New Perspective escrita por lantejulia, Lala Ferreira


Capítulo 11
Nau dos Amores - Terra Celta


Notas iniciais do capítulo

Ignorem essa nota, é o capítulo mais longo que eu já fiz, vão ler gent!



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Well se aproximou de Lay e João, que conversavam distraidamente sobre alguma coisa. Estavam usando fantasias indecifráveis, ela com um vestido preto com um rasgão na altura do tornozelo, que exibia uma arma presa em uma bainha, enquanto seu par estava de terno e sua arma estava presa na calça. Os dois estreitaram os olhos ao mesmo tempo quando o viram.

— Está bonito, Drácula. — Lay disse, desconfiada.

— Vocês também, senhor e senhora Smith. — Ele respondeu, sem dar muita atenção.

— Bonnie e Clyde seu demente anormal.

— Tava fazendo o que com a Ju? — João foi direto ao ponto.

— Tava fazendo o que sem a Jess? — A garota o observou. — Caso não se lembre, ela é o seu par.

— A Ju também veio acompanhada.

Well ergueu as mãos, despreparado pra tantas perguntas. Queria dizer que a culpa foi toda de Julia e que nada daquilo teria acontecido se ela não tivesse feito aquela proposta, mas se parasse pra pensar, a culpa era meio dele também.

Se parasse pra pensar, veria que ele não tinha motivo nenhum pra aceitar a dança, já que não queria (ok, talvez quisesse) problemas com John, e sabia que depois teria que enfrentar a cara inchada de Julia se fazendo de coitada. E também tinha Jess. Definitivamente estava afim dela e aquilo não ajudaria em nada sua causa.

Decidiu que era melhor não parar pra pensar.

Ainda assim, tinha de enfrentar os olhares repreensivos de João e Lay, que ficavam incrivelmente ameaçadores naquelas fantasias. Ou talvez fosse só o fato de ele ter se metido com as amigas de ambos.

— Ela que me chamou e foi só uma dança. — Tentou justificar.

— Ela podia ter te chamado pra meia dança, otário, sua resposta era não! — João o olhou, pasmo e Well soube quem tinha “encorajado” Julia.

Mas pela cara dele, podia ter sido um acidente. Pra deixar garotas bêbadas, basta usar um perfume mais forte. Kel era a única que aguentava mais que algumas doses e com certeza Julia não chegava nem perto dela.

— Ai meu Deus... — Lay olhou em volta. — Você parou pra pensar no seu par? Que a Jess pode estar por aí em um cantinho, quieta, chorando, ou até mesmo procurando por você!

— Ou pode estar bebendo e se divertindo muito. — Ele murmurou.

— Ela não bebe, sabe que é roubada. Deus, quê que eu faço com ele?! — Ela apontou pra Well enquanto olhava pra João em busca de apoio.

— Ok. — O outro garoto começou. — Isso é tudo sobre garotas, então deixe eu te dizer o que acontece agora: você vai parar de atormentar minha garota, vai procurar a sua e na do John não vai chegar nem perto, ouviu bem?

— E caso desobedeça, garoto vampiro, lembre que temos armas e você não quer virar o garoto zumbi.

— Essas armas nem disparam balas. — Well franziu a testa.

— Elas disparam. O que disparam é problema nosso.

— Não faço a mínima ideia de onde a Jess pode estar.

— Então procura, Edward Cullen! Ou vai ficar mais morto que o seu pai!

Ele suspirou profundamente deixando os dois, mas não antes de ouvir João murmurar:

— Carlisle não morre

— Ninguém morre nessa saga!

Well sacudiu a cabeça e deu a volta no salão procurando uma garota de vestido preto, possivelmente chorando, ou bêbada, ou procurando por ele e não demorou muito a encontrar.

Jess estava sentada com o pessoal do segundo ano, atenta à conversa e comentando algo de vez em quando, mexendo os ombros no ritmo da música que tocava. Ergueu os olhos rapidamente e sorriu quando o viu, indo até ele.

— Desculpa, te abandonei. — Ele fez uma careta.

— Tudo bem, encontrei a turma da Maria, sabe a Maria do segundo ano? Me apresentou pra todo mundo e agora estou ganhando o sexto debate da noite. — Ela riu, enquanto ele piscava, lidando com seu debate interno. — Que foi Well? Relaxa, a gente só conversou..

— Tem certeza? Andando com o pessoal do segundo ano, amiga da Maria e rindo assim... — A garota socou seu ombro, rindo.

— Não, é só que os caras ficam me chamando pra dançar e eu acabo me empolgando.

— Posso te chamar pra dançar também?

— Não. — Jess pareceu se espantar com a própria resposta. — Quer dizer, pode pedir, mas a resposta vai ser não e não porque é você, mas eu tô molhada de suor.

— Eu acho que você está precisando de mais suor.

Ela sorriu e murmurou um “ok” enquanto a música ia ficando mais alta. Ele a rebocou pra longe daquela turma estranha e a levou pra mais perto do som, pulando junto com os outros alunos.

Esse era o motivo da festa afinal, se misturar. Ali não havia diferenças, eram todos o mesmo corpo, a mesma turma, a mesma voz e enquanto ela dançava, se espremendo contra os outros corpos ele sentiu isso. Isso e outra coisa.

Well abraçou Jess por trás, enterrando o rosto no pescoço da garota, enquanto tentava esquecer a imagem de Julia.

— Não está se divertindo. — A garota cantarolou suavemente. — Pode falar.

— Ju me chamou pra dançar, mas John apareceu. — Ele gritou, tentando falar mais alto que a música.

— E você bateu nele?

— Ele não falou nada, piscou pra ela e saiu andando. Ela ficou vermelha e correu atrás dele. — Então sorriu. — Por que achou que eu tinha batido nele?

— Era o que devia ter feito. Ainda dá tempo. — Ela apontou pra o casal que dançava do outro lado do salão e se afastou.

Well encarou o casal por alguns segundos, indeciso e quando voltou a se virar, Jess tinha sumido. Voltou a olhar pra Julia. Tinha lhe dado tantos problemas, tantas preocupações, tanta raiva, enquanto Jess tinha sido gentil e sorridente, mesmo que ele a tivesse largado sozinha.

Mesmo assim, tinha alguma coisa que sempre o fazia voltar aos cachos dourados da outra... Não, não pensaria nisso. Ela fez sua escolha, escolheu provoca-lo, então tudo o que faria, seria seguir em frente. Seguir atrás de Jess.

Correu pelo salão, vasculhando o lugar com os olhos, mas foi encontra-la do lado de fora. A brisa fria que vinha do pátio da escola deixou seus braços arrepiados, mas ele não ligou. Ela estava sentada num banco, encarando o portão.

— Eu disse alguma coisa? — Ele perguntou o mais suavemente que conseguiu.

— Well, não tô te ouvindo! — Ela gritou. — Eu vim tomar um ar, ou ia acabar ficando surda!

Ele riu e se sentou ao lado dela, falando perto de seu ouvido.

— Me desculpe.

— Pelo que? — Ela sussurrou.

— Por te fazer pensar que sou um idiota.

— Well, não sabe o que estou pensando. Não é um idiota, mesmo que tente agir como um. — Jess sorriu. — Não sabe ler pensamentos e não sabe nada sobre mim, mas eu sei tudo sobre você.

— E o que acha que estou pensando? — Ele ergueu uma sobrancelha em desafio.

— Está pensando que estragou tudo, mas não estragou, está com frio, não vai sair daqui até de manhã... — Jess aproximou o rosto do dele, ambos respirando o mesmo ar. — E quer me beijar.

— E como sabe disso?

— Porque tô pensando a mesma coisa.

A voz da garota estava tão baixa, que ele não teria ouvido se não estivessem tão próximos. Mas estavam. E ele ouviu. E a beijou.

***

Àquela altura, Luan já tinha dançado com um milhão de pessoas em um milhão de fantasias diferentes e estava pronto pra sentar, quando Debs, vestida de cupido e uma outra garota que ele não conhecia, vestida de Afrodite dividiram o microfone:

— Vamos apagar as luzes e cada um vai agarrar um par, a próxima música é com ele.

Antes que pudesse ter qualquer reação, as luzes foram apagadas e todos começaram a gritar, correndo de um lado pro outro.

Em 2 segundos, decidiu que poderia sentar depois e começou a correr atrás de um par também. Naquela escuridão, alguém arranhou seu pescoço, outra pessoa puxou seu braço, mas logo as mãos escorregaram e ele entrelaçou os dedos nos de alguém.

Luan e o par que não conhecia mantiveram os dedos bem firmes até que as luzes se acenderam e ele deu de cara com um garoto de olhos verdes, com um terno cinza que ele reconheceu imediatamente.

— Clyde? — Perguntou.

— Chamem a Lay, alguém nos reconheceu! — O outro garoto gritou, pra ninguém em especial.

— Reconheci essas armas... Ela que teve a ideia do meu.

— Ela e a Jess, né? As duas são simplesmente viciadas em Robin Hood.

Luan riu. Tinha vestido uma camisa branca de mangas longas e um justilho verde por cima, mas se não tivesse encontrado uma bota marrom as garotas teriam arrancado sua cabeça só pra começar.

— Rafael? — Chutou um nome. — Desculpe, ainda estou tentando lembrar o nome de todo mundo...

— Na verdade João, mas tudo bem.

Uma música lenta começou a tocar, enquanto todos gritavam e se agarravam a seus pares. Luan olhou em volta.

— Podemos dançar em dupla? Dois rapazes?

Perto deles, Ariel e Cinderela dançavam uma caricatura de valsa e João ergueu os ombros como se não soubesse ou não ligasse, então presumiu que sim.

Os dois eram da mesma altura, então levaram alguns segundos pra decidir como dançariam aquilo. Por fim, Luan jogou os braços nos ombros do outro, que segurou sua cintura e eles seguiram balançando com a música.

Luan fechou os olhos, tentando identificar os instrumentos, um costume antigo. Ouviu bateria, pratos e possivelmente uma gaita de foles. Quando voltou a abrir os olhos, viu que João o encarava como se estivesse tentando entender.

— Música celta. — Explicou sorrindo. — O grande amor da minha vida.

O outro garoto, apenas franziu a testa ainda mais, fazendo-o rir. Voltou a fechar os olhos, apoiando a cabeça nos ombros do colega enquanto prestava atenção aos sons. Uma guitarra e um outro instrumento que conseguia visualizar, mas não se lembrava o nome.

Quando a música acabou, os dois hesitaram antes de se soltar.

— Eu conheço a banda. — João disse, antes de se virar. — Terra Celta. Se gosta do som, devia procurar por eles.

Luan fez que sim com a cabeça. E com os olhos, a mente e todo o resto.

***

Artur já estava quase enlouquecendo quando finalmente avistou Mari na mesa de doces, rindo de algo que com certeza tinha sido muito engraçado.

Tinha se perdido dela depois da troca de pares, onde tinha dançado com uma Malévola de meio metro, que tentara beijá-lo 3 vezes no mínimo, mas só alcançara seu ombro, deixando marcas de batom, base, pó compacto e alguma coisa preta que nunca sairia.

Teria reclamado pela camisa de Romeu emprestada, se não tivesse lembrado da Julieta. Procurou por ela durante 3 músicas e começou a achar que ela tinha ido embora quando a encontrou perto de uma bandeja de bolinhos de chocolate.

Quando ela o viu, abriu um sorriso gigantesco e cantarolou:

— Romeu, Romeu meu, há alguém mais bonita do que eu?

Franziu a testa, sem entender o porquê daquela animação, quando leu a etiqueta dos bolinhos e perdeu o fôlego.

— Mari, tem que sair de perto desses bolinhos. — Avisou, antes que ela pegasse outro.

— Por quê? Foi a Maria que fez... — Ela fez beicinho, enquanto Artur ria.

— E isso não te diz nada? Mari, são bolinhos de maconha.

— Não tô viajando, só bêbada.

— Você tá bêbada e viajando.

—Ah. — Ela baixou os olhos, parecendo decepcionada. — Quer dizer que tenho que sair do projeto contra a maconha?

— Vou te levar pra casa.

Ela voltou a sorrir.

— Não vai não. Eu estou na casa da Xerazade e meu pai te mata se souber que essas marcas de batom não são minhas. — Ela apontou para o ombro da camisa. — Ela tava animada, hein?

Artur pensou no que a garota tinha dito sobre o pai, mas tinha de admitir, estava com mais medo do que a Xerazade diria quando soubesse que Mari tinha ficado bêbada.

A pegou pelo braço e a rebocou pelo salão até a porta de saída, o vento estava frio do lado de fora, mas ele seguiu com ela até a torre onde ela gostava de ficar e sentou com ela lá dentro. Ficaram calados por um bom tempo, até que Mari quebrou o silêncio.

— Vou te contar um segredo, algo que ninguém no mundo inteiro sabe. — Ele murmurou um “Hum” e ela continuou. — Eu gosto de você. Muito. Mas gosto mais de física quântica.

Ele riu, jogando a cabeça pra trás. Quando voltou a olhar pra ela, viu uma lágrima rolando pelo seu rosto.

— Mari, tá chorando por que?

— Porque eu gosto mais de física quântica. Eu gosto muito de você, mas amo física quântica, mas quando as pessoa perguntam “quem é Mari” só dizem “é a que gosta do Artur” e nunca “a garota que gosta de física quântica”.

— Vai por mim, você não gosta de física quântica. — Tentou acalmá-la.

— E de você eu gosto? — A garota cruzou os braços, com raiva. — Não sabe nada de mim, nem sabia que eu gostava de física quântica! Ninguém sabe!

— Já tentou dizer pra as pessoas?

— Não e elas nunca vão saber.

— Por quê?

— Porque vou ser professora de fundamental.

— Por que não faz nada ligado a física quântica, então? — Artur voltou a sorrir, contra a vontade.

— Porque não sei fazer cálculos desse nível, só gosto de ver. Nem tudo que a gente quer a gente consegue e eu não consigo, porque não sou inteligente pra isso.

Ela ficou de quatro tentando se levantar, mas pisou no vestido e não saiu do lugar. O garoto a puxou pra trás pela cintura e Mari caiu sentada em seu colo. Suas bochechas estavam molhadas e aquilo quase partiu seu coração.

— Mari, pode ter o que quiser. Pode ser a garota que gosta de mim, a garota que gosta de física quântica, a professora de fundamental e até se formar em engenharia ou qualquer coisa que envolva física quântica, porque você é inteligente e forte. E linda.

Se aproximou mais da garota e seus lábios se tocaram. Ignorou o vestido dela tilintando a cada movimento, a camisa apertada e até quando ela apertou sua bochecha quase como se quisesse arrancar um pedaço.

Quando se afastou dela, seus olhos tinham um brilho rosado e ele se deu conta do quão tarde era.

— É quase dia. — Disse, olhando pra uma das 4 altas janelas.

— O Sol nasce do outro lado. — Mari avisou, apontando. — Leste.

Artur riu e a puxou pra mais perto, um abraço que durou muito tempo.


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