O casal olhou-se de forma desconfiada, estavam um do lado do outro, e sentiam dores por todo o corpo. O homem de espessos cabelos negros e olhos cor de ônix, olhava assustado ao seu redor tentando discernir onde eles estavam, enquanto que a mulher ruiva de olhos claros apenas parecia fazer uma prece silenciosa por salvação. Estavam presos por uma espécie de colete e por mais que se debatessem não iriam conseguir se soltar, as mãos atadas com correntes e as bocas presas por uma mordaça o que impedia a comunicação.

Estavam vestindo uniformes similares, que reconheceram no mesmo momento de onde eram, daquela maldita escola. O local estava um completo breu e não havia um único sinal de alma viva por onde quer que olhassem. Foi quando luzes ofuscantes se acenderam, e uma música animada começou a tocar de forma macabra, logo eles viram onde estavam, em um carrinho de algo que parecia ser uma montanha russa de parques de diversão. Podiam ver os outros brinquedos ao seu redor funcionando perfeitamente. E a música do carrossel tocava a todo vapor.

E quando olharam para o lado puderam ver. O urso estava lá, o mesmo urso de antes. Seu corpo monométrico dividido entre preto e branco, no lado negro, um sorriso maléfico se abria junto a um olho em formato de raio que cintilava macabramente, o urso moveu a cabeça em expressão curiosa, levando a pata direita a boca. Logo o urso começou a rir em tom alto, assombrando o casal que estava preso. Ele andou até o painel de controle do brinquedo, com expressão marota.

Roller Coaster of Despair- Amazing Execution

Ele apertou o botão de vermelho que ligava o brinquedo, fazendo a máquina soltar rangidos e vapores esbranquiçados. O carrinho estremeceu por alguns segundos, enquanto começava a se locomover, tanto como homem como a mulher se debatiam na tentativa de se libertar daquilo e gritavam por socorro, tentando argumentar algo, mas a mordaça tornava suas palavras incompreensíveis. O carrinho começava a subida, era impossível dizer quantos metros ela tinha.

E o carrinho subia lentamente, o casal se olhou mais uma vez, lágrimas já escorriam pelos olhos de ambos, enquanto a subida se concretizava, iriam morrer e disso não havia dúvida, não havia como escapar dali, podiam ouvir a risada do urso enquanto o carrinho atingia o ápice da subida. O casal sentia o pavor e o desespero invadirem o seu corpo, estavam a segundos de suas mortes, pelo menos, eles estavam salvos, estavam longe do desespero, ou pelo menos era o que se pensava.

O carrinho desceu atingindo uma velocidade incrível, desciam rapidamente em meio a loops e rodopios enquanto o vento cortante parecia se tornar uma barreira para o casal que apenas se mantinham de olhos fechados esperando o pior, o carrinho seguia seu curso em alta velocidade, qualquer um que estivesse observando veria apenas um turbilhão vermelho em meio aos trios. A mulher abriu os olhos lentamente e gritou de pavor quando viu que os trilhos a sua frente estavam inacabados. Eles iriam morrer, iriam ter o seu fim.

Foi quando da parte de trás do carrinho, dois jatos saltaram para fora liberando as chamas fazendo o carrinho ir mais rápido, eles saltaram para fora dos trilhos e permaneceram voando no ar em alta velocidade, deixando para trás a montanha russa, por um pequeno segundo, ambos poderiam achar que estariam salvos, até virem a montanha diante deles, a montanha a qual o carrinho se dirigia e gritavam de desespero. Longe dali, um urso assistia a uma explosão luminosa no topo da montanha e ria macabramente. Sim, definitivamente, eles estavam mortos, apaziguados para todo o sempre.

° ° °

Sentia a fina garoa cair sobre mim enquanto eu me apertava em meu casaco, o frio realmente parecia predominar no momento, não que eu me importasse, eu sempre amei o frio, sempre amei a chuva, a garoa, a brisa, a noite. Talvez eu tivesse nascido para ser uma daquelas criaturas da noite, sombrias e desconhecidas as quais ninguém compreende. Mas apesar do meu aparente gosto pelo frio, e da minha tendência a me isolar de tudo e de todos, eu sempre fui bastante simpática e acolhedora. Aquele tipo de pessoa do qual ninguém nunca tem nada contra, a queridinha de todos, é claro que não sou isso por opção, ás vezes eu gostaria que alguém não gostasse de mim, pode parecer estranho, mas ser querida por todos é um saco.

Chamo-me Yuuka Misaki, e nesse exato momento eu estou indo realizar minha matrícula em uma conceituada escola do Japão. A Hope’s Peak Academy (Academia Topo da Esperança), uma escola particular que ao contrário das demais não tem testes de admissão ou coisas assim, esta escola convida os alunos que forem os melhores dos melhores em suas determinadas áreas acadêmicas, e eu nem posso acreditar que justo eu estou sendo chamada para esta escola.

Eu sempre amei a área de jornalismo, meu pai era âncora de um noticiário e eu o admirava, pois achava o máximo vê-lo todos os dias contando o que estava acontecendo no mundo. Tanto que aos seis anos, participei de um teste para ser a nova garota do tempo, e eu consegui. Gostaram tanto de mim que me garantiram um emprego de jornalista mirim quando eu atingisse os treze anos. E assim eu comecei a ser a âncora mais jovem do Japão, e eu não me limitava apenas a ficar atrás de um balcão lendo o que passava no teleprompter. Eu entrevistava pessoas, ia as ruas, fazia documentários, e creio que todos ficaram admirados comigo por certa vez eu ter ido fazer uma matéria no meio de uma guerra de gangues, disseram que eu era realmente muito corajosa, embora eu não ligue para isso.

Mas eu me surpreendi quando recebi a carta de convite da Hope’s Peak, foi realmente maravilhoso, saber que eu poderia ser uma das mais novas alunas daquela escola- acredite, formar-se nela é ter um futuro próspero garantido.

Yuuka Misaki- Super Highschool Level Journalist

Quando finalmente cheguei diante dos imensos portões da escola, sentido um frio no estômago, talvez fosse apenas o nervosismo, a ansiedade, e tudo aquilo que os calouros daqui devem sentir, ver aquela construção gigantesca também era algo muito impressionante, aquilo parecia mais um hotel cinco estrelas do que uma escola, mas quem sou eu para reclamar. Esse é com certeza um passo cheio de esperança, um passo que deveria ser maravilhoso.

Mas assim que pus os pés dentro da escola, sentido tudo escurecer e apaguei, eu devia saber desde já, que minha vida nunca mais seria a mesma, e que aquele passo não estava com sequer uma gota do que eu achava que era esperança.