Chamam-me de narcisista, e eu não lhes tiro a razão. Eu amo, de verdade, tudo o que me compõe.

Amo meu rosto infantil, seu formato fino, minha pele clara, lisa e macia. Minha boca pequena, meus olhos cor de água. Meus cabelos loiros tão compridos e sedosos, e a forma como escorrem leves pelas minhas costas.

Amo minhas linhas, meus ombros largos que seguem por meus braços até desembocarem em minhas mãos de traços delicados e palmas firmes. Amo meu pescoço sensível, o pomo de Adão discreto, e como ele desce para meu peito; amo meu tórax e abdômen definidos. Amo como minha cintura afina-se minimamente e me dá um quadril um tanto largo demais para um rapaz.

Amo minhas curvas andróginas, amo até mesmo meu sexo; seu formato e textura rugosa. Definitivamente amo cada pedaço de mim.

E amo, acima de tudo, existir alguém com tudo o que amo: eu mesmo.

Amo ver meu rosto extasiado, como sou tomado de cor tão facilmente e minha palidez sumindo em rubor. Amo como meu olhar molda minha expressão, como lacrimejo em súplica diante de minha própria imagem. Amo o sabor que minha boca tem, a maciez de seu interior, e a sensação que me causa ao percorrer-me por inteiro.

Amo a minha voz e como os gemidos irracionais soam, amo ouvir-me chamar meu próprio nome. Amo meus gritos agudos desejando por mais deste amor narcisista.

Amo ver meus cabelos espalhados pelo colchão, e como os fios dourados grudam em minha testa suada.

Amo tocar-me intimamente, redesenhar cada uma de minhas linhas com a ponta dos dedos. Amo como minhas mãos fortes me deixam hematomas e quase me quebram os braços quando estou prestes a perder o controle ante ao prazer de desfrutar de mim mesmo.

Amo meu tronco retorcendo-se a cada espasmo, de como tremo em luxúria. Amo tornar-nos verdadeiramente um só.

Amo sentir-me mais quente, e o prazer que só eu posso me proporcionar, os arrepios que só eu sei me causar.

Amo estar apaixonado por aquele que tem tudo do que eu mais amo em mim. Sou um completo narcisista.