Ele continuou parado. Devia ter sido um choque pra ele tudo o que estava acontecendo ali. Era como se nada estivesse ao seu controle, mas ele podia tomar as rédeas da situação. Ele podia ficar comigo se ele quisesse e ele podia ir atrás dela também, mas parecia que o cérebro do Senhor Grisalho não estava funcionando como deveria já que ele não fez nem uma coisa nem outra, ele continuava imóvel. Eu teria que dar um empurrãozinho nas coisas. Eu era boa nisso.
Caminhei em sua direção e toquei seu ombro. Ele olhou pra mim, atônito, e começou a piscar os olhos freneticamente até focar a visão em mim. Ele parecia confuso e triste. E olhá-lo assim também me deixou confusa e triste. Eu estava fazendo o certo? Era correto eu mexer com o sentimento alheio pelo meu beneficio próprio? Eu o amava, mas eu estava fazendo o certo?
Eu não sabia mais.
— Esta tudo bem? — Perguntei, preocupada.
Ele respirou fundo, pegou um cigarro e o isqueiro e tentou acendê-lo umas três vezes, mas sem sucesso. Tirei o isqueiro de suas mãos, que estavam tremendo, e o acendi na minha primeira tentativa. Ele colocou o cigarro na boca e se inclinou o suficiente para que eu o acendesse. Ele tragou uma vez, duas, três... até que o cigarro acabasse. As mãos não estavam mais tremendo como antes, sabia disso por as estar segurando, e ele parecia bem mais relaxado.
— Eu — Ele sussurrou — Não consegui... não consegui decidir. Eu não consegui me mover... era como se... se...
— Você não tivesse certeza? — Perguntei — Como se você ainda não estivesse pronto pra escolher?
Depois de alguns segundos calado ele finalmente proferiu:
— ... É. Eu não tive certeza do que fazer e... não fazer nada foi a melhor opção que o me cérebro criou, mesmo que — Ele riu, uma risada forçada — Não fazer nada me fez automáticamente não segui-la... o que fez automáticamente o nosso relacionamento terminar. Ela já deve estar longe agora, não tem mais o que fazer. Eu sou um idiota.
Fiquei chocada com a ultima frase. Idiota? sério?
— O que? — Perguntei, incrédula — Idiota? vocês é a pessoa mais inteligente que conheço e além do mais se sentir inseguro é normal, ok Senhor Grisalho?
Ele me olhou confuso, mas eu não havia intendido o por quê.
— Senhor Grisalho?! — Ele perguntou, sorrindo. Um sorriso sincero dessa vez.
E ai eu percebi, eu havia o chamado de Senhor Grisalho em voz alta. Era a primeira vez que ele ouvia aquele apelido. Meu rosto corou instantaneamente.
— Você inventou um apelido pra mim? Em tão pouco tempo de convivência? — Ele sorriu ao perguntar.
— ... É... achou bobo? — Eu estava com vergonha, muita vergonha. Meu rosto estava quente como o fogo, eu estava tremendo, meu coração voltou a acelerar e tudo porque eu não tinha, ainda, recebido sua aprovação. Eu estava insegura, ele gostou do apelido? Esperava que sim.
— Não, é que eu nunca havia tido um apelido antes. Isso é novo pra mim e... eu gostei. — Ele começou a corar também.
Parecíamos dois adolescentes apaixonado e estávamos longe de ser adolescentes... e eu eu não sabia se ele estava apaixonado por mim.
Sorri com a resposta e no mesmo instante o abracei. Ele demorou, mas acabou retribuindo o gesto me apertando em seu corpo quente.
— Com licença — Uma voz disse, nos interrompendo.
Peter se desvencilhou dos meus braços e nós dois olhamos em direção a voz.
Era o faxineiro. Ele começou a dizer:
— Eu não queria interromper nem nada, mas eu tenho que trancar a escola, então...
— Ok, já estávamos de saída — Olhei para Peter e segurei sua mão, entrelaçando nossos dedos. Ele não se opôs a isso.
— É — Ele murmurou, concordando.
E assim saímos do colégio.
Andamos em direção ao estacionamento e ele insistiu em me levar pra casa então entramos no carro Ford prateado dele. Peter começou a dirigir.
— Onde você mora? — Ele perguntou.
E eu não soube o que responder... eu morava com ele! Como Felina é claro, mas ele não sabia que era eu! Ele não sabia que eu era uma hexe! Comecei a ficar nervosa.
— ... Próximo a sua casa... — Sussurrei.
Ele ficou com um olhar desconfiado.
— E como você sabe onde eu moro?
Eu estava ficando sem saída...
— Bom... eu te vi saindo pra trabalhar e voltando varias vezes daquela casa amarela então presumi que fosse sua moradia. — Disse rapidamente. Ponto para mentira improvisada!
— Certo... e onde você mora exatamente? — Ele me olhou com curiosidade.
PARA DE FAZER PERGUNTA DIFÍCIL PETER!!!
— Eh... — Pensa, pensa — No prédio que tem na outra rua!
— Naquele condomínio cinza e verde? — Ele perguntou.
— Exatamente. — Disse aliviada.
Silêncio. O que ele estava pensando?
— Moramos bem perto um do outro — Ele continuou a conversa — Estranho nunca ter te visto antes.
— ... É que — Comecei a dizer — Eu acabei de mudar pra cá.
— E onde você morava antes? — Ele perguntou.
— Inglaterra — Disse por fim.
Ele parou o Ford ao lado da casa amarela. Nós dois saímos do carro. Começamos a andar em direção a casa amarela, mas não parecia haver sinal de vida la dentro... onde será que a Christine se meteu?
Mas eu a intendia. Se tudo isso estivesse acontecendo comigo e o Peter não fosse atrás de mim... bom, aquela casa não seria o primeiro lugar que eu iria. Mais ainda sabendo que ele voltaria pra lá. Ela não estar na casa não me surpreendeu.
— As luzes da casa estão apagadas — Ele disse olhando pela janela — A Christine não voltou pra cá?
— Eu acho... — Comecei, hesitante — Que quando ela percebeu que você não foi atrás dela... bom...
— Ela deve ter ido pra casa da Erika... — Ele disse, pensativo.
— E quem é Erika? — Perguntei.
— A mãe dela... — Ele concluiu.
— É — Concordei — Provavelmente foi.
Ele sorriu, um sorriso um tanto triste, antes de dizer:
— Eu posso te acompanhar até o prédio que você mora, se você quiser é claro.
— Adoraria — Sorri — Mas eu não vou a lugar nenhum.
Ele ficou confuso, mas sorriu mesmo assim.
— O que quer dizer? — Ele perguntou juntamente com aquele sorriso que dizia: "Como assim?!!".
— Eu vou passar essa noite com você, Senhor Grisalho.
E o empurrei para dentro da casa.