Sem esperar o amanhã escrita por Lucas C


Capítulo 4
A entrevista


Notas iniciais do capítulo

Os demais mercenários são apresentados e o primeiro teste se dará em uma mansão na Islândia.



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Boa parte da noite James Bond ficou estudando quem ele era, havia fotos de como ele deveria ficar e quando memorizou todas as informações que julgou necessárias, ele seguiu o protocolo para apagar as informações do tablet, preparou uma mala com roupas onde havia como alocar os materiais que o serviço mandara; logo pela manhã ele saiu com a bagagem informando que sairia para um tempo de descanso, pegou seu carro, um Aston Martin, um modelo de alguns anos que ele apreciava e dirigiu até uma garagem onde poderia deixá-lo por um bom tempo, de lá pegou um táxi até a estação de trem, teria agora que ir para uma casa, em um vilarejo, de lá ele deveria sair como o personagem pelo qual deveria se passar; antes de sair do trem, ele colocou óculos escuro e uma máscara cirúrgica como se estivesse com algum problema de saúde, conseguiu um carro que o levaria até a casa que o MI6 arrumara, um lugar afastado, com uma mobília simples como a instrução de ficar ali durante três dias e depois rumar para a estação de Londres onde alguém o esperaria. Passar três dias naquele lugar foi um período curto de adaptação, Bond não teve problemas com as lentes de contato, demorou mais para se acostumar com o aparelho bucal, como parte do disfarce, deixou de fazer a barba e o bigode, comer com o aparelho levou um tempo considerável, quase o mesmo para se acostumar com um corpo estranho a modificar seu rosto, quando se olhava no espelho que havia no banheiro, notava que seu maxilar inferior estava mais arredondado e as bochechas levemente estufadas próximas ao lábio superior; de acordo com o arquivo forjado, Stark sofrera alguns ferimentos na sua última missão, o que dava credibilidade para o uso do aparelho, caso fosse descoberto.

Passado os três dias e ele foi para a estação, desta vez usava apenas os óculos escuros, passaporte fornecido para a missão, um cartão de banco, sua licença para dirigir e a arma fornecida pelo armeiro, uma Glock modificada que foi presa à cintura, assim como os pentes, uma jaqueta marrom cobria possíveis saliências, vestiu um jeans e tênis, era agora Stark, um mercenário com um encontro marcado a fim de passar por uma seleção. Bond andou quase um quilômetro até encontrar um carro que o levasse até a estação e de lá seguiu para o local marcado.
Era o início de mais um serviço e um serviço era algo que tinha um começo e um fim, que era o objetivo e entre estes uma temível e gigantesca lacuna onde uma miríade de variáveis poderiam ocorrer sem que Bond pudesse exercer algo para colocá-las em ordem ou controlar sua apresentação, poderia apenas reagir, seu treinamento diário basicamente era se preparar para reação, uns poucos segundos pensando em alternativa poderia colocar tudo em risco, o que incluía sua vida, que ele apreciava desfrutar em uma companhia feminina, com uma boa bebida e um prato bem preparado; quando ele desceu do trem sentiu que havia entrado nesta lacuna e agora seus sentidos estavam plenamente aguçados, estava pronto para o que encontrasse pela frente.

Caminhando entre as muitas pessoas que desciam e subiam do trem, desviando-se das que esperavam por algum horário especial, Bond não pode deixar de notar um homem franzino, pálido, vestido com um uniforme preto e um quepe, como se fosse um motorista padrão de cinema e ao passar perto dele, pode ver que havia uma tarjeta em seu peito, preso no lado esquerdo da camisa bem passada com uma gravata que parecia uma peça de gesso e na tarjeta podia ler “Stark”. Bond parou ao lado do homem pálido e deixou sua mala no chão: Que coisa! Temos o mesmo nome.

O homem uniformizado olhou calmamente para Bond: Senhor Stark, estava esperando pelo senhor, por favor, me acompanhe.
Bond pegou sua mala e seguiu o homem pálido até a rua e andaram uns metros, atravessaram a rua e após mais uns metros o homem uniformizado foi atrás de um Audi A4, não era um carro que Bond compraria, e abriu o porta-malas onde Bond depositou a sua bagagem e para lá foi o quepe e a gravata do contato de Bond, além da gravata ele tirou a camisa ficando com uma camiseta azul de mangas curtas.

– Meu nome é Jack. Vou levá-lo para o aeroporto onde um transporte o espera. - disse o homem pálido; sua atitude era distante e parecia não estar confortável com aquele serviço. Bond permaneceu em silêncio durante o caminho, ficou prestando atenção em como Jack dirigia enquanto assobiava músicas contemporâneas, a certa altura do caminho pareceu cansar-se do assobio e ligou o som sintonizando em uma estação de Rock.

No aeroporto Jack conduziu seu cliente até um hangar onde um pequeno jato sem identificação comercial o esperava; uma jovem morena de lábios carnudos, olhos redondos e cabeça oval estava esperando no primeiro degrau que levaria ao interior da aeronave, o cabelo feminino estava preso em um coque e um perfume de flores silvestres logo era sentido a três passos. A jovem deu uma rápida olhada para Jack, mais precisamente onde deveria estar a identificação do passageiro, ela sorriu meio desconcertada e irritada ao mesmo tempo; Bond calculou que ela deveria ter um metro e setenta de altura, no mínimo, e deveria pesar perto dos sessenta quilos, sua roupa era um conjunto de saia, camisa e jaqueta em tons diferentes de cinza: Seja bem vindo, senhor…

– Stark.

– Senhor Stark. Os demais convidados já estão aqui, meu nome é Susan e cuidarei para que tenham uma boa viagem. Espero que tenha com senhor roupas mais quentes, de qualquer modo temos capotes em vários tamanhos.

– Obrigado Susan, Na mala eu tenho roupas adequadas para onde vamos, mas o casaco será bem vindo.

Enquanto subia as escadas Bond não pode deixar de notar que Susan tinha um quadril largo, mais latino que inglês. Quando olhou para trás Jack já estava longe, andando rápido.

O interior do jato era convencional e estava tão limpo que parecia ser a primeira vez que era usado, Bond possuía muitas horas de voo e mesmo na primeira classe era possível reparar no sinal de que uma poltrona fora usada muitas vezes. As poltronas da frente já estavam ocupadas, dois homens em cada fileira, um em cada corredor.

– Pode escolher a poltrona que quiser. - disse a morena.

Ninguém se virou para o recém-chegado que sentou-se na quinta fileira, corredor esquerdo, perto da janela tão logo guardou sua mala no compartimento acima dele, como só ele estava usando, não teve problema com espaço. Em poucos segundos ouviu a comisária pedindo para os convidados apertarem os cintos, esperaram cinco minutos e o jato começou a taxiar para logo depois imbicar na pista, ir acelerando até ganhar a velocidade ideal para ganhar os ares. Os primeiros minutos da ascenção eram pegigosos, depois disto, o próximo período de perigo seria a aproximação do pouso, no intervalo somente algo imprevisto poderia derrubar um avião.

Como já recebido informações privilegiadas, ele sabia quem eram os homens sentados a frente, embora não pudesse dizer quem eram pois estavam de costas para ele, Bond que repassou a lista mentalmente.

* Clark – ex-SEAL, cumpriu dois períodos no Iraque e não se adaptou à vida civil, nem a uma disciplina de vida policial, era um militar, era sua alma, no entanto ele não tinha interesse em servir o interesse de políticos. Tinha um metro e oitenta e cinco de altura parecia ter um peso proporcional, o cabelo estava crescido, assim como a barba, sem bigodes. Era um branco da costa oeste norte-americana.

* Steve – ex- SEAL chegou a prestar um período no Iraque, quando voltou para os EUA juntou-se com o irmão no tráfico de drogas e teve que fugir para não ser preso, considerado desertor, tornou-se mercenário; era um pouco menor que o outro SEAL.

* Enrico – Um guatemalteco recrutado pelo tráfico, um Kaibil, soldados treinados pelo governo da Guatemala, eram conhecidos pela crueldade, de acordo com os registros, Enrico estava em um serviço do Cartel nos EUA quando foram surpreendidos pelo DEA, na fuga ele aproveitou para ser um soldado do mercado, como ele não conhecia segredos e portanto era apenas mais um, acabou sendo esquecido após umas tentativas de caçá-lo, sendo que ele deixou seus algozes vivos, como sinal de boa vontade, de qualquer modo, era persona non grata no México e provavelmente seria morto se retornasse para lá. Tinha um metro e sessenta e cinco, assim como os demais, seu peso era proporcional à altura.

* John – ex-contratado da BlackWater, conhecida agora como “Academi”, prestou serviços no Iraque e em outros países, vinha dos Fuzileiros Navais. Era um descendente de japoneses sem laços sentimentais com a família.

* Cirillo – ex-contratado da Blackwater, apesar de trabalhar na mesma empresa, nunca trabalhara com John, antes fez vários serviços para CIA, mesmo sem saber disso. Descendente de italianos, era branco, olhos claros em um rosto triangular, tinha a altura de um metro e setenta e cinco.

* Levi – ou pelo meno assim era conhecido, tinha um passado no MOSSAD e nas forças especiais da IDF israelense, era o mais magro entre os presentes, cabelos pretos, olhos escuros e desconfiados de tudo, ninguém sabia realmente se ele era um desertor ou se estava ainda a serviço de Israel, mas era um perito em computação.

* Yegor – ex spetsnaz. Estava careca, tinha a cabeça quadrada, um metro e oitenta de altura, olhos claros, corpulento, mas não gordo, saíra da vida militar para trabalhar para a Máfia russa e a partir daí para quem pagasse mais.

* Ahamad – Um mujahedin que lutou no Afeganistão e de lá treinou outros companheiros na arte da guerra. Tinha apele morena, barba e bigodes crescidos e sem nenhum tratamento ou cuidado estético, era um soldado que perdeu a fé na causa, na religião e agora trabalhava por dinheiro; uma infância com pouco alimento e conforto lhe dera uma estrutura média e a altura de um metro e sessenta e sete.

De onde estava, Bond calculou qual deles poderia ser o melhor adversário, parecia que eram todos experimentados sob fogo real, isto os igualava de certo modo, se tivessem que trabalhar em conjunto, provavelmente saberiam agir como uma equipe tática ou mesmo como uma equipe de elite; partindo para um segundo item, pesou as qualidades de luta; os SEAL tinham técnicas de combate testadas em combate, um misto de várias técnicas existentes, o Spetnaz deveria ser treinado em Systema, criada na Rússia e testada em batalha, os homens da Blackwater deveriam ter a formação padrão do exército; o Kaibil provavelmente sabia usar a força bruta, provavelmente era muito bom com uma faca, Levi devia saber o Krav Magá, também testado em batalha e criado em Israel, isto também os igualavam; em termos de uso de arma não estariam ali se não fossem experientes em manusear uma arma de fogo. Os SEAL tinham algum treino em espionagem, infiltração, mas num campo limitado, os homens da Blackwater eram para serviços brutos, os Kaibiles também; o russo deveria ter algum treinamento assim como os SEAL, naquele grupo, apenas Bond e Levi realmente tinham experiência em espionagem e contra espionagem e daquele grupo apenas Levi tinha um conhecimento importante para a época atual: Conhecia sistemas de informação, coisa que o agente inglês tinha pouco conhecimento, mais como usuário; talvez fosse este diferencial que fazia de Levi alguém para se preocupar.

Durante a viagem a comissária se desdobrou eficientemente servindo bebidas, petiscos e sanduíches para os viajantes; não era difícil de sentir atração pelo sorriso da mulher morena.

Levi. Se é que este realmente era o seu nome. Bond pensou que seria prudente manter longe do israelense seus aparelhos do MI6; após isto colocou o fone de ouvidos e passou o resto da viagem ouvindo música, com certeza não dormiria entre homens não confiáveis.

Um pouco antes de se aproximarem da pista de pouso, a comissária apareceu com capotes, gorros e luvas e distribuiu aos passageiros. O pouso foi tranquilo e do jato desceram já próximos de um furgão ou um modelo de micro-ônibus, Bond não reconheceu aquele modelo de veículo. Lá foram acomodados enquanto suas malas foram alocadas em compartimentos laterais do veículo, no interior os passageiros sentaram-se um do lado do outro, seguuindo a orientação do motorista, algo incômodo, sem apresentações, apenas balanços de cabeça, mais um aviso de que não era perigoso do que algo amigável, ao lado de bond sentou-se o Kaibil que apenas olhou Bond nos olhos e sentou-se ficando quieto. 007 viu que Levi acabou sentando-se sozinho. A comissária ficou no aeroporto, fato que todos ali sentiram, mas ninguém dissera nada, a viagem toda. O capote e demais peças fornecidas foram bem-vindas, não era inverno, mas a Islândia não é um país quente, está bem próxima do círculo ártico; com pouco tempo rodando, o ar-condicionado do veículo fez alguns homens tirarem os gorros e as luvas, além de abrir o capote. Bond preferiu manter o calor, como teria que sair do veículo mais cedo ou mais tarde considerou que uma nova exposição ao frio não era uma boa ideia.

A Islândia é um país pequeno com um pouco além de trezentos mil habitantes, quase do tamanho da Inglaterra, esta última tem milhões de habitantes; saindo do litoral para o interior a população ia se escasseando. Desta vez a viagem foi mais incômoda, todos estavam com um estranho ao lado apenas com uma música ambiente, uma sinfonia que Bond não conhecia, preenchendo as lacunas. O veículo parou diante uma residência de arquitetura moderna que não definia a construção como se fosse uma casa, antes, era um grupamento geométrico que não permitia nem as chuvas abundantes e nem a neve se acumularem. Com exceção de Bond os homens foram se agasalhando de novo.

Trajando um agasalho azul com listas laterais amarelas, uma jovem loira sorridente esperava os convidados: Sejam bem vindos. - disse a jovem abrindo a porta e ficou esperando que todos entrassem em um ambiente bem iluminado com várias poltronas, sofás e cadeiras estofadas, perto da maioria dos assentos uma mesa permanecia com revistas colocadas nas laterais deixando a superfície livre. - Fiquem à vontade, meu nome é Sigríòur, mas podem me chamar de Sig, creio que será mais fácil para todos; gostariam de uma bebida quente? - O Inglês da jovem era decente e o sotaque não atrapalhava, afinal ela não estava recitando fórmulas ou pensamentos filosóficos. Levi pediu um chá; Clark e Cirillo pediram uísque, Enrico preferiu café preto e forte; Bond acomodou-se em uma poltrona na cor verde-claro e pediu um conhaque, Steve gostou da ideia e pediu o mesmo; Ahamad pediu leite quente, puro e sem açúcar, o russo olhou para ele como se o afegão tivesse pedido algo venenoso, por fim, Yegor solicitou rum previamente aquecido, como os marinheiros de outrora tomavam. Quando a jovem saiu, outra mulher de porte atlético, pele negra, olhos redondos com um rosto anguloso e com uma expressão facial de pouco amiga, entrou na sala; usava um uniforme estilo militar, mas sem nenhuma identificação, usava botas de cano curto e com uma voz segura, se apresentou em um Inglês sem sotaque local: Senhores, meu nome é Amanda e estou aqui para as primeiras avaliações; não sei se já se apresentaram, mesmo se já fizeram vou repetir. - ela foi apontando com o dedo indicador diretor – Ahamad vem das forças mujahedin; Enrico é um Kaibil, para quem não conhece são melhores matadores a serviço do tráfico, temos aqui dois homens treinados na unidade SEAL, Clark e Steve, Levi, um israelense difícil de se rastrear, sabemos que é um perito em computadores, Yegor da Spetsnaz, dois homens que trabalharam para a Blackwater, Cirillo e John e aqui um fuzileiro naval de sua majestade inglesa, Stark. Todos aqui foram recomendados, todos são bons no que fazem. Serão selecionados para formarem duas equipes: uma fará a guarda pessoal e a outra servirá para apoio e outros serviços secundários. - conforme os nomes eram falados e os olhos dos convidados eram voltados na direção apontada. - Nossas regras são bem simples, depois do que for servido cada um irá para um quarto onde ficarão incomunicáveis até serem chamados, em cada quarto encontrarão um uniforme que deverá usar para os testes; qualquer armamento ou objeto pessoal deverá ser deixado no quarto, qualquer objeto pessoal, de um anel a um amuleto de madeira bruta; a quebra desta regra significa morte imediata, qualquer indenização será paga pelo homem que os indicou para as pessoas que vocês nomearam. Alguma pergunta?

Yegor se mexeu na cadeira preta. - Quanto tempo vai durar estes testes?

– Aqui ficarão seis dias. Depois vão para outro local, não, eu não sei qual será este local. Algo mais?- Amanda esperou cinco segundos, como não houve manifestações – Vou deixá-los agora, após as bebidas receberão as chaves de seu quarto, cada um poderá contar com uma babá particular pelo tempo que estiverem aqui. - Bond reparou que ela pronunciou “babá” com um certo tom de puro desprezo. Tão logo Amanda saiu e dois homens vestidos como garçons entraram empurrando carrinhos de bebidas onde além do que foi pedido, havia alguns petiscos, como patê, torradas, caviar e iscas de frango grelhado. Os mercenários ficaram em pé e foram se servir, por afinidade, reuniram-se os de origem norte americana, Yegor ficou perto deles como se estivesse esperando um convite para entrar naquele grupo; Enrico pareceu feliz com seu café preto, um prato com torradas e patê, Levi sentou-se em um ponto de onde poderia ver os demais, pegara apenas torradas para acompanhar sua bebida quente; Ahamad sentou-se perto de Bond, mas ficou em silêncio, apreciando seu leite quente e as torradas com patê, 007 preferiu o sabor exclusivo do conhaque; Yegor tirou do interior de seu bolso da camisa um maço de cigarros e ofereceu para os americanos, Steve e Cirillo aceitaram, depois virou-se para os demais que recusaram. Bond reparou que Ahamad se comportava como se estivesse em outro lugar, sozinho, o que não era de se estranhar, por anos seu povo combateu tanto americanos quantos russos; os ingleses eram aliados dos norte-americanos e o israelense era um inimigo histórico, apenas Enrico parecia ser alguém neutro em sua história de guerras, embora muitos latinos integrassem o exército dos EUA; Enrico por sua vez assistia os outros como se estivesse testemunhando algum rito tribal e Levi sondava os gestos de cada homem, procurando evitar um contato visual direto. Uns poucos minutos após os homens terem tomado uma segunda dose de suas bebidas Sig retornou, sempre simpática, agora em um vestido azul-celeste e de uma argola foi chamando os soldados e dando a cada um uma chave com o número do quarto onde deveriam se estabelecer, ainda avisou que poderiam deixar naquela sala as peças de roupas recebidas no jato e os guiou até um corredor ladeado por portas, o quarto de Bond era o número cinco, tinha um pequeno armário de material sintético com duas portas e três gavetas; a cama era larga, mas não era de casal, havia ainda uma pequena mesa encaixada no canto e duas cadeiras; na cabeceira da cama havia um painel de controle de luzes e o que parecia ser um rádio digital e sobre o leito, três peças de uniforme parecido com o que Amanda usava, três pares de meias e um coturno preto. Havia uma porta que poderia passar como a continuidade da parede, mas ao se aproximar dela, se abria e apresentava um lavabo. Agora era um jogo de paciência, talvez isto já fizesse parte da seleção; 007 desfez sua mala e acomodou tudo, inclusive os uniformes dentro do armário; tirou os tênis e se esticou sobre a cama ortopédica, testou o botão perto de uma tela digital e ali apareceu o nome de vários estilos de música, como não havia mais botões, ele tocou a palavra Jazz e logo uma lista apareceu, mais a opção “Executar tudo”, esta foi escolhida. Enquanto a música ecoava, ele ficou pensando que sua meta era pertencer ao primeiro time, provavelmente este seria o que chegaria mais perto de Kernel; como havia trancado a porta, bond permitiu-se relaxar e assim tirou um cochilo.

Batidas na porta despertaram o agente inglês que acordou calmo, as pancadas eram leves, quase tímidas, portanto não deveriam ser uma emergência, levantou-se e andou pisando o carpete meio duro, ao abrir a porta, uma mulher de pele branca, cabelos negros, rosto oval, lábios finos e compridos, estava bem maquiada, com um maior acento nos olhos e nos lábios.

– Olá! Meu nome é Anna. Posso entrar? - a voz era muito educada e o sotaque era visivelmente escocês. - Anna entrou empurrando um carrinho de madeira, sobre ele uma travessa de metal com tampa, na parte debaixo algumas garrafas de bebida e copos vazios. Uma onda de cheiros entrou com a mulher, carne grelhada, um perfume doce e o cheiro de verduras cozidas; a mulher deveria ter levantado a tampa um pouco antes de bater à porta, ou desta ser aberta. - Serei sua companhia esta noite, caso não se importe. - Bond olhou o corpo esguio, seios médios e pernas compridas adornado com um vestido curto, com um decote o suficiente para mostrar seios bem desenhados.

– Porquê eu me importaria? É bem vinda, por favor; creio que já sabe o meu nome.

– Stark. - disse ela enquanto dirigia o carrinho até a mesa e lá colocasse a bandeja, das laterais do carrinho puxou uma gaveta e recolheu alguns talheres. - Gostaria de fazer uma refeição? Lamento dizer que não teremos pratos, mas temos um grelhado e vegetais cozidos no vapor e algumas batatas assadas.

Os dois comeram, ela se restringiu a um pouco de vegetais e duas rodelas de batata, enquanto ele deu conta do grelhado e do que Anna não quis comer; durante a refeição ela contou uma história de que era uma estudante de Geologia e estava na Islândia estudando aquele pedaço de terra recente em termos de história do mundo; Bond não acreditou em nada do que ela disse, mostrou um interesse educado enquanto mastigava; quando terminaram ela foi lavar as mãos no lavabo, depois Bond, quando este saiu, Anna estava servindo duas doses de Bourbon, de repente, 007 sentiu falta de seus cigarros turcos e de seu martíni, quase deixou escapar um suspiro, mas armou um sorriso convincente, aceitou a bebida e sentou-se na cama, Anna ocupou um lugar perto dele, o perfume dela era doce, suavemente doce, ela cruzou as pernas brancas exibindo joelhos redondos que não escaparam do agente britânico.

– Stark, posso chamá-lo assim, não posso?

– Claro, fique à vontade.

– Eu gostaria de me deitar, ficar um pouco mais à vontade. - Anna ficou em pé e pediu ajuda para que o homem que ela conhecia como Stark a ajudasse a se livrar do vestido que uma vez liberado, foi para o armário de roupas e agora a “Geóloga” estava apenas de calcinha com detalhes em renda, tudo na cor branca; a mulher se arrumou embaixo das cobertas e para isto Bond ficou em pé. Ele não sabia quem era que organizara aquela recepção, mas acreditou que ao menos tinha bom gosto para mulheres.

Um bip acordou o casal, ambos acordaram sem sustos e Anna tocou o painel digital e pediu desculpas a Bond dizendo que precisava se retirar e ele deveria se aprontar para os testes; Anna vestiu-se rapidamente e ajeitou as coisas que vieram no carrinho levando tudo com ela sem um beijo de despedida; tiveram um sexo formal, prazeroso, mas formal, como se fosse um ato entre pessoas casadas que seguem dias marcados para o sexo, isto não o incomodara, nem o fato dela sair sem um beijo de despedida, o que estava na cabeça de Bond foi a conversa que tiveram depois do sexo, houve a esperada troca de elogio pelas performances e depois disto, sutilmente ela começou a perguntar sobre a vida de Bond, procurando de modo muito delicado obter informações de como ele chegara até ali, tudo feito sem pressa, como se estivessem conversando sobre o campeonato local de algum esporte, mas Bond conhecia técnicas de interrogatório, maneiras suaves de extrair informações de maneira que a pessoa não percebia que realmente estava passando dados interessantes, quando ele estava pronto, vestido para o treinamento, teve a certeza que naquela primeira noite, aquela entrevista disfarçada foi o primeiro teste que eles teriam que passar. Para as perguntas feitas pela mulher, Bond a conduzia por outros assuntos que levavam a nada e Anna saiu daquele quarto sabendo apenas o que já sabia antes de entrar e repensando sobre sua vida, 007 concluiu que fora um dos melhores interrogatórios a que já fora submetido


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Notas finais do capítulo

A fase de teste começa, uma parte já é selecionada, mas o mais difícil ainda está a caminho



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