A maior oportunidade escrita por Lostanny


Capítulo 2
A cor laranja significa não confie


Notas iniciais do capítulo

A segunda oportunidade sempre é pior que a primeira.



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Midorima acordou sentindo que alguma coisa ruim estava prestes a acontecer. Seu corpo suava frio. Não fazia ideia do que havia sonhado na noite anterior, mas o fato era que tinha o assustado de tal maneira que tinha se forçado a não lembrar. O que poderia ser tão terrível?

Acabou levantando rápido demais. Isso fez seu corpo lamentar. Ainda por cima o movimento o fez tropeçar e cair no chão. Ridículo. Se estivesse com seus óculos provavelmente os teria quebrado naquele momento. Péssimo jeito de começar o dia.

Shintaro se levantou com o pé esquerdo. Ao notar isso se repreendeu mentalmente. Tentou não amaldiçoar tanto certos segundanistas da Seirin.

Devia saber muito bem que Kagami não tardaria aparecer em sua visão. Aquário e leão era uma boa ligação então não era para menos que estivessem com frequência juntos.

Estava tão concentrado em seu pedido que nem tinha se lembrado de algo tão previsível.

Encaminhou-se a cômoda onde estava seus óculos e os pegou aborrecido. Olhou seu horóscopo em seu celular.

E quase teve um ataque. Penúltimo lugar. Suspirou. Pelo horário Shintaro ainda poderia terminar sua revisão da prova daquele dia sem problemas, então pegou seus livros e se esforçou como podia em não ficar preocupado.

Uma condição absurda se colocava em seu caminho.

“Fique alerta com a cor laranja” Era o aviso da vez. Seu uniforme do clube era do mesmo tom.

Não era como se pudesse evitar treinar aquele dia. Mais azar do que já tinha acumulado. E quando Midorima Shintaro tinha azar era uma questão de vida ou morte. Literalmente. Da última vez quase parava no hospital se não fosse por Takao. Uma história que não gostaria de relembrar.

Aliás, escorpião estava em último lugar.

Foi estudar. Tinha conseguido o feito de dormir em seu horário normal mesmo que estivesse tão aborrecido no dia anterior. Era nesses momentos que agradecia a sua disciplina. Não deixaria de lado seus deveres nem com a pior de suas depressões. Colocou sua matéria em dia com tempo de folga.

Quando julgou ser o suficiente se arrumou e foi tomar o café da manhã. Definitivamente não foi como todas as manhãs: seus pais mostravam nítida preocupação com Sayuri.

A garota passaria mais tempo na casa de sabe-se lá quem que nem queria apresentar para eles; “não queria que se preocupassem então estava avisando”. Como se pudesse diminuir a tensão crescente no lugar. Infelizmente não teve tempo de fazer nenhuma reclamação. A garota saiu de cena tão logo disse aquilo. Não conseguia entender. Mesmo que fosse discreta Sayuri nunca havia sido tão misteriosa.

– Não se preocupem. Eu vou buscar Sayuri após as aulas. - Shintaro disse com uma calma invejável.

Tinha tanta coisa o aborrecendo que mais uma não deveria ser nada demais.

– Apenas não seja muito duro com ela. - o senhor Midorima disse com desconforto.

Porque não era como se Shintaro fosse deixar por assim mesmo.

– Terei isso em mente. - Shintaro falou segurando seu item da sorte, um espelho redondo, em uma das mãos.

Uma vez que tivesse feito sua decisão não voltaria atrás. Suportaria todas as vantagens e desvantagens desse método. Era o que gostava de pensar.

Takao querendo ou não multiplicou o sentimento de aborrecimento. Involuntariamente palavras ásperas saíram de sua boca:

– Cale-se Takao. Estou pensando.

– Nossa, o Shin-chan levou um fora? É por isso que está tão zangado? - Kazunari questionou curioso.

Não achava que Kazunari desistiria tão fácil de lhe chamar atenção. Então resolveu falar logo.

– Sim. Satisfeito? - Midorima disse com um suspiro.

Não devia fazer nenhum mal apenas compartilhar um pouco daquela frustração não é?

– Woah, por essa eu não esperava! - Kazunari disse com surpresa para logo voltar ao tom animado - Quem foi à sortuda?

– Está brincando comigo? Não estou falando de nenhuma mulher.

E explicou sobre seu encontro com Kuroko no dia anterior. Focou-se apenas nesse ponto de aborrecimento. Mesmo que o relacionamento deles estivesse um pouco melhor do que antes não era como se soubesse tanto de Takao também. Não tinha nenhuma obrigação de ir tão longe, “problemas de família eram problemas de família”.

Takao era até esperto o suficiente para saber que não era apenas isso e agradeceu que também não quisesse se intrometer ainda mais.

– Shin-chan, você está apaixonado?

Ou talvez não devesse se sentir nem um pouco em dívida. Quem chegaria numa conclusão dessas?

– Isso é impossível Takao. Os céus foram bem claros ao separar o papel do homem e da mulher, não tem como eu...

– Não estava me referindo ao Kuroko. Era uma pergunta geral. - Takao falou com tom divertido.

Era claro que estava se divertindo as suas custas. O gesto de pouco caso o irritou de sobremaneira. Porém manteve a expressão neutra a dizer:

– Minha resposta continua a mesma: impossível, Takao.

– Nem 1% de chance?

– Você está sendo insistente. - Midorima observou.

– O Shin-chan apenas acha. Não tem como eu ser sério assim. - Takao comentou batendo de leve o seu ombro.

Continuou a conversa por si só, divagando qual seria o “tipo ideal do Shin-chan”.

O mau humor aumentou 300%. A cor laranja só poderia ser Takao. Por algum motivo teve essa certeza. Só que não tinha o que conspirar contra ele. Tinha?

A única coisa que pôde melhorar um pouco seu humor foram suas boas notas. Algo que felizmente não mudou mesmo com os últimos tumultos de sua vida.

Chegou até a sorrir um pouco. Só um leve curvar do canto dos lábios. Primeiro que não era acostumado em fazer isso segundo que era prova de língua japonesa. A melhor matéria de certo fantasma.

Era melhor parar por ali. Deveria detestar o imprevisível. E Kuroko Tetsuya parecia como que uma definição disso.

“Você está apaixonado?” Lembrou-se de Takao questionando-o não muito tempo atrás. Como se isso fosse possível para Midorima. Fosse com relação à Kuroko ou qualquer outra pessoa.

Apenas muito complicado para que quisesse lidar. Mais do que qualquer equação ou teoria. Porque ia querer algo assim?

Quando o intervalo veio se ocupou de procurar a irmã. Era mais útil para ele. No entanto não importasse seu esforço acabam se desencontrando. Perto do fim do tempo estava começando a se irritar. Nem tinha se alimentado e suspeitava ser proposital.

– Tem certeza que ela veio hoje? - Shintarou questionou com um tom mais duro que gostaria.

– Eu juro! - o primeiranista disse quase tendo um ataque.

Estava prestes a agarrar o ombro do sujeito quando foi segurado antes. Shintaro há tempos percebeu que notícias corriam quando relacionados à sua pessoa. Talvez pelo grupo privilegiado que participou ou sua atitude. Ou os dois. Então não devia estar surpreso de ser logo aquela pessoa ali. Mais uma vez.

– Intimidando os mais novos, que coisa feia Shin-chan!

Agora não tinha mais volta. Lá estava o Takao.

– Não estou intimidando ninguém. E não tenho interesse em procurar nada.

Ah, quando achava que seu raciocínio tinha se desempenhado perfeitamente, Midorima via que acabava se delatando. Vergonhoso. Era melhor nem tentar falar alguma coisa se fosse o caso.

Meio tarde.

O local era ainda mais desagradável à medida que avançavam as ruas. Kazunari na sua cola enquanto ia ao endereço que julgava ter ouvido de Sayuri. A única pista que tinha arrancado da garota com muito esforço antes que as coisas ficassem daquela maneira.

Era um local certamente fora da vista dos céus. Abandonado. Sombrio. Não era um local que alguém que tinha acabado de sair do fundamental deveria ir, até mesmo em sua idade, era o que achava.

Cogitava os cenários antecipadamente como se estivesse jogando shôgi com Akashi. Não tinha certeza se conseguiria encarar uma briga caso algum delinquente viesse a aparecer.

Não mudava esse pensamento com a presença de Takao. Todavia de alguma forma permanecia calmo. Talvez imaginar que o dia terminaria o mesmo fosse o motivo. Era misterioso como sua mente trabalhava nessas horas.

– Se está com medo, não deveria ter insistido em vir. - Midorima disse em um tom estável de dar inveja.

Não voltaria atrás em sua palavra, mesmo que estivesse assinando sua sentença.

– Hã? Como se pudesse te deixar ir sozinho assim. - Takao reclamou abraçado a si mesmo - Você tem ficado muito imprudente Shin-chan, nem parece o mesmo...

De fato. Mas não era algo que gostaria de ser lembrado. Principalmente naquelas circunstâncias. Com o azar nas alturas e a possibilidade de um caminhão tentar lhe atropelar outra vez.

É. Talvez não estivesse tão calmo assim.

– Estamos perto.

Shintaro disse checando seu celular. Mais uma vez elogiava mentalmente a internet por ser muito útil. Midorima voltou a falar em tom de aviso:

– Se vai me acompanhar não se afaste.

–... Ok... Então vou abraçar o Shin-chan.

Midorima não saberia dizer se era atuação ou não, mas Takao parecia temeroso ao abraçar seu braço. Aquela visão o fez apenas suspirar cansado, no entanto não expressou verbalmente seu descontentamento. Continuaram a andar daquele jeito. Provavelmente seria mais em conta andar com o carrinho, uma pena que ele ainda estava no conserto.

O céu se tornava cada vez mais escuro. Não poderia voltar tão tarde, pois tinha que fazer o estudo para a prova do dia seguinte. “Tempo era precioso”. Pensava nisso quando as coisas fugiram do controle ao ser dito:

– Com licença.

Não era Midorima que falava então Takao gritou.

Shintarou apenas sentiu um peso sobre si e no reflexo o segurou. O item da sorte caiu de sua mão. O barulho assustou os três; principalmente Midorima que tropeçou.

Não foi ao chão já que tinha um bom domínio sobre si. Só que o item era um espelho: adicionados mais sete anos de azar. Estava realmente querendo assinar sua sentença de morte.

–... Desculpa Shin-chan... - Takao disse nos braços do colega com uma risadinha sem graça.

Midorima olhou onde seu item da sorte havia caído. Nem com a melhor das hipóteses poderia consertar tudo antes que fosse anotado em seu destino.

O objeto estava em pedacinhos. Midorima nem chegou a escolher um nome para o falecido companheiro de guerra. Ficou possesso. Feliz ou infelizmente tinha outra coisa para se preocupar no momento. Mais do que punir Takao ou se lamentar pelo ocorrido.

Takao tinha bons motivos para pular longe. Até então não tinha nenhuma alma viva além da deles.

Se não conhecesse aquela pessoa provavelmente teria feito o mesmo. Talvez nem tanto.

O cenário de pouca luz com casas de aspecto amaldiçoado, o barulho dos pássaros ao longe; a pessoa trazia em mãos uma lanterna que iluminava seu rosto inexpressivo como se estivesse contando uma história de terror. Nada disso ajudava em diminuir o jeito fantasmagórico do garoto.

– Kuroko? - Midorima questionou ao ver aquela figura diante deles.

–... Nunca mais faça isso! - Takao disse quebrando o silêncio que se seguiu - Quer me matar de susto? E tira essa lanterna do rosto, por favor...

Kuroko fez o que o rapaz pedia e talvez pela primeira vez na vida Midorima o tinha visto constrangido. Por algum motivo achou engraçado. Se aqueles dois não estivessem tão focados um no outro teriam o visto sorrir. Só um pouco. Takao não era tão pesado em seus braços, no entanto não tinha motivos para continuar o segurando então logo o colocou no chão.

Até porque o próprio Shintaro ficaria constrangido se aquilo continuasse. Pela situação ou pela pessoa que flagrou a situação? Midorima não era uma pessoa que normalmente se perturbaria com esse tipo de coisa. Não era como se estivesse fazendo algo errado, então não deveria ter nada a temer.

A resposta para isso ainda deveria ainda estar em análise.

– Minhas sinceras desculpas Takao-kun. Não achei que seria assustador. - Kuroko disse voltando a sua expressão neutra. - Oi Midorima-kun.

Kuroko apenas naquele momento pareceu notar Midorima. Mesmo que o tivesse julgado mal no dia anterior não se apresentou afetado. Se cada coisa não tivesse seu tempo para ser corrigida... “Eu poderia fazer alguma coisa” Só não sabia o que.

Algo precisava ser mudado?

– Kuroko - Midorima disse contendo como podia seu mau humor - Resolva o que tiver que resolver com Takao. Eu estou indo.

Pegou os cacos de vidro do chão. “Não é problema meu.” Isso passou por sua cabeça. No entanto estava curioso. Irritante.

Seu item da sorte não mais nenhuma utilidade, mas não era por isso que deixaria um companheiro para trás. Colocou os fragmentos em sua bolsa do clube para que não viesse a segurá-los sem proteção. Não agradeceu Takao à companhia, apesar de ter querer dizê-lo uma hora. Seu orgulho não o permitiria naquele momento.

– Ei, Shin-chan! Que frio!

Ouviu Takao dizer ao seguir em frente pela rua esquecida. Sua postura estava impecável como sempre. Segurou a vontade de olhar para trás quando Kuroko Tetsuya disse:

– Não tem problema.

Andou. Como se fosse fazer algo tão absurdo como puxar Kuroko pelo braço, junto a si mesmo que fosse a força; não gostava de como aquele encontro havia sido curto; olhou para trás e viu algo que não gostaria de ver. Algo que lhe causou um pânico similar de quando ele tinha acordado aquela manhã.

“Algo ruim irá acontecer” Sua sensação era clara.

Era para que ele ficasse alerta. Desconfiasse.

Como poderia imaginar?

Aqueles dois deviam confiar bem em seu jeito de fazer as coisas para agirem daquele modo tão óbvio. Não se focava no que tinha passado, mas sim para o presente de forma a garantir o futuro. Tendo tomado uma decisão insistiria até ao seu fim. Midorima e Kuroko compartilhavam aquela teimosia. Talvez por isso o pânico.

Será que ele tinha sonhado com aquela cena? Aquelas mãos apoiadas sobre aquele rosto contrário, aqueles lábios sendo tomados? Logicamente não os flagraria. Só que Takao estava certo. Mesmo que um pouco, Midorima não estava agindo como normalmente agiria. Estava mais imprudente. Terrivelmente.

Quem ele queria que estivesse ali? Midorima arregalou seus olhos por mais de um motivo. Desejava? Sua garganta de repente ficou muito seca e suas mãos suaram como raramente as via. Se é que tinha visto.

Estava com medo. Não deveria. Por que o sentimento que atravessava seu corpo era como o de que algo importante para si estava sendo tomado.

“E eu alguma vez pensei assim...?”


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ♥