The other world escrita por JennaPond


Capítulo 1
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As sirenes fizeram-se ouvir mais uma vez. Os seus gritos estridentes aproximavam-se cada vez mais e a pobre ninfa não conseguia nadar assim tão depressa. A biologia não fora boa para com a sua espécie e, em vez de das caudas típicas das sereias ou das sirenes (a guarda-real das primeiras), as ninfas tinham pernas. É claro que as membranas entre os dedos, tanto nas mãos quanto nos pés, concediam-lhes uma certa rapidez que era maior do que a de qualquer humano. Embora, isso não bastasse para bater a rapidez das sirenes. Este fator e o facto de serem desprezadas pelas restantes espécies racionais marítimas fizeram com que as mais fracas se afastassem das outras comunidades e se tornassem as protegidas por baleias.

Durante milénios as ninfas foram tomadas por lendas e rapidamente foram esquecidas. Bem, até agora. E para piorar não só a fugitiva tinha traído as regras da sua sociedade como tinha confraternizado de forma intima com um tritão.

Felizmente a ninfa loira era esperta e utilizara os seus poderes especiais, oferecidos por Neptuno, para ludibriar o seu amante. Mas ela não imaginaria que um caso de uma noite plantasse uma semente no seu ventre. Provavelmente não haveria problema nenhum se esse incidente não tivesse acontecido. Nunca ninguém iria desconfiar que ela tinha ido ao Mundo Proibido. Mas aconteceu e as sociedades, para além de não se tolerarem caçavam todos os seres vivos que se assemelhassem se quer a uma ninfa. Os pais dela seriam compreensivos, não obstante, Lorena seria vista como uma pária e ela não suportaria.

A decisão que tomou, depois de analisar os prós e contras, não foi uma das melhores. Contar ao tritão que estava grávida e continuar a contar-lhe que era uma sereia levou-a à perseguição.

Quando o tritão recebeu-a, cortejou-a, amou-a durante os doze meses da gravidez Lorena pensou que se calhar, mas só se calhar, não era uma má ideia, esta de enganá-lo. O que ela não contava era amá-lo na mesma intensidade que ele a amou.

E, embora lhe custasse, decidiu partir antes do parto. Não iria fugir, não ela iria contar-lhe que era uma ninfa e se ele não aceitasse ela apagaria todas as memórias de si e do seu filho ilegítimo. Eles não se casavam. É uma outra sociedade que quando encontra o verdadeiro amor não precisa de outras pessoas na relação. No entanto sempre que nascia uma criança entre raças era considerada ilegítima e era morta mais depressa que um piscar de olhos.

Numa noite decidiu contar o segredo que a atormentava.

Estava sentada no cadeirão do seu quarto. Sem feitiços ou encantamentos para enganar o amante, quando a dor excruciante das contrações começaram. Assustada e sem saber o que fazer levantou-se num salto e tentou controlar a respiração.

Inspirar fundo, expirar, inspirar fundo, expirar. Concentrou-se no ar a passar pelas guelras e a ser filtrado por aspetos anatómicos demasiado complicados para explicar.

Tentou acalmar-se e lembrar-se do que a parteira local explicara. Mas claro explicara-o para a sua forma de sereia. Quanto mais pensava nisso, mais depressa sabia o que fazer. Era o instinto de fêmea a entrar em ação. Ao contrário dos seus inimigos eternos, as ninfas tinham mais fêmeas do que machos e desenvolveram instintos para mudar de forma e para conseguirem dar à luz sozinhas.

Deitou-se na cama, arqueou as pernas e começou a contar os intervalos entre as contrações. Segundo as suas contas já deveria estar quase na hora.

Confiando cegamente no instinto fez força, parando para respirar antes de repetir o ato. Empurrou mais duas ou três vezes antes de uma criatura pequena ter sido expulsa de dentro de si. Flutuou na água durante tempo suficiente para Lorena a apanhar e a aninhar nos seus braços.

Olhou aterrorizada para o seu filho primogénito e reparou na cauda parecida à do seu amante e no cabelo louro e as suas mãozinhas iguais às suas.

Ainda estava atónita quando Lewis entrou na mesma divisão e parou abruptamente assim que o seu olhar se fixou nas pernas, e não cauda, da amada. Lorena virou-se lenta e cautelosamente e encarou Lewis apavorada. Os seus olhos arregalados e a respiração ofegante. Tinha assumido uma posição defensiva e pronta para fugir. Tentou, primeiro, esclarecer tudo, mas, Lewis gritou pela guarda antes de ela ter sequer uma hipótese. A única coisa que pôde fazer foi pegar no filho híbrido e fugir pela janela.

Nadava cada vez mais apressada e procurava fugir às sirenes que nadavam no seu encalço. O bebê chorava nos seus braços. Doía não poder consolá-lo mas tinha de concentrara as suas energias na fuga e não estava a fazer um bom trabalho.

Virou numa esquina e arrependeu-se logo de seguida. Era um beco. Estava encurralada. Deu a meia volta que a impedia der ver a pessoa que amava (e que a denunciou) e a guarda-real. O tritão fez nada enquanto a sirene-mor avançou para a ninfa e empalou-a, juntamente com o seu filho.

Foram duas semanas lancinantes para Lewis, as que se seguiram àquele dia trágico. Ele apercebera-se do erro que fizera ao dedurar o amor da sua vida e ter causado, inadvertidamente, a morte do seu filho. Jurou que se tirasse ao destino a sua morte e viajasse para o Outro Mundo, à busca da perda de memória deste Mundo e da sua perdida amada, nunca mais cometeria o mesmo erro. Por isso suicidou-se através do veneno do peixe-leão, pronto para a sua família.

Lorena acordou a suar. Olhou para as sua mãos só para garantir que não era algum ser mitológico.

Soltou o ar que estava a conter assim que viu-as sem membranas e cem por cento humanas. Olhou para o namorado e decidiu que estava otimamente como humana. Mais do que como alguém com poderes. Inconscientemente passou a mão pela barriga e quase, mas só quase, jurou ter sentido um pontapé. Era impossível o feto mover-se assim no primeiro mês de gestão. Pensado melhor, não era impossível. Ainda existiam réstias da sua antiga forma no corpo humano de agora.

Estava feliz no Outro Mundo. Era a sua segunda oportunidade. Para ambos. Também era o segundo filho de ambos. Deitou-se de forma a conseguir abraçar o namorado e ver o berço com o primogénito. Automaticamente Lewis puxou-a para si. Ele também se sentia feliz. Aprendera que as diferenças entre si e a amada não contavam no amor que ultrapassava barreiras. Cedeu ao sono e desta vez não sonhou com o passado e o suposto mundo subaquático mitológico. De uma coisa eles tinham a certeza: fosse como fosse eles ficariam juntos e não deixariam alguém meter-se no meio dos dois.


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