Na manhã seguinte, acordei da mesma maneira que anteriormente. Só que dessa vez, papai estava dentro da cabana.

Coço meus olhos rapidamente e depois bocejo.

— Papai, não vai sair para caçar hoje? — Eu pergunto, sonolenta.

— A nevasca hoje está muito pesada, querida. — Papai responde, abrindo uma lata de refrigerante.

— O ruim de se hospedar em um lugar assim, é que a maioria das vezes, a neve nos obriga a deixar de fazer um montão de coisas. Como caçar mais alguns lobos da neve. Acho que vamos sair daqui mais cedo do que imaginamos, já caçamos uma boa quantidade, ao total já temos quase quinze corpos de lobos da neve. Um bom dinheiro. — Um dos caras respondeu.

Eu queria tanto poder fazer alguma coisa a respeito disso... Mas se eu ficasse contra eles, ficaria contra meu pai.

[...]

Ao anoitecer, papai ainda não havia caçado, significando que ele havia passado o dia inteiro comigo dentro da cabana. Claro que a atenção dele não foi somente para mim, mas ele havia conversado muito comigo.

Papai se assentou em cima de um cobertor, me juntei ao lado dele, descansando minha cabeça em seu ombro.

— Papai, por que você gosta de matar os animais?

— Não faço isso porque gosto. — Ele demora para me responder. — É a mesma coisa de estudar, você vai lá porque é preciso. Outra coisa é que eu apenas estou seguindo a tradição da minha família. Filha, não veja isso como algo ruim, veja como uma tradição.

Entorto meu lábio.

— Se eu fosse um lobo, você me mataria? — Pergunto, enquanto os caçadores roncavam lá trás.

Ele riu, me fazendo sorrir.

— Filha, primeiramente, você não nunca seria um lobo. E depois, muitos lobos merecem morrer, são muito violentos.

— Mas se alguém atirasse em mim com uma bala, o que você faria?

— Não sei te responder, ninguém vai atirar em você, filha. Agora durma. — Ele desligou a luz da lanterna.