Branco e vermelho sempre fizeram parte de sua vida.


Branco era a paz.
Branco era tudo para ela. Trazia-lhe conforto, fazia suas dores sumirem.


Vermelho era doce.
Vermelho também era bom. Ela gostava de beber o vermelho, fazia com que ela se esquentasse.


Branco e vermelho eram as cores favoritas da pequenina. O branco da neve que caía intensamente em janeiro, o vermelho do sangue dos humanos que lhe alimentava.


Gostava da neve, embora nunca tivesse a visto. Nunca tinha saído de dentro de casa.


Seu irmão mais velho era quem lhe contava como eram as coisas do mundo. Contava-lhe que a neve era branca e fria, e que caía de um céu muito escuro. Contava-lhe o que podia fazer quando a neve caía, que podia deitar-se nela ou brincar de fazer bonecos ou jogá-la nos outros. E ela, maravilhada, com os olhinhos castanhos brilhando, dizia que quando crescesse iria brincar com o irmão de fazer bonecos, e ele assentia.

Seu irmão mais velho, seu amado nii-san, que também era seu noivo e que um dia seria seu marido, assim como seu papai e sua mamãe eram irmãos. Gostava muito do nii-san e o queria para sempre perto dela.


Vivia feliz em sua casinha fechada, seu pequeno reino particular.
Vivia feliz, sem conhecer o mundo.
Vivia feliz com o papai, com a mamãe e o nii-san.
Vivia feliz sem o mundo.


Preto.
Frio.
Branco. A neve.
Vermelho. Vermelho no branco, branco e vermelho.



O céu estava escuro, e dele caía neve. Neve branca.
Como uma neve tão branca podia cair de um céu tão negro?
Como a neve que caía do céu era branca e a que estava em suas mãos era vermelha?


Estava frio. A menina não sabia o seu nome, não sabia quantos anos tinha. Só sabia que o céu estava escuro, ameaçadoramente escuro, e que de lá de cima, uma coisa gelada caía e se chamava neve. A neve era branca. E ela gostava de branco.
Mas, se a neve era sempre branca, porque a que estava em suas luvas era vermelha? A garota só conhecia uma coisa no mundo que era vermelha. Sangue.



Neve e sangue.
Branco e vermelho.
Um vampiro sujo de sangue e coberto de neve.
O garoto que a salvou e a levou até seu pai.
Era só o que ela se lembrava.



A menina cresceu. Agora era Yuuki. Kurosu Yuuki. Princesa gentil [1]. Tinha um pai, tinha um "irmão". Diretor Kurosu, Zero-kun.

E a menina, que agora era quase uma mulher, ainda gostava do branco e do vermelho. Mesmo sem saber o motivo, ainda gostava. Do branco, do vermelho, do Kaname-senpai...

Ah! Kaname-senpai. A pessoa que havia salvado-na quando estava perdida na neve, quando não sabia de absolutamente nada. Havia dado-lhe um pai, um nome. Uma nova chance de viver... Gostava muito dele. Queria ficar para sempre junto dele. Nunca se separar dele...
Amor... Isso era amar?



Manchas vermelhas quando fechava os olhos.
Manchas vermelhas quando abria os olhos.
Vozes.
Só via o vermelho, não via mais o branco.
Só havia o vermelho, não havia mais o branco.



Yuuki só sabia de dez anos de sua vida. Antes dos cinco anos, nada sabia. Só sabia que andava na neve, com sangue nas luvas. Entre o branco e o vermelho.

E, de novo, ele veio e lhe deu uma luz. Deu-lhe outra vida.
Kaname-senpai.

Ele lhe arrebatou de seu quarto, para lhe carregar, em seus braços, até um lugar muito escondido, que nem ela mesma conhecia. Ele aproximou seu belo rosto de seu pescoço e a mordeu. Ele sugou seu sangue, deliciou-se com o seu vermelho. E, quando parou, deu seu próprio sangue a ela, num beijo. Misturou o branco ao vermelho, outra vez.


E Yuuki voltou à sua casa, voltou aos seus primeiros anos de vida. Descobriu que Kaname era seu irmão e que futuramente seria seu marido. Descobriu que era vampira, como ele. Descobriu que era uma Kuran, assim como o “senpai”.


Descobriu, novamente, o branco e o vermelho.

Redescobriu que sempre, de uma forma ou de outra, fizeram parte de sua vida. O sangue doce, a neve fria. Sempre estiveram dentro de si.