New Perspective escrita por lantejulia, Lala Ferreira


Capítulo 17
Velha e louca - Mallu Magalhães


Notas iniciais do capítulo

Apresentando: John e Gabriel pela primeira vez tendo POV's próprios aqui...
Desculpem pela demora, a gente tá trabalhando pra melhorar isso.
Um obrigada do tamanho do mundo pra Ju, que nunca diz que os textos estão uma droga (mesmo que eles estejam) e pra as meninas lindas que cobraram esse capítulo, amo vocês ♥
Boa leitura!



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Era quase 5 da tarde quando a irmã o acordou com uma ligação.

John se levantou devagar, ainda meio imerso no sonho e correu pra atender o telefone. A cabeça girava por ter se levantado muito rápido e o queixo ardia levemente no lugar onde Renato tinha deixado uma mancha roxa que agora se tornava esverdeada.

— Dá pra vir aqui? — A garota perguntou, antes que ele pudesse dizer “alô”.

— Claro que não. — John bocejou. — Onde você tá?

— Perto do parque, com duas sacolas enormes.

— Não dá pra achar um cara simpático pra te ajudar? Tô respirando porque é automático...

— Quando vier traz meu celular?

Ele acenou com a cabeça, antes de se lembrar que ela não podia ver o gesto e foi trocar de roupa.

Não estava com a mínima vontade de ver gente, ou a luz do Sol, ou qualquer coisa que não fosse o teto de seu quarto, muito menos Kelly com a cara fechada e uma sacola do tamanho de um mamute em cada braço.

Sabia que ela poderia muito bem pedir ajuda a qualquer um e receberia imediatamente.

Era uma garota encantadora afinal, com os olhos minúsculos, cabelos longos e um sorriso tão confiante que poderia convencer pessoas de que o céu era verde-musgo (uma habilidade que ela poderia usar para arranjar alguém que lhe ajudasse com as sacolas).

Quando terminou de se arrumar e foi procurar o celular de Kelly, estava mais acordado do que antes, mas não o suficiente pra perceber:

— Se ela deixou o telefone em casa — Refletiu — como me ligou?

Pegou o próprio celular e discou o número da irmã. A garota atendeu com uma gargalhada, prevendo o motivo da ligação.

— Achou meu celular, amorzinho?

— Eu devia te deixar aí, sabia disso?

Desligou enquanto a ouvia rir ainda mais alto.

Pensou em deixa-la lá, com suas risadinhas e sacolas. Ela merecia. Mas ao invés disso, enfiou o telefone no bolso e saiu.

O sol brilhava mais do que deveria, considerando o horário e a época do ano. Calor no início do outono não costumava ser um acontecimento normal no resto do mundo, mas o tempo naquela cidadezinha nunca foi muito de acordo com as regras.

Não tinha muita gente na rua àquela hora. Duas senhoras com roupas de malha corriam enquanto conversavam, uma garota de cabelo azul estava deitada no passeio, observando o céu e até uma freira passou por ele, com um ar descompromissado.

Ainda assim, conseguia ouvir um zumbido distante, vozes e risadas se misturavam num som absurdamente alto. Encarou os prédios, pensando de qual deles aquela bagunça estaria vindo quando os avistou.

Do outro lado do parque, sua turma do 3º ano caminhava em uma fila malfeita.

John respirou fundo, indeciso entre fazer uma idiotice ou ser um babaca. Não teve de pensar muito, suas pernas tinham tomado a decisão sozinhas e antes que ele pudesse perceber, estava indo em direção ao grupo.

Mari o viu primeiro, parou de andar e agarrou os dedos de Julia, que levou meio segundo pra perceber sua presença e seu sorriso se desfez. Todo o barulho se foi.

Passaram alguns instantes se encarando em silêncio, e então começou.

Renato deus os primeiros passos e logo Well e João começaram a ir em sua direção, mas Lay agarrou seu pulso com uma das mãos e empurrou seu peito com a outra enquanto encarava Artur, que sacudiu a cabeça afirmativamente e começou a correr pra Well.

Segurá-lo foi mais difícil que tinha sido com Renato, mas depois de algumas palavras sussurradas, ele parou de forçar a passagem. Jess e Anna não tiveram trabalho pra conter João, mas seus olhos faiscavam.

— Não teve o suficiente? — Renato disse e Lay o empurrou mais um pouco.

— Ju... — John começou, ignorando-o. Ignorando tudo e todos. — Eu preciso falar contigo.

Well murmurou um “ah, mas não vai mesmo” e voltou a empurrar Artur, mas o amigo se manteve firme.

— John, vá embora. — Jess pediu o mais suavemente que pôde, agarrada ao cotovelo de João.

— Só preciso de 5 minutos.

A garota continuava em silêncio, encarando-o por um instante que poderia ter durado uma eternidade se ela não tivesse dito nada.

— Julia, vai.

Todos a encararam. Maria, a garota do segundo ano.

John se lembrava perfeitamente dela. Alguém, embora ele não conseguisse se lembrar quem, tinha dito algo sobre ela no primeiro dia de aula.

“Uma das poucas garotas reais que conheço... É exatamente o que mostra que é, nunca escondendo nenhuma parte de si, ri em momentos errados e não se envergonha disso. Eu gosto dela” lembrava-se de ter ouvido.

Parecia uma garota inteligente, mas agora, todos a olhavam como se fosse uma louca.

— Que foi? — Ela os encarou de volta. — Nunca vai aprender a lutar se ficar se escondendo atrás dos amigos.

O grupo de adolescente arregalou os olhos ainda mais. Santa insensibilidade.

— Mas será que você não tem um filtro? — João franziu a testa.

— Filtros são pra cigarros e você sabe que meu negócio é outro. — Ela piscou, com dois dedos erguidos.

Well empurrou Artur mais uma vez, agora para o lado de Maria. O amigo bateu em seu ombro, fazendo uma careta em repreensão, mas Julia já tinha começado a caminhar pra longe dali.

— Você tem 3 minutos — Ela gritou enquanto se afastava.

John respirou fundo e foi com ela até uma parte mais afastada do parque.

— Eu perdi a aposta. — Ele começou.

— 2 minutos.

— Não tinha apostado beijar você, era a Jess.

— Não muda nada. — Ela cruzou os braços sem encará-lo.

— Eu sei. Não consigo pensar em nenhuma razão pra você me perdoar, ou qualquer um deles e não me importo se quer saber, só quero que saiba que eu não completei por sua causa. Não podia ficar com a Jess sabendo da... coisa com Well.

— Não tem coisa nenhuma com Well, a coisa é com você, seu idiota! — Ela começou a se afastar, mas John a segurou. — Desencosta!

Ele agarrou seus pulsos e a empurrou contra uma árvore, com apenas alguns centímetros entre eles.

— Eu sabia que queria que seu par fosse ele, que estava chateada por ter escolhido Jess, não consegui fazer o mesmo. — Se aproximou um pouco mais. — Pode pensar que não, mas eu me importo com você. E pela reação dele quando me viu, também se importa.

Ela deu o menor dos sorrisos e ele não pôde evitar sorrir também. Julia se afastou devagar e começou a andar até os amigos enquanto o celular de John gritava.

— Fica longe da Jess. — Ela gritou, quando já estavam a certa distância.

— Pode deixar.

Sorrindo, revirou o bolso até encontrar o telefone.

— Você foi achado no lixo, sabia disso? — Kelly começou, furiosa.

— Estou chegando. — Respondeu e deu uma última olhada nos colegas, parados à distância, conversando antes de sair.

***

Entrou na BMW prateada enquanto secava a testa com uma das mãos. Checou o relógio de pulso sem se importar muito com a hora antes de dar a partida no carro.

O ar da cidade era sufocante, mas a garota que saiu do beco estreito e silencioso também tinha sua parcela de culpa. Abaixou os vidros e piscou quando passou por ela, que cobriu o sorriso com uma das mãos e corou.

Nos primeiros semestres da faculdade de arquitetura que fazia no sul do país, Gabriel não parava de pensar em todas aquelas garotas perfeitas. Altas, bronzeadas e de cabelos claros, eram o tipo de todos, o único problema é que depois de um tempo, acabou se acostumando a elas.

As garotas que encontrava na semana com Julia eram branquelas demais, sorridentes demais, inseguras demais ou seguras demais, difíceis demais, mas eram diferentes. Únicas. Claro, nem tudo é um mar de rosas.

Quando ficou com Anna a primeira vez, não pensou que geraria o problema que gerou.

A garota parecia perfeita, morena, cabelos curtos, e sorridente. Tinham se conhecido em uma apresentação de dança e o plano era o de sempre, ficaria com ela e nunca mais se veriam. Sempre tinha dado certo.

Na verdade, até teria dado certo se ela não fosse simplesmente a melhor amiga de sua irmã. Tinham se encontrado atrás do teatro, onde estava escuro demais pra ele notar que a menina estava com a roupa da apresentação.

Quando ela subiu no palco de mãos dadas com Julia, Gabriel sentiu seus olhos girarem nas órbitas. Nunca estivera em uma situação tão ferrada quanto aquela.

Tentou esquecer aquilo, mas quando se tratava de Ana, tudo tinha um “mas”. Nesse caso, o que ele não estava esperando era que Ju, toda sorridente, viesse dizer o quanto estava feliz por eles dois juntos.

Juntos, ele pensou, nunca odiei tanto uma palavra quanto odeio essa.

Mas é claro, não podia simplesmente chegar pra sua irmã e dizer que não gostava de compromissos então assumiu um namoro com a garota que durou exatos 6 dias.

Nunca passava uma semana exata com Julia, não conseguiria nem que quisesse. A quietude do sítio, os abraços da irmã, a distância da faculdade, tudo era perfeito demais pra durar só uma semana.

Mas naquele ano, tudo que desejou foi voltar.

O namoro tinha terminado desastrosamente: Ana pegou ele com uma garota baixinha com os cabelos pintados de vermelho.

Pensou nela por um instante. Ana não, a ruiva falsificada. Onde ela estaria agora? Tinha uma cicatriz no ombro e se encolhia quando ele a puxava pra mais perto, mas gostava dela.

Dirigiu pela cidade até passar pela praça onde Ju disse que estaria e estacionou, examinando todos os cantos.

Um pontinho louro acenou com os braços. Primeiro pensou que haviam 3 pessoas com ela, mas quando se aproximou eram só duas.

Não as identificou de primeira, mas logo que chegaram mais perto, viu João à sua direita, com o sorriso largo mais feliz do mundo e do outro lado...

As garotas são imprevisíveis, mas Ana é uma caixinha de surpresas.

***

Maria os acompanhou na volta pra casa. Morava mais perto de Mari do que ele, mas Artur não se importava em pegar um ônibus pra voltar.

Enquanto os três caminhavam, Artur parou pra pensar em algo que a garota mais nova tinha dito e refletiu, antes de criar coragem e perguntar, quebrando o silêncio.

— Maria... — Começou, falando pausadamente — vocês... tipo... fumam mesmo?

Ela franziu a testa e fez uma careta enquanto acenava com a cabeça, como se fosse uma pergunta absolutamente idiota, mas então suspirou e disse, sem encará-lo.

— Não drogas pesadas, sabe? — Não, ele não sabia — É difícil de explicar, mas não somos um bando de viciados.

— Sabe que isso vai acabar com seus pulmões, certo? — Mari agarrou o braço dela e fez um beicinho.

— Sabe que refrigerante desgasta a parede do estômago? Que ficar sem dormir reduz a expectativa de vida? Que o uso de maconha não gera overdose letal? Por favor, virgens.

Mari sacudiu a cabeça, em repreensão e Artur riu.

— É por isso que o 3º ano e o 2º não andam juntos. — Ele disse. — Vocês não param pra pensar no que vão falar.

— Não entendi.

— Qual é, defendeu o John mesmo sabendo o que ele fez! — Mari respondeu.

— O que ele fez? A aposta não foi sobre a Ju, o objetivo era ficar com a Jéssica. Eu mesma estava gerenciando o dinheiro, mas quando o John começou a se achar, decidi deixar as coisas mais interessantes e contar pra ela. Ganhou 20 Dilmas apostando contra ele.

Os três pararam de andar e se encararam em silêncio. Artur arregalou os olhos e Mari ergueu a sobrancelha mais do que achava possível.

— Que foi? — Ela parecia furiosa. — Olha, tava todo mundo se divertindo, até algum idiota resolver colocar o Renato no meio. Ninguém precisava sair machucado, nem John, nem Ju, nem o próprio Renato, mas a aposta tinha que ser feita. Vocês do 3º precisam aprender a viver.

Ela sacudiu a cabeça e subiu na moto de um cara qualquer, deixando-os sozinhos.

Jess sabia.

Tinham planejado tudo, sair com Well e deixar Ju sozinha, é claro que John iria consolá-la. É claro que preferiria a garota solitária à uma que tinha tudo.

Artur olhou pra Mari, que se agarrou à sua mão. Podia ter errado em relação a Julia, mas não faria o mesmo com ela. Nunquinha.


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