Elevador escrita por Vulpe


Capítulo 1
Disfuncional


Notas iniciais do capítulo

Um universo alternativo no qual as personificações são representantes internacionais de empresas. Não que eu comente na fic, mas só se alguém estiver interessado em saber.Boa leitura!



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–Ah, não. – reclamou o mais novo, apertando furiosamente o botão de fechar as portas do elevador. Não foi rápido o suficiente. O outro loiro conseguiu entrar. – Está cedo demais para isso.

Francis levantou uma sobrancelha.

–Cedo demais para quê?

–Para a sua merda. – respondeu Arthur, apertando agora o botão do primeiro andar. – Não estou disposto a te aturar além do tempo que sou obrigado.

As portas abriram. Arthur deu um passo em direção à saída, mas Francis entrou na frente. Antes que conseguisse dar a volta, o francês já havia apertado o sinal de fechar portas e o número do último andar.

–Filho da!... Por que fez isso?! – indignou-se Arthur. Francis, imune à raiva do outro, sorriu.

–Porque eu acho que precisamos discutir o nosso relacionamento.

–Nós não temos um relacionamento. – esclareceu Arthur, apertando o botão do próximo andar.

Francis revirou os olhos. Como era difícil lidar com ele. Tão cabeça dura.

A cena anterior se repetiu. O elevador parou, Arthur foi para a porta, Francis segurou-o e apertou o botão de fechar. Arthur o de abrir. Francis o de fechar e empurrou Arthur para longe do painel de controle.

As portas fecharam.

Cher, por mais que nós dois detestemos admitir, temos um relacionamento. – falou Francis, o ‘cher’ com tanta ironia que soava como um xingamento. – E ele está longe de ser saudável.

Arthur, com os braços cruzados e expressão fechada, recuado para um canto, respondeu com desdém.

–É porque você está envolvido, sapo. Não teria como ser saudável.

Francis, encostado na parede na frente do painel para impedir que Arthur tentasse fugir de novo, apontou o dedo para o outro.

–Viu só? Isso. Essas depreciações e ataques. Não tem isso em uma relação saudável.

Arthur sentiu-se desconcertado, sem poder lançar mão da resposta que tinha pronta. Preparara-se para o roteiro de costume, onde Francis teria provocado-o de volta, ele teria respondido, lançariam mais alguns insultos e começariam a brigar com os punhos. E os socos rapidamente se desenvolveriam em beijos e em agarrar um ao outro e finalmente em sexo feroz e raivoso.

Essa rotina deixava claro quão disfuncionais eram, mas Arthur ainda estava bravo demais para perceber e admitir isso. No momento, o que mais lhe parecia disfuncional era a falta de uma reação apropriada da parte de Francis.

–Eu não quero um relacionamento saudável com você, sapo! Nunca! Preferiria morar nos Estados Unidos! – declarou, para deixar claro o quão sério estava.

O insulto foi quase grande demais para a calma de Francis. Apertou os punhos e respirou fundo para não ceder.

–Você sabe que essa história de ‘eu mostro meu amor sendo um filho da puta’ está ficando velha, não?

Arthur arquejou. Sua honra de cavalheiro não seria posta em cheque por aquele sapo desgraçado sem noção de espaço pessoal.

–Eu não ajo como um filho da puta! Você é o filho da puta, eu só reajo a você!

A frase fora boa demais para desperdiçar. Francis escapou à seriedade da conversa que queria ter para sorrir sugestivamente por alguns momentos.

–Você reage a mim, cher?

Arthur sentiu o sangue subir ao rosto. Estava corando de vergonha ou raiva? Uma mistura dos dois, como de costume. A quantidade de raiva aumentou quando Francis registrou o rubor e não pode evitar comentar.

–Acho que acabei de ter uma confirmação.

Arthur ia soltar fumaça pelas orelhas e apitar como uma locomotiva. Queria chutar o francês nas bolas. Queria apertar suas bolas. Os sentimentos eram conflitantes. Talvez pudesse fazer os dois.

Seu silêncio – um debate interno sobre qual dos cursos de ação deveria tomar primeiro- foi interpretado negativamente. Francis forçou-se a sair da postura e mentalidade de flerte e retornar ao objetivo inicial.

–Desculpe. – pediu. – Eu não deveria ter falado isso. Pelo menos não agora.

Percebeu a confusão no olhar de Arthur, e não tardou a entender o porquê dela. Os dois nunca pediam desculpas um ao outro, só usavam a palavra para carregar a ironia. Nunca havia um sentimento genuíno por trás.

Francis acabara de quebrar esse costume.

A ideia de que ele estava falando sério, que queria discutir aquilo porque considerava ser importante, que não estava apenas tentando irritá-lo porque era isso o que faziam, passou pela cabeça de Arthur pela primeira vez. A irritação desapareceu como mágica. Alisou seu terno perfeitamente passado.

–Tudo bem. –resmungou.

Francis não ignorou a mudança de comportamento. Sorriu, satisfeito.

–Há uma série de pontos que eu gostaria que acertássemos sobre a nossa relação. Está disposto a falar sobre o assunto, cher?

Arthur tentou não exteriorizar o arrepio que sentiu quando Francis disse ‘relação’. Por que ele precisava dizê-la tantas vezes? A palavra ainda soava estrangeira e assustadora.

–Desde que essa história de me chamar de cher esteja incluída. – suspirou.

Pensativo, Francis alcançou alguma coisa no bolso interno do seu paletó branco. Desdobrou um pedaço de papel e analisou-o atentamente.

–Hum, acho que podemos considerar que está incluído em apelidos. Mas se você quiser posso adicionar um asterisco, só para garantir que não vamos esquecer. – apalpou seus outros bolsos. – Você tem uma caneta? Eu deixei a minha...

–Você – interrompeu Arthur, incrédulo – fez uma lista de tópicos?

Francis sorriu, orgulhoso, e virou o papel de modo que Arthur conseguisse ver o conteúdo. Tudo fora escrito com muito cuidado, em letra caprichada e com duas canetas diferentes, azul e vermelha. Porque o patriotismo de Francis não conhecia limites. O título fora escrito com as cores alternadas: Por l’amour de Arthur et moi.

Arthur sabia o suficiente de francês para ter um ataque de pânico. Precipitou-se para o papel com um som desesperado, querendo agarrar a lista caprichosa com a intenção de rasgá-la em pedacinhos igualmente caprichosos. Francis sobressaltou-se e levantou o braço no último segundo por instinto, levando o outro loiro a colidir contra ele. Com o impacto, viu-se pressionado contra a porta do elevador.

Por Dieu, Arthur, o que foi isso? – exclamou, a voz só alguns tons de agudo abaixo.

–Dá essa merda! – exigiu o inglês em resposta. – Como você faz uma coisa que outra pessoa pode encontrar que tem o meu nome e ‘amer’ como título?!

Francis escondeu a mão com o papel atrás de si, tentando evitar as investidas de Arthur, mas estava tendo dificuldades. Se ao menos ele fosse alto como Alfred!

–Não é assim que pronuncia, é ‘amour’.

–Foda-se a pronúncia! – e o ataque prosseguiu.

–Sabe – falou Francis, meio sem fôlego – que tem um tópico sobre agressão física?

–Como se eu ligasse! Entrega!

Preso contra a porta do elevador, Francis não tinha para onde fugir, mas também não estava disposto a sacrificar seu trabalho. Precisava que aquele confronto cessasse, e rápido. As mãos de Arthur lhe davam cócegas e ele não resistiria por muito tempo.

Só conhecia um modo 100% eficiente de distrair a atenção de Arthur e fazê-lo parar o que quer que estivesse fazendo. Chocou sua boca com a do outro com força desregulada, o que foi um pouco dolorido, mas a reação foi imediata e fez a dor valer.

Os movimentos cessaram. Arthur quase se sentiu envergonhado, mas estava ocupado constatando como queria aquele maldito francês. Era uma necessidade que ele se obrigava a relevar, mas constante há anos. Socava-o na barriga sempre que os dois se tocavam, uma vontade estúpida de chegar o mais perto que pudesse e nunca mais soltar.

No lugar das ações desgovernadas dos braços, seus lábios se moviam com mais delicadeza e constância. Fazia tempo que um beijo dos dois não era cheio de raiva e tensão sexual. A calma era diferente, mas não menos agradável. As mãos de Arthur escorregaram das costas de Francis para sua cintura. Na confusão, a camisa vermelha arrumada do francês saíra de dentro da calça, e as mãos de Arthur se instalaram confortavelmente na pele que ficara descoberta. Francis aprovou o arranjo lambendo o interior da boca do outro.

Arthur aumentou a pressão nos dedos, e provavelmente teriam evoluído para um ritmo mais frenético se um ‘plin!’ não tivesse sobressaltado-os. Pularam para lados opostos. Era o elevador, que após três quartos de eternidade chegara à cobertura. Entreolharam-se. Francis sorriu.

–Isso foi bom, não foi?

A ternura dos lábios e a pele quente de Francis contra seus dedos ainda assombravam Arthur. Ele deu de ombros o máximo de displicência que conseguiu.

–Suponho que sim.

Francis não duvidou de que o inglês fora tão afetado quanto ele. Falava muitas línguas, inclusive o dialeto próprio daquele loiro que possuía dignidade e orgulho em níveis desregulados. Recuperou a lista amassada, mas fora isso milagrosamente intacta.

–O que me diz de continuar?

Uma das grossas sobrancelhas de Arthur se arqueou, mas dessa vez sem traços de irritação ou ironia. Era por puro divertimento.

–Os beijos ou a discussão em tópicos sobre o nosso relacionamento?

Não havia nada naquela frase que não fizesse Francis de arrepiar de prazer. Beijar era bom. Arthur juntar as palavras ‘nosso’ e ‘relacionamento’ por vontade própria e sem nenhum xingamento envolvido era tão bom quanto.

–Os dois? – sugeriu.

Arthur sorriu e apertou o botão do térreo, respondendo com o ‘plin!’ das portas fechando.


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Notas finais do capítulo

Por lamour de Arthur et moi - Para o amor de Arthur e eu, se o google tradutor não tiver me falhado.Finalmente postei uma fanfic feliz! Uau! Acho que isso merece até um review, hein?! ;D