Obsessão escrita por Mrs Chappy


Capítulo 1
Prólogo - Epílogo


Notas iniciais do capítulo

|ATENÇÃO POR FAVOR|
*Importante*
Eu decidi continuar esta oneshot mas tive um problema e não consigo postar mais capítulos... Portanto eu vou sempre actualizar no mesmo...
Será uma short fic portanto não deverá ultrapassar os dez capítulos.

Boa leitura*



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Prólogo: Tesouro Ofuscado

Era um absurdo o conflito entre a tendência humana de buscar significado inerente à vida e a inabilidade humana para encontrar algum significado. Pela lógica até seria possível de o alcançar, mas humanamente é impossível. Pela simples e carismática característica do ser humano em complicar o que pode ser simples. O universo e a mente humana não causam separadamente o absurdo, ele surge pela natureza contraditória de ambos existindo simultaneamente.

É a desvalorização e a morte do sentido, a ausência de finalidade e de resposta ao “porquê”. Os valores tradicionais depreciam-se e os princípios e critérios absolutos dissolvem-se. Tudo é sacudido, posto radicalmente em discussão. A superfície, antes congelada, das verdades e dos valores tradicionais está despedaçada e torna-se difícil prosseguir no caminho, avistar um ancoradouro.

O sentido da vida é estar vivo. É tão claro, tão óbvio e tão simples. Mesmo assim, todo mundo não pára de correr em pânico, como se fosse necessário conseguir alguma coisa além de si próprio.

O sentido da vida é que ela termina

As pessoas precisam de conectores, escritores, heróis, estrelas, líderes para dar sentido à vida. A caixa de areia de uma criança virada para o sol. Soldados de plástico na guerra suja em miniatura. Fortalezas. Navios de guerra de garagem. Rituais, teatro, danças para reafirmar necessidades tribais e memórias, um chamamento para o culto, unindo acima de tudo, um estado anterior, um desejo da família e a magia certa da infância.

Ulquiorra Schiffer não acreditava em sentidos para a vida. Ele era um pirata desde que sua memória o permitia recordar. Ele atravessava a fúria dos oceanos, pelejava com correntes divinas furiosas, procurando por algo. Todo o pirata ansiava pelo maior tesouro da Terra. Mas essa relíquia podia variar das diversas mentalidades piratianas. Para muitos era o ouro e outros metais preciosos, contudo não para Ulquiorra que buscava algo diferente. Uma preciosidade que seus olhos nunca tivessem enxergado.

Talvez esse fosse o significado de sua vida: procurar o desconhecido.

Provavelmente essa incerteza era o que o mantinha o oxigénio em seus pulmões. Porém ele mantinha-se cético a essa definição. Não cria em objectivos de vida para realizações pessoais, para que cada indivíduo se sentisse satisfeito consigo mesmo. Não cria em sentimentos, na realidade, para ele não havia maior absurdo que esse.

Sentimentos eram incertos. E a incerteza era perturbadora. Podia desviar milhões de navios piratas para outros destinos em ardilosas armadilhas. Ele desconfiava do que não sabia. Talvez esse fosse seu único temor.

Impiedoso, ele roubava e matava. Talvez roubar não fosse o termo correcto… Para Ulquiorra, ele era Senhor de tudo, quase como um deus na terra. Os piratas governavam o mundo por conhecerem os oceanos como ninguém, e seu conhecimento os elevou com o final da guerra. E ele, por ser o pirata mais conceituado, era o rei. O senhor do mundo.

Com um punhal arrancava o coração das suas vítimas, sentindo-o bombear em sua palma. Não sabia ao certo porque o fazia, simplesmente fazia. Esse gesto parecia dar-lhe respostas para os tais sentimentos, mas nunca encontrou o que buscava.

Diziam que o amor era o maior tesouro. O famoso kokoro. Por isso ele roubava o que as pessoas tinham de mais valioso: o coração. Contudo ele nunca achou nada de relevante para si em suas viagens.

Em sua jornada fastiosa, remete-se para uma ilha desconhecida dos grandes mapas. Era desvalorizada e ignorada por sua falta de riqueza que outrora fora estrupida totalmente. Encostado num pilar, num dia cinzento e melancólico ele encontra o que procurava desesperadamente.

Observou-a de longe… Seus cabelos longos arruivados dançavam com a leve brisa, numa majestosa e elegante folia. Ele não consegue explicar o que o atordoou naquele momento porém algo mudou, quando ela o encarou e seus olhares se chocaram numa poderosa corrente eléctrica, mesmo distantes. Ele soube. A verdadeira viagem dele iria começar naquele momento. Ulquiorra deparou-se com o maior tesouro que procurava, e como um experiente pirata, ele iria roubá-lo para si.

A pequena obsessão converteu-se no princípio de uma longa jornada amorosa.


Capítulo 01: Recomeçando com Emoções

A vida é um eterno vácuo, inutilmente tentamos preencher esse vazio com materiais valorosos ou com algo ainda mais absurdo: os sentimentos.

Quando um indivíduo se aventura pelo mar, descodificando seus segredos, no constante som produzido pelo chocar das ondas entre si, este entra em hipnose perante o relaxamento sensorial. As marés azuladas, com sua espuma alva decorativa, a viagem naval torna-se empolgante e excitante inicialmente. No entanto, com o prolongar das horas embalando entre águas calmas e furiosas, o processo se inverte. O som antes tranquilizador, vai-se repetindo desassossegado com o tempo, as diversas experiências radicais nos oceanos onde cada segundo surgia uma novidade transforma-se em algo monótono e enjoativo. Como se fosse o seu corpo o barco que balançasse entre a deriva.

Ulquiorra Shiffer, usuário de práticas piratas. Um jovem de idade indefinida, pela feição provavelmente iniciara sua segunda década recentemente. Seu cabelo negrume era como um corvo que esvoaça camuflado pelo céu nocturno, apesar de sombrio era macio, alvejando ser acariciado porém nunca ninguém usufruíra desse privilégio. Pele pálida, de uma cal pura como a neve que decora o longo e denso Inverno. Seus inesquecíveis olhos jade são a essência viva do esbelto homem, como se a seiva da vida penetrasse por suas íris e posteriormente pelo restante corpo.

Contudo, sua característica física principal não eram as esferas singulares. Porém a surreal cicatriz localizada no meio de seu peito, sob o órgão que bombeava o sangue por cada membro. Sempre usava vestes humildes neutras. A camisa usualmente branca, sempre estava desabotoada nos primeiros quatro botões, desvendando o peito colossal. Não por vaidades ou desejosos inferiores sustenidos pelos instintos primitivos, pretendia revelar a marca em seu peito, mesmo que fosse desagradável à vista pela maioria. Talvez com esse gesto revelasse alguns de seus pensamentos confusos, suas incógnitas sem resposta… Um dia, poder-lhe-iam dar a resposta.

Como pirata, um dos senhores que dominara os oceanos, era encarnado como o vilão prepotente por cada canto do mundo. Era necessário resguardar sua segurança, por isso carregava em sua cintura uma katana de punho e lâmina alvos, com ligeiros bordados negros. Para além disso, sempre existiam outros semelhantes a si que o atacavam em busca de poder e definição da sua identidade.

Outra peculiaridade de Ulquiorra era sua obsessão em descobrir o famoso coração que a literatura tanto adorava, que os humanos cultivavam em tudo o que faziam. O que era o coração afinal para além de um órgão? Seria porque este representava a fonte da existência, que eles acabaram por atribuir assim uma extrema importância e delírio sentimental ao mesmo? Consequentemente, ele roubava o que os humanos mais tinham de importante. Procurando ele a importância desse tesouro para si. Para ele, nunca matava, só roubava. Tecnicamente, poderia ter razão. Um ladrão de emoções. Inclemente à vida dos pobres aldeões que não representavam perigo algum, mesmo implorando pela vida ele não recuava sua lâmina ensanguentada.

– Ulquiorra-senpai, tem alguma exigência antes de embarcar?

– Não pretendo nada.

Nada. Essa palavra ecoava em sua mente. Ele nunca queria nada, ele procurava o nada em qualquer coisa que ele por vezes nem entendia o que era. Encarou o seu navio, intitulado de “Hueco Mundo”, remetendo ao oco em seu peito que foi cozido deixando a cicatriz desde criança. Ele era a vida de Ulquiorra praticamente. Não por significado simbólico. Simplesmente porque naufragava sem rumo por ilhas desconhecidas e pobres, buscando algo distinto. Algo que seus olhos nunca tivessem captado. Seus olhos já viram de tudo, já captaram os dois extremos. A realidade era horrível, o mundo animal com seus instintos era mais aprazível do que a cadeia alimentar dos favorecidos supostamente dotados de razão.

Um rangido conhecido atiçou a audição desenvolvida do Ulquiorra, que sem aguardar que o navio fosse bem acorrentado para não escapar pela imensidão aguada, saltou aterrando em terra firme. Sem justificar-se perante a sua tripulação foi conhecer a pequena aldeia que sobrevivia com os poucos recursos disponíveis, relevando a pesca. O sol estava coberto por uma camada espessa de nuvens acinzentadas. As pessoas refugiavam-se em casa, querendo fugir ao incómodo de caminhar molhado pelas gotículas de água. Estranhamente, numa oposição ao comum, escutou uma voz melodiosa cantar alegremente naquele diz triste e acinzentado.

Pela primeira vez, seus olhos encararam uma luz diferente. Cabelos ruivos exóticos dançavam numa folia melodiosa do vento, a maior beleza numa das ilhas mais pobres do mundo. Ela possivelmente pressentira o olhar esverdeado cravado nela, o encarando curiosa, sorrindo em seguida para ele. Seu peito, onde a cicatriz estava, apertou desumanamente. Seus lábios pálidos entreabriram-se ligeiramente, estático perante a sua nova descoberta. Afinal, seus olhos não tinha visto tudo…

Seria errado considerar algo inexistente por seus olhos ainda não o terem visto por falta de oportunidade?

Em anos, nunca sentiu seu coração palpitar. Pela primeira vez senta-se vivo, de facto um ser humano. Afinal, o que distinguia o homem dos animais não era a razão mas o que esta proporcionava: as emoções. Mas isso não existia, era delírio da mente, certo? A mulher angelical conseguira o cegar somente com seu sorriso estonteante.

– Você sente-se bem? Está pálido.

– Que absurdo.

Tão disperso em seus devaneios não percebeu a súbita aproximação da mulher de olhos acinzentados. Suas barreiras evaporaram por segundos, construindo-as imediatamente em sua máscara rude, no entanto esta não parecia intimidar-se como seus lacaios. Novamente conquistando a admiração de Ulquiorra.

– Porque você está chorando?

A mulher tivera a ousadia de aproximar-se dele? Falar-lhe? Quem ela pensava que era? Sua sinceridade era transcrita em cada traço do seu rosto e a preocupação por ele límpida, o desmoronando, obrigando-o a ser ligeiramente mais gentil com ela. Não havia interesse nem luxúria, só… Preocupação. Alguém se preocupava sem interesses duplos? Estariam seus olhos a enganá-lo? Não. Impossível. Nada escapava a seus olhos, eles eram os analisadores da realidade, transmissores da verdade inquestionável.

– Que disparates você está dizendo, mulher?

– Eu consigo ouvir… O choro da sua solidão.

Ele inconsciente levou a mão ao rosto tentando perceber se algo húmido escorria em sua face, como pingos de chuva mas estava terrivelmente seco como um deserto. Não compreendia. Ele teria alguma marca de lágrimas para ela pensar tal absurdo? Mas ele nunca chorara. Ou será… Que ele sempre estivera chorando clamando por alguém? Como lágrimas eternas… Que mulher era aquela que abalara suas conceções?

Ulquiorra estava interessado nela, era diferente em tudo. Beleza, ingenuidade, amabilidade… Seria alguma descendente de divindades? Algo que seus olhos nunca viram: ele finalmente encontrou-a. Descobriu finalmente o que procurava sem cessar.

– Mulher, você é uma humana peculiar.


Capítulo 02: Roubando o Coração

Nos contos de fada, a princesa conhece o seu herói quando esta é salva das garras dos inimigos. Mas e se a história sofresse um revés? E se as personagens invertem-se seus papéis? Como se revela a uma criança pequena que será a princesa a salvar o vilão da escuridão? Será que os sonhos cor-de-rosa infantis seriam perturbados ou mais alucinantes? Afinal, todas as personagens teriam seu final feliz.

– “Humana”? Você fala de um jeito estranho senhor pirata.

– Ulquiorra.

A ruiva riu descontraidamente. A feição e o jeito do individuo à sua frente deveriam amedrontá-la, porém era interessante do ponto de vista acinzentado. Não compreendia os pensamentos daquele moreno misterioso, mas eram num certo aspecto engraçados.

– Você não é humano, Ulquiorra-kun? Não acredita que tem um coração?

As perguntas poderiam parecer destrutivas ou ofensivas, no entanto ela as expressava com um extremo carinho, como se ela pudesse alcançar a confusão da mente do pirata.

– Acredito no que meus olhos vêm.

– Não acredita na sua existência Ulquiorra-kun?

– Pare de me tratar como se fosse um humano sentimental.

– Você é muito peculiar, Ulquiorra-kun.

Ele poderia ter repreendido a ruiva mas ficou surpreso com a devolução de seu comentário anterior. Quem diria que uma mulher se poderia converter tão interessante. Queria explorá-la, navegar por aqueles mares desconhecidos.

Num gesto infantilmente cómico, ela ergue sua mão até o queixo com um olhar pensativo, o encarando. Ulquiorra ergueu uma sobrancelha discretamente, até que ela pareceu encontrar o que pretendia ao observar o infinito alto azulado.

– Provavelmente vai chover… Mas ele não deixa de ser céu não é?

– Do que você está falando? Essa pergunta é estúpida, não tem qualquer sentido.

Ignorando completamente as ofendas, prosseguiu como se nada tivesse escutado.

– Mesmo quando o sol brilha é céu…

– Onde você está querendo chegar com isso?

– Por vezes o céu chora outras sorri, até pode esconder sua face com as nuvens… Mas é sempre céu. Todos somos humanos apesar dos erros que cada um vai cometendo. Ulquiorra-kun, você é um humano e deveria aprender a viver como um.

As esmeraldas se arregalaram enquanto uma pequena brisa sacudiu suas madeixas negras as bagunçando, embatendo em seguida contra o rosto levemente ruborizado da mulher. Ela entreabriu subitamente os lábios carnudos em exclamação. Parecia ter-se esquecido de algo extremamente importante.

– Como sou boba! Me perdoa Ulquiorra-kun, me chamo Orihime Inoue. Estou ao seu serviço, senhor pirata.

Discretamente, uma curvatura rasgou a face extremamente pálida ao assistir a ruiva esboçar uma vénia, ou uma tentativa desajeitada desta. Aquela humana era tão natural, sem pudor em revelar seus pensamentos, sem constrangimentos em agir como sua natureza manda. Ela era um tesouro precioso.

Pela primeira vez, Ulquiorra ficara sem um contra argumento.



As estações naturalmente percorriam seu círculo vicioso. O rigoroso Inverno dera tréguas, abandonando seu posto, permitindo que a primavera fosse recebida pela ilha desconhecida com suas variadíssimas cores. O revigorar da vida.

Orihime escolhera o dia do desabrochar das flores, para apresentar a Ulquiorra uma praia pouco visitada pelos habitantes. Este não compreendia porque aceitara o convite, não se sentia minimamente interessado em conhecer o local. Contudo, como uma musa dotada de sua beleza estonteante, ela o hipnotizara.

– Então… Porque você continua na ilha? Quer dizer, eu não quero que vá embora! Só que…Os navegantes costumam partir rápido e...

– Estou reunindo informações.

– De que tipo?

Ele a observou profundamente, pelos vistos ela não percebia mesmo quem é que ele investigava.

– Não queira saber de mais.

Inoue não estava ofendida, na verdade previa uma resposta semelhante. Por breves momentos, ela perdeu-se na visão dos pequenos grãos de areia que se infiltravam entre os dedos de seus pés descalços.

– Você acredita em fadas? Sabe aqueles seres pequenos com asas? Nunca ninguém os viu mas eu acho que elas existem.

– Nada escapa aos meus olhos.

– E eu? Eu também não escapo aos seus olhos, Ulquiorra-kun?

– Que absurdos são esses agora, mulher?

– Orihime! Porque você sempre me trata desse jeito?

– Isso é irrelevante. Você é uma mulher.

– Então eu também vou tratá-lo por “homem”!

Ulquiorra suspirou longamente. A paciência estava definitivamente a estourar brevemente.

– Mulher pare com essa teimosia. Não falaremos de novo sobre isso.

Um encantador e tentador beiço salientou-se nos lábios carnudos da jovem, que cruzara as mãos atrás das costas, mais especificamente na zona rechonchuda das coxas descobertas.

– Me diga. Eu quero saber o que você pode ver através de mim.

Por algum motivo o moreno parou de caminhar, curiosa ela desviou seu olhar para o encarar deparando-se com as esmeraldas intensas a fitando. A profundidade daquelas íris rosaram a face da ruiva, que engoliu em seco, com o objectivo de limpar sua garganta evitando gaguejar.

– Ulquiorra-kun? Aconteceu algo? Porque me está olhando assim?

– Você está-se contradizendo mulher.

– Como assim?

– Não queria uma resposta?

As íris nubladas cintilaram perante a expectativa. Ele com um dedo indicador fez sinal para ela se aproximar dele, e prontamente o fez. Seus paços saltitantes rapidamente diminuíram a distância entre o casal. Lentamente, o moreno se aconchegou perto dela que permaneceu estática. Novamente seu rosto aumentou a temperatura e a coloração pela extrema aproximação dos corpos. No entanto, ela nunca ousara mexer um único músculo.

Um arrepio percorreu a coluna de Orihime ao sentir o hálito fresco, ela não sabia identificar pelo que estava mais ansiosa: por um mísero toque daquele pirata ou a resposta a sua pergunta.

– Você não achava mesmo que ia responder a uma pergunta idiota como essa, pois não? Mulher ingénua.

– Ulquiorra-kun isso não se faz!

Com pequenos golpes, ela desferia socos inofensivos no peito parcialmente descoberto do pirata que parecia por um momento divertido com sua partida à mulher.

– Me diga o que está vendo, porque eu não sei o que estou sentindo. E se seus olhos podem ver tudo o que existe, então abra meu peito, me observe, e me conte o que está acontecendo comigo.

O desafio surgira surrealmente. Provavelmente, ela não medira o peso de suas palavras. Como ela pedia algo assim para ele? Justo ele? Ele era um mero ladrão que se refugiava nos oceanos.

Seu corpo tremeu quando a pequena mão de Orihime tocou em seu peito. As palavras que ela lhe dirigiu, pareciam correntes que não permitiam seu raciocínio libertar-se, sentira-se tentado a sucumbir à sedução do sentir. Poderia entregar-se às emoções no entanto manteve suas forças para não escorregar na armadilha.

– Sinto que meu coração já não está mais em meu peito… Ele fugiu para outro lugar que eu não conheço.

A imprevisibilidade naquela mulher sempre o surpreenderia. Constantemente ela comprovava que ele estava enganado, que seus olhos nem sempre poderiam prever o que o rodeava. Ulquiorra era um humano, como tal um joguete do destino e principalmente uma vítima do amor.

Clandestinamente, como um pirata navegando mares turbulentos numa noite ventosa, Ulquiorra também roubara o coração de Orihime.



Capítulo 03: Jogando de Pirata

Quatro meses voaram desde a chegada clandestina do visitante dos mares.

Seu aparecimento trouxera alvoradas alegres para a ruiva que momentaneamente tinha seu sorriso murcho, uma vez que perdera uma pessoa importante em sua vida. Sora Inoue, seu irmão mais velho.

Sempre a protegera em cada pequeno hábito de sua vida. Porém, ele esquecera de cuidar-se de si mesmo. Como um pescador, ele trabalhava arduamente. Inclusive durante as tempestades violentas. Sempre que saía para trabalhar, Orihime sentia seu coração palpitar fortemente. Fizesse sol ou chuva, todos os dias ela o aguardava no cais, com o almoço carinhosamente feito por ela, recompensando seu esforço. Porém num mero dia, ele simplesmente não voltou.

Ela soubera por outros marinheiros, que o barco de Sora afundou fatalmente após uma tempestade turbulenta e completamente inesperada. Sora ainda tivera hipótese de salvação mas este exigiu que primeiro resgatassem uma menina desprotegida no barco com seu pai. O dia estava calmo e límpido, o homem nunca suspeitaria que os mares se enfurecessem de repente e por isso levou a criança a conhecer o local em que trabalhava todos os dias.

Por exigência de Sora, eles os retiraram do oceano, colocando-os a salvo. No entanto, não havia tempo para salvar ambos. E ele sabia, aceitando seu destino. Pedindo somente que levassem um recado à sua irmã peculiar de madeixas ruivas.

“Hoje não comeremos juntos, mas eu estarei ao teu lado sempre minha pequena Hime.”

Ao abrir as janelas de sua pequena e humilde casa, uma ventania fresca tocou na face de Orihime que inevitavelmente percebeu as lágrimas que marcavam seu rosto. Há anos que ela lamentava a inevitável desgraça, não culpando ninguém, e não arranjando uma cura para seu coração. Porém, naqueles últimos dias tinha, sido tão feliz que ela por longos momentos esquecia sua dor.

– Porque você está chorando, mulher?

O mesmo mar que levara seu irmão, lhe trouxera outra pessoa completamente imprevisível. Inclusive aparecia, sem ser convidado, em sua casa, mais propriamente à sua janela enquanto a encarava.

– Ulquiorra-kun! O que você está fazendo aqui?

– Você não respondeu minha pergunta.

A ruiva desviou seu olhar, suas íris prateadas num brilho opaco. Ela abria seus lábios numa tentativa falhada de responder, sua voz simplesmente sumira.

– Por causa de seu irmão?

– Como soube? Eu nunca lhe falei de Sora…

– Os lixos comentam tudo que seja da vida dos outros.

Sem aviso prévio, Orihime começou a rir. Realmente, a vila pequena era propícia a bisbilhotice. O facto de ela ter permanecido só e desamparada duranto um longo tempo, e de repente começar a ser acompanhada frequentemente por um ladrão seria tema de conversa. Mas isso não a incomodava.

– Você é uma humana diferente.

O súbito elogio de Ulquiorra a fez corar. Ele sempre a conseguia surpreender. Principalmente quando sua mão pálida foi de encontro ao seu rosto, limpando suas lágrimas.

– Sempre a vi com um olhar triste, não percebia porque você não era feliz. Fiquei curioso com você como com outros humanos que matei quando fiquei desapontado com eles. Porém você é diferente, eu nunca sacio minha curiosidade. Conseguiu com que eu ganhasse um real interesse por si.

– Ulquiorra-kun… Porque me diz isso?

– Você que me perguntou o que eu via em você mulher. Eu vi a tristeza num ser exótico, que quando me enxergou não me temeu, mas sorriu.

– Você não é mau Ulquiorra-kun. Não tenho que ter medo.

Ulquiorra fechou os olhos, sentiu vontade de rir secamente. Era irónico ela alegar isso num assassino. Misteriosamente, ela conseguiu, em algum momento que ele se sentisse mal por todos os pecados que cometera ao longo de sua vaga existência.

Inesperadamente, ela cruza seus dedos com os dele que ainda repousavam em sua face. Ele abriu os olhos, curioso, deparando-se com um largo sorriso dela. O pirata não era idiota. Ele sabia que ela gostava de sua presença, que ela estava feliz do seu lado. Não era aquela tristeza que enxergou-a no primeiro olhar entre eles. Isso o intrigava, e o deixava preocupado. Mas ele sempre confrontava seus receios.

– Mulher, você quer ir ver o meu navio?

Se a empolgação pudesse ser descrita em uma palavra, ele escolheria: Orihime. Nunca cogitou que ela praticamente pulasse pela janela para o abraçar, aceitando inúmeras vezes seu pedido. Ela encarava tudo com olhos de uma criança, como conhecendo um brinquedo pela primeira vez. Toda a tripulação aceitara bem a jovem e simpatizara com a sua bondade. Apesar de a maioria ter ficado abismada com a atitude do mestre, nenhum ousou questionar. Quem sabe aquela ruiva oferecesse um coração ao homem frio e impassível.

Um dos tripulantes, o que conquistara a maior confiança do moreno, era Wonderweiss Margera. Um garoto carismático de cabelos reluzentes loiros com olhos violáceos encantadoramente belos e únicos. O jovem era extremamente calado, por isso cativara tanto seu superior. Aliás nunca ninguém escutara uma palavra daquele ser, se não as suas peculiares exclamações. Este parecia sempre avoado, distraído em seu próprio mundo. Porém Ulquiorra já tivera tido experiências que comprovavam que aquele pequeno era mais atento do que aparentava, em alguns momentos mais que o próprio.

O loiro seguia com o olhar o casal recém-apresentado, e um sorriso se formou em sua face. Para além de observador era extremamente trapaceiro.

O sol inclinava-se, ocultando minimamente sua presença, colorindo o céu com diversos tons róseos e laranjas. Após a exaustão daquele dia, Ulquiorra carregara Orihime até seus aposentos, que adormeceu ao lado de seus comparsas enquanto conversavam sobre diversas temáticas.

Talvez tivesse sido errado apresenta-la a seu mundo.

Suspirou longamente ao abrir a porta com o pé esquerdo, silenciosamente. Por um lado se arrependera, apesar de parecer divertir-se, ele temia as consequências de cada acto seu com aquela mulher.

Delicadamente, ele baixou seus braços a ajeitando em sua cama. De repente, um movimento o apanhou desprevenido, o colocando em alerta. Seu corpo tinha sido empurrado com certa brusquidão pela retaguarda, caindo na cama próximo da ruiva adormecida. Olhou rapidamente para a porta onde o loiro se encontrava, sem desmanchar sua face rotineira despreocupada.

– Wonderweiss…

Ele ia questionar seu servo, porém braços enrolaram-se em seu pescoço o puxando para baixo. Desviou seu olhar para o corpo esbelto curvilinio, detectando a respiração suave da jovem que também enroscara um pé em seu tornezelo, depositando seu joelho da perna dele. Seria extremamente difícil sair daquele abraço sem a despertar, para não dizer impossível. Encarou furioso o loiro, que pela primeira vez desmanchou sua expressão regular, rindo traquino.

– Awwwwww…

– Você me paga por isto.

O pequeno saiu a saltitar do quarto, fechando a porta para oferecer ao casal a sua devida privacidade. Ulquiorra perdera a conta de quanto suspirara somente naquele dia. Acabou por ceder, e simplesmente relaxar seus músculos perante o contacto.

Instintivamente posicionou-se para a mulher, de onde emanava um calor reconfortante. Mesmo dormindo, com seus olhos fechados, ela o conseguia seduzir. Até seus gestos mais naturais faziam palpitar seu sangue ferverosamente.

Impensadamente, ele não mediu consequências quando abaixou seu rosto e cuidadosamente beijou a boca entreaberta que suspirava em seu sono. Apreciando a doce textura, permitiu-se ser mais ousado e sugar o sabor da mesma, fazendo com que sua língua adentrasse como uma invasora. Um beijo roubado clandestinamente, como tudo o que ele sempre fizera. Poderia ser atitude de um covarde, mas não se arrependia de seu feito.

Os piratas sempre elaboravam projectos para roubar, criavam planos para que ninguém se apercebesse de um mísero detalhe.

Afastou os lábios unidos, encostando a cabeça em sua almofada que era preenchida pelos cabelos bagunçados ruivos, adormecendo quase instantaneamente pelo aroma adocicado destes. Enquanto isso o rosto de Orihime se rasgou num discreto sorriso travesso.

Desde a morte de seu irmão, ela sempre tivera dificuldades em adormecer.

Orihime também sabia jogar a ser pirata, elaborando travessos planos clandestinos sem ninguém desconfiar de nada. Inclusive, o rei dos piratas.


Capítulo 04: Maldita Sedução

Todos os dias: um novo lugar, uma nova descoberta.

Curiosamente, o sol faiscava ardentemente em especial naquela manhã, quase queimando os troncos expostos sem a esverdeada folhagem fresca para os proteger dos raios tórridos. Inoue tinha escolhido em particular aquele local para quando, ocasionalmente, o sol fosse recebido pelo céu azulado.

– Vamos Ulquiorra-kun, depressa!

– Tem calma mulher.

Orihime praticamente arrastava Ulquiorra até uma área reservada da florestação, uma região que meramente ela visitava. Possivelmente ninguém a conhecia, os moradores da ilha por serem extremamente pobres focavam toda a sua atenção no trabalho. Ela e Sora descobriram aquela área num acaso curioso quando eles pretendiam acampar para modificar seus dias monótonos, que se resumiam a problemas de sobrevivência. Os irmãos queriam ir mais longe, pensar em outras diversidades que a vida proporcionava, inclusive o divertimento. De facto passaram fome uns dias pela ausência do irmão mais velho nos mares, porém foi um sacrifício que valeu o esforço.

Acelerou o ritmo de seus passos, em ânsia, para enfim conseguir enxergar a plenitude do espaço que alvejava alcançar. Sorriu na direcção do moreno e pode perceber, orgulhosa, a surpresa estampada no olhar jade deste com a beleza do ambiente.

– Que lugar é esse?

– Ulquiorra-kun seja bem-vindo às termas particulares da família Inoue!

– “Termas particulares”? Isso é uma cachoeira, mulher. Não diga disparates.

– Mas quando é exposta a um calor muito intenso, parece termas!

Ulquiorra arqueou uma sobrancelha com vontade de rir enquanto ela cruzava os braços à frente do peito, como se aquilo que falasse se tornasse mais convincente. Desinteressado, finalizando aquela conversa sem sentido, ele desvia seu olhar para o cenário e tinha de reconhecer que era belo. O som do choque da água era o que mais o deslumbrava, apesar de outros aspectos lhe agradarem bastante. Como. por exemplo, a aliança dos troncos entre as diversas árvores fechando e assim resguardando aquele sítio de presenças indesejadas.

O pirata recomeçou a movimentar suas pernas, passando por Orihime, enquanto desabotoava todos os botões da sua camisa, acabando por a retirar completamente, o mesmo processo vagaroso se repetiu com o restante das roupas. Parecia uma provocação. A ruiva estancou ao assistir esse momento célebre, ela fechou automaticamente os olhos, cobrindo-os também em seguida com suas minuciosas mãos. Porém abriu uma pequena brecha entre os seus dedos, espreitando; quando a última peça ia ser retirada, ela grita para ele parar quase desesperadamente, com a face completamente rubra. Ele desviou o rosto em sua direcção, nitidamente confuso.

– Porque grita? Não faça escândalo por tudo.

– Como assim!? O que você pensa que está fazendo Ulquiorra-kun!?

– Entrar na água.

– E para isso precisa tirar toda a roupa?

– Está com vergonha? Não foi para isso que me convidou a vir a este lugar?

O escarlate se propagou por cada recanto da expressão angelical. Ela pretendia sim entrar na água e desfrutar da temperatura amena mas não propriamente sem vestimentas. Na realidade, esse foi um detalhe que lhe passou por alto. Ulquiorra suspirou longamente, permitindo-se ficar com a última peça, embora contrariado, e sem o mínimo pudor.

– Mulher, eu não trouxe outra roupa. Se eu entrar com a que tenho, e depois sair molhado por aí ficarei doente, devido à diferença de temperatura.

Orihime acenou com a cabeça. Ele tinha razão. Ela relaxou os ombros e decidiu arranjar coragem, se Ulquiorra era capaz de estar quase despido, à sua frente, sem vergonha, ela também iria conseguir! Discretamente, reparara no traseiro avantajado do pirata que encontrava-se de costas; expondo toda a extensão de suas costas e pernas extremamente musculadas e torneadas. Drasticamente, o vermelho intenso tingiu as maçãs do rosto angelical.

"Foco Orihime, foco! Você não é uma pervertida!"

Ousada, opta por retirar seu singular vestido rosado, permanecendo com sua roupa íntima de um tom peculiar branco perolado. Ulquiorra não demonstrou ficar constrangido nem intimidado com a situação em nenhum momento, mas seus olhos não deixaram de captar atentamente cada detalha da fisionomia da ruiva, o alterando ligeiramente. Mais do que preveu.

Infantilmente, ela arremessa-se para dentro da água, nadando completamente alheia à realidade. Ela sorriu para o moreno, ao perceber que ele ainda mantinha-se estático a encarando, cogitou que fosse timidez e o chamou, erguendo o braço balançando-o Esses múltiplos acontecimentos fizeram o corpo do moreno endurecer quase que automaticamente.

Começou a suspirar mais fundo, sem ela notar a irregularidade de sua respiração. E ao bagunçar seu cabelo negro captou que transpirava imenso, sentiu-se ridículo por tamanho descontrolo somente com o uso da visão.

Caminhando a pequenos passos até à água, ele mergulhou fundo na cachoeira. Quanto mais fundo, mais frio, era esse seu objectivo. Orihime assistiu o moreno penetrar no fluido e aguardava que a qualquer momento ele ressurgisse. Ao início, ficou preocupada com os longos segundos, no entanto cogitou que seria lógico que ele conseguisse manter o ar em seus pulmões durante um tempo considerável. Porém não faria sentido ele usar essa mestria para aquela situação, ele não fugia nem roubava, só se divertia.

De repente, ela teve uma ideia alucinante que resolveu todo o enigma. Obviamente o pirata alinhara numa brincadeira bastante apreciada pelo furor feminino apaixonado. Consistia em: ele mergulhar e desaparecer misteriosamente durante um determinado período de tempo intencionalmente. Posteriormente, iria prender em seu pé e arrastá-la para dentro de água para simular que estava a ser atacada e entrasse em aflição e depois ele a soltaria, e sorriria enquanto jogava água nela a pedir desculpas pelo susto.

– É isso mesmo! Já percebi tudo!

Era exactamente como os romances que ela lera. Sorriu largamente, practicamente triunfante por ter previsto o plano do moreno, segundo a mesma, ela era dotada de uma mente brilhante.

– Eu sei o que você está fazendo Ulquiorra-kun, pode aparecer.

Ela começou a balançar os pés mais rimaticamente e num momento inapropriado ele alcança a superfície. Com pouco tempo de a ruiva sequer agir em resposta, ele colou seu peito nas costas dela, pressionando seu corpo enquanto com um braço enrolou sua cintura possessivamente.

Maquinalmente, ela estremeceu. Tentava impedir que seu corpo denunciasse o prazer que ela sentia a cada toque, mas todas essas tentativas eram recusadas, em vez disso a expunham ainda mais a seu predador sedento.

– Sabe mesmo mulher? Então não haverá problema, certo?

Sedutor, um sorriso de canto rasgou sua face, enquanto soprava na orelha da ruiva. Um gesto simples que praticamente submeteu todo o corpo róseo às ordens daquela voz.

Orihime ia responder, ou pelo menos tentar comentar algo, porém sua voz quebrava a cada balbucio. Inexplicavelmente, não conseguia parar de gaguejar, tinha a certeza que nem mesmo o pirata astuto percebia algo de coerente, contudo tão pouco parecia se importar com isso. A jovem não disponibilizou muito tempo nesses pensamentos, porque rapidamente sentiu seu pescoço ser explorado entre beijos e mordidas efectuados em pontos sensíveis de chakra, enquanto uma das mãos do moreno, situada em seu ventre se movia circulatoriamente. O desassossego por um toque mais profundo, estava a alterar a ruiva, a impaciência por algo mais concreto que nem a própria conhecia, consequentemente a irritava.

– Ulquiorra-kun…

Ele vai deslizando vagarosamente o elástico branco que suspendia os seios da ruiva, esta por instinto cerrou as pálpebras, permitindo um leve suspiro sair por seus lábios quando os dedos másculos roçaram seu peito. Afinal ele roubaria muito mais que seu coração. Se é que se podia designar aquilo de roubo.


Epílogo: Viagem sem Fim

Aquela era a hora do adeus.

No cais, Orihime assistia a tripulação de Ulquiorra carregar todos os utensílios necessários para dentro do navio, preparando-se para a longa viagem. Ulquiorra encontrava-se na frente de Orihime que com o rosto encolhido em seu pescoço, chorava silenciosamente.

Ela em poucos meses se apaixonara e agora era forçada a despedir-se daquele que conseguiu iluminar seus dias.

A ruiva sabia que ele teria de partir, ele não pertencia à pequena ilha, o ódio da população pelos piratas, principalmente pelo Shiffer, seria a ruína do casal. Nunca iriam permitir que ele permanecesse ali.

Ulquiorra observava-a distraído, memorizava cada traço de seu rosto e o tom peculiar dos finos cabelos. Ele finalmente encontrara o que sempre buscou… Mas era impossível estar ao seu lado eternamente. Ele sempre seria o que era, um ladrão sem sentimentos. Apesar de encontrar seu coração, nunca poderia viver com ele em seu peito. Ao encarar os olhos acinzentados para si, teve uma hipótese remota para resolver aquele problema. No entanto, tudo dependeria da mulher peculiar. Uma vaga esperança acendeu seu peito, e temia ser fruto de uma ilusão.

Ele estendeu seu braço até ao centro do peito dela, ficando completamente flexionado; sua palma se virou para o alto. Por sua vez, Orihime o encarou confusa, não decifrando o significado daquele gesto.

– Venha comigo mulher.

Ela entreabriu os lábios, completamente surpresa, ia refutar essas palavras. Demonstrar que isso seria impossível, apresentar todos os contras mas o olhar esmeralda não permitiu que ela falasse.

– Silêncio. “Sim” será a próxima palavra que irá falar. Não faça perguntas, não diga uma única palavra. Não tem direitos nem opções. Espero que o compreenda, mulher. Não estamos negociando. Isto é uma ordem. Direi mais uma vez: vem comigo, mulher.

Espanto era pouco para descrever o estado da jovem, tanto pelo convite pouco cordial como pela oportunidade que recebera.

Ela atentou nos traços marcados na palma alva e pensou, pensou muito. Orihime não tinha nada que a prendia ali se não as recordações de tempos felizes com seu irmão. Ela poderia reconstruir outras memórias, ser novamente feliz e não apenas lembrar.

Afinal, estava presa àquele homem que sempre a lembrou de seu irmão. O jeito como ele a protegia, o olhar intenso, a simplicidade em seus gestos… Ela começou a gargalhar pelo pedido, se ele a convidava dessa forma para ir com ele, como seria algo mais matrimonial?

“Não seja boba Orihime, não é hora de pensar em uma coisa dessas! Mas se formos no navio sozinhos… A lua de mel seria antecipada e… Ah, não e não! Concentra-te Orihime!”

Ela pode perceber que deveria estar a fazer caretas estranhas porque Ulquiorra a observava arregalado, sorriu para disfarçar seu ligeiro constrangimento.

– Não tenho outra escolha, se é uma ordem do poderoso Ulquiorra-sama, não serei eu a contestá-la. Mas, mesmo se tivesse…

Algo mudou no olhar nublado, a forma como ela encarou o moreno foi o suficiente para ele sentir seu peito apertar em meio de chamas. O tom carregado de ternura, mais que o usual, fez seu coração acelerar em antecipação, inclusive engoliu em seco enquanto observava o movimento de seus lábios muito lentamente. Como se pudesse prever o que esta diria, o que não foi possível… Entre tantas hipóteses que se formularam em sua cabeça, nenhuma chegou perto do que realmente era.

– … Eu não escolheria outra coisa.

Discretamente ele sorriu, sentindo esta colar a sua palma na dele, unindo suas mãos num elo inquebrável.

Ulquiorra conheceu o pequeno mundo de Orihime que resumia-se à minúscula ilha entre a imensidão dos oceanos, agora ele a incentivava-a iniciar, com ele, uma viagem marítima, apresentando-lhe tudo o que ele já conhecia. Surpreendentemente, ela aceitou de bom agrado. O pirata agora iria reconhecer os lugares que outrora já desvendara, porém, agora os iria rever com os olhos do coração, observar tudo de forma diferente, porque a mulher estava com ele.


Fim!


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem,
Beijinhos, Jya née**