Agilidade escrita por Diane


Capítulo 21
Capitulo 21 - Sonhos ou Pesadelos.




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Perspectiva de Christine


A luz entrava no cômodo pela janela e batia no espelho. Nunca gostei de quando a luz reflete no espelho, arde os olhos. Eu estava sentada em um banco de madeira, perto do espelho lendo um livro sobre anatomia humana.

Layla estava com um vestido de noiva e estava sorrindo para seu reflexo. O vestido, bem, parecia ser como vários outros vestidos de noiva, o típico branco, com véu branco, sapatos branco e tudo branco. Se um dia eu resolvesse casar, iria usar vermelho, mas nunca cogitei a hipótese de casamento.

Parecia que alguma coisa estava errada e artificial. E não, eu não estou falando do vestido.

Ela é sua melhor amiga e está escolhendo o vestido de casamento. Você vai ser a madrinha.

Layla deu uma pirueta e sorriu para mim.

— Estou bonita com esse vestido? — Ela perguntou, radiante.

— Está horrivelmente clichê e é branco demais para um ser vivo — Levantei os olhos do livro e comentei.

Bom, eu sempre fui sincera, ás vezes demais. Layla não se ofendeu, ela me conhecia desde que era pequena ( e naquela época eu era mais sincera ainda) e já estava acostumada com isso.

— Sério?

— Aham.

Ela pegou outro vestido dos cabides e me mostrou. Era branco — essa garota deve ter alguma fascinação pelo branco, ou eu que estou ficando preconceituosa com a cor — , na verdade, parece que todos os vestidos de casamento são brancos, não é? Só que esse tinha uma estrutura diferente e tinha algumas florezinhas douradas no tecido.

— Você acha que Alec vai gostar desse? — Ela perguntou, toda esperançosa.

Senti minha garganta gelar e algo me atingir como um tapa. Layla olhou para mim assustada.

— Por que você está me encarando desse jeito?

— Nada — respondi.

Ela riu.

— Sério, você deveria parar de dormir até tarde para estudar, está deixando você cansada e neurótica — Ela falou enquanto olhava o vestido mais detalhadamente.

Layla vai casar com Alexander Kroell. Você acha ele irritante e acha que ela é nova demais para casar. Só tem vinte e quatro anos! E o noivo dela é irritante. Mas você não se importa com isso desde que sua melhor amiga seja feliz.

Eu definitivamente não estava me sentindo bem. Algumas imagens sem nexo ficavam passando diante dos meus olhos : Uma espécie de floresta com árvores altas, alguma coisa que lembrava uma balança dos templos antigos resplandecendo com uma luz dourada. Depois um lustre grande e medieval caído no chão com sangue escorrendo em baixo. Olhos felinos e azuis me encarando.

— Você está bem? — Ela perguntou novamente. Dessa vez ela parecia um pouco irritada, mas quando olhei bem, parecia que foi impressão minha.

— Estou bem.

É da minha natureza não admitir que estou tendo espécies de alucinações. Ok, talvez grande parte da população mundial não admita quando tem alucinações.

Mas seria bem desagradável interromper a sessão de procura a vestido de noivas dela por isso. E eu não gostaria muito da ideia de parar no consultório de um psiquiatra.

Mas admito, alguma coisa estava errada. Talvez seja algum tipo de suco de caixinha contaminado com alguma coisa que nem quero saber.

Layla foi para o provador colocar o vestido. Depois de alguns minutos ela saiu de lá parecendo uma coluna de mármore pálida. Resolvi não falar que tinha chiclete colado no cabelo dela, provavelmente alguém tinha feito alguma armadilha no provador.

— Sinceramente, criatura — falei — Que tal usar alguma coisa mais colorida. Não, não isso — Disse quando ela tirou um vestido que parecia ter todas as cores do arco-íris de um cabide —, isso parece penas de uma gralha enfileiradas.

Ela me olhou.

— Hoje você está de mau-humor— ela observou.

— Talvez eu não seja a pessoa mais adequada para ajudar nesse quesito — confessei — minhas especialidades são outras.

Provavelmente eu enumeraria minhas inúmeras qualidades e ela reviraria os olhos, mas a minha mãe entrou na loja e se sentou no banco ao meu lado. Minha mãe estava como sempre, com os cabelos loiros caindo nos olhos cinzas e com um batom vermelho chamativo . Ela sempre parecia jovem, não importa quantos anos se passassem.

— E aí Layla, já encontrou o vestido ideal? — Minha mãe perguntou.

— Ainda não, Elise. Chris fica falando que todos são muito brancos — ela respondeu olhando em mais um outro vesito. E adivinhem? Esse vestido também era branco.

Olhei para mamãe.

— Mãe, sério, esses vestidos são todos muito brancos.

— Chris, todos os vestidos de casamento são brancos — Ela respondeu, como se eu não tivesse percebido.

— Que preconceito com as outras cores — resmunguei.

Minha mãe tirou um potinho transparente da bolsa. O potinho estava recheado de biscoitos.

— Eu fiz biscoitos — disse ela.

Minha mãe cozinha mau, é fato. Ela não consegue fazer um arroz direito, nem salada, por isso temos uma cozinheira — para evitar que acidentes, tipo morte por intoxicação alimentar — e além de tudo, os biscoitos dela são péssimos. Imagine o pior biscoite que comeu na sua vida, imaginou? Então, esse é pior. Queimado, com gosto de farinha e as vezes ela inverte açúcar por sal.

Peguei um biscoito, só por pegar e não deixar ela magoada. Sabe como é, quando uma pessoa cozinha mau mas você não quer magoar ela e se submete á tortura. Coloquei o biscoito na boca e mordi. Surpreendentemente, não estrava queimado e nem salgado. Estava bom.

Era definitivo, tinha alguma coisa errada.

Minha mãe não faz biscoitos bons. Nunca fez e a hipótese de ser uma receita nova era inexistente. Nem mesmo com receitas ela cozinha bem.

— Mãe, tem certeza que você que cozinhou?

— Claro que sim.

Então me lembrei de tudo. Quando descobri que era filha de uma deusa, quando fui atrás da maldita balança para arruma-la. Me lembrei que Layla era Trivia e tinha se fingido todos esses anos, me lembrei dos assassinatos e de como fui burra em achar que ela era minha amiga todos esses anos.

Olhei para ela lá, se olhando no espelho, fingindo ser inocente.

É claro que fiquei furiosa. Ela nem sonhava que tinha descoberto o pequeno truque dela. Isso era uma boa vantagem, realmente muito boa.

Coloquei o livro encostado no banco. Olhei ao redor, não tinha nada como usar de arma, mas acho que minhas mãos seriam suficientes.

Caminhei tranquilamente até ela, sem deixar transparecer nada. Coloquei a mão na gola do vestido — Além de vaca e psicopata, a criatura ainda tinha mau-gosto para vestidos, e olhe que não sou a melhor pessoa para julgar moda, mas acho que vestidos de casamento com gola são do século XX.

— Acho que a gola está rasgada — falei.

— É?

Ela abaixou a cabeça para tentar olhar a gola, mas fui mais rápida. Segurei o pescoço dela com força e a empurrei contra o espelho. O espelho se quebrou com um barulho estridente e os pequenos cacos se fincaram nas costas dela. Me senti incrivelmente satisfeita quando vi aparecer pequenas manchas se sangue no vestido branco, o manchando de vermelho.

— Por que você está fazendo isso? — Ela ainda teve a audácia de perguntar, parecendo inocente.

Empurrei ela contra os cacos quebrados com mais força. Trivia soltou algo que foi parecido com um gritinho, só que agora seus olhos, que antes eram castanhos claros, brilhavam dourados. Aquilo a deixava mais parecida com Thanatos, e isso me irritou ainda mais. Peguei um caco de vidro consideravelmente branco e afiado que cortava as minhas mãos quando eu segurava.

— Não adianta tentar bancar a inocente, já sei de tudo — Segurei o pedaço de espelho e tentei enfincar no pescoço dela, mas ela se desviou e o caco se fincou no ombro dela.

Ela não gritou, apenas me encarou friamente e decepcionada.

— Quando você percebeu que era uma ilusão?

Sorri friamente.

— Ah, acredite, nem foi quando você falou que iria casar com Alec — ela levantou uma sobrancelha —, pelo visto voc~e ainda continua fanática por ele. Mas descobri por causa dos biscoitos. Minha mãe nunca faria biscoitos bons.

Fechei a outra mão em outro pedaço de vidro. Não era tão grande coimo o outro, mas se acertasse no lugar certo, seria mortal.

— Diga tchau, Trivia — falei antes de enfincar o pedaço na veia dela.

Ela sorriu.

— Não, diga tchau você.

Ela acenou e as coisas começaram a sumir. O espelho, os vidros, a janela, as paredes, a ilusão da minha mãe, tudo e por último, ela.

Então acordei. Fiquei parada na cama, sentada e olhando para o teto.

Foi tudo um sonho, apenas isso.

Antes, que eu voltasse a dormir, uma grito cortou o ar.

Perspectiva de Vanessa.

Sério, Vanessa nunca gostou de ouvir atrás da porta...talvez só um pouco, mas ela estava lá para espionar Trivia, então não tinha muita importância.

Ela tinha acordado particularmente cedo já que não tinha conseguido dormir durante a noite. Por algum motivo obscuro, ela estava se sentindo observada, toda vez que abria os olhos no escuro, via formas estranhas nos objetos do quarto. Uma vez, ela jurou ter visto uma serpente, mas quando acendeu a luz, era só seu cinto. Certo, estava ficando paranoica. A consequência disso foi olheiras enormes que Vanessa teve que disfarçar com quase um quilo de base.

Depois de tirar o efeito panda da cara, ela foi descer até a cozinha para pegar alguma coisa para comer. Ela iria para cozinha, só que ouviu vozes no quarto de Trivia.

Bom, não custava nada escutar um pouquinho.

— Então, deu certo? — A voz era grave, suavemente rouca e com ar de deboche. Vanessa conheceria em qualquer lugar. Thanatos.

— Claro que deu — Essa voz era feminina e claramente pertencia a Trivia — Acho que ela ficou atormentada durante a noite inteira.

— Minha adorada irmãzinha, você deveria concentrar seus poderes em algo mais importante do que infernizar uma feiticeira que nem tem os poderes desenvolvidos ainda — Thanatos falou outra vez — Isso é quase sem propósito.

— Você não entende! — Agora Trivia soava exaltada — Eu tenho que me vingar. Ela destruiu meu reino, meus planos, meus generais, quase tudo!

Thanatos respirou fundo.

— Isso foi á quase dois mil anos atrás — ele falou —, agora ela nem sabe usar seus poderes. Não passa de uma garotinha impertinente.

Vanessa ficou parada tentando ouvir algo, mas não escutava nada. Por que eles pararam de falar?

Subitamente a porta abriu, e Vanessa que estava apoiada nela, caiu para dentro do quarto. E isso foi muito vergonhoso.

O quarto de Trivia tinha móveis luxuosos e caros, mas era todos brancos. A cama, as cobertores, lençóis, até a madeira das janelas. A parede era branca, não o tom marfim que é usado popularmente como branco. Era bonito, mas tudo sem cor, e não tinha nenhuma foto ou quadro como decoração.

Vanessa não teve tempo de observar a decoração, por que os dois estavam encarando ela. Agora que eles me incineram, ela pensou.

— Olha, Thanatos, a vadiazinha que você trouxe aqui estava espionando — Trivia falou, olhando para ela sobre os cilios abaixados, com um olhar de desprezo.

Vanessa queria arrancar os olhos dela. Ela odiava que a chamassem de vadia e outros adjetivos como esse, realmente odiava. Vanessa nunca entendeu o porquê das pessoas a chamarem de vadia só por que teve vários namorados. Oras, se um garoto pode ter várias namoradas e ser elogiado por isso, por que ela não pode ter vários namorado? Era engraçado a sociedade. Uma mulher que já teve vários namorados é vadia, e um homem que já teve várias namoradas é pegador.

Vanessa olhou para cara de Trivia.

— Prefiro ser uma vadia do que ser uma louca assassina igual a você.

Trivia sorriu, quase cruelmente.

— Thanatos é um assassino louco, e você não se importou muito com isso quando foi dormir com ele.

Vanessa queria falar que nunca dormiu com ele, mas não, ela tinha uma resposta melhor.

— Thanatos pelo menos é gosto. Você não.

A cara de Trivia foi hilária. Vanessa se sentiu inédita depois de ter falado isso.

Os olhos de Trivia escureceram e Vanessa percebeu que estava ferrada. Uma espécie de leão branco apareceu no chão. Era como uma projeção e a imagem tremeluzia, mas se olhasse do ângulo certo dava para ver que estava ficando sólido.

Tudo aconteceu em um segundo. O leão pulou encima dela, os olhos dourados brilhando e com as presas á mostra. Vanessa estava se preparando para morrer, quando o leão se dissolveu em cinzas pretas.

— Trivia, que tal parar de brincadeira, por gentileza — Thanatos falou — Vamos descer, já está na hora do café da manhã.

Trivia parecia estar em um misto de indignação e raiva. Ela parecia á ponto de tentar estrangular Thanatos com as próprias mãos, mas não era idiota para fazer isso.

— Ela estava ouvindo atrás da porta! Temos que fazer algo, seu idiota!

Thanatos não parecia estar feliz por ter sido chamado de idiota.

— Eu já falei para descermos. Mais tarde vou conversar com Vanessa sobre isso.

E virando as costas, Trivia abriu a porta do quarto e desceu até a cozinha enquanto resmungava algo sobre ruivas.

[...]

Vanessa nunca pensou que um dia iria comer o café da manhã no covil de Trivia. E também nunca pensou que deuses gostassem tanto de panquecas.

Trivia estava do outro lado da ponta da mesa de vidro branco, não tinha comido nada e estava de olhos fechados, como meditasse. Thanatos, depois de devorar todas as panquecas, foi fazer ovos fritos — Vanessa não entendia por que ele queria fritar os ovos se podia estralar os dedos e fazer eles aparecer no prato — Alec ainda estava dormindo, e era meio -dia. Não era o fato dele dormir demais que preocupava Vanessa, era o fato que ela estava sozinha, tomando café da manhã com dois psicopatas.

Ela não aguentou a curiosidade.

— Por que você está fritando ovos?

— Por que eu quero.

Ok, ela não iria discutir. Era melhor ele fritando ovos do que matando pessoas por aí. Muito melhor.

Trivia abriu os olhos subitamente e parecia muito satisfeita consigo mesma, embora Vanessa não soubesse o motivo. Só então ela reparou que os olhos de Trivia e Thanatos tinham a mesta tonalidade, mas os de Trivia eram mais frios e se assemelhavam á âmbar.

A porta se abriu e Alec entrou na cozinha. Alec estava com olheiras fundas, mais pálido que o normal e apesar de estar com o clima ameno dentro da casa, ele usava uma jaqueta de couro. Vanessa resistiu ao impulso de perguntar se ele estava bem.

Ela não estava com nenhum pouquinho de fome, a discussão anterior tirou todo o seu apetite, e ficou um tempo encarando a janela enquanto Trivia e Thanatos discutiam.

Já que Trivia estava ocupada demais criticando os ovos, Vanessa pegou o copo dela de suco de acerola ( só para provocar, mesmo), mas antes que ela pudesse beber, Alec bateu o braço no copo e o suco de acerola voou para o chão.

Vanessa observou o suco no piso de mármore, tão vermelho que parecia ser sangue. Mas não foi isso que chamou a sua atenção, era um inseto que ela não sabia o nome, mas devia ser da região. O inseto estava no piso, e quando o suco caiu encima dele, o inseto derreteu.


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