Rapidamente, sinto meu peito queimar. Logo caio no chão. Começo a tentar puxar o ar rapidamente, sinto uma dor terrível em meu peito. Kenai rapidamente se levanta com o susto, ele parece querer me ajudar, ele tenta se aproximar de mim, mas após ouvir um segundo disparo, que quase o acertou, ele sai correndo, junto com os filhotes que o seguiam desesperados.

Tento puxar o ar, tento me levantar, mas era impossível. Alguém atirou em mim.

Rapidamente, papai vem correndo em minha direção, ele se abaixa e começa a verificar meu peito.

— Melody! Melody! — Seus desespero foi se tornando visível.

— Papai? — Minha voz quase não sai.

— Melody, me perdoe! Eu não atirei porque queria! Eu... Eu ia acertar aquele lobo que queria te atacar! — Meu pai começou a se desesperar e colocar suas mãos em meu ferimento, meu sangue começou a molhar toda a sua mão, deixando o mesmo mais desesperado ainda.

— Ele não queria me atacar. — Eu sorrio, com muita dor.

— Filha, eu tentei te salvar! — Começou a gritar, colocando sua mão mais uma vez em meu peito, que sangrava.

— Papai, aquele era Kenai. Era meu amigo. — Continuo sorrindo.

— Filha, me desculpe...

Faço força para levantar a minha mão direita, quando a levanto, levo até a bochecha de meu pai.

— Papai, eu posso te pedir uma última coisa? — Eu falo, ainda rouca e sem voz.

Ele tenta falar mas não consegue, suas lágrimas começam a cair em cima de mim.

— Papai, não mate mais nenhum animal. Por favor... — Meu queixo se enrugou, com um sorriso no rosto, soltei uma lágrima. — Não faça mal aos lobos.. Nem a nenhum outro animal... — Acariciei sua bochecha.

— Filha! — Ele chorou alto.

Papai estava com a arma que acabou de atirar em mim, em suas mãos. Logo consigo ouvir um grito:

— Ali está! Um dos caçadores! — Uma voz grave grita, acho que era um dos guardas ou policiais.

— Filha! — Papai não sabia o que fazer.

— Corre, papai! — Tentei gritar.

— NÃO! Você não vai ficar aqui.

— Corre... Atende esse meu pedido, eu vou morrer... — Sussurrei.

Ele rapidamente se levantou, chorando muito, saiu correndo. Com minha vista um pouco embaçada, consigo enxergar papai correndo com sua arma nas mãos, Félix e Jorge correm junto com ele. Juntos se escondem no meio das árvores de gelo. Consigo também avistar um jatinho pelo céu. Era Jake! O homem que viria nos levar embora.

Os guardas correm atrás de papai, mas não tem muito sucesso, percebi que foram para a direção errada. Com toda certeza papai conseguiria entrar no jatinho e partir. Acho que eu deveria saber, que desde o inicio dessa viajem, eu estava condenada a morrer na neve.

E coisas começaram a surgir em minha mente. Eu fiz a diferença! Talvez eu vim ao mundo para impedir papai de se tornar um caçador após minha morte!

Quase vinte minutos depois, não havia mais ninguém naquele local, nem para me resgatar. Fiquei imaginando... Papai iria partir e deixar todos os corpos de animais mortos na cabana, significando que essa viagem não significou nada, apenas a minha morte, isso para eles, pois para mim significou muito. Conheci Kenai, o lobo da neve.

A dor já estava passando. O pior de tudo, era que eu nunca saberia ao certo o porquê de os lobos não terem me atacado, ou o porquê de a alcatéia estar me vigiando aquele dia. Meus olhos começaram a perder a visão, as coisas foram ficando embaçadas aos poucos. Mas levo um pequeno susto ao avistar uma carinha que surgiu de repente. Era Kenai. Ele apareceu de repente, talvez para se despedir de mim.

Então minha última visão, foi ver Kenai, me olhando profundamente, enquanto eu estava deitada no chão, pronta para partir.

Quando me sinto satisfeita em olhar para o rosto de Kenai, fecho os meus olhos e assim, me sinto pronta para não os abrir nunca mais.