forças. Mas não podia demonstrar fraqueza, ela tinha de terminar o serviço. Enxugou os olhos com um lenço e voltou a cavar, iria pegar um resfriado depois disso, mas não poderia deixar de cumprir as ordens do seu mestre. Em pouco tempo o buraco já estava fundo o suficiente.

Jogou a pá para um lado e olhou para o corpo enrolado no lençol, tinha sido um belo garoto, mas os desejos de seu mestre o levaram embora de forma brutal. Não que ela se importasse tanto assim com aqueles desconhecidos, sua mãe a ensinara a não ter pena deles, a não se importar, a fechar os olhos para o que acontecia dentro daquela luxuosa mansão. Terminou de enterrar o infeliz e voltou para dentro da mansão, entrando pela porta dos fundos e indo até o quarto de serviço para trocar de vestes.

“- Porque faz isso com eles mestre? – ela indagou certa vez, seu patrão apenas lançou um olhar frio.

— Pessoas não tem valor algum Onimaru-chan, não há sentido em nossas vidas a não ser continuar nesse ciclo vicioso, sendo puxados por cordas invisíveis- e sorria sadicamente enquanto dizia isso- suas vidas são uma merda com certeza, estou fazendo um favor a eles.

— Um favor...- ela sibilou.

— Um dia você entenderá, que a morte não é tão ruim quanto parece ser, e que matar alguém talvez tenha sido a melhor coisa que poderia fazer por uma pessoa”

Enquanto se trocava notou o embrulho pardo em cima da pequena cômoda, o pegou com cuidado e notou que aquele embrulho era para ela, arqueou as sobrancelhas. Ela não recebia cartas, nem presentes, nem nada que viesse do mundo exterior, o máximo que conhecia era a mercearia da esquina onde ela ia buscar suprimentos ou algo que seu patrão mandasse, se não houvesse seu nome ali tinha certeza de que seria um engano. Abriu o envelope com desinteresse, mas o conteúdo dentro dele a fez erguer uma sobrancelha. Era um convite, mas não qualquer convite, ela estava convidada a fazer parte de uma das escolas mais famosas do Japão, a Academia Topo da Esperança. Sentou na cama confusa, ela fora educada em casa, nunca sequer pisara em uma escola, mas aquele convite ali, a fez ponderar um pouco:

— Talvez possa ser interessante! – e com um sorriso bobo no rosto, foi avisar ao seu mestre que ela teria que providenciar seu material escolar.

° ° °

Deitada em minha cama eu só conseguia pensar em tudo aquilo que o Monokuma falara, se o mundo estava mesmo destruído como ele disse, se a tal Junko Enoshima havia colocado tudo no mais completo desespero então nós não tínhamos para onde voltar, não havia mais nada a fazer, talvez... talvez não houvesse mais nada além dos muros que cercavam a cidade. “Lembrar de onde tudo começou”, tudo começou na escola é claro, começou desde o momento em que recebemos aqueles malditos convites.

Me levantei e vesti uma roupa, eu não iria conseguir dormir e talvez dar uma volta fosse bom para esfriar minha cabeça. Um vento frio e úmido soprava e o local estava bastante deserto, olhei para o hotel no fim da rua, era o lugar onde costumávamos nos reunir, conhecer uns aos outros, até que aos poucos todos começaram a morrer... Albert, Kazuo, Miya, Percy, Aya, Akise, Annie, Mayu, Watashima, Onihiru, Yuuka e Nathan. Todos eles se foram em pouco tempo, o mais próximo que tive amigos desde que me entendo por gente, eu mal os conhecia, mas sentia dentro de mim como se cada um deles fizesse parte da minha alma, como se... Como se... Eu os conhecesse a muito mais tempo.

Sentia as lágrimas quentes descendo pelo meu rosto e as enxuguei rapidamente, eu não poderia desistir, não poderia aceitar viver o resto da minha vida naquela cidade sob o comando de algum maluco, dessa forma as mortes de todos eles teriam sido em vão, todos eles que lutaram tanto para alcançar a liberdade. O céu noturno estava muito bonito, as estrelas cintilavam e pareciam me encorajar. Sim, eu não iria desistir.

— Também saiu para um passeio? – Kon parou do meu lado com um pequeno sorriso- creio que o que o urso disse deve ter te confundido também.

— Bastante, precisava relaxar um pouco e ficar presa naquele quarto não estava ajudando.

— Consegue imaginar? O mundo todo destruído, será que nós somos os únicos ainda vivos? Será que não tem mais nada fora dessa cidade?

— Não faço ideia... Mas o Monokuma falou de um último julgamento não é mesmo? Acho que querendo ou não nossa vida aqui dentro vai acabar, me pergunto que tipo de coisas teremos que descobrir dessa vez.

— Sabe o que eu estive pensando- o encarei com um olhar enigmático- é pouco provável que tudo isso tenha acontecido nas poucas semanas que estivemos presos aqui, não leva tão pouco tempo assim para se destruir o mundo e espalhar o desespero, seja lá o que foi que fizeram. Talvez... a gente tenha assistido à destruição do mundo, só não lembramos disso.

— Está querendo dizer que...

— Monokuma enfatizou muito a palavra “lembrar” quando falou aquilo, acho que é porque nós esquecemos do tempo em que passamos desde que entramos na academia até chegar aqui. E talvez seja isso que ele quer que a gente lembre de alguma maneira.

— Acha que perdemos a memória? Tipo todos nós?

— É possível, na verdade acho que foi o que realmente aconteceu, e temos como provar isso.

— Temos?

Eu estava completamente perdida. A ideia de ter esquecido uma parte da minha vida, de ter esquecido como o mundo foi destruído, aquilo era pura loucura, mas o ilusionista parecia ter certeza do que estava falando. Ele sorriu me encarando com seus olhos brilhantes, pela primeira eu sentia uma determinação vinda de Kon que me surpreendeu, ele sempre fora quieto e misterioso, eu não sabia quase nada sobre ele. Mas demonstrava ter uma força de vontade gigantesca, só me perguntava que tipo de prova seria essa.

° ° °

A plateia aplaudia e uivava animada enquanto o ilusionista agradecia com um sorriso largo no rosto, o local estava lotado mais uma vez, todos queriam ver os truques e ilusões do grande Kon, e ele se sentia orgulhoso por poder dar a eles uma noite inesquecível. Deixou o palco e foi para o seu camarim tirar suas roupas de apresentação, estava exausto, porém feliz, havia realizado todos os seus números mais difíceis e sabia que tinha ido bem mais uma vez. “Foi como mágica” ele riu em sua mente, relembrando as faces surpresas dos seus espectadores.

Ao entrar em seu camarim para se preparar para o segundo momento do espetáculo, a primeira coisa que notou foi um belíssimo buquê de flores amarelas disposto em cima de sua mesa, junto com ele havia um pequeno bilhete e um envelope amarelo. Ele sentou-se na poltrona intrigado, pegando o bilhete. “Parabéns pela apresentação”, arqueou uma sobrancelha, olhando para o envelope amarelado. “O que será? ”, pensou ser o presente de algum fã, mas ao abri-lo percebeu que era muito, muito melhor. Leu tudo rapidamente e sentiu seu coração saltar de alegria, ele iria entrar para o melhor colégio do Japão, iria ter seu talento reconhecido em todo mundo, poderia levar seus shows para qualquer lugar e encantar outras pessoas.

Saltou da poltrona animado enquanto colocava o buquê em um jarro qualquer, guardou o bilhete em sua mochila e deixou o envelope em cima da mesinha. “Você conseguiu Kon” pensava consigo mesmo “Você finalmente conseguiu”. Foi quando ouviu o barulho de alguém entrando, olhou pelo canto dos olhos e só notou um garoto sorridente de cabelos brancos entrar com uma enorme maleta de maquiagem:

— Olá Kon-chan, sou Akise Aru o seu maquiador, e claro o seu maior fã, vai ser um prazer trabalhar com você essa noite- falou dando uma piscadela.

— O prazer todo meu Akise-kun, minha assistente me falou que você chegaria em breve, ouvi muitos elogios do seu trabalho, por favor sinta-se à vontade.

— Claro que sim- ele depositou a maleta em cima da poltrona enquanto examinava o local, até seus olhos baterem no envelope e o garoto arregalar os olhos num sorriso- é um convite da Hope’s Peak não é? Eu recebi um deles esta manhã também. Não é incrível?

— Sim- o ilusionista sorriu- é incrível.

° ° °

— Você e o Akise se conheciam? – Perguntei assustada, porque ele nunca tinha mencionado aquilo antes.

— Não posso dizer que éramos amigos, mas nos encontramos algumas vezes antes das aulas começarem, e quando o encontrei aqui depois ele estava... diferente.

— Diferente em que aspecto? – Indaguei.

— Sua aparência, parecia mais alto, mais forte, estava... mais velho do que quando o tinha visto pela última vez. Na verdade, eu mesmo me acho um pouco diferente quando me olho no espelho, sinto como se tivesse passado muito tempo, mas acabei culpando o estresse... Você nunca reparou nisso?

— Bem, um pouco, mas não achei que fosse nada relevante. Estávamos tão preocupados com o Monokuma que esquecíamos de reparar em nós mesmos- eu disse tentando lembrar a última vez em que eu fiquei algum tempo me olhando no espelho desde que cheguei aqui.

— Mas ainda assim vi o Aru poucas vezes, não posso me basear apenas nisso, por isso pensei em falar com pessoas que temos certeza que conviveram com outros de nós fora daqui...

— Se refere a Yui e ao Cody, não é? – Ele acenou em positivo e então percebi que estávamos indo na direção do quarto de Cody.

Kon bateu na porta algumas vezes sem resposta, tornou a bater e tudo o que ouvimos foi um sonolento “estou indo”. O loiro abriu a porta ainda coçando os olhos, e forçando um bocejo. Mas ao ver nossas expressões percebeu que era um assunto sério e deu espaço fazendo sinal para que entrássemos:

— Aconteceu alguma coisa? – Perguntou sentando-se na cama- além desse vídeo horroroso e confuso que o Monokuma acabou de mostrar.

— Você e o Percy se conheciam antes não é mesmo? – O ilusionista perguntou do nada fazendo Cody piscar algumas vezes sem entender, até sibilar um pequeno “sim”- notou algo de diferente nele? Algo que estava diferente antes dos dois virem parar aqui?

— Você se refere a aparência dele?

— Sim...

— Bom ele estava um pouco mais forte do que eu me lembrava, parecia um pouco mais velho também- levou o dedo ao queixo como se pensasse- e tinha mais algo, algo como uma cicatriz pequeno nas costas dele, eu a vi só uma vez quando cheguei aqui, mas não me lembro de ter visto aquela cicatriz antes.

— Você tem certeza disso? – Questionei.

— Acredite, eu conhecia o corpo do Percy-senpai melhor que ninguém- ele falou corando um pouco, provavelmente se lembrando de algo mais “pessoal”, afinal os dois namoravam- oh, me desculpem, eu acabei me perdendo em lembranças.

— Eu sinto muito por te fazer lembrar disso, sabemos o quanto ele era importante para você- eu falei dando uma leve reverência, não queria ferir os sentimentos de Cody- mas tem certeza de que não se lembra mais de nada.

— Tenho... Acho que isso é tudo o que consigo me lembrar.

— Está tudo bem, só precisávamos dessa confirmação- Kon respondeu- Vamos Onimaru-san?

— Sim, até mais Cody.

— Até- Ele respondeu olhando para a parede com um leve sorriso- vejo vocês pela manhã.

° ° °

Deslizou pelo longo corredor montado em seu skate, fazendo curvas e até dando alguns saltos de vez em quando, ele sabia que era proibido, mas não havia ninguém ali no momento- não que Cody se importasse com as regras do local- parou bem frente a porta do apartamento e com um movimento do pé lançou o skate para cima e o agarrou com uma das mãos. Checou a caixa de correio, nada além de dois envelopes amarelos. Abriu um deles curioso e quase caiu para trás ao ler seu conteúdo:

— Percy! - Gritou entrando correndo no apartamento, o moreno surgiu na sala com uma cara de dúvida- olha só isso- ele disse entregando os envelopes a Percy que leu e fez uma cara de surpresa.

— A escola mais famosa do Japão está nos.. Convidando?

— Acho que somos mesmo talentosos não é- o loiro disse colocando o skate em um lugar qualquer- isso merece uma comemoração, não é?

— Comemoração? – O outro indagou sem entender, até que Cody aproximou-se com um olhar pervertido e o puxou para um beijo- de novo você com isso.

— Ah Percy, já faz um bom tempo que a gente... Enfim, acho que o momento é ótimo- deu um sorriso “inocente” arrancando apenas uns risinhos de Percy que colocou a mão em sua cabeça bagunçando seus cabelos loiros.

— Eu te amo, Cody.

— Também te amo, Percy.

° ° °

Batemos nos quartos dos outros, mas não obtivemos resposta de nenhum deles. Talvez estivessem dormindo, ou tivessem saído para dar um passeio e tentar pensar assim como eu tinha resolvido fazer. Kon e eu ficamos andando pela cidade um bom tempo, já era muito tarde e estava perto de amanhecer quando encontramos Yui e Kocho, sentados em um banco qualquer olhando para o céu e conversando bobagens como sempre faziam. Quando nos viram, fizeram um sinal para que nos juntássemos a eles.

— Acho que ninguém conseguiu dormir depois daquele vídeo estranho- Yui disse enquanto nós sentávamos no banco- então chamei Kocho para dar uma volta por aí e refrescar a mente. Viram Cody?

— Sim, está dormindo no quarto- respondi.

— Sinto que ele é o mais preguiçoso daqui- Kocho comentou soltando uma risadinha até infantil- vocês parecem pensativos, aconteceu alguma coisa?

— Yui-san, pode parecer uma pergunta meio estranha, mas você notou algo de diferente na Aya quando acordaram nessa cidade? Algo na aparência, como se ela estivesse...

— Mais velha? Sim, nós duas notamos isso, sempre fomos muito parecidas, e logo notamos que estávamos mais “maduras”. Aya até comentou que os meus seios cresceram um pouco- Aya comentou corando um pouco e sorrindo desconcertada- achamos estranho, mas preferimos não comentar nada. Talvez fosse coisa da nossa cabeça. Mas, porque a pergunta?

— Não é nada relevante- eu respondi rapidamente- pelo menos não por enquanto, só precisávamos ter certeza dessa mudança que aconteceu conosco.

— Entendo- Yui respondeu encarando o chão- ás vezes me pergunto há quanto tempo estamos aqui, se passaram algumas semanas, mas sinto que estamos aqui há meses, anos, é como se os sussurros gritassem do chão cidade, sussurros tão vazios, tão distantes...Desculpe, não queria deixar vocês desconfortáveis.

— Está tudo bem Yui-san – respondi colocando minha mão sobre a sua- todos nós sentimos isso, não sabemos quanto da nossa vida perdemos aqui.

— Pois é- ela sibilou pensativa.

° ° °

Yui regava as flores do templo cantarolando alguma música qualquer, o sol brilhava forte e as pessoas passavam alegres na rua, era primavera e o perfume indescritível inundava os jardins do templo. Era a época preferida de Yui, a época em que a neve desaparecia e dava lugar a um colorido alegre e hipnotizante, como Aya costumava dizer “É como se as almas perdidas no inverno tivessem se transformado em uma flor”.

— Yui-chan- Aya gritou de dentro do templo correndo até ela com algo em mãos- chegou uma carta especial para nós?

— Carta? Mas eu não estava esperando nenhuma carta- respondeu confusa, enquanto sua irmã gêmea chegava ofegante e com um sorriso que ia de orelha a orelha- você parece muito animada, não é?

— Veja por si mesma- e ergueu a mão mostrando um envelope amarelado, Yui o pegou e leu calmamente- e então?

Yui leu diversas vezes o conteúdo do envelope sem acreditar naquilo. Ela conhecia a Academia Topo da Esperança pela grande fama que possuía, e saber que tanto o seu trabalho quanto o de sua irmã haviam sido reconhecidos era muito gratificante. Ela nunca imaginou que a escola se interessasse por assuntos religiosos, mas agora sentia-se orgulhosa de seus feitos.

— Nossa- falou boquiaberta- realmente é uma notícia maravilhosa.

— Vamos finalmente conseguir Yui, dar esperança ao mundo e usar o nosso talento para fazer coisas boas. Assim como os nossos pais queriam que a gente fizesse.

— Calma Aya, ainda é cedo para isso. Mas sim, estamos a um passo de continuar a mensagem deles... Uma mensagem de esperança.

° ° °

— “Cidade da Esperança” é a maior piada que eu já escutei até agora, e não tem a menor graça- Yui disse limpando as lágrimas que apareciam nos cantos dos seus olhos- tantos amigos nossos que morreram por causa de um jogo estúpido.

— Sinto que isso vai acabar em breve- Kocho disse num tom preocupado, um tom que nunca escutei ele usar antes- foi o que o urso disse no vídeo, deu a entender que nossas vidas nessa cidade vão acabar. Para ser sincero eu tenho um pouco de medo.

— Não precisa ter medo Kocho- Kon disse com sua voz pacífica- todos nós estaremos juntos independente de tudo, vamos carregar a nossa esperança e a esperança de nossos amigos.

— Você não costuma ser tão falante- Yui disse numa risada- onde está o ilusionista misterioso que conhecemos no primeiro dia? Acho que as pessoas realmente mudam.

— Pois é, todos nós mudamos- ele respondeu com um sorriso brando.

Em meio aos risos eu observava Kocho, ele parecia distante, um olhar perdido em algum lugar como se estivesse lembrando de algo muito importante. Acho que era isso que Monokuma queria trazer para nós, trazer as nossas lembranças mais íntimas à tona, lembrar dos momentos em que éramos felizes e que de repente sumiram no ar, talvez como uma forma de incentivo ao que estava por vir ou apenas para nos fazer sofrer. E de todos ali Kocho era o que mais conhecia o sofrimento, pelo que eu me lembro ele viveu anos largado na rua, sem ninguém até que a escola o resgatou, saber que a sua salvadora era agora a sua pior inimiga deveria machucar bastante.

— Sinto que somos azarados e sortudos ao mesmo tempo- a cor dos seus olhos oscilava enquanto ele falava- por causa do nosso talento, temos sorte por termos algo de especial que nos permita descobrir o mundo, quem sabe até ajuda-lo, mas somos azarados pois por causa do nosso talento estamos presos aqui nesse inferno...

— Você não costuma falar coisas tão...- comecei a falar, mas ele logo me interrompeu.

— Inteligente? – Disse rindo- eu sei, me sinto mais esperto ultimamente.

° ° °

Era a primeira vez que recebera um tratamento daquele modo. Roupa limpa. Cama macia. Comida boa e ainda um bom banho quente. E pensar que há menos de meia-hora atrás estava largado no meio da rua sem ter certeza que iria sobreviver, até chegar um homem que dizia ser da Academia Topo da Esperança, explicar que ele foi chamado para estudar lá e ser colocado num alojamento para estudantes feito pela própria escola. Era como um sonho.

Jogou-se em cima da cama rindo como uma criança, era tão aconchegante, tão macia, o homem que o trouxera dissera que a escola iria cuidar dele de agora em diante, pelo menos até a formatura. Mas pelo que ouvira falar da tal escola, uma vida boa após a formatura estava mais do que garantida. Ele só precisava melhorar o seu talento, e não havia problema nenhum nisso.

— Está vendo só maninha, eu consegui, eu finalmente consegui- ele dizia animado, gritando para que todos ouvissem- se você estivesse aqui iria estar orgulhosa de mim, orgulhosa do seu Kazuo-chan.

Ele segurou o envelope amarelo em mãos, mal sabia ler ou escrever, nunca havia frequentado escolas, mas iria dar o seu melhor e se tornar o homem que sua irmã queria que ele fosse. Abraçado ao envelope deitou-se de lado, lágrimas corriam dos seus olhos, estava feliz pela primeira vez. A esperança fluía em seu coração como uma nascente: - Está satisfeita, maninha? Está... orgulhosa de mim? – e dizendo isso adormeceu.

° ° °

Depois de algum tempo conversando, Cody apareceu e juntou-se a nós, estava com a maior cara de sono e tinha a voz preguiçosa, todos rimos dos bocejos que ele dava enquanto ele pedia para que parássemos, mas sua voz saía de forma engraçada e ríamos mais ainda. Ficamos assim a manhã quase toda, era um dia incrivelmente brilhante, e a brisa era fresca. Por um tempo esquecemos do desespero, do sofrimento, do nosso passado e do vídeo que nos mostraram, chegamos até mesmo a esquecer daquele urso maldito, mas claro que não foi por muito tempo.

Upupu, um piquenique matinal e não fui convidado? – o urso saltou detrás de uma palmeira- ora, ora, porque essas caras de carranca? Oh! Estou tão feio assim? Me arrumei mais esta manhã.

— O que você quer aqui? – perguntei num tom irritado.

— É bem simples, gostaria de informar que essa vida escolar de vocês está chegando ao fim. Esse jogo se tornou a coisa mais entediante do mundo e acho que merecemos ter um grand finale digno. Não acham?

— Então... quer dizer que... – Cody ia falar algo, mas foi interrompido pelo urso.

— Vocês irão realizar a sua última investigação- nossos IDs vibraram todos ao mesmo tempo- estejam no ponto marcado em cinco minutos e explicarei como o nosso fim de jogo vai funcionar. Não se atrasem.

E dizendo isso ele sumiu como sempre fazia. Mesmo irritados e a contragosto, obedecemos fomos até o local marcado. Era o único portão ainda trancado da cidade, mas que agora encontrava-se aberto, acima dele havia a inscrição: “Deixai toda a esperança, ó vós que entrais”. Logo surgiu Monokuma, utilizando um terno ridículo e uma cartola enorme, ele dançava e rodopiava enquanto observávamos em silêncio:

— Bem-vindos ao verdadeiro inferno meus bastardos, aqui dentro há um local especial dessa cidade e que irá ajuda-los a descobrir o segredo por detrás de vocês, e por detrás desse jogo insano. Todas as pistas que precisam encontram-se dentro então procurem direito meus queridos. O último julgamento de classe ocorrerá hoje ao pôr-do-sol, e o desespero de vocês começa... AGORA!

E pelo brilho escarlate em seu olho eu pude notar que quando ele disse que o desespero começaria... Ele não estava sendo nem um pouco metafórico. Mas eu farei isso, eu descobrirei o segredo desse jogo infernal...

... por todos os meus amados amigos.

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, o próximo terá investigação e depois o nosso último julgamento- além de um ou dois epílogos. Estamos mesmo perto de acabar e isso me dói na alma ;-;, teremos o resto muito em breve. Até mais ♥

Link da imagem: http://i.imgur.com/6LStgSe.jpg



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